terça-feira, outubro 28

MÃE

No dia do 7º aniversário da morte de minha mãe. Este não é um espaço de memórias mas acolhe-as, como espaço pessoal, sempre que as desejo partilhar com alguém.

Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não da fraqueza ou da futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]
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segunda-feira, outubro 27

ANIVERSÁRIO

Para o meu filho Manuel Maria no dia do seu 18º aniversário

Há um momento em que a juventude se perde. É o
momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.

Para ti um dia nascerá a luz e sem mim irás correr
atrás da tua memória e nunca me encontrarás nela
com os traços iguais aos do dia de hoje tão nítidos
presentes

Ausente deixarei de te olhar. O teu corpo ficará
sempre igual ao meu corpo que se transformará
num eco longínquo ressoando em ti comigo lá
dentro

Gostava de te ver sempre mas não posso. Um dia
todos os corpos se retiram e as viagens parecem
mais pequenas na cidade percorrida em círculos
concêntricos

Sei que nos encontrarmos agora é natural para ti.
Que me olhas e me interrogas silenciando o teu
medo de enfrentar o desconhecido numa espera
ausente

Para ti um dia nascerá a dúvida se afinal amaste
o suficiente. Se iluminaste a vida com a tua luz
própria ou se a roubaste aos outros sem sombra
de perdão

É esse o momento em que a juventude se perde
e com ela se esvai a inocência. É preciso saber
aceitar. Esse momento é duro e estarás só, sem
ninguém.
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domingo, outubro 26

"O TEXTO POLÍTICO"


O post intitulado “O Texto Político” é, certamente, o mais procurado deste blogue. Publiquei-o em 28 de Agosto de 2004 e repeti-o em 28 de Agosto de 2006. Se lerem os postes originais compreenderão a origem do meu interesse. Volto a publicá-lo hoje por duas razões: em primeiro lugar porque tem erros, aliás, facilmente identificáveis, que aproveito para corrigir e, em segundo lugar, porque estava a escrever um texto acerca do discurso político de Manuela Ferreira Leite, como podia ser acerca do discurso político de qualquer outro líder, e desisti ao lembrar-me deste excerto de Roland Barthes e, em particular, desta frase: ” (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito.) ”

O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obstinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática, nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico.
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"Fragmentos de Leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes" - Edições 70
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quinta-feira, outubro 23

O discurso do MES silenciado no 1º de Maio de 1974 - António Santos Júnior

A primeira manifestação pública do MES (em organização) no 1º de Maio de 74 (Fotografia de Rosário Belmar da Costa)


Ainda decorriam os primeiros dias após a libertação quando ocorreu um episódio significativo, pelo menos para a história do MES (Movimento de Esquerda Socialista), envolvendo um dos seus mais ilustres dirigentes fundadores. Em plena euforia vivida nos dias que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 havia que reunir as forças que em diversos sectores da oposição ao fascismo se não identificavam, à esquerda, nem com comunistas nem com socialistas, nem tão pouco com os grupos marxistas-leninistas, dissidentes do PCP.

Num livrinho publicado cerca de dois meses após o 25 de Abril, intitulado “Intervenção Política I”, “O MES afirma-se como Movimento, reivindica-se Socialista e demarca-se como de Esquerda, e defende, como princípio fundamental que, conforme as lutas dos trabalhadores de todo o mundo têm demonstrado, a emancipação dos trabalhadores só pode ser obra dos próprios trabalhadores.” E a concluir a Introdução afirma-se: “O socialismo é a associação livre de produtores livres e iguais, a sociedade em que aos produtores e apenas a eles caiba decidir o que se produz, como se produz e para que se produz.”

Foi com este espírito, repleto de ressonâncias libertárias, que os dirigentes de uma amálgama de movimentos sectoriais, associados a lutas de base, se foram unificando dando origem ao que viria a ser o MES pré-anunciado num pano, desenhado de forma artesanal, que desfilou na grande manifestação do 1º de Maio de 1974.

Entretanto caiu no esquecimento que estava prevista, no final da manifestação do 1º de Maio de 1974, uma intervenção de um representante do MES. Essa intervenção estava a cargo do destacado militante sindical e operário António Santos Júnior que “não pôde concluir a leitura do seu discurso porque uma parte da assistência o interrompeu aos gritos.” Como se escreve numa nota que acompanha a transcrição do discurso, na publicação em referência, “como a sua determinação em prosseguir fosse manifesta certos indivíduos com fins inconfessáveis conseguiram com o Hino Nacional transmitido pelos altifalantes impedi-lo de prosseguir.

Distribuído à imprensa diária, que silenciou aqueles factos nos relatos sobre o comício efectuado no estádio, houve manifestos interesses que impediram a sua divulgação, pois apenas dois jornais, passados alguns dias depois do 1º de Maio, publicaram o discurso”.
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quarta-feira, outubro 22

Amy Aglar

É inevitável que desta crise hão-de sair mudanças profundas no sistema financeiro internacional. Todos o dizem, todos o aceitam, estão a caminho cimeiras Gs de todos os formatos. Que novas instituições? Que novos modelos de desenvolvimento económico-social? Que nova concepção de acumulação de riqueza? Que novo paradigma para o equilíbrio de forças a nível mundial? O parto será pacífico? Ou vem chumbo?

A verdade é que quem entra num banco para tratar de qualquer assunto comezinho fica assustado. Basta querer saber, com rigor, como estão a ser tratadas as suas poupanças! A verdade é que quem olha para dentro do país ( e do mundo) real fica assustado com o mal e com a cura! A maioria das famílias e empresas, pequenas, médias e grandes sentem que se está a fechar um ciclo e a abrir-se outro … mas que parece ser um irmão gémeo do defunto.

Conclusão singela: parece que não é remédio para a crise deitar dinheiro fresco para cima das labaredas. Alguém vai ganhar – os mesmos que já deitaram muito a perder - mas pode perder-se uma oportunidade de mudança. Uma pergunta ingénua: sempre vão acabar os paraísos fiscais? E o que têm a dizer as organizações de colarinhos brancos género “Compromisso Portugal”… caladinhos em tempo de flores pouco exuberantes!
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POMPOARISMO


Se isto não é o progresso o que é, afinal, o progresso? Eis uma actividade económica que não arrefece com a crise dos mercados. Não resisto em passar ao lado da minha linha editorial transcrevendo esta memorável peça publicitária. Nem tudo está perdido … Que viva o pompoarismo

SALÃO ERÓTICO dá aulas de pompoarismo

O IV Salão Internacional Erótico de Lisboa, que decorrerá de 31 de Outubro a 02 de Novembro no Pavilhão 4 da FIL, apresenta uma série de novas iniciativas direccionadas ao público feminino. Na área Sexto Sentido vai ser possível, por exemplo, participar em aulas de pompoarismo - o fortalecimento vaginal - e de sedução e sessões de tuppersex.

Orgasmos múltiplos da mulher, orgasmo vaginal, ponto G, ejaculação feminina, orgasmo combinado (ponto G e clítoris simultaneamente), orgasmo múltiplo do homem, orgasmo masculino sem ejaculação, orgasmo da próstata. Tanta coisa para se aprender! Mas existe algo de que a vagina é capaz e pouca gente sabe. Ela pode ser fortalecida com treinos. A técnica de fortalecimento vaginal recebe o nome de pompoarismo. A palavra pompoar é originária do tamil (ou tâmul), idioma do Sri Lanka e sul da Índia, e significa o comando mental sobre o músculo pubococcígeo, os músculos circunvaginais e os grandes lábios da vulva.

Pompoarismo é a prática do pompoar, uma técnica milenar que consiste em movimentar voluntariamente a musculatura vaginal. Para isso a pompoarista deve ter a musculatura vaginal bem desenvolvida e trabalhada, o que pode ser conseguido por qualquer mulher sadia, com exercícios específicos. E são justamente esses exercícios que serão apresentados no SIEL 2008 na Área Sexto Sentido.

Hoje não é aceitável que as mulheres sejam o elemento passivo da relação. É verdade que os homens gostam de ter o controlo, mas, às vezes, também gostam que as mulheres tomem a iniciativa. Tomar ou não a iniciativa no sexo? Esta é uma dúvida que pode preocupar muito as mulheres. E é justamente para desvendar “mistérios” como esse que o SIEL 2008 inaugura o Confessionário Sexual.

Os homens são de ferro, aguentam quantas relações seguidas? Posso comparar as partes íntimas do meu parceiro actual com as de antigos namorados? Estas e outras questões serão discutidas com as mulheres pelos Beat Boys, um grupo constituído por Marco, Márcio, Leo, Veny e Vince, que abordarão, com as mulheres, temas ligados à sexualidade feminina e do casal. Ainda neste espaço, todas as questões relacionadas com a saúde sexual da mulher poderão ser respondidas por um sexólogo.

Mas a oferta preparada para o público feminino não fica por aqui. À semelhança das clássicas reuniões de Tupperware, também nas reuniões de tuppersex as mulheres juntam-se para comprar e discutir modelos, só que não de caixas para guardar as refeições no frigorífico ou aquecê-las no microondas, agora as opções variam entre vibradores especiais, kits de ferramentas orgásmicas ou estimuladores em forma de pato de borracha. Estas reuniões que acontecerão durante o evento destinam-se a todas as mulheres que querem conhecer o mundo dos produtos eróticos e de como estes poderão ajudar a uma sexualidade mais completa.
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segunda-feira, outubro 20

PS - MAIORIA ABSOLUTA NOS AÇORES

O PS ganhou as eleições regionais nos Açores com maioria absoluta e, pela primeira vez, em todas as ilhas.

Factos mais notórios em cima da hora:

1 - A maioria absoluta do PS, ainda para mais sendo partido maioritário nos Açores e no Continente – o poder desgasta mas não desgasta absolutamente!

2 - O aumento da abstenção, no caso, com uma componente técnica relevante e, certamente, por se ter criado a expectativa do PS como vencedor certo … e também o cansaço!

3 - A representação, julgo que primeira vez, de deputados de 5 partidos na Assembleia Regional;

4 - O BE ter feito eleger mais deputados (2) do que o PCP (1), prenúncio de futuras alterações noutras paragens!

5 - A significativa expressão eleitoral do PP nos Açores (8,7%/5 deputados) que não é prenúncio de coisa nenhuma, noutras paragens, mas vai fazer inchar o tiranete.

Não devem os dirigentes nacionais do PS embandeirar em arco pois as Regiões Autónomas são as Regiões Autónomas e Portugal é Portugal e falta um ano (difícil) para as eleições legislativas nacionais. Mas sempre é melhor ganhar do que perder, e ainda melhor por maioria absoluta. Foi o que foi! 1-0! Em Junho de 2009 voltamos ao tema dos resultados eleitorais – nesse caso as Europeias!
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domingo, outubro 19

LA BANCARROTA DE ISLANDIA

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ANGELINA

Estava com vontade de me indignar com esta ideia das cimeiras (muitas) acordadas entre dirigentes políticos que perfilham ideologias liberais, neoliberais, neoconservadores, defuntos, fugitivos, sobreviventes e indigentes do futuro, mais o seu calendário, descaradamente coincidente com o período do governo de gestão de Bush, mas, como é domingo, mais vale olhar para a Angelina Jolie.
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OBAMA A PRESIDENTE

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sábado, outubro 18

BARROSO - O SOBREVIVENTE


José Manuel Barroso vai despedir-se de Bush a poucos dias do fim do seu mandato presidencial no meio da maior crise financeira de que há memória na história contemporânea. Interessante acontecimento: Bush, apesar de discursar quase todos os dias, na verdade, já não manda nada; Barroso, apesar de se fazer notar quase todos os dias, não é autor, que se conheça, de qualquer plano para combater a crise. Navega, como sempre navegou, ao sabor da corrente em busca de um lugar ao sol. São os dois únicos responsáveis políticos no activo que estiveram presentes na cimeira das Lajes e Barroso é o único que, a partir de 4 de Novembro próximo, vai sobreviver, politicamente. Podemos sentir repulsa mas é notável!
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quinta-feira, outubro 16

CONFRATERNIZAÇÃO

A minha amiga Helena distinguiu este blogue com o "Prémio Dardos" que reconhece um conjunto de valores que muito prezo. Já há muito tempo que não aderia a este tipo de correntes mas, desta vez, o sentido da confraternização falou mais alto.

Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:


1. - Exibir a distinta imagem;

2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;

3. - Escolher quinze (15) outros blogues a que entregar o "Prémio Dardos".

Dando cumprimento às regras aqui ficam os 15 escolhidos:

A barbearia do senhor Luís

A Defesa de Faro

aguarelas de turner

ALDINA DUARTE

Algeroz!

Aluaflutua

APC GORJEIOS

BibliOdyssey

CAMINHOS DA MEMÓRIA

DIVAS & CONTRABAIXOS

Fim de Semana Alucinante

Machina Speculatrix

Macroscopio

Margens de erro

RESPIRAR O MESMO AR
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PARA A FRENTE OBAMA

O verdadeiro humor … negro!
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terça-feira, outubro 14

O ORÇAMENTO 2009 JÁ ROLA!


“Nunca me senti à vontade senão nas situações elevadas. Até nos pormenores da vida eu tinha necessidade de estar por cima. Preferia o autocarro ao metropolitano, as caleças aos táxis, os terraços às sobrelojas. (…) Os paióis, os porões, os subterrâneos, as grutas, os abismos, causavam-me horror. Ganhara mesmo um ódio especial aos espeleólogos (…)”

As grandes linhas do orçamento de estado para 2009 foram apresentadas. Antecipado de um dia, adiado por um dia. Interessante e, ao mesmo tempo, desconfortável para quem assume a responsabilidade da apresentação. Notava-se o desconforto. O tom severo faz parte da bagagem do protagonista e da natureza do acto. Mas o que interessa é o conteúdo. Ainda não se conhecem os seus detalhes mas nas suas grandes linhas parece um orçamento de regresso à filosofia dos orçamentos concebidos como instrumentos de política económica. Ninguém poderia esperar que Teixeira dos Santos se suicidasse, e com ele o governo, detonando um orçamento de contenção pura e dura. Em época de crise declarada e na véspera do ano de todas as eleições (menos as presidenciais). Nenhum governo na Europa irá além da preocupação de não ultrapassar os 3% do deficit. Talvez um dos grandes números apresentados com mais hipóteses de ser ultrapassado seja a previsão do deficit de 2,2% para 2009, só conhecido em 2010. Com a curiosidade de, a partir deste momento, a previsão do deficit para 2008 não poder ser inferior a 2,2%. Pois se o deficit de 2008 for inferior a 2,2%, os 2,2% previstos para 2009 significarão um aumento do deficit. Politicamente insustentável. Por outro lado se, no final de 2008, o deficit for superior a 2,2% será apontado como um fracasso do governo em ano de eleições. Politicamente insustentável. Por isso uma única coisa é certa: deficit de 2008=2,2%. De resto está assegurado que cada actor desempenhará o seu papel. O PS com esta proposta de orçamento cobre o flanco à esquerda. À direita o PSD está condicionado por muitos obstáculos entre os quais a cruz do deficit de 6, e muitos por cento que deixou, em 2005, de herança ao governo do PS. Resta saber se a crise do sistema financeiro se transformará numa verdadeira crise económica e social. E qual o seu tempo, dimensão, intensidade e profundidade. Por mim, por todas as razões, que as sondagens recentes ilustram, quero crer que o governo se sairá tanto melhor quanto mais forte for a tormenta!
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segunda-feira, outubro 13

O ESTADO ... FINALMENTE!

Henry Paulson

Tenho andado a reler, como alguns mais atentos já devem ter notado, alguns textos, bastante datados, pensava eu, do extinto MES (Movimento de Esquerda Socialista). Eis senão quando me começo a dar conta pelas notícias, primeiro em discretos rodapés e, de súbito, a toda a largura do terreno onde as notícias pegam de estaca que, afinal, algumas teses, ideias e palavras, que pensava enterradas regurgitam como flores na boca dos políticos em funções de estado. Não se confundam pois este castelo de cartas que dá pelo nome de sistema financeiro está (não esteve, está!) em vias de se desmoronar neste ano da graça de 2008. Ficará, neste declinar do sistema, para a história a frase de antologia do primeiro da Islândia aconselhando o seu povo a dedicar-se à pesca (mister no qual o meu filho é mestre o que pode ser uma mais valia não negligenciável!) enquanto nacionalizava os bancos todos lá do sítio com o apoio da Rússia. A teta secou mas os beiços dos sugadores habituados à mama não pára de reclamar mais ração. Se a coisa está preta para os lados da alta finança esta, cheia de lata, conclama à intervenção do estado, ou seja, da comunidade que lhes disponibilize o aleitamento em avales, garantias, pertences e dinheiro fresco. O estado vilipendiado, enxovalhado e denegrido à exaustão, sob as mais ferozes ameaças de ser arredado da face da terra, incompetente e trapalhão, chega-se, finalmente, à primeira linha de combate assegurando, pasme-se, a salvação dos seus detractores. Ainda tenho a memória fresca da ideia proclamada pelo Dr. Cadilhe, que deve estar a ser coberto (salvo seja) por estas garantias do estado velhaco, ter, com sapiência, colocado em cima da mesa a proposta da venda do ouro que está à guarda do Banco de Portugal, para tornar viável a reforma da administração pública … e os nossos liberais, neo-conservadores, e quejandos, terem proposto, pura e simplesmente, a supressão da participação do estado em tudo e mais alguma coisa menos nas chamadas “funções de estado”. Ora aí está como, num truque de mágica, o estado vira beneficiário, desses mesmos que preconizavam (e preconizam, vão ver!) o seu prematuro funeral. O grito que ecoa por todo o mundo, perante o silêncio dos inocentes, é o que poderíamos imaginar vindo da boca do comandante do cargueiro em perigo que levado em braços pela tripulação para o único lugar livre no salva-vidas, brada à restante tripulação aflita: “salvem-se que eu já me safei!” Vão ver que no fim nem vão agradecer!
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