«La liberté n’est pas un cadeau qu’on reçoit d’un Etat ou d’un chef, mais un bien que l’on conquiert tous les jours, par l’effort de chacun et l’union de tous.»
(...)
On comprend mieux pourquoi la gauche n’a jamais aimé Camus : trop proche des insoumis. La droite, elle, a espéré le récupérer - mais l’antitotalitarisme de l’écrivain, qui l’a mené à Bakounine, le père de l’anarchie, a débouché, comme nous le rappelle activement l’exposition de Lourmarin, sur la non-violence, jamais sur des interventions armées, fussent-elles disculpées par le droit d’ingérence. «Tuer les hommes ne sert à rien que tuer encore.» .
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, junho 6
quarta-feira, junho 5
terça-feira, junho 4
EVIDÊNCIAS - VIII
Um 8º soneto (que deverá ocupar o lugar do 7º), um dos mais belos senão o mais belo – e que me emocionou tanto, que julguei que ia escrever logo outro. Mas era só emoção dele.
VIII
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena
Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.
Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,
um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,
tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.
Jorge de Sena
segunda-feira, junho 3
Encontro (ou paixão) inviável
A rua onde nasci,
a cidade branca, o ar do tempo, as vizinhas apetecíveis, a mãe, o pai, o irmão,
a gente do povo, o coro dos cães, a feira, a escassez, os avós, a terra, os
frutos, as flores, os figos, a dor, a dança, o céu azul, o mar largo, a
salmoira, a cesta, a eira, o milho, o poço, a nora, os bois, a prima, a morte,
a miséria, …
A existência
parada, os livros de quadradinhos, o fascínio pelo Brasil, a mobília, a luz, a
mesa de trabalho, o bibe, a pia, a missa, as beatas, a procissão, o café, o
cansaço da caminhada, a bola, o jogo, o livro sagrado, …
22/5/2012
LIBERDADE
"Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade. A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.
(...)
A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."
Albert Camus, in Cadernos
(...)
A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."
Albert Camus, in Cadernos
domingo, junho 2
EVIDÊNCIAS VII
(…) Trabalhei no serviço o dia inteiro e, à tarde, escrevi em três horas de expectativa tenteada, um 7º soneto, que me parece o penúltimo das “evidências”.
25
Dei os sete sonetos (até agora) ao Casais (que já ouvira os 3 primeiros) a ler. Achou de “primeiríssima ordem” os 5 primeiros – com a reserva do final violento do 3º, que o choca -, menos bom o 6º, e o 7º ainda que muito bom, pareceu-lhe desviado da linha dos outros.
VII
25
Dei os sete sonetos (até agora) ao Casais (que já ouvira os 3 primeiros) a ler. Achou de “primeiríssima ordem” os 5 primeiros – com a reserva do final violento do 3º, que o choca -, menos bom o 6º, e o 7º ainda que muito bom, pareceu-lhe desviado da linha dos outros.
VII
Atentos sobre a terra ao que sem nós
connosco é o movimento em que levados
vamos criando qual somos criados
na recessão dos mundos fugitivos,
é nossa a luz que vemos, nossa a voz
com que a dizemos de astros apagados,
é nossa a carne com que estamos vivos,
e é dela a só ternura que abraçados
connosco esquece a distinção das cousas.
Humano escutarás, único vais
na numerosa multidão esquecida.
Ímpio de ti, se juras e não ousas
que teus vivos desejos se ergam tais
como em ti próprio aguarda uma outra vida.
Jorge de Sena
22-2-1954
connosco é o movimento em que levados
vamos criando qual somos criados
na recessão dos mundos fugitivos,
é nossa a luz que vemos, nossa a voz
com que a dizemos de astros apagados,
é nossa a carne com que estamos vivos,
e é dela a só ternura que abraçados
connosco esquece a distinção das cousas.
Humano escutarás, único vais
na numerosa multidão esquecida.
Ímpio de ti, se juras e não ousas
que teus vivos desejos se ergam tais
como em ti próprio aguarda uma outra vida.
Jorge de Sena
22-2-1954
sábado, junho 1
1128
Retomando um velho post de uma série que resultou da leitura entusiasmada da obra de Mattoso acerca do nosso primeiro rei para ilustrar como a força nunca está ausente da política nos momentos decisivos. E ilustrando também como, no plano simbólico e material, Portugal é uma nação antiga que apesar de todas as vicissitudes, existe desde 1128.
Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
Fotografia de Hélder Gonçalves
Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).
Fotografia de Hélder Gonçalves
sexta-feira, maio 31
Variações
Experiência II
Quero
de ti o corpo
seio
ventre aberto
Quero
o beijo de ti
sei
do sexo ao certo
Quero
de ti isso
o
lugar exacto só
Quero
a mão agora
logo
não sei já
Que
não quero sei
é
perder-me aqui
Mas
perder-me sei
Ao
certo que me quero
Quero
aonde ser
nada
mais senão eu
Agora
já sabes
o
que eu quero
Eu
é que não sei!
6/11/1980
[In Primeiros
Poemas, edição de autor, Dez. 2007]
quinta-feira, maio 30
quarta-feira, maio 29
EVIDÊNCIAS VI
Concluí pela manhã o 6º soneto.
VI
Ambígua identidade, incauto amor
que o vento esculpe em pedras do deserto
como as que, vagas, pelo mar incerto
o mesmo vento aos areais conduz;
serena insaciedade, ausente ardor,
limiar a que a não-vida a descoberto
assoma viva qual se fôra perto
a fímbria clara exposta a contra-luz;
marcado e repetido, ou imperceptível
e como que perene, o suceder
das coisas, cujo ser é noutras ser
a forma contornada e previsível;
- demoram-se as estátuas, e quebradas
serão tristeza de outras não talhadas.
Jorge de Sena
segunda-feira, maio 27
A primeira coisa é não desesperar
“As amendoeiras”: (…)
A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, muita gente, confunde o trágico com o desespero. “O trágico”, dizia Lawrence, “deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade”.
Albert Camus, in Núpcias, O Verão
domingo, maio 26
EVIDÊNCIAS V
O dia inteiro lutando com um 5º soneto. O que foi dolorosamente interrompido pela visita dos pais do Lemos* - que ouvi suspenso na aparência amável e divertida, mesmo simpatizando porque o estimo muito. Excelente a anedota autêntica de a Estrela Faria ter “ganho” na Bienal o prémio que o amante dela, um brásio rico, inventou com o próprio nome … e pagou (10 contos). Depois num aflitivo esforço de concentração, o soneto organizou-se, e terminei-o inteiramente outro do que planejara ou supusera que ele seria. E, enquanto escrevo, ouço a espectacular mas emocionante Rapsódia Hebraica de Block, para violoncelo e orquestra. Aprecio neste compositor a veemência e uma certa facilidade dramática que faltam, tão francamente sentimentais, em quase todos os modernos.
Envolvido no Zaratustra, de Strauss, sai-me o esperado soneto das galáxias (para o que refolheara o Eddington – ó eruditos do piolho catado!).
*Refere-se, certamente, aos pais de Fernando Lemos que, em 1953, havia emigrado para o Brasil.
V
Na antiga e fácil pátria da amargura
com qual quais chegam vossas vozes vão
quebrando as ondas minha voz mais pura
só de ter visto o mesmo coração
que como exílio fora não perdura,
eis-me silêncio arrebatado e não
nenhuma ausência ou extrema formosura
de um Deus que volta em pompa e escuridão.
Desnudo e em sangue, ai que não volta: existe
suspenso a vosso lado, e o duplo sexo
goteja embora no pudor perplexo
com que O não vedes na paisagem triste.
Eis-me que apenas me roubais quem sois:
se Deus deseja é desejar por dois.
Jorge de Sena
20-2-1954
sábado, maio 25
POLÍTICA (9)
Mais do que acontece nas épocas de abundância (mesmo
aparente) a política é mais importante nas épocas de carência. Não tenho à mão qualquer
manual mas pululam os escritos, e reflexões, acerca da arte da política de tantos
autores consagrados de todas as épocas. E ocupa um lugar central na minha
cabeça, acerca da política, a palavra compromisso, tantas vezes glosada em todos
os tempos. A diferença que habita em todo o lugar em que o homem vive e luta,
no interior e exterior de si próprio, exige o permanente exercício do
compromisso. Dos pequenos aos grandes interesses, dos pequenos aos grandes
gestos, viver em comum, como nos cumpre viver na sociedade civilizada do nosso
tempo, exige aos políticos, nas decisões que dizem respeito a toda a comunidade,
exercer a capacidade dos compromissos, respeitando as diferenças.
quinta-feira, maio 23
AS EVIDÊNCIAS IV
Um 4º soneto, que apareceu a correr pouco antes de eu ir para S. Carlos ouvir a Electra …
IV
Da solidão que o vosso mal povoa
de monstruosas mãos e duros dentes,
lá onde agudo só um latido ecoa,
e o amor se esconde em piolhosos pentes;
Do vácuo fedorento, excrementício,
com que de roubos vosso rasto acaba
idêntico a vós próprios desde o início,
que desde sempre foi a mesma baba;
Da solidão que dais e que roubais,
do vácuo que levais e que deixais,
do pavoroso nada que imitais
quando cobris dos ouropéis legais
o horror de estardes sós em companhia –
o mal que sois em mim se refugia.
Jorge de Sena
15-4-1954*
quarta-feira, maio 22
POLÍTICA (8)
As grandes instituições internacionais da área financeira
suponho que não são dirigidas por santos, com voto de castidade e/ou de
pobreza nem tal seria exigível - e ainda bem. O FMI tem alcançado os píncaros na prova ou, no mínimo, de indícios da tentação para a venalidade
dos seus máximos expoentes. Não que saiba mais do que é do domínio público, nem
especule em vão, pois os casos andam de tribunal em tribunal e de escândalo em escândalo,
à força da evidência dos pecados da carne e dinheiro ou, ao menos, de seus
fortes indícios. Pecados quem os não tem? Mas os presidentes do FMI, uma
espécie única no mundo de presidentes do dinheiro, deveriam ostentar, pelo contrário, não
a santidade mas, ao menos, a parcimónia nos usos e costumes. Banalizar esta acção da justiça francesa e tomar a protagonista da mesma como uma vulgar cidadã do
mundo é um pouco excessivo!
terça-feira, maio 21
AS EVIDÊNCIAS III
13
Esta manhã, 3º soneto que me fez chegar ao meio -dia à repartição.
III
Que coisas sois? – se sois como que gente,
se as vozes imitais, se olhando olhais,
se os gestos de fingir com que adorais
os mesmos são de a vida estar presente?
Que coisas sois? – que o mundo humanamente
entre vós e vós próprios limitais?
Se é de outrem essa morte que matais
quando morreis temendo-a frente a frente?
Que coisas sois? – Menos que humanos, vis,
viscosos, fluidos e crustáceos, cães
paridos sem pecado pelas mães
que o súcubo emprenhou, sois de raiz
facas sem lâmina a que falta o cabo,
que a quem se abaixa se lhe vê o rabo.
13-2-1954
Esta manhã, 3º soneto que me fez chegar ao meio -dia à repartição.
III
Que coisas sois? – se sois como que gente,
se as vozes imitais, se olhando olhais,
se os gestos de fingir com que adorais
os mesmos são de a vida estar presente?
Que coisas sois? – que o mundo humanamente
entre vós e vós próprios limitais?
Se é de outrem essa morte que matais
quando morreis temendo-a frente a frente?
Que coisas sois? – Menos que humanos, vis,
viscosos, fluidos e crustáceos, cães
paridos sem pecado pelas mães
que o súcubo emprenhou, sois de raiz
facas sem lâmina a que falta o cabo,
que a quem se abaixa se lhe vê o rabo.
13-2-1954
segunda-feira, maio 20
ÁLVARO CUNHAL
Acabei de ver na TVI uma reportagem acerca de facetas menos
políticas da vida de Álvaro Cunhal. Uma peça bem-feita tanto quanto é possível retractar
facetas da vida de um mito. Não sou eu, nesta breve nota, que desmentirei as
suas qualidades humanas, artista com obra de inegável qualidade, embora céptico
acerca das virtudes da sua acção politica. Mas é uma vantagem inigualável da
democracia que haja liberdade para que se possam evocar aqueles que nela desempenharam
um papel relevante seja qual for o nosso ponto de vista acerca da bondade desse
papel. Lembrei-me, a propósito destas memórias de família de Cunhal, que tenho
comigo uma cópia dactilografada – senão mesmo o original tal a qualidade do
exemplar – de uma obra de seu pai, Avelino Cunhal, a peça “Ajuste de Contas”,
de Maio de 1946, com uma nota prévia de L.F.R. (que só pode ser Luis Francisco
Rebelo). Vá lá saber-se a razão!
domingo, maio 19
POLÍTICA (7)
Esta é uma daquelas crises que chegou ao ponto de tornar
banal uma recente afirmação do líder do principal partido da oposição: "Estamos metidos numa grave crise. Numa crise social, numa crise económica, numa crise política, e estas três crises somadas podem dar origem a uma crise de regime."
Sublinho que foi dito, preto no branco, “uma crise de regime”, ou seja, do
regime democrático. Outros responsáveis nacionais, de
todos os quadrantes políticos, e ideológicos, o têm dito com mais ou menos ênfase,
dramatismo, tranquilidade ou alarme. Eis uma boa questão para discutir amanhã
no Conselho de Estado. E estou certo que a sua discussão ocupará uma boa parte do conclave.
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