Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, janeiro 10
De Sisyphe à Prométhée
Imagem daqui
Camus – Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
(…) Au moment de la remise du prix Nobel, Camus reviendra sur le dessein global de son œuvre, rappelant qu’il avait d’abord exprimé «la négation», sous les formes «romanesque», « dramatique», «idéologique». « Mais, ajoute-t-il, c’était pour moi le doute méthodique de Descartes. Je savais que l’on ne peut vivre dans la négation […] ; je prévoyais le positif sous les trois formes encore. Romanesque : La Peste. Dramatique : L’État de siège et Les Justes. Idéologique : L’Homme révolté ». Ce chemin qui part de la négation et d’une forme de nihilisme pour les dépasser et mener au positif, à l’action, à la fécondité de la «pensée de midi» est bien celui qu’a suivi Camus. Cependant son itinéraire, aussi personnel et profondément médité qu’il soit, est influencé par l’histoire en train de se faire. Il note dans ses Carnets, le 21 février 1941 : «Terminé Sisyphe. Les trois Absurdes sont achevée.» Et il ajoute : « Commencements de la liberté.»
Le sous-titre de Combat, «De la Résistance à la révolution» - qui n’est pas de Camus, mais qu’il a approuvée -, résume ces idéaux : une société plus juste, une politique plus morale et véritablement démocratique, un gouvernement où des hommes neufs, issus de la Résistance, remplacerait le personnel politique usé par des années de compromis et de lâcheté ; une presse libre et consciente de sa responsabilité, une Europe reconstruite sur le respect mutuel, des institutions internationales fondées sur la volonté des peuples, et non sur les accords hypocrites des dirigeants. (…)
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
Camus – Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
(…) Au moment de la remise du prix Nobel, Camus reviendra sur le dessein global de son œuvre, rappelant qu’il avait d’abord exprimé «la négation», sous les formes «romanesque», « dramatique», «idéologique». « Mais, ajoute-t-il, c’était pour moi le doute méthodique de Descartes. Je savais que l’on ne peut vivre dans la négation […] ; je prévoyais le positif sous les trois formes encore. Romanesque : La Peste. Dramatique : L’État de siège et Les Justes. Idéologique : L’Homme révolté ». Ce chemin qui part de la négation et d’une forme de nihilisme pour les dépasser et mener au positif, à l’action, à la fécondité de la «pensée de midi» est bien celui qu’a suivi Camus. Cependant son itinéraire, aussi personnel et profondément médité qu’il soit, est influencé par l’histoire en train de se faire. Il note dans ses Carnets, le 21 février 1941 : «Terminé Sisyphe. Les trois Absurdes sont achevée.» Et il ajoute : « Commencements de la liberté.»
Le sous-titre de Combat, «De la Résistance à la révolution» - qui n’est pas de Camus, mais qu’il a approuvée -, résume ces idéaux : une société plus juste, une politique plus morale et véritablement démocratique, un gouvernement où des hommes neufs, issus de la Résistance, remplacerait le personnel politique usé par des années de compromis et de lâcheté ; une presse libre et consciente de sa responsabilité, une Europe reconstruite sur le respect mutuel, des institutions internationales fondées sur la volonté des peuples, et non sur les accords hypocrites des dirigeants. (…)
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
.
terça-feira, janeiro 9
ANIVERSÁRIO
Fotografia de família
As suas mãos
As suas mãos sobre o seu peito
eram as mesmas mãos fraternas
que me acariciavam a face revolta
Eram umas mãos impensáveis
lindas de morrer, libertadoras
de tão gentis, generosas e boas
Tais mãos naquele dia que as vi
depositadas sobre o seu peito
eram as minhas mãos sem mim
As suas mãos frias e ausentes
deixaram de ser as minhas mãos
no dia em que sua vida se perdeu
In “Ir pela sua mão” – Editora Ausência
Maio 2003
Em memória de meu pai no aniversário da sua morte.
[Na fotografia adivinham-se o verde da vegetação e o cheiro próprio de uma ambiência mediterrânica. A minha avó paterna olha, embevecida, meu pai sorridente; eu aborrecido, de chapéu, recosto-me em minha mãe; minha tia Lucília, linda, com a filha mais velha ao colo junto a seu marido Graciano; logo atrás, de óculos, o meu irmão Dimas, entre outros, no quintal do palacete dos meus avós em Moncarapacho – Olhão.]
As suas mãos
As suas mãos sobre o seu peito
eram as mesmas mãos fraternas
que me acariciavam a face revolta
Eram umas mãos impensáveis
lindas de morrer, libertadoras
de tão gentis, generosas e boas
Tais mãos naquele dia que as vi
depositadas sobre o seu peito
eram as minhas mãos sem mim
As suas mãos frias e ausentes
deixaram de ser as minhas mãos
no dia em que sua vida se perdeu
In “Ir pela sua mão” – Editora Ausência
Maio 2003
Em memória de meu pai no aniversário da sua morte.
[Na fotografia adivinham-se o verde da vegetação e o cheiro próprio de uma ambiência mediterrânica. A minha avó paterna olha, embevecida, meu pai sorridente; eu aborrecido, de chapéu, recosto-me em minha mãe; minha tia Lucília, linda, com a filha mais velha ao colo junto a seu marido Graciano; logo atrás, de óculos, o meu irmão Dimas, entre outros, no quintal do palacete dos meus avós em Moncarapacho – Olhão.]
ACERCA DO DIRECTOR-GERAL DOS IMPOSTOS
Laetitia Casta
Sou contra a recondução do actual Director-Geral dos Impostos, Paulo Macedo, nas presentes condições e qualquer engenharia remuneratória para tornear o essencial da questão deixará ao governo um pesado encargo político para o futuro.
Ler na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR
Sou contra a recondução do actual Director-Geral dos Impostos, Paulo Macedo, nas presentes condições e qualquer engenharia remuneratória para tornear o essencial da questão deixará ao governo um pesado encargo político para o futuro.
Ler na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR
--------------
segunda-feira, janeiro 8
A PROPÓSITO DO SINDICALISMO
Texto e Imagem do Divas & Contrabaixos
A questão que colocamos todos os dias é como ajustar as políticas sociais à nova realidade socio-económica, considerando situações como a permanência do desemprego estrutural, a flexibilidade do trabalho e, em consequência, a maior mobilidade e o menor compromisso das empresas em relação aos seus empregados. Por outro lado, vivemos tempos de reformas neoliberais. Em Portugal, poucos analistas se debruçaram sobre as transformações do trabalho, e menos ainda na perspectiva do sindicalismo. No domínio da sociologia do trabalho não encontrei nenhum trabalho recente.
A questão que colocamos todos os dias é como ajustar as políticas sociais à nova realidade socio-económica, considerando situações como a permanência do desemprego estrutural, a flexibilidade do trabalho e, em consequência, a maior mobilidade e o menor compromisso das empresas em relação aos seus empregados. Por outro lado, vivemos tempos de reformas neoliberais. Em Portugal, poucos analistas se debruçaram sobre as transformações do trabalho, e menos ainda na perspectiva do sindicalismo. No domínio da sociologia do trabalho não encontrei nenhum trabalho recente.
-
Como têm as centrais sindicais enfrentado esta situação adversa? Vivem num mundo muito distinto daquele que deu origem ao sindicalismo revolucionário, mesmo se a evolução social não eliminou o problema fundamental da exploração dos trabalhadores. CGTP-IN e UGT têm adoptado posições e estratégias similares, encontraram vias distintas de acção, convergem em que matérias? Confesso que me sinto incapaz de tal análise, que qualquer opinião seria apenas "impressionista" (como diz o Vasco Graça Moura). Por exemplo, parece-me que existe nas duas centrais sindicais a crença de que a qualificação profissional seria uma boa maneira de enfrentar o desemprego (mas até que ponto a qualificação formal, sendo requisito importante na contratação, impede a demissão?).
A verdade é que mesmo nos media, e em particular nas televisões, são raras as oportunidades de discussão desta e outras matérias mais qualitativas.
Modelos de negociação, relações entre sindicatos (no seio das duas confederações), o peso da organização de trabalhadores nos locais de trabalho; e problemas de fundo relativos a higiene e segurança no trabalho, a doenças profissionais, à situação (segregação) das mulheres no trabalho, etc. não merecem, pelo que se (não) vê, suscitar interesse e reflexão. Os responsáveis sindicais são chamados a dar o seu testemunho apenas em ocasiões de greve e na origem destas estão, normalmente, reivindicações quantitativas, isto é, questões salariais.
-
Com a maior diversificação de actividades que tem caracterizado o dinamismo dos sistemas económicos pós-industriais, não posso deixar ainda de sentir que são cada vez mais aqueles que não fazem parte dos grupos sociais tradicionalmente "protegidos" pelos sindicatos. Ficamos com a impressão de que, não sendo funcionário público, médico, jurista, professor ou jornalista, se está bem! Enfim, os jogadores de futebol, encontraram agora motivos para fazer uma greve, mas alguém ouviu falar dos direitos dos empregados domésticos, operários de construção, agricultores, empregados do comércio e hotelaria, actores, desenhadores técnicos, técnicos de estudos de mercado, tradutores, caixas de supermercados, etc., etc..
Não me vou alongar, mas cada uma destas profissões merecia algumas medidas legislativas dirigidas. Por exemplo, a maior parte dos funcionários domésticos não declaram actividade. Em França este problema foi atenuado quando os casais com filhos, em que mãe e pai trabalham, passaram a poder deduzir no IRS esses mesmos gastos. Todos ficaram a ganhar, o Estado também.
-
Por cá, os protagonistas actuais, governo, empresas, sindicatos, são poucos eficazes na defesa dos nossos direitos. Ponho em causa esta concentração do poder político e social. A "descentralização" ou "democratização" das decisões relativas ao trabalho será um conceito pouco operacional?
Falávamos de sindicatos. Mas na minha área - Estudos de mercado e de opinião, as expectativas no sentido da legitimação dos interesses da classe são mais dirigidas às associações profissionais. A luta de classes passou para segundo plano. O eco do apelo "Operários de todo o mundo, uni-vos!" não encontrou ainda uma caixa de ressonância. E não é por falta de "operários" com contratos de trabalho precários.
[Maria do Rosário Fardilha a propósito do artigo “A luta de classes segue dentro de momentos …”, tema a retomar e desenvolver mais tarde.]
LISBOA DAKAR - UM FENÓMENO MEDIÁTICO
Fotografia Daqui
Tenho dito que o rali Lisboa Dakar é um fenómeno mediático a nível mundial. Cada vitória de uma equipa portuguesa coloca o nome do país em destaque em todos os meios de comunicação à escala global. Assim, naturalmente, com todas as outras.
É claro que as equipas e os pilotos de cada país são tratados pelos meios de comunicação respectivos com maior destaque. Nada de admirar. Deixo a título de exemplo um site português e os blogues do “El Pais” e do “Estado de S. Paulo”.
Tenho dito que o rali Lisboa Dakar é um fenómeno mediático a nível mundial. Cada vitória de uma equipa portuguesa coloca o nome do país em destaque em todos os meios de comunicação à escala global. Assim, naturalmente, com todas as outras.
É claro que as equipas e os pilotos de cada país são tratados pelos meios de comunicação respectivos com maior destaque. Nada de admirar. Deixo a título de exemplo um site português e os blogues do “El Pais” e do “Estado de S. Paulo”.
domingo, janeiro 7
Pela noite dentro
Fotografia Bartek Pogoda
Pela noite dentro meio dormida meio acordada
Torna-se presente o que não me interessa nada
6/12/2007
Pela noite dentro meio dormida meio acordada
Torna-se presente o que não me interessa nada
6/12/2007
LISBOA DAKAR - 2ª ETAPA
Hélder Rodrigues
Helder Rodrigues estreia-se a vencer
Carlos Sainz vence segunda etapa
João Nazareth vence nos Quads
[No Lisboa Dakar, os portugueses saem na frente, em território nacional. É um feito que dá direito a sair em todas as primeiras páginas da imprensa internacional. Nada pouco!]
Helder Rodrigues estreia-se a vencer
Carlos Sainz vence segunda etapa
João Nazareth vence nos Quads
[No Lisboa Dakar, os portugueses saem na frente, em território nacional. É um feito que dá direito a sair em todas as primeiras páginas da imprensa internacional. Nada pouco!]
CONSUELO DE SAINT EXUPÉRY
Fotografia daqui
Comprei um belo livro intitulado “Antoine de Saint Exupéry e Consuelo, Um Amor Lendário”, edição portuguesa da Teorema. Usufruir das memórias de algumas figuras lendárias é um prazer que nos reconcilia com a vida.
Comprei um belo livro intitulado “Antoine de Saint Exupéry e Consuelo, Um Amor Lendário”, edição portuguesa da Teorema. Usufruir das memórias de algumas figuras lendárias é um prazer que nos reconcilia com a vida.
JOÃO CRAVINHO
Fotografia Daqui
A política tem coisas do arco-da-velha. João Cravinho, deputado socialista, foi convidado para a administração do BERD e aceitou. Esse facto foi motivo para que o próprio, prevenido, tivesse que vir a público deixar claro que não vai embora do parlamento para que o pacote anti corrupção, pelo qual se tem batido, vá por água abaixo.
É certo que a maior parte dos cidadãos não conhecem o Eng. º João Cravinho senão como político e serão tentados a pensar que se trata de mais um daqueles “desempregados de longa duração” que entram no parlamento incógnitos e dele incógnitos saem.
Mas não é o caso. O Eng. º João Cravinho é uma personalidade do mais alto gabarito, no plano humano e moral, possuindo uma qualificação técnico-científica do mais alto nível. O Eng.º João Cravinho, com o qual já tive a honra de trabalhar, pertence ao escol dos homens públicos portugueses que não precisa do parlamento senão para defender princípios, projectos e ideias.
Era só o que mais faltava que, ao contrário de outros, que no cotejo com ele não passam de pigmeus, tenham sido glorificados quando abandonaram os mais altos cargos na política nacional para ocupar funções internacionais, e João Cravinho fosse hostilizado por aceitar um cargo internacional no exercício do qual prestigiará, certamente, o país.
A política tem coisas do arco-da-velha. João Cravinho, deputado socialista, foi convidado para a administração do BERD e aceitou. Esse facto foi motivo para que o próprio, prevenido, tivesse que vir a público deixar claro que não vai embora do parlamento para que o pacote anti corrupção, pelo qual se tem batido, vá por água abaixo.
É certo que a maior parte dos cidadãos não conhecem o Eng. º João Cravinho senão como político e serão tentados a pensar que se trata de mais um daqueles “desempregados de longa duração” que entram no parlamento incógnitos e dele incógnitos saem.
Mas não é o caso. O Eng. º João Cravinho é uma personalidade do mais alto gabarito, no plano humano e moral, possuindo uma qualificação técnico-científica do mais alto nível. O Eng.º João Cravinho, com o qual já tive a honra de trabalhar, pertence ao escol dos homens públicos portugueses que não precisa do parlamento senão para defender princípios, projectos e ideias.
Era só o que mais faltava que, ao contrário de outros, que no cotejo com ele não passam de pigmeus, tenham sido glorificados quando abandonaram os mais altos cargos na política nacional para ocupar funções internacionais, e João Cravinho fosse hostilizado por aceitar um cargo internacional no exercício do qual prestigiará, certamente, o país.
Maria da Conceição Newparth
Mural pintado na Rua António Maria Cardoso em homenagem aos cidadãos assassinados pela PIDE no dia 25 de Abril de 1974 [Já desaparecido].
Só ontem tomei conhecimento da morte de Maria da Conceição Newparth. Tive oportunidade de a conhecer mas não me incluía entre os seus amigos íntimos. Sei que a sua acção política, antes e depois do 25 de Abril, foi discreta mas eficaz, como referem os testemunhos daqueles que a conheceram de perto.
Tive a oportunidade de conhecer, recentemente, na íntegra, a surpreendente colecção de fotografias dos “Murais de Abril” que legou ao “Centro de Documentação 25 de Abril” da Universidade de Coimbra, e de organizar uma homenagem à sua figura aquando da celebração do 25 de Abril de 2006.
Nesse contexto foi organizada, uma modesta, mas significativa, exposição de um fragmento daquela colecção de fotografias a que foi dado o título de “Murais Artísticos de Abril”. Algumas dessas fotografias já foram, aliás, aqui publicadas.
A que hoje publico, pela primeira vez, tem uma história particular na justa medida que se refere a um mural a cuja produção e execução eu próprio estive associado.
Aqui lhe rendo a minha homenagem.
Só ontem tomei conhecimento da morte de Maria da Conceição Newparth. Tive oportunidade de a conhecer mas não me incluía entre os seus amigos íntimos. Sei que a sua acção política, antes e depois do 25 de Abril, foi discreta mas eficaz, como referem os testemunhos daqueles que a conheceram de perto.
Tive a oportunidade de conhecer, recentemente, na íntegra, a surpreendente colecção de fotografias dos “Murais de Abril” que legou ao “Centro de Documentação 25 de Abril” da Universidade de Coimbra, e de organizar uma homenagem à sua figura aquando da celebração do 25 de Abril de 2006.
Nesse contexto foi organizada, uma modesta, mas significativa, exposição de um fragmento daquela colecção de fotografias a que foi dado o título de “Murais Artísticos de Abril”. Algumas dessas fotografias já foram, aliás, aqui publicadas.
A que hoje publico, pela primeira vez, tem uma história particular na justa medida que se refere a um mural a cuja produção e execução eu próprio estive associado.
Aqui lhe rendo a minha homenagem.
sábado, janeiro 6
O SER PORTUGUÊS
Fotografia de Hélder Gonçalves
É extraordinária a capacidade destruidora da inércia. Mais extraordinária ainda é a eficácia das mensagens negativas lançadas contra os que ousam contrariar a inércia. O Estado não tem o monopólio da inércia. Onde a inércia atinge a sua máxima capacidade destruidora é no plano individual. Quando a inércia se casa com a manha atinge-se a perfeição. Um inerte manhoso é um ser talhado para os mais altos voos ou as mais inenarráveis desgraças. O problema do combate à inércia das instituições em geral, e das públicas em particular, é que elas, regra geral, estão pejadas, de alto a baixo, de seres inertes manhosos. Para contrariar a força gerada pela inércia manhosa é preciso aplicar uma força contrária brutal o que, em democracia, está ao alcance de poucos. Além do mais se o poder democrático vacila e o líder falha a inércia consagra-se como virtude e a manha eleva-se à categoria suprema da arte de bem viver. A opinião pública rejubila pois a tradição histórica portuguesa está repleta de inertes manhosos, desde reis a presidentes, de meretrizes a pederastas, de religiosos a laicos, de onzeneiros a pobretanas. Todos os dias somos confrontados com fragmentos desta luta que, em Portugal, não é um acontecimento da história mas a própria história. Uma das tragédias mais pungente do ser português.
É extraordinária a capacidade destruidora da inércia. Mais extraordinária ainda é a eficácia das mensagens negativas lançadas contra os que ousam contrariar a inércia. O Estado não tem o monopólio da inércia. Onde a inércia atinge a sua máxima capacidade destruidora é no plano individual. Quando a inércia se casa com a manha atinge-se a perfeição. Um inerte manhoso é um ser talhado para os mais altos voos ou as mais inenarráveis desgraças. O problema do combate à inércia das instituições em geral, e das públicas em particular, é que elas, regra geral, estão pejadas, de alto a baixo, de seres inertes manhosos. Para contrariar a força gerada pela inércia manhosa é preciso aplicar uma força contrária brutal o que, em democracia, está ao alcance de poucos. Além do mais se o poder democrático vacila e o líder falha a inércia consagra-se como virtude e a manha eleva-se à categoria suprema da arte de bem viver. A opinião pública rejubila pois a tradição histórica portuguesa está repleta de inertes manhosos, desde reis a presidentes, de meretrizes a pederastas, de religiosos a laicos, de onzeneiros a pobretanas. Todos os dias somos confrontados com fragmentos desta luta que, em Portugal, não é um acontecimento da história mas a própria história. Uma das tragédias mais pungente do ser português.
sexta-feira, janeiro 5
A LUTA DE CLASSES SEGUE DENTRO DE MOMENTOS ...
Fotografia de Hélder Gonçalves
Ao abrir um novo ano verifico que vivemos um tempo em que o estado social está no centro de todas as atenções e todas as reformas são inadiáveis. Neste contexto apetece-me perguntar se, por acaso, a reforma dos sindicatos não deverá ser também considerada inadiável.
O papel dos sindicatos corresponde às exigências de uma sociedade em mutação? O programa de acção dos sindicatos corresponde aos anseios dos trabalhadores, em particular, dos trabalhadores “por conta de outrem”?
Estes são os dois primeiros parágrafos do artigo, com o título em epígrafe, que está disponível, na íntegra, no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR.
Ao abrir um novo ano verifico que vivemos um tempo em que o estado social está no centro de todas as atenções e todas as reformas são inadiáveis. Neste contexto apetece-me perguntar se, por acaso, a reforma dos sindicatos não deverá ser também considerada inadiável.
O papel dos sindicatos corresponde às exigências de uma sociedade em mutação? O programa de acção dos sindicatos corresponde aos anseios dos trabalhadores, em particular, dos trabalhadores “por conta de outrem”?
Estes são os dois primeiros parágrafos do artigo, com o título em epígrafe, que está disponível, na íntegra, no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR.
quinta-feira, janeiro 4
CAMUS - O DIA DA SUA MORTE
“Albert Camus – Une Vie”, Olivier Todd.
Albert Camus morreu no dia 4 de Janeiro de 1960.
“Camus trabalhou assiduamente em O Primeiro Homem durante todo o ano de 1959. Em Novembro foi para Lourmarin para aí permanecer ate à passagem do ano; depois, em Paris, queria ficar com um teatro próprio e considerou também a hipótese de desempenhar o papel principal masculino no filme Moderato Cantabile baseado no conto de Marguerite Duras. O Natal passou-o com a família na casa da Provença e a família Gallimard passou com eles a festa do Ano Novo. A 2 de Janeiro a mulher de Camus teve de regressar a Paris com as crianças por causa do recomeço das aulas. Os Gallimard propuseram a Camus regressar de carro com eles no dia seguinte. Queriam ir calmamente e aproveitar para comer bem, pelo que previram dois dias para o regresso. A 4 de Janeiro o grupo em viagem almoçou em Sens, a cerca de cem quilómetros de Paris. Depois prosseguiram viagem pela estrada nacional, passando por uma série de pequenas aldeias. Próximo de Villeblevin, o carro derrapou sem razão aparente e chocou frontalmente contra uma árvore. À excepção de Camus, que ia sentado ao lado do condutor, foram todos cuspidos do carro: Michel Gallimard ficou gravemente ferido e foi levado para o hospital com a mulher e a filha que não mostravam ferimentos visíveis. Morreu poucos dias depois.
Camus fracturou o crânio e a coluna vertebral. Foi um tipo de morte violenta com que já tinha sonhado, uma morte, como Camus escrevera em 1951 nos Carnets, … em que se nos desculpem os gritos contra a dilaceração da alma. A isso contrapõe um fim longo e constantemente lúcido para que ao menos não se dissesse que eu fora colhido de surpresa.
O corpo de Camus foi depositado em câmara-ardente no salão da Câmara de Villeblevin e na manhã seguinte transladado para Lourmarin. Dois dias após o acidente realizou-se o funeral. Na frente do cortejo funerário iam Francine Camus, o irmão de Camus e René Char. Não levaram o caixão para a igreja, mas directamente para o cemitério que ficava a alguma distância, frente à casa de Camus. Aí tem Camus a sua campa entre as dos aldeões, de igual tamanho e com uma simples pedra.”
In Camus, de Brigitte Sändig
Circulo de Leitores
Bibliografia Completa.
Albert Camus morreu no dia 4 de Janeiro de 1960.
“Camus trabalhou assiduamente em O Primeiro Homem durante todo o ano de 1959. Em Novembro foi para Lourmarin para aí permanecer ate à passagem do ano; depois, em Paris, queria ficar com um teatro próprio e considerou também a hipótese de desempenhar o papel principal masculino no filme Moderato Cantabile baseado no conto de Marguerite Duras. O Natal passou-o com a família na casa da Provença e a família Gallimard passou com eles a festa do Ano Novo. A 2 de Janeiro a mulher de Camus teve de regressar a Paris com as crianças por causa do recomeço das aulas. Os Gallimard propuseram a Camus regressar de carro com eles no dia seguinte. Queriam ir calmamente e aproveitar para comer bem, pelo que previram dois dias para o regresso. A 4 de Janeiro o grupo em viagem almoçou em Sens, a cerca de cem quilómetros de Paris. Depois prosseguiram viagem pela estrada nacional, passando por uma série de pequenas aldeias. Próximo de Villeblevin, o carro derrapou sem razão aparente e chocou frontalmente contra uma árvore. À excepção de Camus, que ia sentado ao lado do condutor, foram todos cuspidos do carro: Michel Gallimard ficou gravemente ferido e foi levado para o hospital com a mulher e a filha que não mostravam ferimentos visíveis. Morreu poucos dias depois.
Camus fracturou o crânio e a coluna vertebral. Foi um tipo de morte violenta com que já tinha sonhado, uma morte, como Camus escrevera em 1951 nos Carnets, … em que se nos desculpem os gritos contra a dilaceração da alma. A isso contrapõe um fim longo e constantemente lúcido para que ao menos não se dissesse que eu fora colhido de surpresa.
O corpo de Camus foi depositado em câmara-ardente no salão da Câmara de Villeblevin e na manhã seguinte transladado para Lourmarin. Dois dias após o acidente realizou-se o funeral. Na frente do cortejo funerário iam Francine Camus, o irmão de Camus e René Char. Não levaram o caixão para a igreja, mas directamente para o cemitério que ficava a alguma distância, frente à casa de Camus. Aí tem Camus a sua campa entre as dos aldeões, de igual tamanho e com uma simples pedra.”
In Camus, de Brigitte Sändig
Circulo de Leitores
Bibliografia Completa.
RALI LISBOA DAKAR
Imagem Daqui
O Rali Lisboa Dakar é a maior e mais mediática competição automobilística mundial. Arranca no próximo dia 6 (sábado), de Lisboa, em direcção ao sul de Portugal. Assegurando a partida e duas etapas, nos dias 6 e 7 de Janeiro, em solo português a organização do Rali Lisboa Dakar permite uma notável promoção da imagem de Portugal no mundo.
Conheça as zonas de espectáculo nas etapas em Portugal
O Rali Lisboa Dakar é a maior e mais mediática competição automobilística mundial. Arranca no próximo dia 6 (sábado), de Lisboa, em direcção ao sul de Portugal. Assegurando a partida e duas etapas, nos dias 6 e 7 de Janeiro, em solo português a organização do Rali Lisboa Dakar permite uma notável promoção da imagem de Portugal no mundo.
Conheça as zonas de espectáculo nas etapas em Portugal
quarta-feira, janeiro 3
ENFORCAMENTO DE SADDAM (3)
Fotografia daqui
Este é a minha última referência à execução de Saddam sem esquecer que outras se seguirão, sem o mesmo impacto mediático, no contexto da guerra civil no Iraque.
Algumas notas finais:
- Publico fotografias, que poderia não publicar, porque acho que não vale a pena “esconder o sol com a peneira”; o enforcamento de Saddam é um acontecimento marcante do nosso tempo, com forte significado político e impacto mediático. Poderemos sempre virar a cara para o lado mas são estes momentos que permitem revelar a natureza dos homens e a orientação dos governos;
- Posso estar enganado mas não ouvi qualquer declaração de José Manuel Barroso, ele próprio em pessoa, condenando a pena de morte; ficou escondido por detrás da tomada de posição institucional da Presidência da UE não dando a cara – a UE tomou posição mas José Manuel Barroso, não!
- Bush conseguiu fazer o pleno da incompetência política mostrando ao mundo um enforcamento, quase em directo, a que se seguiu a burlesca detenção de um guarda: Detienen a un guardia por la grabación con un móvil de la ejecución de Sadam;
- O Secretário-geral da ONU, no primeiro dia do seu mandato, mostrou a sua reverência face aos USA não condenando o enforcamento de Saddam – um mau sinal para a comunidade internacional;
- O governo português cumpriu com os mínimos da decência política exigível honrando o pioneirismo de Portugal na abolição da pena de morte:
Este é a minha última referência à execução de Saddam sem esquecer que outras se seguirão, sem o mesmo impacto mediático, no contexto da guerra civil no Iraque.
Algumas notas finais:
- Publico fotografias, que poderia não publicar, porque acho que não vale a pena “esconder o sol com a peneira”; o enforcamento de Saddam é um acontecimento marcante do nosso tempo, com forte significado político e impacto mediático. Poderemos sempre virar a cara para o lado mas são estes momentos que permitem revelar a natureza dos homens e a orientação dos governos;
- Posso estar enganado mas não ouvi qualquer declaração de José Manuel Barroso, ele próprio em pessoa, condenando a pena de morte; ficou escondido por detrás da tomada de posição institucional da Presidência da UE não dando a cara – a UE tomou posição mas José Manuel Barroso, não!
- Bush conseguiu fazer o pleno da incompetência política mostrando ao mundo um enforcamento, quase em directo, a que se seguiu a burlesca detenção de um guarda: Detienen a un guardia por la grabación con un móvil de la ejecución de Sadam;
- O Secretário-geral da ONU, no primeiro dia do seu mandato, mostrou a sua reverência face aos USA não condenando o enforcamento de Saddam – um mau sinal para a comunidade internacional;
- O governo português cumpriu com os mínimos da decência política exigível honrando o pioneirismo de Portugal na abolição da pena de morte:
---------------
----------------------
Un « mythe incarné »
Albert Camus
Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
« Plus de soixante ans après sa publication, L´Étranger n’a rien perdu de sa singularité, ni de son caractère novateur et énigmatique. Ce texte dont le vocabulaire et la syntaxe sont si clairs résiste à toute interprétation simplificatrice, comme Meursault lui-même échappe à toute définition réductrice.
L’Étranger, publié en 1942, n’est pas le premier roman fondé sur la représentation de l’absurdité de la vie ; il suffit de rappeler ceux de Malraux, Les Conquérants (1928) et La Voie royale (1930), romans d’aventures, mais aussi romans de l’absurde : « la conduite de l’aventurier voudrait être une réaction à l’absurdité du monde », note Pierre Brunel ; les termes d’ « absurde » et d’ « absurdité » reviennent souvent dans la bouche de Garine, et du narrateur de son histoire, ou dans les propos de Claude Vannec ou de Perken, et leur commentaire ; Camus, qui admirait Malraux, connaissait évidemment cet livres, et il est possible que la manière dont est évoqué le procès de Garine ait influencé la façon dont Meursault relate le sien. »
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução (1)
« Plus de soixante ans après sa publication, L´Étranger n’a rien perdu de sa singularité, ni de son caractère novateur et énigmatique. Ce texte dont le vocabulaire et la syntaxe sont si clairs résiste à toute interprétation simplificatrice, comme Meursault lui-même échappe à toute définition réductrice.
L’Étranger, publié en 1942, n’est pas le premier roman fondé sur la représentation de l’absurdité de la vie ; il suffit de rappeler ceux de Malraux, Les Conquérants (1928) et La Voie royale (1930), romans d’aventures, mais aussi romans de l’absurde : « la conduite de l’aventurier voudrait être une réaction à l’absurdité du monde », note Pierre Brunel ; les termes d’ « absurde » et d’ « absurdité » reviennent souvent dans la bouche de Garine, et du narrateur de son histoire, ou dans les propos de Claude Vannec ou de Perken, et leur commentaire ; Camus, qui admirait Malraux, connaissait évidemment cet livres, et il est possible que la manière dont est évoqué le procès de Garine ait influencé la façon dont Meursault relate le sien. »
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
.
terça-feira, janeiro 2
RENOVADOS VOTOS DE BOM ANO
[Mensagem ilustrada enviada por um amigo daqueles que pouco se vêem mas muito se sentem com os inevitáveis augúrios de bom ano. Em substituição de um post que tinha pensado publicar acerca das declarações do Papa comparando o aborto ao terrorismo.]
CAROS AMIGOS
INFELIZMENTE, A VIDA NÃO É IGUAL PARA TODOS.
NESTE INÍCIO DE ANO, PERMITAM-ME QUE FAÇA UM APELO SINGELO: QUANDO PASSEARMOS PELAS RUAS, PAREMOS UM POUCO E OLHEMOS, COM MAIOR ATENÇÃO E ALGUM DESVELO, SEM INDIFERENÇA, PARA QUANTOS CAMINHAM AO NOSSO LADO, ESFARRAPADOS, QUASE SEM ROUPA A PROTEGÊ-LOS, MUITAS VEZES APENAS COM UM MERO SACO DE PLÁSTICO NA MÃO, ONDE TRANSPORTAM OS SEUS PARCOS HAVERES.
NUNCA É TARDE PARA LHES DARMOS UMA MÃO, PARA TERMOS UM GESTO DE CARINHO, QUE SEGURAMENTE SERÁ RETRIBUÍDO.
LARGUEM O VOSSO EGOÍSMO E PENSEM NISTO!
BOM ANO
CAROS AMIGOS
INFELIZMENTE, A VIDA NÃO É IGUAL PARA TODOS.
NESTE INÍCIO DE ANO, PERMITAM-ME QUE FAÇA UM APELO SINGELO: QUANDO PASSEARMOS PELAS RUAS, PAREMOS UM POUCO E OLHEMOS, COM MAIOR ATENÇÃO E ALGUM DESVELO, SEM INDIFERENÇA, PARA QUANTOS CAMINHAM AO NOSSO LADO, ESFARRAPADOS, QUASE SEM ROUPA A PROTEGÊ-LOS, MUITAS VEZES APENAS COM UM MERO SACO DE PLÁSTICO NA MÃO, ONDE TRANSPORTAM OS SEUS PARCOS HAVERES.
NUNCA É TARDE PARA LHES DARMOS UMA MÃO, PARA TERMOS UM GESTO DE CARINHO, QUE SEGURAMENTE SERÁ RETRIBUÍDO.
LARGUEM O VOSSO EGOÍSMO E PENSEM NISTO!
BOM ANO
POSSE DE LULA
Lula da Silva
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu discurso de posse nesta segunda-feira pedindo "pressa, ousadia, coragem e criatividade para abrir novos caminhos" para o País. Lula prometeu crescimento de 5% em 2007 e apresentou uma lista de tarefas que pretende desenvolver durante o segundo mandato, com destaque para a aceleração do crescimento econômico, e destacou, no balanço dos primeiros quatro anos, o combate à fome e às desigualdades sociais.”
“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou seu discurso de posse nesta segunda-feira pedindo "pressa, ousadia, coragem e criatividade para abrir novos caminhos" para o País. Lula prometeu crescimento de 5% em 2007 e apresentou uma lista de tarefas que pretende desenvolver durante o segundo mandato, com destaque para a aceleração do crescimento econômico, e destacou, no balanço dos primeiros quatro anos, o combate à fome e às desigualdades sociais.”
segunda-feira, janeiro 1
qual a cor da vida sem medos?
Fotografia de sophie thouvenin
No ar plano atravesso uma cortina de segredos
Sopro devagar, separo os amarelos dos verdes
No ser reflicto: qual a cor da vida sem medos?
15/12/2006
No ar plano atravesso uma cortina de segredos
Sopro devagar, separo os amarelos dos verdes
No ser reflicto: qual a cor da vida sem medos?
15/12/2006
Subscrever:
Mensagens (Atom)