quinta-feira, maio 7

UM ROUBO À VISTA DESARMADA

Daqui

Drogba não se conteve. "It's a fucking disgrace". As palavras do costa-marfinense (qualquer coisa como "puta de vergonha") contra o árbitro norueguês Tom Henning Ovrebo foram o sinal mais marcante da revolta dos ingleses pela arbitragem no jogo frente ao Barcelona. Agora Drogba pode vir a ser castigado pela UEFA, mas Guus Hiddink, o treinador, já saiu em sua defesa: "Compreendo o seu comportamento e vou protegê-lo". Foto: Eddie Keogh/Reuters

[Vi o jogo de princípio ao fim e foi muito evidente que só um milagre evitaria a eliminação dos Ingleses. Uma lição de falta de ética, um ensaio prático, à vista do mundo, de favorecimento descarado, e sei lá o que mais… O senhor árbitro era norueguês, o país mais próspero da Europa, o que comprova que não há uma relação directa entre prosperidade e seriedade. Fiquei do lado dos nossos aliados ingleses, contra os nossos aliados catalães, do lado dos mais fracos!]
.

segunda-feira, maio 4

A SONDAGEM DE ABRIL

-----------------
Como sempre digo as sondagens são o que são, servem para a gerir expectativas o que, em política, já não é pouco. As sondagens da Universidade Católica são consideradas as mais fiáveis. O que é que esta tem de especial? O PS, surpreendentemente, ou talvez não, continua na frente, acima dos 40% apesar da crise e de tudo o resto. Os resultados dos outros partidos é assim como um processo de vasos comunicantes: o PSD sobe na medida em que o PP desce; o PCP desce na medida em que o BE sobe. Esta leitura é, naturalmente, simplificada pois os ganhos e perdas são o resultado de cruzamentos mais complexos.

Veja-se, acima, a infografia resultante da sondagem e comentários aprofundados no MARGENS DE ERRO.
.

sábado, maio 2

UMA FRAGATA LONGE DO 1º DE MAIO


A notícia do El Pais só ganha valor porque a imprensa portuguesa tratou o acontecimento com uma displicência surpreendente com base num breve despacho da Lusa. As razões para esta displicência serão muitas mas uma delas é, certamente, a azáfama dos directores editoriais a pressionarem os jornalistas para desencantarem novidades acerca do caso Freeport. Na verdade os jornalistas já interiorizaram que o caso se banalizou mas as pressões parecem não lhes deixarem tempo, nem disponibilidade, para tratarem outros temas... (Isto é tudo mera ficção da minha parte … e, já agora, o Prof. Louçã ainda não disse nada acerca das agressões a Vital Moreira …).
.

sexta-feira, maio 1

ONDE É QUE EU JÁ VI ISTO?

.
Vital Moreira agredido e insultado na manifestação da CGTP-IN

A comunicação social preocupada, acima de tudo, com as notícias dará o devido eco a esta manifestação de sectarismo e intolerância. São estes pequenos nadas que nos ensinam muito acerca da natureza política das organizações. Desespero, vingança, ódio? De tudo um pouco. Significativamente no 35º aniversário do dia em que, na verdade, caiu o fascismo em Portugal, a pouco mais de um mês das eleições para o Parlamento Europeu (7 de Junho), o facto é, em si mesmo, lamentável. Uma contrariedade para os adversários do PS.

Ainda só com o título, mas sem notícia, o Expresso online já ostentava o primeiro comentário de um leitor que sintetiza o programa político das correntes populistas, da esquerda à direita:

Desconheço os contornos que rodearam esta hipotética agressão, contudo, afirmo que foram bem empregues, dado que os vermes devem ser sovados e eliminados, e este é mais um rugoso ácaro que tem como objectivo primeiro parasitar no el dorado do parlamento Europeu.

Ou este outro comentário retirado do Público online:
.
Tá tudo dito: Manobra política do PS! Nada que saber! Em caso de derrota do PS, isto vai servir para apaziguar espirítos numa possível coligação de esquerda com o PCP. Um dos casos mais prováveis é que tenha sido tudo uma encenação para enganar o povo. Com a recente alteração na Lei do Financiamento dos Partidos, o PCP passou a poder amealhar dinheiro do grosso, daí que passe a ser um amiguinho do PS. É tudo manobra política
.
As imagens dos insultos, e agressões, a Vital Moreira são feeínhas. Pelos lados do PCP, Jerónimo de Sousa, num primeiro momento, tomou uma posição que vai ficar para a história, do género "não comento o que não vi". Mais tarde o PCP colocou-se na incómoda posição de vítima e não se ouviu uma palavra saída da boca de Ilda Figueiredo! Alguns jovens jornalistas aprenderam mais ontem, acerca da política portuguesa, do que em toda a sua vida. Que lhes faça bom proveito!
.
De uma notícia no JN (a renúncia da PSP, a ameaça de Carvalho da Silva e o cinismo de Jerónimo de Sousa):

Nenhum dos agentes da PSP presentes se aproximou da confusão.

"É preciso ter algumas cautelas quanto à forma de fazer campanhas eleitorais e aos espaços escolhidos".

"Não vou comentar o que não vi"
.
.

ZECA AFONSO


O PRÓXIMO 10 DE MAIO, DOMINGO, ÁS 12 DA TARDE, INAUGÚRASE UNHA PRAZA DEDICADA AO NOSO AMIGO, O CANTOR PORTUGUÉS, JOSÉ AFONSO. ESTÁ SITUADA NO BURGO DAS NACIÓNS, EN SANTIAGO DE COMPOSTELA. ASISTIRÁ O ALCALDE, JOSÉ SÁNCHEZ BUGALLO E ZÈLIA, A COMPAÑEIRA DO ZECA. ESTÁN CONVIDADOS TÓDOLOS AFONSIANOS QUE QUEIRAN ASISTIR
.

quinta-feira, abril 30

1º de Maio de 1974 - O MES saiu à rua num dia assim





Fotografias de Rosário Belmar da Costa (clique para ampliar)

Como escrever uma posta acerca de uma memória antiga que não surja aos olhos de quem a lê como o rumorejar de um passado morto? Não sei! Apesar do risco sinto que, no terreno movediço das memórias, há exercícios que valem a pena. É o caso deste que partilho convosco.
.
Um dia, nos idos de 2007, através de uma cadeia de amigos chegaram-me às mãos quatro fotografias que testemunham o surgimento público do MES (Movimento de Esquerda Socialista).
.
Aconteceu na celebrada manifestação do 1º de Maio de 1974, em Lisboa, a tal inultrapassável em tudo - desde a aritmética à emoção - que autenticou a vitória do golpe militar com a marca de água de uma massiva, genuína e entusiástica adesão popular. Tendo-me chegado às mãos as ditas quatro fotografias, depois de tanto ter cismado acerca da sua eventual inexistência, havia de promover a sua divulgação.
.
Escrevi então, se não erro, três postas no absorto que podem ser lidas aqui, aqui e aqui, mas a colecção nunca antes havia sido publicada. O interesse em voltar ao tema, no presente, é, pois, somente o de deixar disponíveis, e arquivadas, nos Caminhos, as fotografias (únicas) da Rosário Belmar da Costa e, em jeito de remate transcrever dois comentários de quem testemunhou, ao vivo, a manifestação (no caso a fotógrafa de ocasião) dando conta da anárquica discussão acerca da sigla do nascente MES que havia de ser, até ao fim, «de esquerda» e não «da esquerda» como surgiu anunciado no artesanal pano inaugural.

Quem quiser, 35 anos passados, que se entretenha a identificar os manifestantes!

Comentou a Rosário:

Eduardo,

Estivemos, eu e o Xico (Camões), a puxar pela memória e o que nos lembramos é que começámos o dia por ir ao Bombarral buscar uns livros de capa preta que o Mil Homens tinha conseguido imprimir numa tipografia de lá (sobre o que eram os livros já não nos lembramos - textos de antes do 25 de Abril e prefácio posterior, mas talvez tu saibas *).

Depois viemos ter com o Agostinho (Roseta) (lá para os lados da Portugália) que, fardado, não queria aparecer em evidência. Não sei mesmo mas penso que é o tipo de costas ao pé do pau do lado esquerdo.

A ideia do cartaz foi do César de Oliveira (creio que ainda houve alguma discussão sobre se era Movimento da Esquerda ou Movimento de Esquerda…), que esteve o tempo todo esfuziante aos gritos. Ao pé de nós apareceu um grupo, de desertores e refractários acabadinhos de chegar de Paris, animadíssimo (bem animadíssimos estávamos todos) capitaneado pelo Zé Mário Branco aos gritos de «Desertores, Refractários, Amnistia Total!». Foi uma tarde de sonho, tal era o entusiasmo, a quantidade de gente toda feliz, a alegria que estava no ar!

Quanto à fotografia o problema é lembrarmo-nos dos nomes…A partir de uma determinada altura já não foi possível fotografar mais nada, já que era tanta a gente que só do alto e com grandes angulares, meios fora do alcance dos amadores que éramos. Felizmente foram a P&B, que têm muita mais conservação que as feitas a cores!.

Rosário Belmar da Costa

* O livro intitula-se: Classes, política - política de Classes.

Comentou a Luísa Ivo:

O nome do movimento foi amplamente discutido numa reunião no Centro Nacional de Cultura, no fim-de-semana entre o 25 de Abril e o 1º de Maio. Não me lembro de alternativas à sigla depois aparecida, nem recordo já quem defendeu fosse o que fosse. Sei que foi uma reunião confusa, com pessoas a entrar e a sair, com variadíssimos contactos telefónicos, mesmo para outros pontos do país. Tentava-se informar a malta que connosco se articulava há anos. Recordo um telefonema que fiz para amigos do Sindicato dos Electricistas de Coimbra (ou talvez do Centro), por indicação do Victor Wengorovius que teve um papel central nessa reunião de coordenação.

Um abraço grande para quem aqui passa e para ti em especial da

Luísa Ivo

quarta-feira, abril 29

OBAMA - 100 DIAS

.

A CURVA DAS EXPECTATIVAS

Clique na imagem para ampliar

A sondagem mensal (barómetro), referente a Abril, da Marktest confirma o fenómeno da descida do PSD (2 pontos), comparado com o PS que desce, somente, meio ponto, apesar de ser governo, em condições fortemente adversas. Nas extremidades do espectro partidário o BE e o PCP sobem e o PP desce. O panorama, à luz desta sondagem, não é brilhante para a direita.
.

terça-feira, abril 28

A FÉ NA PROPAGANDA

Fotografia de Hélder Gonçalves

Nos últimos séculos os militares tiveram um peso desproporcionado na sociedade portuguesa. Mas, para falar só do Século XX, os portugueses participaram, com forças expedicionárias, em diversos conflitos armados, mas sempre fora das suas fronteiras europeias.

Esta é certamente uma perspectiva parcelar de um problema português mais profundo: a fragilidade da sociedade civil, das classes médias, das elites dirigentes e a ausência de um projecto nacional coerente de participação na construção europeia, sem sonhos atlantistas, megalomanias nacionalistas ou patriotismos serôdios.

De facto, há mais de um século que os portugueses não são confrontados com um fenómeno de guerra no Portugal europeu. Os portugueses têm sofrido e morrido em guerras longe do seu território originário: a Europa.

Não é, pois, de estranhar que se tenha criado, entre os portugueses, um estado de espírito de "general de sofá". Toca a todos comandar as tropas imaginárias. E como as guerras, hoje, são perdidas ou vencidas na TV!

Não há pedagogia que se substitua à experiência da guerra com o seu cortejo de misérias e atrocidades. Sem guerra à porta de casa, ao longo de mais de um século, nada nos indigna, a sério, na guerra. A nossa posição de princípio é a indiferença.

Temos a GNR no Iraque. Pois que fiquem! As atrocidades praticadas pelos beligerantes indignam o mundo. As perversidades dos "libertadores" indignam os congressistas dos EUA? É um problema deles! Haja fé! José Manuel Fernandes, dixi!

Se um dia destes acontecer um atentado em Portugal o estado de espírito mudará. Nessa altura entenderemos melhor o 11 de Março em Madrid, as atrocidades em Bagdad, os crimes na Palestina. Aí os portugueses, distraídos de tudo, compreenderão o que Camus escreveu no seu Caderno, em Setembro de 1941 - "Organiza-se tudo: é simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos".
.
Não desejo a guerra mas a guerra não será sempre o sofrimento dos outros e a nossa comoção indiferente e distraída. Não discuto o lado da barricada que nos competirá ocupar. O meu lado é o da democracia e da liberdade. Mas as opções políticas que condicionam o nosso papel no mundo, no Iraque, Médio Oriente ou outro lugar qualquer, são da responsabilidade de quem governa. Infelizmente aos defensores das guerras de saque e conquista, de todos os tempos, escasseia a humildade onde sobra a arrogância.

Hoje, como sempre, os defensores do fanatismo, seja encarnado por Bush ou Rumsfeld e seus aliados, seja pelo islamismo radical, estão do lado errado da história. Por mais que gritem, vociferem, ameacem e, pateticamente, invoquem a fé os arautos das guerras prosseguem objectivos bem mais prosaicos e terrenos que se esgotam na apropriação e controle das matérias-primas, tecnologias, mão-de-obra e rotas mercantis. O resto é a fé na propaganda.

[In Abébia Vadia – os links estão desactivados e fiz pequenas alterações de pormenor – 17 de Maio de 2004.]
.

SAUDADES

Que luz mais forte me alumiou
Os sentidos sob o sol dourado,
Põe o chapéu dizia minha mãe
E rebelde fugia para o telhado.

Que cheiros mais inebriantes
Os canteiros floridos de rosas,
Assoa o nariz dizia minha mãe
Caindo eu quedas desditosas.

Que luz mais forte me alumiou
Os dias senão o sorriso franco
De minha mãe por vezes triste
Os pés firmes no chão branco.

Lisboa, 5 de Março de 2009
.

domingo, abril 26

FESTA ALEGÓRICA

Imagem daqui

Felizes os portugueses.
Mais um santo de longínquo
e nebuloso passado
sendo o futuro incerto,
e nem sinais de “gripe suína”
por perto.

No meio da arena
as investigações prosseguem.
Felizes os portugueses.

As notícias do dia fizeram-me
lembrar um poema que
Jorge de Sena escreveu
no longínquo ano de 1974:

FESTA ALEGÓRICA

O bobo do imperador Maximiliano
organizou uma festa alegórica
que o povo e a corte de soberano à frente
saborearam em grandes gargalhadas:
juntou na praça todo o cego pobre,
prendeu a um poste um porco muito gordo,
e anunciou ganhar o dito porco aquele
que à paulada o matasse. Os cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem.
A festa acabou numa sangueira total:
porém havia muito tempo que o imperador
e a corte e o povo não se riam tanto.
O bobo, esse tinha por dever bem pago
o fabricar as piadas para fazer rir.

SB, 7/1/74
.

ESSA COISA TÃO SIMPLES: LIBERDADE


Já aqui escrevi, há quinze dias, sobre o que penso do caso Freeport e da posição em que ele coloca José Sócrates. Escrevi que, pessoalmente, acredito na sua inocência, mas não abdico de ver tudo esclarecido, sem margem para qualquer dúvida. O que eu não entendo é a leviandade de tudo isto: um homem é publicamente suspeito do pior dos crimes políticos e a coisa arrasta-se, meses, anos, em fogo lento, sem que ele seja ilibado ou acusado e tendo ainda de governar o país e enfrentar eleições sob esse peso. Não pode desistir, porque seria como que uma confissão de culpa; não pode continuar em igualdade de circunstâncias com os seus adversários políticos, porque há sempre essa terrível suspeita pendente sobre ele. Não pode ficar quieto e calado, porque alimenta as suspeitas; não se pode defender, porque é uma ‘ameaça’ e uma ‘pressão’. O que pode um cidadão, que tem o azar de ser primeiro-ministro de Portugal, fazer num caso destes e enquanto espera que a Justiça cumpra o seu papel?

Miguel Sousa Tavares, in Expresso, retirado do Jumento.
.

sábado, abril 25

25 DE ABRIL

Não vi, nem ouvi, nada da cerimónia evocativa do 35º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República. Não se trata de esquecimento, nem de falta de tempo, muito menos de falta de respeito pela instituição parlamentar, mas porque me aborrece, desde há muito tempo, a dita cerimónia. Celebro o 25 de Abril à minha maneira, com acções que cabem na esfera da prática activa da cidadania, cujos detalhes não me apetece revelar. Acabo de ler o discurso que o Presidente da República proferiu, como sempre, a propósito da efeméride na casa mãe da democracia representativa. Devo ser uma das primeiras pessoas que ouviu a personalidade que exerce, hoje, as funções de Presidente da República falar em público. Devo ser uma das primeiras pessoas que, muito antes de Cavaco Silva exercer funções políticas, o contestou frontalmente. Mas o seu discurso de hoje é uma magnífica peça no exercício da função presidencial. Tiro-lhe o chapéu. O discurso, na íntegra, aqui e aqui.
.

O QUE VALE A PENA

Fotografia de Hélder Gonçalves

Nestes dias de penumbra o que vale a pena é exercer a liberdade. Não ceder à tentação de renunciar ao exercício da liberdade. Somos um grão de areia na formação da opinião pública que conta com milhões de operadores.

Na sua esmagadora maioria são operadores individuais. O mundo dos blogues é um exemplo extraordinário desta explosão de "fazedores de opinião". Cada vez que perscruto esse mundo, fazendo uma ou outra viagem mais ousada, se me abre a boca de espanto.

Não sou um fanático, nem mesmo um especialista, mas a internet é mesmo muito mais forte do que cada um de nós possa imaginar.

Este é o terreno privilegiado, nos nossos dias, para o exercício da liberdade. Sublinho esta ideia, porventura, desnecessária para muitos daqueles que são mais afeiçoados a esta realidade.

Mas creio que o seu desenvolvimento ainda interessa a muitos mais que dela estão alheios. Não vale a pena tentar passar ao lado. Manuel Castells tem uma abundante reflexão acerca da relação entre Internet e Liberdade que se recomenda aqueles que pretendam aprofundar este tema.

O que vale a pena é desfrutar dos seus benefícios.

É o que me apetece re-dizer no dia em que se celebra o 35º aniversário do 25 de Abril. [In Abébia Vadia – 2004]. Ver ainda aqui.
.