sábado, maio 1

ALBERT CAMUS - Solitaire et Solidaire


Os meus amigos António Reis e Fátima fizeram-me chegar às mãos uma prenda escolhida em liberdade. Antes não me havia sido possível encontrar – por estar esgotado – este livro: Albert Camus, Solidaire et Solitaire, de autoria de sua filha Catherine Camus, edição Michel Lafon. Um livro composto por imagens, fotografias e não só, já conhecidas ou reveladas. Está lá o homem todo, sua vida e obra, uma luz que brilha por entre as sombras que povoam o nosso tempo.

« Mes enfants et mes petits-enfants, mes neveux et ma petite-nièce ne l’ont pas connu. Pour eux, j’ai voulu traverser toutes les images. Pour retrouver son rire, sa légèreté et sa générosité, pour retrouver cet homme attentif et chaleureux qui me laissait vivre. Pour montrer, comme l’écrit Séverine Gaspari, qu’Albert Camus était "un homme parmi les hommes et qui tenta, parmi ces hommes, d’être aussi homme qu’il le pouvait". » Catherine Camus
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quinta-feira, abril 29

FUTEBOL

O futebol é um fenómeno global e local ao mesmo tempo. Popular até ao tutano e mediático até à saciedade. Já perorei diversas vezes acerca do tema. Da terra batida dos campos da província mais remota até às relvas reluzentes dos grandes palcos há muitas diferenças mas também muitas semelhanças. Os heróis de um dia são os vilões do dia seguinte. A paixão pelo futebol entre as massas é um factor de alienação dirão os ortodoxos da esquerda, eles próprios seduzidos pelo fenómeno, mas libertador de tensões sociais e fautor de sentimentos de pertença cuja importância para a vida das comunidades e do indivíduo é difícil de explicar. Mourinho é um símbolo do líder odiado e idolatrado, vencedor mesmo quando vencido, desafiador do risco, conhecedor do mister a que dedica o seu tempo e saber. Muitos não sabem da profundidade do seu saber académico e da sua capacidade para gerir as virtualidades da chamada inteligência emocional na gestão dos grupos ou das equipas. O Prof. Manuel Sérgio – seu professor -um dia deu-se ao trabalho de me explicar o que iria ser Mourinho antes de ele atingir a notoriedade dos nossos dias.

E ainda a respeito de futebol assinale-se que a selecção portuguesa atingiu, pela primeira vez, um lugar no pódio do ranking mundial FIFA. Se eu fosse estratega dos desígnios nacionais, nesta hora de crise, colocava a vitória, mesmo que relativa, da selecção no Mundial da África do Sul entre as primeiras prioridades do investimento externo do país. Será uma oportunidade única de colocar o mundo, ou uma parte grande dele, a aplaudir de pé um pequeno país numa hora de dificuldades. Poucos países dispõem de uma tal oportunidade. E tudo devemos fazer para a não desperdiçar.
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quarta-feira, abril 28

ANIVERSÁRIO
























Naquele tempo de primícias sobrevoei o mundo cão que devorava a carne do povo sem liberdade nem pão. As mulheres assomavam à janela de casas térreas sem água nem pia a ver o tempo passar. A cidade crescera para fora das muralhas antigas subindo até junto das hortas. As ruas novas eram rectilíneas e os largos mais largos já não para dar passagem às carroças puxadas a cavalos mas às novas máquinas puxadas a motores de explosão. A casa era pequena e a janela principal era alta demais para mim. Um dia cheguei sem ajuda ao cimo dela e avistei a rua. O meu desejo foi tomar o meu lugar nela, correr ao pó, alisar as paredes com as mãos e sentir o cheiro da cal branca. O calor do sol diluía os odores das flores pela primavera quando ainda chovia e o ar subia às narinas com o perfume da vida eterna. O tempo era de silêncios entrecortados por palavras que sublinhavam as penas do quotidiano, alegrias breves, máscaras e enigmas, vidas com amor, mortes prematuras, caminhar, caminhar … ao encontro do futuro que sempre existe mesmo no seio da noite escura com a morte na alma. Havia o arco-íris tracejando o céu ou a caixa de cartão, as meias enroladas ou os girinos na poça do espaldão, sorrisos largos e mãos quentes, passeios nos quintais e as árvores frondosas ensombrando os animais com os frutos escorrendo seiva e colhidos à mão. Sou essa atmosfera feita de terra e de gente. [17/1/2008]
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sábado, abril 24

24 ABRIL




































À PORTA DE ARMAS

Na véspera do 36º aniversário do 25 de Abril tentei lembrar-me dos passos que terei dado nesse dia distante. Era uma 4ª feira. Basta consultar o calendário. Estava no tropa e devo ter frequentado, nesse dia, o quartel do Campo Grande. O chamado, na gíria, 2º Grupo (de Companhias de Administração Militar). Ontem, ao jantar, o Leite Pereira contou-me que, estando lá colocado, viu a minha ficha de suspeito quando ela lá chegou antecedendo o meu ingresso. Uma notícia nova acerca de uma rotina da época. Fervilhavam os boatos. Sabia que um golpe estava preparado para o dia seguinte. A fonte era credível. Acreditei. Fiz por acreditar. Temi um banho de sangue. Pensei nos meus pais. No meu irmão. Na minha namorada. Mas julgo que mantive a descrição. Como já contei, outras vezes, avisei os amigos civis mais íntimos. Organizei-me com os amigos militares que se haviam tornado conjurados. Não imaginava o que viria a passar-se após a arrancada da operação, um golpe militar, tornado revolução pela adesão popular. Um daqueles raros momentos de fusão que mudam o curso da história. Curto e fulminante. Hoje impressionam-me as notícias acerca das iniciativas e intervenções do Presidente da República pela celebração deste aniversário. Bem-haja. E ainda me impressiona mais não saber se terei em quem votar nas próximas eleições presidenciais.

sexta-feira, abril 23

ABRIL EM MAIO

Fotografia de Hélder Gonçalves

Neste dia, dois anos atrás, nas vésperas do 25 de Abril, escrevi acerca de Maio. Abril e Maio são, para mim, meses pejados de acontecimentos e efemérides, alegres e tristes, a primavera dos sentidos, os aniversários, as mortes, os cheiros, o brilho da luz …

A força das efemérides leva-nos ao Maio de 68. Passaram 40 anos. Àqueles que me questionam acerca das vivências desse tempo respondo, entre o sério e o irónico, que não me lembro de nada. Claro que me lembro mas as minhas vivências não me mobilizam para a reflexão. Frequentava a Universidade e, mesmo antes de nela ter ingressado, desde 1965, que participava dos movimentos de oposição ao regime.

Durante os acontecimentos de Maio de 68 devo ter feito tanta coisa … ajudei a elaborar, imprimir e distribuir cadernos que divulgavam abundante informação acerca do que estava a acontecer em França. Lembro-me deles mas não me lembro do título da colecção. Discutia-se, no fundo, porque éramos modestos, uma coisa comezinha que era … a tomada do poder na universidade. Que afinal não era utopia porque viria a tornar-se realidade pouco tempo depois. Uma das vítimas foi o jovem assistente Cavaco Silva.

Em Abril de 1968 lia os “Cadernos” de Albert Camus, disso tenho a certeza, pois neles escrevi a data exacta da primeira leitura apaixonada (Abril – 3 – 1968 – FARO – CAIS.) Tal só foi possível porque as minhas preferências, no pensamento e acção, pelos 20 anos, nada tinham a ver com o Partido Comunista ou com os grupos marxistas-leninistas emergentes.

Eu vinha das vivências culturais, ligadas ao teatro amador; li acerca de teatro e dramaturgos, nalguns casos como ofício prático, clássicos e não só, (Gil Vicente, Eugène Ionesco, Luigi Pirandello, Thornton Wilder…) e também poetas (José Gomes Ferreira, encantava-me …) romancistas, de várias correntes, também os neo-realistas (Urbano Tavares Rodrigues …). Filósofos, ícones da época, mais Gramsci que Marx, mais Lukács que Lenin, mais Camus que Sartre … mais Marcuse que Engels … Já para não entrar no encantamento por Mary Joplin, Jimmy Hendrix e outros, além dos francófonos e dos portuguesíssimos que todos sabem quais são!.. E ainda, sem saber, militava numa estrutura da LUAR no Algarve.

As minhas experiências, anteriores ao Maio de 68, por razões de geração, eram mais próximas do espírito do Maio do que eu próprio supunha. Estavam mais próximas dos ideais libertários do que da ortodoxia comunista, pró soviética ou pró chinesa. Nunca na vida militei, nem simpatizei, com o PCP nem com os diversos grupos marxistas-leninistas que estavam a desabrochar. Respeitava a tradição da luta do PCP mas não me interessavam os valores em que ela assentava.

Este desalinhamento político ideológico manteve-se ao longo do tempo e havia de desembocar na aventura colectiva na criação do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Esta foi a resposta de muitos de nós à angústia de um desejo de empenhamento político que não encontrava resposta em qualquer das ideologias e organizações instaladas na esquerda que víamos como demasiado disciplinadoras na militância e ortodoxas nas ideias.

A gestação de um movimento autónomo de contestação ao regime – nas escolas, sindicatos, quartéis, igrejas, bairros e fábricas – correu antes e depois do Maio de 68 que incendiou essa vontade de construir uma alternativa.

A ideia da criação de um movimento político anti-autoritário, anti-fascista, anti-capitalista e anti-colonialista, ganhara corpo nos sucessos de muitas lutas sectoriais, na preparação de candidaturas independentes a direcções de sindicatos, associações de estudantes e recreativas, na experiência de criação de comités que desencadeavam greves e reivindicações à revelia das estruturas sindicais e associativas tradicionais.

Enfim estávamos confiantes que o caminho do futuro passava pela criação do nosso próprio movimento de contestação ao regime fascista, a partir das bases, sem obediência a chefes nem a hierarquias que, na verdade, nos repugnavam.

Entre os anos de 1965 a 1968 fiz a minha aprendizagem na luta política de base. Fui um soldado na revolta da juventude contra a tirania. No teatro amador, na secção cultural da associação de estudantes de económicas, ou na sua reprografia, (secção de folhas), que dirigi, na direcção da cooperativa livreira Livrelco; em comissões de curso; na organização de acções de propaganda e de manifestações (as relâmpago eram as melhores! …) contra o governo; na CDE de 1969, antecedida pela tentativa, falhada, e pouco conhecida, de aproximação à CEUD de Mário Soares …

Muitas e boas razões para me lembrar de coisas do passado que podem valer muito como memória mas valem pouco no cotejo com os desafios do presente e do futuro.

[23/4/2008]



quinta-feira, abril 22

SILÊNCIOS

Fighting Fish Studio

Dois silêncios. O silêncio bom, o silêncio mau. O silêncio do consenso é diferente do silêncio da revolta? Pode a casa da democracia tornar o silêncio em suspeita? Quantos silêncios ressoam nas palavras da casa da democracia? E quantos dos eleitos fazem do silêncio a sua profissão na casa da palavra? Como valorizar a palavra desvalorizando o silêncio? Como salvar a democracia condenando os homens à palavra? A última fronteira da liberdade é o silêncio.
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quarta-feira, abril 21

TRESLER
























De repente na voragem da leitura dos títulos, de tanto ler, percebi: Américo Tomás. Assustei-me! … Logo nas vésperas do 25 de Abril!
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sábado, abril 17

A NATUREZA TEM MUITA FORÇA

Ocorrem em diversos países simulacros de operações militares para resgate de políticos sitiados, longe dos seus povos, pela nuvem islandesa. Algumas questões interessantes que a nuvem coloca à vida no nosso tempo: a natureza tem muita força! Justificam-se as urgências impostas pelas agendas dos políticos? As estradas, auto-estradas, e todos os meios de transporte terrestres, fazem falta? As novas tecnologias dispensam um caloroso aperto de mão, uma conversa olhos nos olhos? O transporte ferroviário, incluindo a “alta velocidade”, é dispensável? Portugal – continente e ilhas atlânticas - é um valioso espaço estratégico na ligação entre continentes? Não foi encontrada nenhuma ligação de Sócrates à criação da nuvem islandesa? A chanceler alemã passou uma noite em Lisboa. João Garcia concluiu hoje um sonho - subir as 14 montanhas mais altas do mundo. A natureza nem sempre vence o homem. Talvez se devam – homem e natureza - respeitar mutuamente.
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sexta-feira, abril 16

LADY GAGA



Bad Romance - o vídeo mais visto da história do Youtube
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UMA SONDAGEM PÓS CONCLAVE SOCIAL DEMOCRATA

Volto às sondagens porque esta é bastante relevante considerando o que as sondagens podem ter de relevante. Dizem que sim, no mínimo na gestão das expectativas. Os trabalhos de campo desta, não certamente por acaso, coincidem com o Congresso de entronização de Passos Coelho como Presidente do PSD. Os seus resultados não alteram, apesar da transcendência do conclave social-democrata, sem ironia, o quadro geral da relação de forças no xadrez partidário. Está explicada a prudência de Passos Coelho a lidar com o calendário …
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quarta-feira, abril 14

O REBELDE

Para os apreciadores que mais não seja pela bela capa deste livro que tornou Camus um mal amado, talvez mesmo odiado, no seu tempo, pela sua defesa da liberdade contra todas as formas de tirania. 
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Camus says The Rebel is someone who says, “this has been going on too long” or “up to this point yes, beyond, no” or “you have gone too far” or “there is a limit beyond which you shall not go”. When the metaphorical slave turns and makes that statement to the master, the Rebellion has begun. A Rebellion may be one man against the world. Or, it may be a host of men and women against a corrupt thing that “has gone too far” or an unjust practice that “has been going on too long.”
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terça-feira, abril 13

BENFICA, ASSIM SEJA!



Nas lides domésticas dos futebóis com túneis, manigâncias, o que se sabe e o mais que nunca se saberá, como em tudo na vida, quer-me parecer que o Benfica vai quebrar o jejum. Assim seja! 
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