terça-feira, dezembro 30

CAMUS - BASTIDORES DO NOBEL

A partir daqui cheguei a este artigo que ensaia revelar os bastidores do Nobel. Lembrei-me que a “rivalidade” entre Camus e Malraux encobria uma mútua admiração discípulo/mestre. A primeira frase, atribuída a Camus, no dia16 de Outubro de 1957, quando soube que lhe tinha sido atribuído o Nobel da Literatura foi: “C´est Malraux qui aurait dû l´avoir.”
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A VITÓRIA DE CARLOS CÉSAR

O dia de ontem, apesar de atravessarmos uma época de recato, foi muito agitado para mim. Adiante. Chegada a hora das notícias dei comigo a tentar acompanhar uma quase indecifrável torrente de comentários, e debates, a propósito da tomada de posição do Presidente da República acompanhando a sua decisão de promulgar o novo Estatuto dos Açores. Do lado certo, ou errado, só tenho a certeza de uma coisa: o vencedor foi Carlos César. O presidente do Governo Regional dos Açores, politicamente discreto, ao contrário de Alberto João, (em silêncio acerca do assunto!) fez vencer a sua proposta alcançando, salvo a abstenção final do PSD, a unanimidade em todas as sucessivas votações no Parlamento Regional dos Açores e na Assembleia da República. O povo não se comove com Cavaco porque não entende a questão que ele dramatiza. O equilíbrio dos poderes que a Constituição consagra e o novo estatuto dos Açores, segundo Cavaco, ofende é uma daquelas questões em que se provará que, em política, o tempo tem um valor incalculável.
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segunda-feira, dezembro 29

Breve resenha histórica da imprensa do MES - O jornal «Esquerda Socialista» (II)



Em épocas de revolução o tempo ganha uma dimensão proporcionalmente inversa ao empolgamento dos protagonistas. Quanto mais fervor revolucionário mais o tempo parece escasso. Todos os sonhos parecem realizáveis e as vozes conciliadoras, ou que se atrevam a apelar ao realismo, tendem a ser silenciadas ou desprezadas.
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Apesar do seu temperamento afectuoso e, ao mesmo tempo, irascível, César de Oliveira, uma grande figura de intelectual da esquerda portuguesa do século passado, abandonou a direcção interina do “Esquerda Socialista”, após a edição dos seus seis primeiros números, sob a pressão de uma maioria radicalizada que, considerava o jornal ”politicamente ambíguo”, “graficamente confuso” e “financeiramente desastroso”.

Acusações tanto mais injustas, digo-o hoje sem contemplações, atentas as dificuldades em reunir, à época, as condições para erguer qualquer órgão de imprensa partidária (e mesmo generalista!), fora da esfera de influência do PCP e dos grupos marxistas-leninistas-maoistas, ainda por cima, em oposição, ideológica e política, aos princípios essenciais da orientação político-partidária daquelas organizações.

Foram aliás essas dificuldades que explicam o longo tempo, quatro meses e dez dias (uma eternidade!), que mediou entre o surgimento público do MES, anunciado no pano artesanal que desfilou na grande manifestação do 1º de Maio de 1974, e o dia 11 de Setembro desse ano quando saiu do prelo o nº 0 do “Esquerda Socialista”. O cartaz dizia “Movimento de Esquerda Socialista (em organização) ”, uma fórmula impensável à luz das regras tradicionais do marketing político, mas que explica, em duas palavras, as delongas no surgimento do jornal.

Era preciso dar corpo a uma ideia que andava no ar, ou seja, estabelecer as bases programáticas e organizativas de um partido, criando-o de raiz, a quente, na bigorna da revolução, não deixando perder as energias de tantos e tão promissores movimentos de luta sectorial e o entusiasmo dos militantes que exigiam aderir a um movimento político que nem os seus fundadores sabiam muito bem ao que vinha e nos quais não constava, que me lembre, uma única personalidade relevante ligada à imprensa.

Que experiência mais apaixonante se poderia desejar na volúpia da revolução, que fervilhava nas ruas, do que responder ao desafio de criar um partido de “esquerda socialista” despojado, à partida, de recursos materiais e de apoios internacionais? Mas como encontrar energias para fundar, do nada, o mais depressa possível, um órgão de imprensa que lhe desse rosto e voz?

Ao fim de muitas, e acesas, discussões, nas quais o César de Oliveira se enfurecia amiúde, lançaram-se as bases de uma equipa de trabalho para elaborar o “Esquerda Socialista”, arranjou-se uma sede provisória na Rua Garrett, que a partir do nº 8 passou para a Rua Rodrigues Sampaio e a partir do nº 30 para a Av. D. Carlos I, convenceu-se a Renascença Gráfica a vender “fiado” os trabalhos de edição e impressão, contratou-se uma distribuidora e o “Esquerda Socialista” foi para a rua.

Esta aventura, FAÇA-SE JUSTIÇA, não teria sido possível sem o empenho do José Manuel Galvão Teles e como, ainda hoje, não sei se alguém lhe agradeceu o suficiente daqui lhe envio o meu tardio obrigado!

No decurso da 2ª fase da sua existência, de Dezembro de 1974 a Julho de 1975, a direcção do “Esquerda Socialista” foi atribuída, pela Comissão Política Nacional (CPN) a Augusto Mateus, tendo sido editados mais 27 números, do nº 12 ao 38, com periodicidade semanal, compostos por 12 páginas a 2 cores e ao preço de venda ao público de 3$00. (a única excepção foi um nº especial, a propósito do 11 de Março de 1975, que saiu apenas com 4 páginas ao preço de 1$00).

Se não erro, pois não tenho a colecção completa na minha frente (não sei que é feito dela), foram editados, contando com o nº 0, quarenta números do “Esquerda Socialista”, com uma tiragem, no seu ocaso, entre 17.000 e 20. 000 exemplares, mesmo assim bastante relevante acerca da presença política do MES no processo revolucionário em curso, como era da praxe dizer-se.

O jornal “Esquerda Socialista”, carregando, em particular, nesta derradeira fase, as marcas próprias da sua época, mais criativo e anarquizante, na sua primeira fase, constitui um testemunho interessante para uma análise política, e cronológica, do período revolucionário compreendido entre o 28 de Setembro de 1974 e a aprovação do “Plano Aliança Povo-MFA, em Junho de 1975.

Mas ainda não tinha acabado a aventura do “Esquerda Socialista” e já tinha sido criado o “Poder Popular”, o outro órgão de imprensa do MES, que se pretendia mais próximo da luta das classes populares, porta-voz de um programa político do MES que nunca deixou de reflectir, a partir do final de 1976, embora sem expressão pública, a luta interna entre facções que se digladiavam no seu seio.
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domingo, dezembro 28

BLOG DO ANO - ASSINO E SUBSCREVO


A cubana Yoani Sánchez é a blogueira do ano. Autora a partir de abril de 2007 do blog Generación Y, ganhou vários prêmios, entre eles o BOBS (Best of Blogs) dado na Alemanha e o Ortega y Gasset de jornalismo digital, na Espanha, e entrou na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2008 da revista Time.Yoani e o marido, o jornalista Reinaldo Escobar, criaram o portal DesdeCuba, onde há links para vários blogs cubanos, revistas digitais, informação independente. É o primeiro veículo livre de informação em Cuba.
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sábado, dezembro 27

A VIAGEM DO ELEFANTE

A Viagem do Elefante é o último livro de Saramago. Li-o neste período natalício num trago. Coisa rara. De Saramago tinha lido um só livro, na íntegra, sendo que dos outros as leituras se ficaram por tentativas inacabadas. Não sei se este Saramago que agora li num trago é o mesmo que antes tentara, em vão, ler. Não sei se passei a gostar do personagem que se esconde por detrás do escriba de que antes nunca gostara. Mas deste gostei. Talvez, no caso, tenha conseguido, como leitor, o que antes nunca conseguira: ler sem preconceitos. Do mais acho que nada mudou. Nem autor nem leitor.
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terça-feira, dezembro 23

OBRIGADA

Joseph McDonald

Para se compreender a razão de uma actividade como a de manter um blogue vivo tanto tempo – falo dos meus cinco anos – que o mesmo é dizer dos cinco anos do absorto seria necessário estar por dentro da cabeça do seu autor. Tarefa impossível para qualquer um e difícil para o próprio. O que posso assegurar, nesta quadra natalícia, dada ao relaxamento do corpo e à libertação do espírito, é que no fim do caminho, deste caminho, tentarei dar a público uma explicação da razão desta empresa na esperança de que até lá encontre as palavras para tal. Por agora interessa-me manter o equilíbrio estético que neste meio é vital para que seja apreensível, aos olhares fugidios, a mensagem moldada à imaginação de cada um. Tudo para agradecer os parabéns que me foram dirigidos a propósito da passagem do 5º aniversário. Obrigada.
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domingo, dezembro 21

EMBUSTES

Eve Arnold - USA. New York. Long Island. US actress Marilyn MONROE. 1955.

Escrevo à maneira antiga. Numa tábua em branco desenho a palavra testemunho da bruta realidade sem nada ceder aos seus horrores. Sem ser um espelho dela mas uma representação da realidade transfigurada. A poesia é a melhor enxada quando as palavras se deixam moldar. Canso-me, às vezes, de escrever à maneira antiga. Os mais hábeis para o negócio tornam as palavras num lugar habitual de convívio cosmopolita. Onde se estendem os braços e do outro lado em lugar da luxúria do gosto rendem as edições. As palavras alinhadas para o lucro não servem para nada senão para isso mesmo. Mais tarde se descobrirá o embuste - A pensar no José Rodrigues dos Santos e nos sites em inglês que promovem os seus romances nas Américas.[A propósito de ter visto uma notícia, a correr em rodapé, acerca da sua tradução em russo.]

[22/3/2008]
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sexta-feira, dezembro 19

Há um momento em que a juventude se perde ...


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IR ATÉ AO FIM

Da Maria do Rosário Fardilha: recebi o objecto-fruto maduro, híbrido, iluminado pela «esplendorosa ressonância de estar vivo» de Jorge de Sena e pelo lirismo que decorre do «êxtase na unidade homem-natureza» em Camus. Objecto-de-autor-sensível, atravessado pela maresia e o vento do Mediterrâneo. Objecto-poema pincelado de afecto, quente, no sufoco pelo ser feminino suave, pelo filho,… Lembrei-me: «Havia tanto amor e veneração nos seus olhos (...) que alguém nele - aquele que sabia – se revoltou» - o filho revoltou-se? … e os amigos: que não querem viver fora da beleza. Obrigada. Sinto-me fraca.
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Partilha:1. Sublinhei a traço grosso:«E, à noite, deitado, morto de cansaço, no silêncio do quarto onde a mãe dormia levemente, ainda ouvia uivar dentro dele o tumulto e o furor do vento que amaria ao longo de toda a vida.» - Albert Camus, O Primeiro Homem, Edição Livros do Brasil, 1994, pp. 219.
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CINCO ANOS, DEIXAR UMA MARCA.

Fotografia de Hélder Gonçalves

Passam hoje cinco anos sobre a criação deste blogue. Serve a efeméride para reafirmar o seu “programa”, ou o quiserem que seja, e para vos comunicar que ainda não acabou o tempo dele.

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
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quinta-feira, dezembro 18

“O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas”

Muitos dos nossos intelectuais habituaram-se a viver em ditadura dispondo à mão de uma causa nobre – a mais nobre das causas – pela qual lutar: a liberdade. Os que não viveram os tempos da tirania, ou por não terem dado por ela, ou por não terem idade para ter provado do seu fel, mostram muitas vezes um desejo de regresso ao passado dando como aval um desejo de regresso ao futuro. Cuidado, pois como dizia Camus: “O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas”.

terça-feira, dezembro 16

BREVE RESENHA HISTÓRICA DA IMPRENSA DO MES (I)


“Esquerda Socialista” jornal do Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.

Publicado nos Caminhos da Memória

O MES, como todos os partidos nascidos com o 25 de Abril, também criou a sua própria imprensa. Aquando da eclosão do 25 de Abril, somente o PCP dispunha de uma verdadeira imprensa própria, com tradição e enraizamento. Os diversos movimentos de base que haviam de confluir no MES produziam folhas volantes, opúsculos, boletins, mais ou menos ao sabor dos acontecimentos, e conforme as necessidades do momento. Salvo, claro está, as colaborações individuais de muitos dos seus fundadores em publicações marcantes da sociedade portuguesa dos anos 60.

Esta é uma breve resenha da história da imprensa do MES, como sempre, apoiada em documentação que tenho em minha posse e, não somente, em impressões subjectivas.

O grande entusiasta da criação de um jornal do MES foi César de Oliveira mas a própria natureza do Movimento, criado pela confluência de correntes surgidas de lutas sectoriais, tornou a tarefa mais difícil. A “Comissão de Imprensa” foi criada numa reunião da Comissão Politica realizada em 12/6/74 sendo encabeçada por Eduardo Ferro Rodrigues e César de Oliveira mas o Jornal só viria ser publicado em 11 de Setembro.

Ao contrário do que se poderia supor a primeira ideia formalizada para título do jornal do MES não foi “Esquerda Socialista” mas “A Luta Operária” e integra uma proposta subscrita por aquela “Comissão de Imprensa” titulada: “PROPOSTA – JORNAL DO MOVIMENTO DE ESQUERDA SOCIALISTA” – A apresentar à I Assembleia Nacional de Militantes do MES”. Trata-se de uma proposta detalhada que além do título propõe uma periodicidade semanal, o dia da publicação (5ª feira), o formato (tablóide), nº de páginas: 12 e subtítulos: “Órgão do Movimento de Esquerda Socialista” e “ O socialismo em Portugal será obra dos Trabalhadores Portugueses”.

Desta proposta inicial sobreviveu quase tudo, menos o título que havia de ser substituído por “Esquerda Socialista” já que o anterior, conforme consta num documento posterior, “não ganhou o suficiente apoio”. Mas não restam dúvidas que foi César de Oliveira o verdadeiro impulsionador da criação do Jornal do qual foi director interino dos 7 primeiros números da 1ºa fase, que decorreu entre Setembro de 1974 e o I Congressos de Dezembro desse ano, na qual foram publicados 11 números.

O número zero, já com César de Oliveira ao leme, foi publicado em 11 de Setembro de 1974, merecendo a megalómana tiragem de 100.000 exemplares e no seu editorial são apontados os 6 objectivos que devia prosseguir: “a) a informação e a análise das lutas; b) a informação e análise da realidade portuguesa; c) a promoção do debate político entre os militantes do MES; d) a divulgação das posições do MES à escala e regional; e) a divulgação e análise das experiências internacionais e f) contribuir para a elevação do nível de consciência das classes trabalhadoras …”. É claro que a avantajada tiragem também foi devidamente explicada mas não evitou, apesar das vendas estimadas entre 20 e 30.000 exemplares, ter sido, ainda antes da edição do nº1, acumulada uma dívida de 176 contos.

O nº 1, com o subtítulo “Órgão do Movimento de Esquerda Socialista” saiu a 16 de Outubro de 1974, com uma tiragem de 35.000 exemplares, e até ao I Congresso de Dezembro, saíram regularmente, sem falhas, 11 números. Parte da tiragem era então vendida ao preço de 2$50, com 12 páginas e a duas cores. César de Oliveira, em carta publicada no nº 7, demite-se de Director interino, justificando essa demissão por razões pessoais às quais se sobrepunham, certamente, a evolução e o teor do debate e as consequentes divergências que haviam de desembocar na primeira dissidência consumada aquando do I Congresso.

Entre o nº 7 e o nº 11 a Direcção do “Esquerda Socialista” foi assumida por Rogério de Jesus consumando, como se afirma num documento posterior, “a vitória duma “certa concepção obreirista que derrotou o intelectualismo dos “doutores” que vieram a dar origem ao GIS e à actual esquerda do PS”.

Não posso deixar de referir o papel marcante, nesta fase iniciar, entre os esquecidos criadores do movimento o designer Robin Fior, um estrangeiro em Lisboa por altura da eclosão do 25 de Abril. Foi ele que desenhou o símbolo do MES o único, adoptado pelos partidos portugueses, com uma declarada feição feminil; Robin foi também o autor da linha gráfica da primeira série do jornal "Esquerda Socialista" e concebeu um conjunto de cartazes surpreendentes pela sua ousada modernidade. Os materiais gráficos do MES, em particular, os da sua fase inicial, alcançaram uma rara qualidade que bem merecia uma cuidada recolha, estudo e divulgação pública.
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segunda-feira, dezembro 15

VALE A PENA SER DISCRETO?


Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena

Fernando Pessoa - Quadras


Não é todos os dias que um nosso interlocutor toma para si o risco de tornar pública a apreciação que de nós faz. Caminhe em que sentido caminhar a apreciação do outro faz-nos estranhar a nossa própria face, ouvir diferente a nossa própria voz, por um momento, faz-nos reflectir acerca dos gestos quotidianos de que é feita a nossa vida e, no caso, perguntarmo-nos o que é, afinal, isso de comunicação.

O amigo que me fala do outro lado do Atlântico, e que assina CATATAU, resolveu, hoje, escrever acerca de mim:

Recebi os Primeiros Poemas, livro de Eduardo Graça, cuidadosamente confeccionado, com trabalhos da artista portuguesa Isabel Espinheira.

Nosso amigo Absorto reuniu diversos poemas, boa parte deles escritos no "verão de 1980 quando, na praia dos sonhos que sempre ilumina, encontrei a Guida".

Sobre esse livro e o Graça, esbocei já diversos textos. Diria que o perfil de Eduardo Graça é muito interessante, admirador de Jorge de Sena, Kavafis e Camus (sempre presentes em seus veículos). Ainda, comentaria a respeito de sua paixão pela escrita, e apelaria a um caráter um tanto "abnegado", entrevisto em seu weblog, no sentido positivo de evocar uma ética do escrever, ao mesmo tempo em que a "popularidade" não faz parte das preocupações.

Em jogo, sempre a relação do leitor com o escritor. Porém não no mecanismo simples da mera autoridade. Eduardo não busca (enfim, é o que eu diria dele) um jogo de autor-autoridade, mas talvez um mecanismo mais complexo, no qual duas pessoas enredam-se na comunicação como pessoas - sem mediações "autorais" -, e a escrita se reveza como "meio" e como "fim". A escrita é meio para encontrar outras pessoas. Mas ao mesmo tempo, é fim em si mesma, implica o apreço por uma certa espécie de "arte" ou "culto à arte", tentativa de reportar o leitor apenas para a escrita, independente de questões autorais. No mesmo movimento, ela se reporta ao leitor, mas especialmente ao conteúdo, independente de qualquer leitor (ou talvez melhor se formule assim: para todos os leitores).

Mas no fim, não continuarei impressões que devem apenas a mim. Convido o leitor a tirar suas próprias impressões, visitando o Caderno de Poemas do Eduardo. Na lista, poemas de seus Primeiros, bem como atuais, e vários outros. Com o Absorto, o Caderno compõe um belo instrumento de interlocução, nos dois sentidos acima enumerados: um bom encontro, com bom conteúdo.

Obrigada, digo eu, cá deste lado!
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domingo, dezembro 14

SINDICATOS: "COISA VELHA"



O problema é que se Sócrates pensa que os sindicatos são "coisa velha”, tal como hoje afirmou Carvalho da Silva, Sócrates é bem capaz de ter razão. Em Março, deste ano, denunciei, num artigo de opinião, uma medida inominável que foi aprovada no último Congresso da CGTP com a qual, livrando-se dos dirigentes com passado, a CGTP mostrou, de facto, que é “coisa velha” e, com ela, os sindicatos que representa :
  • Enquanto Carvalho da Silva proferia o seu discurso “pronto-a-vestir” que assenta na perfeição a qualquer governo, seja qual for o estádio de desenvolvimento da sociedade e da economia, a CGTP criou, no âmbito do seu XI Congresso, uma regra que exclui da sua direcção os sindicalistas sexagenários. Estava dado o sinal à sociedade e, em particular, ao mundo laboral, de que a CGTP não é para velhos.
  • Esta não é uma questão menor, desde logo, porque confirma a intenção de eliminar a influência de dirigentes que, segundo todas as informações, defendem pontos de vista divergentes face à tendência política dominante naquela central sindical.
  • Jerónimo de Sousa, nascido em 13 de Abril de 1947, não poderia hoje, pela sua “provecta idade” (60 anos), ser dirigente da CGTP mas pode, por ironia, ser secretário-geral do PCP.
  • Mal se imaginava que a CGTP, confrontada com a implosão do mundo social que esteve na sua génese, enveredasse pelo caminho da “fobia gerontológica”. Quando se sabe que um dos lados mais dramáticos das sociedades do nosso tempo é o estigma da idade, a desvalorização da experiência, a distância entre as aspirações dos cidadãos comuns e os objectivos das grandes organizações, como pode o afastamento dos mais velhos do comando da CGTP arvorar-se em bandeira de renovação e modernidade?
  • A CGTP sabe que, em Portugal, “nos próximos 25 anos o número de idosos poderá mais do que duplicar o número de jovens” (INE) e que o “envelhecimento activo” é um dos grandes desafios do mundo ocidental e uma das primeiras prioridades da UE, no âmbito da “Estratégia de Lisboa”, que tem como objectivo atingir, até 2010, uma taxa de emprego de 50% para as pessoas do grupo etário dos 55 aos 64 anos.
  • A CGTP sabe, melhor do que ninguém, que o envelhecimento demográfico é inexorável colocando cada vez mais pressão sobre a sustentabilidade financeira do modelo de segurança social que ela própria defende. Ou seja a CGTP sabe que os mais velhos pesarão cada vez mais, quer nos indicadores demográficos, quer no financiamento do sistema previdencial, quer nas políticas de “envelhecimento activo”, quer no voto que, em democracia, serve para escolher os dirigentes das organizações e os governos.
  • A CGTP ao colocar fora dos seus órgãos dirigentes de topo os sindicalistas com mais de 60 anos, assim como os aposentados e pré-reformados, com menos de 60 anos, mesmo pondo de lado as teses conspirativas, mostrou ao país o seu desprezo pelas políticas sociais que incorporam a solidariedade inter-geracional.
  • Pois se o princípio de solidariedade inter-geracional que a CGTP assume, dentro de casa, é este, como pode, enquanto organização sindical que se reivindica das velhas bandeiras da luta pela igualdade e pela justiça social, defender os legítimos interesses de todos os trabalhadores e, em particular, os interesses dos reformados e dos aposentados, muitos deles no activo, que representarão, no futuro, um grupo cada vez mais numeroso e influente na sociedade?
  • Escrevi, faz um ano, nestas páginas, uma crónica intitulada “A luta de classes segue dentro de momentos …”, abordando o tema do sindicalismo. Nela me interrogava se não teria “chegado o momento de abrir caminho para a restituição dos sindicatos aos seus associados criando as bases de um sindicalismo moderno que constitua uma alternativa credível ao que muitos designam como o sindicalismo “de via reduzida” hoje dominante no nosso país?”
  • A CGTP-IN mostrou, neste Congresso, além da sua dependência partidária, com a consagração da ideia de que o sindicalismo não é para velhos, que persiste no caminho do sindicalismo de “via reduzida”, abdicando de uma leitura moderna dos valores fundadores do movimento associativo dos trabalhadores, ou seja, a sua vocação internacionalista, dialogante, solidária e inclusiva.

50 ANOS - VITÓRIA OU MORTE?


Mientras se preparan extensos dossiers sobre los cincuenta años de la Revolución Cubana, pocos se preguntan si lo celebrado es el cumpleaños de una criatura viva o sólo el aniversario de algo que ocurrió. Las revoluciones no duran medio siglo, les advierto a los que me preguntan. Terminan por devorarse a sí mismas y excretarse en autoritarismo, control e inmovilidad. Expiran siempre que intentan hacerse eternas. Fallecen por querer mantenerse sin cambiar.

Lo que comenzó aquel primero de enero lleva –según muchos– varios años bajo tierra. La discusión parece estar alrededor de la fecha en que ocurrió el funeral. Para Reinaldo, murió aquel agosto de 1968 cuando nuestro barbado líder aplaudió la entrada de los tanques a Praga. Mi madre vio agonizar la Revolución mientras dictaban la sentencia de muerte al general Arnaldo Ochoa. Marzo del 2003, con sus detenciones y juicios sumarios, fue el estertor final que escucharon algunos empecinados que la creían viva aún.

Yo la conocí cadáver, se los digo. Aquel año 1975 en el que nací, la sovietización había borrado toda la espontaneidad y nada quedaba de la rebeldía que evocaban los mayores. No había ya pelos largos ni euforia popular, sino purgas, doble moral y delación. Los escapularios con los que habían bajado de la montaña estaban ya proscritos y aquellos soldados de la Sierra Maestra, se habían vuelto adictos al poder.

El resto ha sido el prolongado velatorio de lo que pudo ser, los cirios encendidos de una ilusión que arrastró a tantos. Este enero la difunta cumple un nuevo aniversario, habrá flores, vivas y canciones, pero nada logrará sacarla del panteón, hacerla volver a la vida. Déjenla descansar en paz y comencemos pronto un nuevo ciclo: más breve, menos altisonante, más libre. [DAQUI]
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sábado, dezembro 13

NAMORAR À JANELA


A propósito do namoro entre intelectuais da “esquerda da esquerda”, em busca do tempo perdido, rebuscando nos escombros do MES, passam-me por debaixo dos olhos textos antigos que, apesar de tudo, me tranquilizam. Lembrei-me destas frases antigas de Camus:

"Regra lógica. O singular tem valor de universal.
- ilógica: o trágico é contraditório.
- prática: um homem inteligente em certo plano pode ser um imbecil noutros."

Albert Camus - Caderno nº 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937)
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TANTO MAR?

Capa do livro "Tanto Mar?", da autoria de Francisco Seixas da Costa, Embaixador de Portugal no Brasil, uma edição da Thesaurus Editora, de Brasília, que saiu do prelo no dia 8 de Dezembro. O livro coincide com as despedidas de Seixas da Costa do Brasil de partida para Paris. Boa sorte!
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