Para a Rita com amor
A Rita descobriu o absorto e eu descobri a Rita. Aqui está o programa do absorto que a Rita destacou hoje, 4 de Fevereiro, um dia especial para mim. É um texto do género prosa poética que estabelece a coluna vertebral desta intervenção pública.
Deixar uma marca
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado,
sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez
no encontro com eles,
nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão
olhando o mundo e tomando a medida exacta
da nossa pequenez,
atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus,
usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós
porque por amor nos iluminam,
observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra,
a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino
e acreditar no futuro do homem,
louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar,
mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte
ou á lei da vida,
guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular
ou da espingarda apontada á fronte
do combatente irregular,
incensar o gesto ameno e contemporizador
que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,
ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação
e desejar a amizade das mulheres,
admirar a vista do mar azul frente á terra atapetada de flores de amendoeira
em silêncio e paz.
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