Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, fevereiro 8
"Olho-te nos olhos e pergunto-me de que côr serão teus sonhos..."
Terça-feira gorda. O Dr. Santana Lopes não faz campanha eleitoral no Carnaval. Mas assinou ontem um protocolo. Com pompa e circunstância. Ainda se fosse a inauguração do novo aeroporto da Ota. Como primeiro-ministro valia a pena o desaforo. Mas não tem obra para apresentar. Uns livros e um protocolo para dar uso civil a um aeroporto militar. Ainda por cima sem a presença do ministro da defesa. Até deu para o Eng.º Sócrates dar um elogio ao Dr. Portas.
Não sei o que se passa na cabeça do dito cujo mas tenho para mim que está a tentar colocar-se no papel do que ele pensa ser o sentimento do cidadão comum. Descrédito nos políticos. Mal por mal antes o Pombal! Esta estratégia do Dr. Santana, e do seu círculo restrito de amigos, ou está muito bem urdida ou está à deriva. Inclino-me mais para a segunda hipótese.
O Dr. Santana entrou naquela fase de roda livre em que tudo se pode esperar. Ou me aceitam como sou ou nada feito! O PSD que se lixe! Acho que o Dr. Santana vai acabar na “Quinta das Celebridades II” a ganhar umas massas e a aproveitar da notoriedade do cargo de “primeiro” e da campanha eleitoral.
De cada vez que lhe vejo o olhar a imagem que dele transparece é o vazio.
Fotografia de Helder Gonçalves- Granada, 2003
segunda-feira, fevereiro 7
Mário de Sá-Carneiro
Quasi
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d´espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quasi vivido...
Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quasi, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos d´alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d´herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
..................................................................
..................................................................
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Paris, 13-5-1913
Mário de Sá-Carneiro
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d´espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quasi vivido...
Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,
Quasi o princípio e o fim - quasi a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quasi, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...
Momentos d´alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos d´herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
..................................................................
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Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Paris, 13-5-1913
Mário de Sá-Carneiro
"Só"
“Estou de facto só. Apesar de tu existires, Gelnaa, rejeito em bloco o passado, o presente, o futuro e escrevo as duas palavras, desolação, desilusão, que tanto ponderei. Para quê afinal se hoje não tenho outras?”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (3 de 3)
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (3 de 3)
"O Chumbo"
Na vida como na política o carácter dos homens determina o essencial da sua acção. Não é possível esconder todo o tempo a perversidade do carácter dos homens públicos. Em democracia essa é mesmo uma tarefa impossível.
Ao fim de algum tempo a propaganda que transformara um político num decisor perfeito como que se desmorona. Isso acontece quando o carácter do homem político se revela vulgar, atreito a preocupar-se com as tarefas mesquinhas, os juízos preconceituosos e as decisões sectárias, quando não persecutórias.
O carácter dos homens é, no fundo, o essencial na política. Bagão Félix é uma expressão da verdadeira natureza do mal na política. A dissimulação levada aos limites torna-se uma obsessão perigosa para a própria democracia. Até Santana Lopes foi obrigado a reconhecer isso quando “dispensou” Bagão Félix de um seu governo virtual que o povo português, por sua vez, também já dispensou.
Estamos a 12 dias das eleições. Santana esbraceja qual naufrago que agarra, desesperado, todos os sobreviventes, arrastando-os para o fundo. Bem vistas as coisas é provável que só venham a sobreviver os que ficaram fora do "barco do santanismo" ou os que se protegeram com o silêncio autentico da vergonha.
Leia-se: "O Chumbo", de Nicolau Santos, in “Expresso on line” (acesso integral à leitura só para assinantes):
“O Presidente da República vai vetar a nova Lei Orgânica do Ministério das Finanças. Faz Jorge Sampaio muito bem. Sob essa capa, o que o ministro das Finanças pretende é acabar com a autonomia administrativa e financeira de entidades reguladoras, como o Instituto de Seguros de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, e passar a controlá-las do Terreiro do Paço.”
Ao fim de algum tempo a propaganda que transformara um político num decisor perfeito como que se desmorona. Isso acontece quando o carácter do homem político se revela vulgar, atreito a preocupar-se com as tarefas mesquinhas, os juízos preconceituosos e as decisões sectárias, quando não persecutórias.
O carácter dos homens é, no fundo, o essencial na política. Bagão Félix é uma expressão da verdadeira natureza do mal na política. A dissimulação levada aos limites torna-se uma obsessão perigosa para a própria democracia. Até Santana Lopes foi obrigado a reconhecer isso quando “dispensou” Bagão Félix de um seu governo virtual que o povo português, por sua vez, também já dispensou.
Estamos a 12 dias das eleições. Santana esbraceja qual naufrago que agarra, desesperado, todos os sobreviventes, arrastando-os para o fundo. Bem vistas as coisas é provável que só venham a sobreviver os que ficaram fora do "barco do santanismo" ou os que se protegeram com o silêncio autentico da vergonha.
Leia-se: "O Chumbo", de Nicolau Santos, in “Expresso on line” (acesso integral à leitura só para assinantes):
“O Presidente da República vai vetar a nova Lei Orgânica do Ministério das Finanças. Faz Jorge Sampaio muito bem. Sob essa capa, o que o ministro das Finanças pretende é acabar com a autonomia administrativa e financeira de entidades reguladoras, como o Instituto de Seguros de Portugal e a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, e passar a controlá-las do Terreiro do Paço.”
domingo, fevereiro 6
A Liberdade, Sempre
sábado, fevereiro 5
Debate a Dois
Eleições e Debates. Programas e protagonistas. Já temos assistido a muitos. Soares, Cunhal, Freitas, Sá Carneiro, Pintassilgo, Mota Pinto, Eanes, Sampaio, Cavaco, Constâncio, Ferro, Durão.
Santana, Sócrates. Este foi mais um. Mas ficou à vista de toda a gente que um só debate não é suficiente. Seriam necessários dois ou três. A Sócrates não interessavam? Tenho as maiores duvidas. Pois Sócrates os ganharia a todos. Foi um erro da estratégia do PS. Santana não suportaria ser confrontado com as “trapalhadas” e não chegou a sê-lo. Aí saiu beneficiado.
Além do mais, e mais importante, não se abordaram diversas questões centrais da política nacional. Isto é um assunto sério. Salvo alguma referência telegráfica nem uma palavra acerca da educação, saúde, justiça, imigração, demografia, defesa, segurança, Europa, relações externas…A complexidade dos problemas da governação não foram revelados.
Eu vi, na íntegra, um dos debates entre Bush e Kerry. Aí se revelavam, com mais clareza, as diferenças dos programas e das personalidades. Aqui parece um jogo das escondidas. Sócrates acabou por se diferenciar puxando para a primeira linha as questões sociais. Curioso jogo que eu tinha previsto, num post antigo, comentando o Congresso do PS.
Sócrates marcou a diferença onde recusara a diferença no debate interno. Mesmo na questão do que “é vencer” as eleições no discurso de Sócrates aflorou um lapso, ou uma “fraqueza”, quando não atacou, logo na primeira frase: “para o PS vencer é obter a maioria absoluta”. A sua resposta foi um acto falhado lembrando o discurso de Guterres em 1999.
Por outro lado Alegre hoje surgiu em Beja a reforçar a linha da esquerda socialista que Ferro encarnaria com mais autenticidade. Com um PSD desfeito e Santana Lopes desacreditado a maioria absoluta joga-se, afinal, à esquerda. Suprema ironia, com profundas consequências futuras, para Sócrates que surge perante a opinião pública com um programa político de centro-esquerda.
O debate serviu, ao menos, para mostrar, e isso é positivo, que Santana e Sócrates são diferentes.
Ver esta análise bastante interessante.
Santana, Sócrates. Este foi mais um. Mas ficou à vista de toda a gente que um só debate não é suficiente. Seriam necessários dois ou três. A Sócrates não interessavam? Tenho as maiores duvidas. Pois Sócrates os ganharia a todos. Foi um erro da estratégia do PS. Santana não suportaria ser confrontado com as “trapalhadas” e não chegou a sê-lo. Aí saiu beneficiado.
Além do mais, e mais importante, não se abordaram diversas questões centrais da política nacional. Isto é um assunto sério. Salvo alguma referência telegráfica nem uma palavra acerca da educação, saúde, justiça, imigração, demografia, defesa, segurança, Europa, relações externas…A complexidade dos problemas da governação não foram revelados.
Eu vi, na íntegra, um dos debates entre Bush e Kerry. Aí se revelavam, com mais clareza, as diferenças dos programas e das personalidades. Aqui parece um jogo das escondidas. Sócrates acabou por se diferenciar puxando para a primeira linha as questões sociais. Curioso jogo que eu tinha previsto, num post antigo, comentando o Congresso do PS.
Sócrates marcou a diferença onde recusara a diferença no debate interno. Mesmo na questão do que “é vencer” as eleições no discurso de Sócrates aflorou um lapso, ou uma “fraqueza”, quando não atacou, logo na primeira frase: “para o PS vencer é obter a maioria absoluta”. A sua resposta foi um acto falhado lembrando o discurso de Guterres em 1999.
Por outro lado Alegre hoje surgiu em Beja a reforçar a linha da esquerda socialista que Ferro encarnaria com mais autenticidade. Com um PSD desfeito e Santana Lopes desacreditado a maioria absoluta joga-se, afinal, à esquerda. Suprema ironia, com profundas consequências futuras, para Sócrates que surge perante a opinião pública com um programa político de centro-esquerda.
O debate serviu, ao menos, para mostrar, e isso é positivo, que Santana e Sócrates são diferentes.
Ver esta análise bastante interessante.
Neruda e Picasso
El viento en la Isla
El viento es un caballo
óyelo como corre
por el mar, por el cielo.
Quiere llevarme: escucha
cómo recorre el mundo
para llevarme lejos
Escóndeme en tus brazos
por esta noche sola,
mientras la lluvia rompe
contra el mar y la tierra
su boca innumerable.
Escucha cómo el viento
me llama galopando
para llevarme lejos.
Con tu frente en mi frente,
con tu boca en mi boca,
atados nuestros cuerpos
al amor que nos quema,
deja que el viento pase
sin que pueda llevarme.
Deja que el viento corra
coronado de espuma,
que me llame y me busque
galopando en la sombra,
mientras yo, sumergido
bajo tus grandes ojos,
por esta noche sola
descansaré, amor mío.
Pablo Neruda
Eleições, continuidade e mudança
O artigo, com o título em epígrafe, publicado ontem no “Semanário Económico”, já está disponível no site daquele Semanário, podendo ser também ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR.
"Para começar o quê?"
"Não compreendo bem. E depois, sem filhos, o rio pára em mim, o fio de aranha quebra-se. Não entro nesta ordenação de factos, de gente, nesta engrenagem que ultrapassa o nascimento e a morte de cada um, ou melhor, termino-a. Para começar o quê?"
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (1 de 3)
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pag. 14 (1 de 3)
quinta-feira, fevereiro 3
A Cauda da Serpente
A cauda da serpente rabeia, ainda rabeia. A verdadeira natureza do PP revela-se em toda a sua miséria. Sempre é melhor assim do que a dissimulação como sistema de afirmação das ideologias totalitárias. (Ainda espero saber qual a posição política do PP face à questão da imigração, por exemplo).
Estamos no terreno em que só pelas margens ou insinuações no discurso os dirigentes revelam as diferenças de políticas e ideologias. Um dia Louçã proscreve Portas por não procriar, no outro Santana afirma-se, perante as mulheres, como “muito homem” colocando Sócrates noutros “colos”, agora Guedes conclamação o povo de Coimbra ao levantamento popular, excluindo Sócrates do “direito à cidade”.
O caminho das eleições, até 20 de Fevereiro, estará pejado de insinuações torpes, ameaças de violência e arroubos de valentia. É assim a nossa direita nacional-populista em democracia. Abençoada União Europeia.
Nobre Guedes apela a levantamento popular para impedir entrada de Sócrates em Coimbra
Estamos no terreno em que só pelas margens ou insinuações no discurso os dirigentes revelam as diferenças de políticas e ideologias. Um dia Louçã proscreve Portas por não procriar, no outro Santana afirma-se, perante as mulheres, como “muito homem” colocando Sócrates noutros “colos”, agora Guedes conclamação o povo de Coimbra ao levantamento popular, excluindo Sócrates do “direito à cidade”.
O caminho das eleições, até 20 de Fevereiro, estará pejado de insinuações torpes, ameaças de violência e arroubos de valentia. É assim a nossa direita nacional-populista em democracia. Abençoada União Europeia.
Nobre Guedes apela a levantamento popular para impedir entrada de Sócrates em Coimbra
quarta-feira, fevereiro 2
"evitar que a tempestade das coisas desencadeadas nos corrompa ou destrua"
“O poema é um objecto de substância especialíssima, com meios de produção adequados, cuja evolução se processa por caminhos muito seus que não admitem, ao que penso, qualquer ruptura na profunda integridade em que fluem. A poesia evolui, experimenta, liberta-se, mas não deixa de ser um produto directo, dilecto, da consciência humana. A verdadeira vanguarda não imita exactamente aquilo que mais precisa de combater, o esquecimento do homem na rápida aridez do mundo, que não advém do progresso mas do seu uso deturpado. Se a poesia é como queria Maiakovski uma “encomenda social”, o que a sociedade pede aos poetas de hoje, mesmo que o peça nebulosamente, não anda longe disto: evitar que a tempestade das coisas desencadeadas nos corrompa ou destrua.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – pág. 13 (3 de 3)
Para Compreender Santana
“Digamos, sucintamente, que o santanismo nos propõe novamente uma cena mediática, imaginária, essencialmente espectacular. Numa mistura de discursos, decisões incoerentes e oportunistas em que se mistura o elogio do 25 de Abril (da democracia, dos valores da liberdade) com a leviandade de iniciativas que parecem caprichos ou nascidos de humores variáveis segundo os momentos, Santana Lopes dá-nos uma imagem da governação – e do comportamento político e cívico de que ele, enquanto primeiro-ministro nos dá o exemplo – que se adequa curiosamente aos antigos comportamentos que herdámos do salazarismo”.
(...) "Docemente sem escrúpulos, suavemente cínico, gozador da vida empírica imediata, amigo dos amigos semelhantes - esta imagem do comportameneto cívico do cidadão não convém como uma luva àquela não-existência que desde sempre devora a nossa vontade de viver de portugueses?"
José Gil – “Portugal, Hoje – O Medo de Existir”
(...) "Docemente sem escrúpulos, suavemente cínico, gozador da vida empírica imediata, amigo dos amigos semelhantes - esta imagem do comportameneto cívico do cidadão não convém como uma luva àquela não-existência que desde sempre devora a nossa vontade de viver de portugueses?"
José Gil – “Portugal, Hoje – O Medo de Existir”
Saraband
Fui ver Saraband. O rosto de Liv Ullmann. A luz. A palavra. As pausas. O não dito. O amor. A raiva. A ternura. A solidão. A morte. A vida. O passado. O futuro. Nós. Ali dentro. Os nossos filhos. Os nossos pais e os pais dos nossos pais. A floresta. O charco. A escada. A lágrima. O sufoco. A música. A amizade. Um dia telefono, passaram 20 anos. Um dia destes vou visitá-lo, nunca mais. Havemos de nos ver... A separação. O esquecimento. O reencontro. O vazio. A lembrança. A nossa vida ali dentro. Todo o tempo. O mais perfeito filme que se pode desejar ver. Ingmar Bergman é uma memória que nos faz reconciliar com a memória. Falando de tudo o que nos rodeia na vida concreta em que se inscrevem os medos e os sonhos, os rancores e as paixões, os filhos, avós, mulheres e amantes, a nossa vida, a doença e a morte, o nosso passado e o nosso futuro. Além do mais Saraband é o reflexo da imagem de Liv Ullmann a fulminar o imaginário de uma geração que é a minha. Tão sobriamente bela hoje como na sua juventude. Puxa, foi duro...
Os Homens do Poder Enlouqueceram
A indignidade é a sua profissão. É disso que vivem. Sócrates está a viver o seu calvário. Era previsível. Outros antes dele já o viveram. Já se esqueceram de Ferro Rodrigues? Passou tão pouco tempo!
Era certo e sabido que seria organizada uma campanha contra o líder do PS. Fosse qual fosse. E essa campanha seria em torno dos mesmos ingredientes que tanto estimula a herança de uma mentalidade fascizante que ainda percorre a sociedade portuguesa.
Quem organiza estas as campanhas sabe o que faz. Não sejamos ingénuos. São os mesmos que querem manter o poder a todo o custo. Não vale a pena dar muitas voltas à imaginação. Só há uma resposta possível: derrotá-los nas urnas.
Há quem se queixe que Santana deu um pretexto para a dramatização da campanha de que o PS precisava para obter a maioria absoluta. Mas o problema não está aí mas na baixeza moral desta gente que pode levá-los ainda mais longe.
O poder, por vezes, corrompe as consciências mas, desta vez, acho que enlouqueceu os homens do poder. A loucura já lá morava mas a expectativa de perder o poder enlouqueceu-os absolutamente.
O Dr. Dias Loureiro, o Dr. Marques Mendes, e outros que até são candidatos e que mantêm, certamente, a sua sanidade mental, não dizem nada? Vão ficar associados a esta campanha feita de indignidades?
Faltam 18 dias.
Líder socialista diz estar a ser alvo de "onda de boatos completamente falsos"
Sócrates acusa Santana Lopes de comportamento "indigno"
Era certo e sabido que seria organizada uma campanha contra o líder do PS. Fosse qual fosse. E essa campanha seria em torno dos mesmos ingredientes que tanto estimula a herança de uma mentalidade fascizante que ainda percorre a sociedade portuguesa.
Quem organiza estas as campanhas sabe o que faz. Não sejamos ingénuos. São os mesmos que querem manter o poder a todo o custo. Não vale a pena dar muitas voltas à imaginação. Só há uma resposta possível: derrotá-los nas urnas.
Há quem se queixe que Santana deu um pretexto para a dramatização da campanha de que o PS precisava para obter a maioria absoluta. Mas o problema não está aí mas na baixeza moral desta gente que pode levá-los ainda mais longe.
O poder, por vezes, corrompe as consciências mas, desta vez, acho que enlouqueceu os homens do poder. A loucura já lá morava mas a expectativa de perder o poder enlouqueceu-os absolutamente.
O Dr. Dias Loureiro, o Dr. Marques Mendes, e outros que até são candidatos e que mantêm, certamente, a sua sanidade mental, não dizem nada? Vão ficar associados a esta campanha feita de indignidades?
Faltam 18 dias.
Líder socialista diz estar a ser alvo de "onda de boatos completamente falsos"
Sócrates acusa Santana Lopes de comportamento "indigno"
terça-feira, fevereiro 1
Para mí corazón.../Para o meu coração...
Para mí corazón...
Para mi corazón basta tu pecho,
para tu libertad bastan mis alas.
Desde mi boca llegará hasta el cielo
lo que estaba dormido sobre tu alma.
Es en ti la ilusión de cada día.
Llegas como el rocío a las corolas.
Socavas el horizonte con tu ausencia.
Eternamente en fuga como la ola.
He dicho que cantabas en el viento
como los pinos y como los mástiles.
Como ellos eres alta y taciturna.
Y entristeces de pronto, como un viaje.
Acogedora como un viejo camino.
Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
Yo desperté y a veces emigran y huyen
pájaros que dormían en tu alma.
......................
Para o meu coração...
Para meu coração basta o teu peito
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a sua alma.
És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.
Pablo Neruda
“Vinte Poemas de Amor e
Uma Canção Desesperada”
Tradução de Fernando Assis Pacheco
Publicações D. Quixote
AMAZÓNIA
I
Selva.
O negro, o índio
e o mais que me souber.
O fogo doutro céu,
o nome doutro dia.
Tudo o que estiver
nos nervos
que me deu.
II
Navegação.
O Amazonas
atira os barcos ao mar.
Defende o seu coração
Marca as zonas
de navegar.
III
Fruto.
Minha selva
de nervos.
Potros,
potros na selva.
Maré cheia,
árvores em parto,
ondas sobre ondas
dum inferno farto.
Inferno pleno.
Terras verdes
e céu moreno.
Sol loiro.
Estrídulo, de hastes vermelhas.
Toiro.
Plasma.
Nus, torcidos.
Estrelas, que poucas.
Vento de todos os sentidos.
Bocas.
IV
Céu.
Apalpo e oiço
o silêncio. O silêncio
adensou e rangeu.
V
Anjos
entregam-se a anjos
e caem na terra
embebedados.
A terra
freme,
sabor de sol que lhe ficou
do dia calcinado,
treme
minhas orgias doiradas
enquanto as asas dos anjos
caem maculadas.
Carlos de Oliveira
In "Turismo"
( Ver “Viagens especulares. Imagens de Europa e Brasil em Carlos de Oliveira e Carlos Drummond de Andrade” - Maria Corrêa Silva – UEM)
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