terça-feira, fevereiro 1

AMAZÓNIA


I

Selva.
O negro, o índio
e o mais que me souber.
O fogo doutro céu,
o nome doutro dia.
Tudo o que estiver
nos nervos
que me deu.

II

Navegação.
O Amazonas
atira os barcos ao mar.

Defende o seu coração
Marca as zonas
de navegar.

III

Fruto.
Minha selva
de nervos.
Potros,
potros na selva.

Maré cheia,
árvores em parto,
ondas sobre ondas
dum inferno farto.
Inferno pleno.
Terras verdes
e céu moreno.

Sol loiro.
Estrídulo, de hastes vermelhas.
Toiro.

Plasma.
Nus, torcidos.
Estrelas, que poucas.
Vento de todos os sentidos.
Bocas.

IV

Céu.
Apalpo e oiço
o silêncio. O silêncio
adensou e rangeu.

V

Anjos
entregam-se a anjos
e caem na terra
embebedados.

A terra
freme,
sabor de sol que lhe ficou
do dia calcinado,
treme
minhas orgias doiradas
enquanto as asas dos anjos
caem maculadas.

Carlos de Oliveira
In "Turismo"

( Ver “Viagens especulares. Imagens de Europa e Brasil em Carlos de Oliveira e Carlos Drummond de Andrade” - Maria Corrêa Silva – UEM)

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