sábado, dezembro 21

I Congresso do MES - Cinquenta anos

Passam hoje 50 anos sobre a realização do I Congresso do MES. 21 e 22 de dezembro de 1974 - Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa.

quinta-feira, dezembro 19

Pelo centenário de Alexandre O'Neill

ABSORTO - Aniversário

No dia 19 dezembro de 2003, pelas 16,20h, foi criado este blog com a seguinte frase: "Estreia absoluta. Um lugar de comunicação. Experiência para a primeira impressão dos outros. Uma primeira audição para inicio de trabalho." Eram tempos em que a chamada blogosfera usufruia de grandes audiências, ao contrário do que acontece hoje. Mas persisto!

terça-feira, dezembro 10

CAMUS - NOBEL - 10 DEZEMBRO 1957

Quando soube da atribuição do Prémio Nobel “pela sua importante obra literária, que foca com penetrante seriedade os problemas que se colocam nos nossos dias à consciência dos homems”, Albert Camus escrevu nos Cadernos: “Prémio Nobel: estranho sentimento de desânimo e melancolia. Aos vinte anos, pobre e nu, conheci a verdadeira fama”. Camus afirmou então que o Prémio deveria ter sido atribuido a André Malraux e manifestou dúvidas acerca da sua própria capacidade e força criadora que sempre o atormentaram. Após o anúncio da atribuição do Nobel sujeitou-se a ataques odiosos, que o não deixaram indiferente e comentou: “Assustado com aquilo que me acontece e que não pedi. E, para cúmulo, ataques tão infames que o coração se me aperta.”(Cadernos). Mas Camus, segundo todos os testemunhos, não podia, nem queria, recusar o Prémio. Telefonou, de imediato, à mãe, que sempre viveu na Argélia, como que a agradecer à sua origem a honra que lhe tinha batido à porta. Escreveu a Jean Grenier, o seu professor e mentor intelectual : “(…) quando recebi a notícia, o meu primeiro pensamento foi, depois de minha mãe, dirigido ao senhor. Sem o senhor, sem essa mão efectuosa que estendeu à criança pobre que eu era, sem a sua instrução e o seu exemplo nada disto tinha acontecido.” (citado a partir de Roger Quilliot). René Char, um amigo de todas as horas, não cabia em si de contente e manifesta esse contentamento de várias formas incluindo um artigo publicado, logo em 26 de Outubro de 1957, no Figaro littéraire, intitulado “Je veux parler d’ un ami”. No ínicio de Dezembro de 1957 Camus partiu com a mulher, Francine, para Estocolmo e, em todas as suas aparições em público, tinha a consciência que devia estar preparado para ser atacado a propósito da sua discrição a respeito do conflicto na Argélia que estava no auge. Albert Camus, a 10 de Dezembro de 1957, recebeu das mãos do Rei Gustavo VI da Suécia o diploma e, no banquete que se seguiu, proferiu o seu discurso de agradecimento. Logo num dos dias seguintes escreveu a Jean Grenier descrevendo, de forma sintética, o que sentia: “A corrida acaba, o touro está morto, ou quase.”

sexta-feira, dezembro 6

MÁRIO SOARES - CENTENÁRIO

Aqui deixo, no dia do centenário de Mário Soares o que escrevi, neste mesmo blogue (dando-me conta de quão antigo é), pelo seus 80º e 90º aniversários. O tempo não pára e o mais que tenho a acrescentar acerca do aniversariante é pouco. Somente replicar o que li, ou ouvi, um dia destes, acerca da personagem em questão: pode pensar-se o que se quiser, ser afável (ou feroz) adversário, admirador incondicional ou simpatizante complacente, Mário Soares será dos raros nomes, senão o único, que ficará na memória coletiva na história do século XX português. Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma. Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia. Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático. O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi. No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora. Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS. A partir de 1985 Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, mesmo de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas. O que me interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.

domingo, dezembro 1

Uma vez mais - António Costa

Pode-se gostar ou não gostar da personagem, mas António Costa é uma figura cimeira na liderança política da Europa.

domingo, novembro 24

As inundações de 25 novembro de 1967

No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, havendo uma indicação para nos dirigirmos ao Técnico para paticipar na gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.

Regresso

A recusa da "Associação 25 de abril" em participar na sessão evocativa do 25 de nevembro na AR, desloca o sentido da evocação para o terreno da propaganda politica da ultra direita. Nos tempos presentes tudo é possível, até o ressurgimento do lema Deus Pátria Família, um regresso à defesa das virtudes da ditadura. Preparem-se...

quinta-feira, novembro 21

Guerra

Uma faísca pode incendiar a Europa. Todos sabem, todos sentem, soltam-se esgares de preocupação, espera-se o milagre. Assim que um projetil, ou quejando, cair em país da NATO, está o caldo entornado. Nunca estivemos tão próximo desde 1945. Quem luta pela paz?

sábado, novembro 16

Nova barbárie

A equipa de Tramp é uma galeria de horrores. Aguardemos pelo naufrágio da quadrilha que ameaça uma nova barbárie. Os estragos vão ser monstruosos.

sábado, novembro 9

Tramp

Os USA vão ser dirigidos nos próximos tempos por um louco. O povo votou e elevou à presidência um louco criminoso. É inamaginável e faz antever tempos sombrios, desde logo, para os americanos e para o mundo. Não vale a pena balbuciar meias palavras de tolerância perante os crimes que se adivinham das decisões de um criminoso. Não se trata de uma questão da direita ou da esquerda politicas, nem da democracia e do uso que dela fazem os povos. O que está em causa são os valores básicos essenciais em que assenta a vida, nos planos individual e coletivo, que asseguram a liberdade. Para resistir é necessário, em primeiro lugar, não desistir de pensar livremente.

sexta-feira, novembro 8

ALBERT CAMUS - 7 NOVEMBRO 1913

Paul Valéry, desdenhando das biografias, escreveu um dia: “Ainda que pouco saibamos sobre Homero, permanece para nós intacta a beleza marítima da Odisseia”. Mas o exemplo de Homero, talvez rapsodo de textos alheios, não parece adequar-se à vida e obra de Albert Camus. Sabida a vida de Albert Camus nos damos conta de que alguns autores fazem também da vida uma obra. Quase nada na sua vida é provável, quase tudo é a demonstração de uma alargada coerência estilística que vai do pensamento ao gesto, do gesto à palavra, e da forma da palavra ao conteúdo da palavra. E por isso quanto mais sabemos sobre a vida de Albert Camus mais ela nos persuade da verdade da obra. E da urgência de a lermos, se andamos sedentos de verdade.

quinta-feira, novembro 7

Um jantar emblemático

Na sequência do IV Congresso do MES, realizado a 8 de Julho de 1979, marcado pela vitória da moção intitulada «Nova Prática, Novo Programa, Outro Caminho», foi aberto o caminho para a auto-crítica em relação a algumas orientações políticas anteriores e para uma demarcação, assumida e sem regresso, do MES face à chamada «Esquerda Revolucionária». Foi Vítor Wengorovius quem assumiu as funções de porta-voz desta ruptura que haveria de anteceder a extinção do MES, formalizada em 7 de Novembro de 1981, no emblemático jantar/festa realizado no pavilhão sobrevivente da Exposição do Mundo Português (ironias da história!).

quarta-feira, novembro 6

Uma realidade

Trump, admirador de ditadores, venceu. As instituições democráticas americanas vão resistir. Como disse Sena "Liberdade, liberdade tem cuidado que te matam!"

sábado, novembro 2

Jorge de Sena

Jorge de Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919. Engenheiro de profissão dedicou a sua vida à literatura, sendo grande como poeta, romancista, contista, tradutor e estudioso de obras alheias e é, para mim, com Pessoa, o poeta mais importante do século XX português. Retive, do período de 1953/54, um conjunto de referências à escrita dos 21 sonetos que compõem “As Evidências”, com data de publicação de 1955, que mais tarde viriam a integrar “Poesia I” em cujo prefácio, à 2ª edição, escrito pouco antes da sua morte, lhes faz referência: “… Nos princípios de 1954, entre Fevereiro e Abril, escrevi os 21 sonetos de As Evidências, sequência que não queria publicar como parte de um livro de poemas, aonde ficasse submersa, mas para a qual não encontrava editor. Foi quando, nesse ano, me foi oferecida, se não estou em erro, paralelamente por Armindo Rodrigues e por João José Cachofel, a possibilidade de uma edição daqueles sonetos na série “Cancioneiro Geral” do Centro Bibliográfico. O livrinho ficou impresso nos primeiros dias de Janeiro de 1955, foi logo apreendido pela PIDE que assaltou então o dito Centro, e só pôde ser distribuído um mês depois de repetidas visitas à Censura, para onde se entrava por uma portinha da Calçada da Glória, embora os censores estivessem realmente instalados no Palácio Foz ocupado pelo SNP ou SNI, ou lá como se chamava na altura. O livro era, além de subversivo, pornográfico, segundo me repetia sistematicamente, com um sorriso ameno e algum sarcasmo nos olhos pontilhados de ramela branca, por trás de uns óculos de aro finamente metálico, suponho que o subdirector que era um major ou tenente-coronel. Eu contestava que o livro, ora essa, não era nem uma coisa nem outra, e ele, dando-me palmadinhas no joelho mais próximo, dizia: - Ora, ora … nós sabemos -. Ao fim de um mês destas periódicas sessões, o livro foi libertado, e para dizer a pura verdade evidente, era realmente subversivo e, se não propriamente pornográfico, sem dúvida que respeitavelmente obsceno. …”

Um país antigo

D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, era filha do rei Afonso VI de Leão e Castela e de Constança, sendo irmã de Urraca e Raimundo (Conde de Amous e da Galiza). D. Teresa morre em 1 de Novembro de 1130. Afonso Henriques tinha 21 anos de idade. “Se podemos imaginar alguns dos traços que o infante herdou de seu pai, torna-se bem mais difícil deduzir, das informações que temos, o que deveria ser a sua mãe. De facto, a figura de D. Teresa suscitou as mais variadas e contraditórias especulações, sem que seja possível formar uma opinião segura acerca do seu temperamento e dos motivos que nortearam as suas decisões.” (…) “Tentando encontrar o sentido das intervenções politicas que lhe conhecemos, não podemos deixar de ver nela uma personalidade ambiciosa, fortemente convencida do seu direito a herdar um dos estados governados por seu pai, ou seja, pelo menos, a Galiza. Na opinião de B. Reilly, Teresa nunca reconheceu sua irmã Urraca como rainha e herdeira de Afonso VI.” (…) “Tudo isto formou o temperamento não menos ambicioso de Afonso Henriques. O ambiente conflituoso e agitado da sua época, tanto do ponto de vista político, como religioso e social, não podia deixar de acentuar a propensão temperamental que herdou de sua mãe. Mesmo que tenha convivido pouco com ela, como é provável, a isso o convidava não só o que, sem dúvida, lhe contavam os membros da corte, companheiros e criados que lhe transmitiam as tradições familiares, empoladas e dramatizadas por exageros de vassalos, mas também o sistema de valores da época e do Norte da Península, fortemente polarizado pela luta contra o Islão, pelos conflitos religiosos e pela afirmação dos ideais nobiliárquicos cultivados pelos jovens cavaleiros.” In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "A mãe", pg. 20. (4)

domingo, outubro 27

Aniversário

Hoje é dia de aniversário do meu filho Manuel. Está longe no espaço mas perto do coração. (A mãe, o gato e nós ...).

sábado, outubro 26

A violência

Todo o espaço público é ocupado pela violência. A violência intensifica-se, alastra-se e normaliza-se por todo o mundo. A novidade do nosso tempo é a velocidade e expontâneidade de informação em rede, que se tornou parte integrante, e relevante, desse manto de violência. Ao mesmo tempo renasce e difunde-se, como pano de fundo, sob novas formas, o ideário nazi-fascista, fundado na intolerância extrema ao diferente. As perpectivas de futuro são sombrias.