terça-feira, abril 24

25 de Abril - Presente

Esta noite passam trinta e três anos sobre o início de um acontecimento que marcou, para sempre, a vida dos que nele participaram: o 25 de Abril de 1974.

Entre a madrugada do dia 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974 vivi enclausurado no Quartel do Campo Grande, em Lisboa, onde hoje funciona uma universidade privada e naquela época estava sedeado o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar. Lá entrei já a madrugada ia alta, tal conjurado, com o António Dias e o João Anjos, após termos perseguido, de carro, a coluna do Salgueiro Maia desde a sua entrada no Campo Grande até ao Terreiro do Passo.

Já contei essa história. De todas as imagens que guardo na memória a mais impressiva é a que mostrava a fragilidade da coluna revoltosa. Não sabia quem a comandava mas o impensável viria a tornar-se realidade. E a vitória da força aparentemente mais fraca deveu-se, tão-somente, à justeza da sua razão e à coragem do seu líder.

Aos mais ortodoxos do colectivismo assinalo que falo num símbolo. Também sei que, desde sempre, entre esses, reinou a desconfiança a respeito de Salgueiro Maia, como hoje reina a desconfiança a respeito do Gato Fedorento. Para os “donos” da revolução nem todos devem desfilar na Avenida da Liberdade mas quis o destino – ou a ordem de operações – que o primeiro a nela desfilar fosse aquele que, oferecendo o peito às balas, fez estalar o click que mudou o rumo da história: Salgueiro Maia.

É claro que um homem não faz uma revolução e nela muitos foram decisivos a começar por quem dirigiu as operações, no posto de comando da Pontinha: Otelo Saraiva de Carvalho, Vítor Alves, Franco Charais, José Santos Osório, Nuno Fisher Lopes Pires, Amadeu Garcia dos Santos, Vítor Crespo, Luís Macedo, José Maria Azevedo…. O tempo faz esquecer. O tempo é malicioso. O tempo mata a memória.

A revolução foi branda para com os seus inimigos, perdoou-lhes os crimes, ofereceu o seu sangue em troca da liberdade, ganhou a admiração do mundo e isso é o seu legado histórico mais valioso. Os antigos carrascos da liberdade: os PIDES, os censores, os legionários, todos os esbirros da ditadura, seus ajudantes e admiradores, ganharam o direito a viver em liberdade, ainda hoje se cruzam connosco nas ruas e nos locais de trabalho, emitem opinião, sendo detentores de todos os direitos cívicos e políticos.

A nossa revolução foi branda para com os carrascos da liberdade mas pode orgulhar-se da grandeza de lhes oferecer o bem mais precioso que eles sempre negaram aos seus benfeitores. Mas que ninguém espere que os aspirantes a tiranos, que os há por aí, nos retribuam tanta generosidade. Por isso é prudente que, para preservar a liberdade, a democracia não vacile no combate aos seus inimigos.
.

2 comentários:

hfm disse...

Não retribuem, não, Eduardo, mas nós temos a memória curta e há ainda a história dos brandos costumes...

Anónimo disse...

também tenho a memória curta.

o que lhes ficámos a dever!

A Salgueiro Maia, o não ter havido confronto, porque se tem havido...

a revolução poderia ter ficado em nada.