Li devagar um livro de memórias, somente razoável, que é um depoimento dramático acerca de um crime hediondo. A viúva de Bukharine, em “Bukharine, Minha Paixão”, descreve, de forma pungente, a perseguição e assassinato de um dos mais importantes dirigentes da revolução russa de 1917: N.I. , ou seja, Nicolai Ivanovitch Bukharine.
Os crimes de Estaline surgem, neste livro, em toda a sua crueldade, um autêntico monumento à hipocrisia política e à incrível capacidade do homem ser infiel às suas próprias convicções e certezas.
Recomenda-se a sua leitura aos políticos, magistrados, polícias, jornalistas, lideres de opinião, em suma, a todos aqueles que, com os meios de “convencimento” da nossa época, podem ser tentados a praticar todos os inimagináveis crimes que, por vezes, pensamos pertencerem à história.
No último parágrafo do livro a autora escreve:
“Meio século me separa dos acontecimentos dramáticos que evoquei. Termino estas linhas, quando Nikolai Ivanovitch, finalmente, foi reintegrado, a título póstumo, no Partido. A justiça acabou por triunfar. Mas nada se apagou da minha memória, as palavras de Bukharine, voltadas para o futuro, ainda estão vivas no meu coração: “Ficai a saber, camaradas, que na bandeira que arvorais, na marcha triunfal para o comunismo, há também uma gota do meu sangue!”.
“Bukharine, Minha Paixão”, de Anna Larina Bukharina, Edição Terramar, tradução, a partir da edição francesa, de Ludgero Pinto Basto.
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