sexta-feira, fevereiro 13

Uma boa notícia do dia 13


SONDAGEM
"Kerry derrotava Bush se as eleições fossem hoje
O candidato favorito à corrida democrata para as presidenciais norte-americanas, John Kerry, venceria o actual presidente, George W.Bush, se o escrutínio de Novembro próximo se realizasse hoje, segundo uma sondagem hoje divulgada."

E as eleições não podem ser já hoje?




quinta-feira, fevereiro 12

KANT - um chumbo humilhante!


Honra seja feita ao PÚBLICO pelo destaque dado ao bicentenário da morte de KANT. A Universidade de Bonn disponibilizou, em língua alemã, na Internet o maior banco de dados mundial sobre o filósofo. Além da importância da obra de Kant o destaque dado ao filósofo alemão é um verdadeiro gesto de coragem do Público acima do populismo reinante e da "apagada e vil tristeza" que imperam na comunicação social nacional.

Em diversos blogs como o causa nossa traçam-se as grandes linhas do pensamento de Kant: "o filósofo dos direitos humanos". Não vou enfileirar por esse caminho mas simplesmente contar uma "pequena história" pessoal na qual Kant tem o lugar de protagonista.

Foi uma das maiores humilhações da minha vida. Explico em duas palavras. No meu 7º ano de liceu, à época, ano terminal do secundário, faziam-se exames finais em algumas disciplinas incluindo filosofia. A nota da prova escrita necessária para dispensar da oral era 16. Obtive, na escrita, 15. Estranho! Na realidade ninguém obtinha, na escrita, 15. Ou se obtinha 14 ou então 16. Fui, assim, "condenado" a ir à oral com 15.

Na oral fui confrontado com a primeira (e única) pergunta: fale-me do "imperativo categórico" de Kant. Iniciei uma dissertação acerca do tema! A examinadora considerou a resposta insuficiente. Insistiu no tema. Eu titubeie. Não era (nem sou) um especialista em Kant mas - que diabo - tinha estudado a matéria. Mas a examinadora é que não mudava de tema! Fale-me do "imperativo categórico" de Kant! Se bem me lembro tentei de novo satisfazer a exigência. Em vão! Percebi, então, que nada iria resultar. Estava condenado a chumbar fosse qual fosse o meu desempenho!

Levantei-me e saí da sala perante o espanto dos meus colegas que assistiam à cena. Desci a avenida e fui tomar um café na esplanada da Gardy, que ainda lá está apesar dos factos se terem passado à quase 40 anos, na baixa de Faro. O chumbo era certo! Não valia a pena ir ver a pauta. Eu era um pouco irreverente (talvez mesmo bastante irreverente) é verdade! Não dominava de cor as matérias todas! É verdade! Mas na segunda época de exames obtive na escrita a nota de 18 na mesmíssima disciplina de filosofia! Assunto arrumado.

A professora que me sujeitou aquela humilhação oral já faleceu. Nunca cheguei a saber, nem saberei, das verdadeiras razões daquele inusitado chumbo! Mas hoje ao ler o trabalho, limpo e clarividente, do Público, acerca de Kant, a minha memória retomou o caminho da explicação para o chumbo: "Com o seu "Imperativo Categórico" Kant estabeleceu um novo princípio ético: introduziu a ideia de que a moral é algo inerente à estrutura da razão, não decorrendo portanto, por exemplo, de imperativos religiosos. Segundo ele, cada homem deverá actuar de forma a que cada um dos seus actos possa ser tomado como princípio universal. Cada um desses gestos é um objectivo e um fim em si mesmo, não um meio para um outro fim (como o "Bem" praticado na religião católica que surge como uma forma de atingir a salvação). Para Kant, o gesto imoral acontece quando alguém tenta estabelecer para os outros um padrão de comportamento diferente daquele que ele próprio adopta."

Hoje estou convicto (não me atrevo a dizer: estou certo!) que a razão do chumbo naquela oral está sintetizado neste texto, de Vanessa Rato, no Público, acerca do "imperativo categórico". Hoje, como ontem, o mundo está repleto de "gestos imorais", ou seja, de gente que julga o comportamento do outros por critérios que se dispensam de aplicar a si próprios.


A notícia mais importante do dia


Título do "Público":
"Bactéria multi-resistente congela admissões no Hospital de Pombal"

Entrou para o governo?

quarta-feira, fevereiro 11

Oportunismo Amorfo ou o (Des)Envolvimento


O Parapente em Linhares vai acabar?

Fui supreendido com algo que chegou à minha caixa de correio e em que não queria acreditar. Fiquei perplexo, para não dizer coisa pior. Então não é que começaram a cobrar 3 euros a cada praticante de parapente que põe os pés na aldeia serrana de Linhares da Beira, mais concretamente, na aterragem oficial da capital do voo livre Portuguesa?? Inacreditável !!

Recentemente foi ganha uma dura batalha contra interesses privados de instalação de um parque eólico, precisamente por se defender um modelo de desenvolvimento para o local (e região envolvente) que passa pelo aproveitamento das (excelentes) condições geomorfológicas e de aerologia para a prática daquela modalidade, que atrai inumeros visitantes ao longo do ano. Um dos poucos locais que possui recursos endógenos para a sua dinamização económica, social e turística.

Ao ler um texto do Vitor Baía, pioneiro da modalidade no local e durante muitos anos responsável pela Escola de Parapente do INATEL em Linhares (que deixou recentemente), publicado no Forum dos Parapentistas Portugueses (só este fórum tem 380 praticantes), relembro o tortuoso percurso de afirmação daquela modalidade e daquele local como referência nacional e internacional, e concluo que na situação a que se assiste, mesmo sabendo de que se trata de propriedade privada, se torna óbvio o oportunismo e a tentativa de lucro fácil por parte de quem, em desespero de causa, mais nada consegue ou sabe fazer. Só que este tipo de pessoas não se apercebe que será o fim do parapente em Linhares...

E assim se perderá todo o investimento financeiro e humano de mais de uma década (apoiado por dinheiros públicos nacionais e europeus).

É nestas situações que as entidades públicas podem e devem fazer a diferença, tomando atitudes que permitam continuar estratégias de desenvolvimento sustentáveis. Não quer isto dizer pactuar com chantagens ou oportunismos mas sim encontrar soluções alternativas que os impeçam. Haveria que encontrar uma alternativa viável áquele terreno de aterragem, e rápido. É triste ver o INATEL por um lado e os parapentistas por outro, a voltar as costas a Linhares da Beira e perceber que a aldeia e seus habitantes serão quem vai perder mais no meio disto tudo. Será que nem a Câmara Municipal, nem ninguém com responsabilidades, vêem isto ou fazem alguma coisa? Enfim…uma impressionante falta de visão, uma atitude amorfa de quem parece querer compactuar com a situação. Será este o fim de um dos projectos de desenvolvimento local de referência, como era o da aldeia histórica de Linhares da Beira? Espero que não.

Pedro Brilhante Pedrosa

terça-feira, fevereiro 10

Estranhas notícias


"Portugueses preocupados com economia são os menos satisfeitos da UE

Os portugueses são a população da União Europeia (UE) menos satisfeita com a sua vida, sentimento negativo que poderá estar relacionado, em parte, com a situação económica de Portugal, conclui o último Eurobarómetro, divulgado esta terça-feira.
Segundo o documento, "56% dos portugueses sentem-se satisfeitos com a sua vida, a percentagem mais baixa obtida por este indicador desde 1989 e consideravelmente inferior à média da UE, que é de 79%".
O Eurobarómetro - instrumento de medida da opinião pública utilizado regularmente pela Comissão Europeia - indica que os gregos são o segundo povo da UE menos satisfeito com a vida que leva, seguidos pelos alemães e os franceses.
Os países nórdicos - Dinamarca, Suécia, Finlândia e Países Baixos - destacam-se dos restantes estados-membros por registarem as percentagens de satisfação com a vida mais elevadas." Lusa
É curioso que ainda ontem foi divulgada uma sondagem na qual se pretendeu fazer passar a ideia de que os portugueses estavam muito contentes com as medidas tomadas pelo Governo nas áreas económica e financeira

" David Kay considera inútil procurar armas de destruição maciça no Iraque

O ex-chefe do grupo de peritos encarregues de encontrar armas de destruição em massa (ADM) no Iraque David Kay afirmou terça-feira ser inútil continuar a procurar estas armas naquele país, porque elas "não existem".
Contrariamente ao que afirmou o secretário da Defesa norte- americano, Donald Rumsfeld, tentar encontrar estas armas no Iraque "é provavelmente a pior aproximação, a pior estratégia", declarou Kay em conferência de imprensa.
"O Iraque é maior do que a Califórnia e Bagdad é maior que Los Angeles", acrescentou Kay.
"Estou certo de que em 20 anos, ou mesmo em 50 anos, as pessoas continuarão a escavar" para tentar encontrar alguma coisa, disse David Kay, reafirmando que "não existem realmente" ADM no Iraque." Lusa
É inútil continuar a afirmar que é inútil procurar as armas de destruição maçica no Iraque pois a administração americana (e inglesa, espanhola, polaca, portuguesa..., até às eleições respectivas, vão continuar a campanha militar e sempre se descobrem...uns documentos, enfim, isto vai durar ainda uns tempos largos. Mas o petróleo continua no local.







A mais importante notícia do dia


"COMISSÃO EUROPEIA

Fundos comunitários mudam de prioridades
A União Europeia inicia, esta terça-feira, o debate do pacote financeiro de 2007/2013. Em vez de se apostar no betão, os fundos comunitários viram-se agora para a formação e tecnologia. Portugal não deverá sofrer cortes significativos."


A notícia pretende ser optimista. Compreendo. As eleições europeias estão próximas. Compreendo. Hoje saíram muitas notícias acerca do eventual cabeça de lista do PS: Sousa Franco. Compreendo. Portugal não vai perder, no futuro quadro comunitário de apoio, fundos...mas pode perder fundos...Não compreendo. É preciso dar ânimo ao país. Compreendo. Mas que diabo de confusão...a uma observação mais detalhada não se entende nada. Deu para fazer uma manchete. As regiões mais "ricas", parte da região de Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Madeira, não vão perder fundos… mas vão perder fundos. Os fundos não vão mais apoiar o betão (inclui-se o exemplo das estradas e pavilhões gimnodesportivos), vai ser dado privilégio á educação, formação e novas tecnologias...Mas já ouvi esta história outras vezes, em qualquer lado. Bom o melhor é apresentarem dados estatísticos comparativos. Mostrar a cara dos nossos negociadores. Algo de concreto. Para que todos nós não fiquemos como quando ouvimos as "conversas em família" do Prof. Marcelo: com a sensação de que ele fala sempre verdade excepto nos assuntos que conhecemos a fundo...em que é tudo mentira. Era um grande favor que todos os portugueses e instituições (governo, oposição, comunicação social, parceiros sociais...) tratassem este tema, de verdadeiro alcance estratégico nacional, a sério. Obrigado.

50 Anos


Duas amigais - dois jantares de celebração de 50 anos. Duas mulheres interessantes nos planos pessoal e profissional. Ambas mantêm excelentes formas (e belezas) física e intelectual. MM e MAB levaram os amigos - muitos - a jantar em dois belos lugares de Lisboa. MM levou-nos ao Museu da Água, magnífico espaço, do tipo industrial, muito bem cuidado, mas pouco conhecido, ali na zona da Calçada dos Barbadinhos, perto de Santa Apolónia. Tudo o que é bom, no nosso país, parece que tem de ser esconjurado ou escondido... MAB optou por um pequeno Restaurante na Rua da Esperança. Neste caso uma zona que me é familiar. Percebi que os "Caracóis da Esperança" fecharam. Na minha juventude fiz, vezes sem conta, os caminhos daquele Bairro a pé. A deambulação nocturna, da noite passada, fez-me regressar à Rua das Trinas - levando-me à porta de uma casa que frequentei durante meses e onde alberguei, no meu quarto, um amigo desertor que se me apresentou sem aviso prévio - levou-me a passear pelas transversais, estreitas e silenciosas, com estendais carregados de roupas (e carros estacionados a eito) e levou-me a revisitar a Rua do Quelhas. Muitos anos da minha vida - dos melhores - passaram, naqueles minutos, em flash, pela minha cabeça e ouvi, na distância de tantos anos, a esperança dos meus passos que julguei servirem para a salvação do mundo… obrigado às duas.

Soneto

Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.

Carlos de Oliveira

In "Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa"
de Eugénio de andrade


segunda-feira, fevereiro 9

Cadernos de Camus - 7


Estes são os últimos sublinhados do Caderno nº5 para os Cadernos de Camus. Neste conjunto de excertos acrescentei um único texto não sublinhado na minha leitura de juventude. É exactamente o que encerra o Caderno n.º5. Acrescento uma remissão para LUKÁCS, referido no conjunto anterior, para quem estiver interessado em o conhecer ou revisitar.

""O que existe na Rússia é uma liberdade colectiva "total" e não pessoal. Mas que é uma liberdade total? É-se livre de alguma coisa - em relação a. Visivelmente, o limite é a liberdade em relação a Deus. Vê-se então claramente que essa liberdade significa a sujeição ao homem.""

"Peça Dora: Se tu não amas ninguém, isso não pode vir a acabar bem."
(Mais uma vez a peça "Os Justos", assim como nalguns excertos que surgirão a seguir.)

""Quantos eram os membros da "Vontade do povo"? 500. E o Império Russo? Mais de cem milhões.""
(Sublinhei somente "500")

""Vera Figner: "Eu devia viver, viver para ser julgada, pois o processo coroa a actividade do revolucionário.""

""Peça. Dora ou outra: "Condenados, condenados a serem heróis e santos. Heróis à força. Por isso não nos interessa, compreendem, não nos interessam nada os sórdidos negócios deste mundo envenenado e estúpido que se pega a nós como visco. - Confessai, confessai-o, que o que vos interessa são os seres e o seu rosto... E que, pretendendo procurar uma verdade, não esperais no fim de contas senão amor.""

"É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos."

"Formas e revolta. Dar uma forma aquilo que é informe, é o fim de toda a obra. Não há apenas criação, mas correcção (ver mais acima). Daí a importância da forma. Daí a necessidade de um estilo para cada assunto, não de todo diferente porque a língua do autor é sempre sua. E é justamente esta que fará quebrar não a unidade deste ou daquele livro mas a da obra inteira."

"Retirei-me do mundo não porque tivesse inimigos, mas porque tinha amigos. Não que eles não me fossem prestáveis como é habitual, mas julgavam-me melhor do que sou. É uma mentira que eu não posso suportar"

"Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim. Duas religiões."
(Coloquei ? no fim da frase)

"Pequena baía antes de Tenés, na base de uma cadeia de montanhas. Semicírculo perfeito. Ao cair da noite uma plenitude angustiada plana sobre as águas silenciosas. Compreende-se então porque é que os Gregos formaram a ideia do desespero e da tragédia sempre através da beleza e do que nela há de opressivo. É uma tragédia que culmina. Ao passo que o espírito moderno produz o seu desespero a partir da fealdade e do medíocre.
É o que Char quer dizer talvez. Para os Gregos, a beleza é o ponto de partida. Para um europeu, é um fim, raramente atingido. Não sou moderno."

"Verdade deste século: À força de vivermos grandes experiências, tornamo-nos mentirosos. Acabar com tudo o mais e dizer o que tenho de mais profundo."

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº5 (Setembro de 1945/ Abril de 1948).





(Dos mentirosos)


"E não há nada onde a força de um cavalo melhor se conheça do que ao fazer uma paragem súbita."
Camus, ainda a propósito das justificações para a guerra no Iraque.

sexta-feira, fevereiro 6

Igual - desigual

Eu desconfiava:
Todas as histórias em quadrinhos são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os "best-sellers" são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas, e rondóis são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais, iguais, iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade


A mais importante notícia do dia

CIA Nunca Considerou o Iraque Uma "Ameaça Iminente"

O Público dá notícia que George Tenet, o director da CIA, afirmou ontem que os analistas da agência "nunca disseram que havia uma ameaça iminente" no Iraque antes da guerra, defendeu o trabalho e as conclusões dos serviços secretos mas, ao mesmo tempo, ilibou a Administração Bush de pressões para que fosse exagerada a ameaça colocada pelo arsenal de Saddam Hussein.
Já toda a gente percebeu...uns mais cedo, outros mais tarde, que os argumentos invocados para justificar a guerra contra o Iraque eram falsos, mas o petróleo permanece no local, não é?

Os favoritos de um iniciado...

Os meus favoritos resultam de uma escolha que, por sua vez, resulta da vontade, do acaso, da tradição, do preconceito, do conhecimento prévio, do tempo disponível e do facto, determinante, da minha capacidade de conhecimento ser limitada. Quando dou uma volta pela imensidão da internet - blogosfera incluída - fico estarrecido com a pequenez do nosso contributo individual no caudal de informação que deveria aplacar a ignorância e parece adensá-la quanto mais informação se liberta. Sem falar, claro, da contra-informação. A nossa ignorância é um mar imenso no qual emergem poucas ilhas paradisíacas de conhecimento e sabedoria. Quando, por exemplo, passo a limpo os sublinhados dos "Cadernos de Camus" buscando, através da net, informações actualizadas, acerca dos escritores, pensadores e filósofos citados, fico surpreendido. O manancial de informação, acerca de cada um deles, pela sua extensão e detalhe, é quase irreal. Ainda bem, dirão os investigadores devotos da net, e eu estou de acordo. Nesta coisa da informação mais vale o mais do que o menos. Mais vale a liberdade, com erros, do que a correcção, com omissões impostas pela censura, seja qual for a sua natureza. Mas afinal só queria dar-vos a conhecer os favoritos de um iniciado no universo dos blogs. Quais são os meus favoritos no dia de hoje? O Abrupto (uma referência intelectual livre, crítica de si mesma) os Cadernos de Camus (um projecto interessante, no qual participo) a Causa Nossa (uma referência política não dogmática, crítica do maioria) o BlogDaMiuda (uma referência individual, crítica do quotidiano) o Turing-Machine (referência inicial do absorto, uma amizade solidária). Nos últimos dias fiquei fiel de outros dois: o Noparapeito e o recém-nascido EscritanaMesa. Espero que os editores respectivos escrevam mais que os conheço e sei que a escrever são águias... E basta…

quinta-feira, fevereiro 5

"Vivam, apenas"


Vivam, apenas.
Sejam bons como o sol.
Livres como o vento.
Naturais como as fontes.
Imitem as árvores dos caminhos
que dão flores e frutos
sem complicações.
Mas não queiram convencer os cardos
a transformar os espinhos
em rosas e canções.
E principalmente não pensem na Morte.
Não sofram por causa dos cadáveres
que só são belos
quando se desenham na terra em flores.
Vivam, apenas.
A Morte é para os mortos!

José Gomes Ferreira
Poesia I (1948)

A mais importante notícia do dia - Entre os Rios

(...)"Os familiares das vítimas da queda da ponte de Entre-os- Rios estão satisfeitos com um relatório, divulgado esta quinta-feira, que atribui a culpa do incidente à extracção de areias no rio Douro, mas os areeiros rejeitam responsabilidades.
O relatório pericial sobre as causas da queda da ponte de Entre-os-Rios solicitado pelo Tribunal de Castelo de Paiva, revelado pelo Jornal de Notícias, indica que a extracção de areias contribuiu em 80% para o rebaixamento do leito do rio e foi a causa principal do incidente.
O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da Queda da Ponte de Entre-os-Rios, Horácio Moreira, referiu que a organização "está satisfeita" com o novo relatório, porque o processo tem sido bastante moroso, mas "nota-se agora que a justiça funciona", após três anos.
Diferente é a interpretação de quem defende os areeiros, como é o caso do advogado Nelson Correia, para quem a erosão do Rio Douro pode ter como causa a extracção de areias, sem que isso signifique a responsabilidade dos areeiros pela queda da Ponte de Entre-os-Rios." (LUSA)
Um caso exemplar de "desenvolvimento in-sustentável". Quando começou o processo de extracção das areias? Quem autorizou? Quem beneficiou?












quarta-feira, fevereiro 4

Jacques Delors


Este é um político experiente ao qual, pelo seu passado de acção política em prol da construção europeia, se deve dar muita atenção.

"É sempre preciso partir de um consenso dinâmico."

"A Europa tem uma escolha entre a marginalização ou a sobrevivência, o declínio ou a sobrevivência. Porque o mundo anda depressa. No plano tecnológico, económico, das relações geopolíticas."

"...três finalidades da construção europeia: a paz, a modernização económica e a existência política. É preciso acrescentar um outro: a coesão económica e social."

"O que digo é que é preciso praticar a linguagem da verdade perante os cidadãos. Dizer-lhes o que pensamos e respeitá-los, mas é também fazer apelo à sua inteligência e à sua razão."

"Se tivéssemos esperado que os quinze estivessem de acordo ainda hoje não teríamos o euro. É tão simples como isto. Não é a Europa a duas velocidades. Mas hoje o clima é de tal ordem que não deixa passar nenhuma ideia positiva."

"Depois da queda do muro, o medo era grande. Dizia-se que ia haver confrontos, milhares de mortos. Nada disso aconteceu. Um pouco por sorte, mas também graças á sabedoria de muitos homens e mulheres que eram responsáveis na altura.(...) Isso serve para dizer aos jovens que a política nem sequer é desencorajadora, que há momentos de grandeza, que não estamos condenados à regressão, ao crime, às guerras, ao ódio."

(Excertos da entrevista ao Público de 4 de Fevereiro de 2004)



Para a Rita com amor



A Rita descobriu o absorto e eu descobri a Rita. Aqui está o programa do absorto que a Rita destacou hoje, 4 de Fevereiro, um dia especial para mim. É um texto do género prosa poética que estabelece a coluna vertebral desta intervenção pública.

Deixar uma marca

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado,
sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez
no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão
olhando o mundo e tomando a medida exacta
da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus,
usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós
porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra,
a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino
e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar,
mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte
ou á lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular
ou da espingarda apontada á fronte
do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador
que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação
e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente á terra atapetada de flores de amendoeira
em silêncio e paz.


A mais importante notícia do dia


O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, reconheceu quarta-feira perante a Câmara dos Comuns que, ao contrário do que esperava, o Grupo de Inspecções no Iraque (ISG) "não encontrou armas prontas para serem imediatamente utilizadas".
"Admito que o ISG não encontrou o que eu e muitas outras pessoas, como David Kay (ex-chefe do ISG), esperavam que encontrasse, isto é, armas prontas para serem imediatamente utilizadas", declarou Tony Blair, num debate consagrado ao relatório Hutton sobre o suicídio do especialista em armamento David Kelly, em Julho passado.
(Notícia da LUSA)
Sem comentários...

terça-feira, fevereiro 3

Camões dirige-se aos seus contemporâneos


Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Assis, 11 Junho 61

Jorge de Sena
In"Metamorfoses [1963]
.

Liberdade - 6


Não me venham com ameaças, medos, vigias, perseguições, listagens de grevistas, bufos, cartas anónimas, silêncios, arrecuas, cartões partidários a dobrar, acusações de excessos na luta pela liberdade e contra o colonialismo. Passaram 30 anos e todos já esqueceram o passado! É o que dizem alguns cronistas encartados do regime. É uma mentira grosseira. Ninguém esqueceu o passado. Todos têm o passado nas suas veias. Um povo é uma sucessão de gerações. Entrelaçadas. O cronista Delgado não tem passado? O governante Portas não tem passado? O Dr. Soares (Mário) não tem passado? O Presidente Sampaio não tem passado? O Presidente Lula não tem passado? O falecido General Kaúlza não tem passado? Todos nós temos passado. Mas alguns têm mais passado do que outros. Os conservadores a sério não brincam com o passado. Assumem o passado. Honram o passado. Todos os cidadãos decentes respeitam a tradição. Cada vez se ouve mais nítido o apelo a que, ao menos, haja decência na vida pública, na comunicação social, no simples exercício da cidadania na vida de todos os dias. Decência! Não é pedir muito! Quem toma posse em funções de Estado é responsável por tudo o que compete. De hoje e de ontem. Tem por obrigação tratar o presente e o passado com decência. O passado é sempre de outros? Não! É de todos. Quer gostemos ou não gostemos é nosso! A liberdade é um dado adquirido? Não! A liberdade é uma conquista quotidiana. A vantagem da liberdade é que nela cabem os indecentes e os inimigos da liberdade. Como dizia Camus: "A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário".