terça-feira, dezembro 1

TRATADO DE LISBOA - PRIMEIRO DIA


No dia da entrada em vigor do Tratado de Lisboa que, apesar de todas as dúvidas, divergências e polémicas, é um dia grande para o futuro de uma Europa de Paz e Concórdia entre as Nações:

«[…] Acontece-me, por vezes, ao voltar de uma dessas curtas tréguas que nos deixa a luta comum, pensar em todos os recantos da Europa que conheço bem. É uma terra magnífica, feita de sacrifícios e de história. Revejo as peregrinações que fiz com todos os homens do Ocidente. As rosas nos claustros de Florença, as tulipas douradas de Cracóvia, o Hradschin com os seus paços mortos, as estátuas contorcidas da ponte Karl sobre Ultava, os delicados jardins de Salzburgo. Todas essas flores, essas pedras, essas colinas e essas paisagens onde o tempo dos homens e o tempo da natureza confundiram velhas árvores e monumentos! A minha memória fundiu essas imagens sobrepostas para delas formar um rosto único: o da minha pátria maior. Algo me oprime quando penso, então, que sobre esse rosto enérgico e atormentado paira, desde alguns anos, a vossa sombra. E no entanto, há alguns desses lugares que você visitou comigo. Eu não imaginava, nessa altura, que fosse um dia necessário defendê-los contra os vossos. E agora ainda, em certos momentos de raiva e desespero, lamento que as rosas possam ainda crescer no claustro de São Marcos, os pombos lançar-se em bandos da catedral de Salzburgo e os gerânios vermelhos germinarem incessantemente nos pequenos cemitérios da Silésia.

Mas, noutros momentos, e são esses os verdadeiros, sinto-me feliz que assim seja. Porque todas as paisagens, todas as flores e todos os trabalhos, a mais antiga das terras, vos demonstram, em cada Primavera, que há coisas que não podereis abafar no sangue. […] Sei assim que tudo na Europa, a paisagem e a alma, vos rejeitam serenamente, sem ódios desordenados, mas com a força calma das vitórias. As armas de que dispõe o espírito europeu contra as vossas são as mesmas que nesta terra sempre renascente fazem crescer as searas e as corolas. O combate em que nos empenhamos possui a certeza da vitória, porque é teimoso como a Primavera. […] » - pp. 68-71



segunda-feira, novembro 30

PREPAREMO-NOS PARA O PIOR!


O que me preocupa além da saúde - que vai andando bem graças a deus – não é tanto o equilíbrio das contas públicas – poucos países do ocidente apresentarão melhor resultado que Portugal em 2009 – mas a continuação,  quiçá, o aprofundamento, da crise [vide situação financeira do Dubai] e o facto insólito de nenhum partido em Portugal – salvo o partido do governo – apresentar ao país um líder que possa aspirar a ser primeiro-ministro. Na verdade todos os líderes dos partidos da oposição são, com nuances, “anti-poder” (Portas, Louçã e Jerónimo), salvo a Dr.ª Manuela que está de saída mais dia, menos dia (era de toda a conveniência definir, com urgência, o dia!). Ora como o Presidente da República também está em fim de mandato – as eleições presidenciais são já em Janeiro de 2011 – resta o 1º Ministro, líder do PS, para aguentar, contra ventos e marés, a governabilidade. O orçamento rectificativo, a debate em 11 de Dezembro e/ou o Orçamento de Estado para 2010, a debate lá para os finais de Janeiro, podem não ser chumbados, mas ninguém sabe se não serão alvo de uma tentativa de captura – ver-se-á o seu grau de virulência - em favor dos programas dos partidos da oposição, ou seja adulterados, sem remissão, pela maioria negativa resultante das eleições de 27 de Setembro passado. Se as tentativas de captura das propostas do PS, em matéria orçamental, forem bem sucedidas, como o parlamento não pode ser dissolvido nos seis meses seguintes à realização de eleições, passaremos, com muita probabilidade, a dispor de um governo de gestão. A não ser que a maioria negativa encontre uma fórmula alternativa ao governo do PS, com base num programa comum que lhe dê suporte, e teríamos, pela primeira vez na história da III República, um governo maioritário com um programa sob o lema: “todos contra o partido socialista”. Um governo com um programa anti-socialista democrático que criaria os condimentos para uma crise do regime ou que, pelo menos, fizesse pairar a ameaça da instabilidade política permanente abrindo, paradoxalmente, caminho para o acesso ao poder dos partidos “anti-poder”. É o que está em marcha e à vista de todos. Quem sabe se não será este o cenário que preside às sucessivas encenações justicialistas! É uma realidade que já esteve mais longe da mera ficção. Excesso de pessimismo? Espero que sim! Mas preparemo-nos para o pior!
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FRIVOLIDADES

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sexta-feira, novembro 27

GUILHERME D´OLIVEIRA MARTINS (2)
























Num tempo de grandes proclamações éticas dos partidos da oposição, entremeadas por denúncias, suspeitas, informação e contra informação, PSD, PCP e PP não têm nada a dizer acerca desta notícia: O Presidente da República conferiu posse ao Presidente do Tribunal de Contas, Juiz-Conselheiro Guilherme d’Oliveira Martins.

Não têm a hombridade de vir a público reconhecer que, em 2005, se enganaram e que o Governo tomou, em 2009, uma justa decisão ao propor ao Presidente da República a nomeação, para um novo mandato, de Guilherme d´Oliveira Martins como Presidente do Tribunal de Contas?

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quarta-feira, novembro 25

UMA NOTÍCIA DA CRISE














A propósito desta notícia, um dia destes, pelo pequeno-almoço, encontrei um amigo, dos antigos, que raramente vejo, mas no qual me revejo (não sei explicar porquê!) e, lado a lado, mesa com mesa, entre um sumo de laranja natural e mais umas coisas de comer, sabendo-o principal responsável pela gestão de uma empresa que constrói equipamentos pesados, e se dedica também à reparação, atirei-lhe a pergunta do tempo: “então como vai a crise?”. A resposta não poderia ter sido mais a contracorrente. Não faltam encomendas, para Janeiro terá que contratar mais uns 60 trabalhadores (não indiferenciados, suponho), nos indicadores de gestão predomina o sinal verde do equilíbrio. Em resumo, até 2011, inclusive, naquela empresa não haverá crise! É tal a maré de notícias ruins que me senti estremecer. Sem desdenhar da crise tenho que passar a ver ainda menos telejornais e, dê lá para onde der, falar mais com os meus amigos que trabalham paredes meias com a ferrugem!


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terça-feira, novembro 24

Respuesta de Barack Obama a Yoani Sánchez

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BOLO DE GILA E AMÊNDOA















Para a Bel


No outro dia num pequeno café/restaurante aqui para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida. Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em todos passou. Aprovada. Carta na mão. Alegria. Era mais um passo na afirmação da sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu. Voltou a insistir. Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!
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segunda-feira, novembro 23

CAMUS AO PANTEÃO?
























Já me questionaram acerca da ideia de, a propósito da passagem do 50º aniversário da morte de Albert Camus (4/1/1960), levá-lo ao Panteão. O Presidente de França lançou a ideia, certamente com intencionalidade política, mas é preciso não esquecer que ele é, tal como Camus, um “imigrante”. Os filhos gémeos de Camus, embaraçados, terão a última palavra.

A este propósito, concluída a leitura da versão portuguesa de “Com Camus”, de Jean Daniel, uma raridade editorial, deparei-me com a saborosa descrição de um episódio que desencoraja qualquer tentação de apoiar a celebração imaginada por Sarkozi:

Num 14 de Julho, que deveria ser o de 1951, tínhamos assistido a um baile, na Place Saint-Sulpice, Albert Camus, a sua mãe, alguns amigos e eu. Estávamos sentados a uma mesa e, de vez em quando, Camus levantava-se para dançar com uma das mulheres que nos acompanhava. Em seguida, voltou para junto da mãe. Sentou-se, inclinou-se para ela e, bem alto, para se sobrepor à sua surdez, à música, e para que os outros pudessem ouvir, disse: “Mãe, fui convidado para o Eliseu.” Ela pediu-lhe que repetisse pelo menos três vezes a frase e, sobretudo, a palavra “Eliseu”. Ficou silenciosa um longo momento. Depois, pediu ao filho que aproximasse a orelha e disse-lhe muito alto: “Essas coisas não são para nós. Não vás, meu filho, desconfia. Essas coisas não são para nós.”

Camus olhou para nós. Não disse nada, mas pareceu-me orgulhoso da sua mãe. Em qualquer dos casos, nunca foi ao Eliseu. O único palácio oficial onde esse filho de uma criada alguma vez entrou foi, segundo creio, no do rei da Suécia, para receber o Prémio Nobel.

GERAÇÕES

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Aqui deixo uma curiosidade que o JP Castanheira revelou na última edição do Expresso. É reveladora, além da prova de vida, que a geração em apreço ainda “está para as curvas”.
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sexta-feira, novembro 20

FUTEBOL - O CRIME COMPENSA





Sabemos como as autoridades que superintendem no futebol (nacional e internacional) espalham pelos quatro cantos do mundo o sentido da justiça. Não há, nos nossos dias, outra máquina mais poderosa de banalização da mentira, da injustiça e da violência como o futebol. É revoltante para um amante do futebol, que permite o milagre do apuramento da Argélia para a fase final do mundial (como Camus ficaria contente!) num ambiente hostil de quase guerra, ter que denunciar as suas misérias. A França foi beneficiária de um roubo “regulamentar” e não há maneira de fazer justiça pois as novas tecnologias, utilizadas em tantas modalidades desportivas, para salvar a justiça, são vistas como o inferno na terra pela nomenclatura dirigente do futebol! Portugal que ocupa, a partir de hoje, o 5º lugar no ranking da FIFA, ou seja, um lugar de grande potência do futebol mundial, apesar do sentimento nacional de quase-pesar pelo apuramento, não será “cabeça de série” no sorteio da fase final do mundial. Com futebóis destes, fenómeno global ultra-mediatizado, as novas gerações confrontam-se com uma estreita margem para a aceitação social dos sucessos, obtidos, através do mérito, pelos cidadãos honrados! O futebol parece ter-se transformado num veiculo que, de forma paradoxal, legitima a propaganda de alguns métodos da criminalidade pura que, noutros domínios da vida em sociedade, é perseguida, de forma implacável, em nome da justiça.

quinta-feira, novembro 19

GUILHERME D´OLIVEIRA MARTINS


A escolha de Guilherme Oliveira Martins para presidente do Tribunal de Contas é pouco prudente, prejudica a imagem daquele tribunal e coloca dúvidas à isenção do órgão responsável pela fiscalização da legalidade das contas públicas. Esta é a opinião geral que PSD, CDS e PCP têm da escolha feita pelo Governo de José Sócrates. O BE prefere, por enquanto, não comentar. [Público – 13/9/2005]

Pelas 23,20 horas, de hoje, não encontrei, na edição on-line do Público, qualquer referência à nomeação, pelo Presidente da República, por proposta do governo, de Guilherme d´Oliveira Martins para novo mandato como Presidente do Tribunal de Contas! Esperam-se as reacções do PSD, CDS e PCP!

Les sept axes prioritaires d'investissement définis par la Commission Juppé-Rocard



[Também no ir ao fundo e voltar.]
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QUANDO A REALIDADE ULTRAPASSA A FICÇÃO













PSD retira confiança a autarca: "Vou contestar a nível nacional porque para já não há comissão política concelhia em Monção desde antes das eleições autárquicas. Quem estava à frente era o candidato PSD à Câmara, que é do PS e que não gosta de mim e, por isso, tentou tudo para me retirar a confiança política"
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quarta-feira, novembro 18

BÓSNIA - GUERRA E PAZ


Voltando ao futebol. Hoje, à semelhança de sábado passado, durante 90 minutos, não se falará de escutas nem sequer do estado da justiça. Estamos na Bósnia com um contingente de paz, formado por militares, e com uma equipa de guerra, formada por jogadores de futebol. Curiosa contradição. Estamos com medo, apesar das palavras de Queiroz (estranho nome para um cabo de guerra!), mas eles também, apesar das palavras do propagandista croata da Bósnia (também já tivemos um, mas era brasileiro). “Vamos para cima deles”, diz o nosso! “Vamos pô-los de joelhos”, diz o outro! Mas o que se poderia esperar de um jogo de vida ou de morte disputado num cenário de guerra? [Entretanto Ronaldo (Cristiano) já treina, ao que parece, sem queixas no tornozelo!]
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Uma nota de rodapé, em escrita directa: afinal não houve batalha campal no batatal. Portugal cumpriu os mínimos e qualificou-se para a fase final do Mundial de futebol da África do Sul. Fico contente. Notem que tal feito foi obtido sem Ronaldo (Cristiano)! Mas o El Pais titula que Cristiano Ronaldo estará na África do Sul! A França qualificou-se, como seria de esperar, através de um "roubo": um golo descaradamente irregular, preparado com a mão!
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terça-feira, novembro 17

DOIS LIVROS


Dois livros do género “diário” que, por razões diferentes, devem ser muito interessantes. O de Roland Barthes, que lerei o mais breve possível, é uma boa novidade editorial em Portugal.


Os Diários de Claretta Petacci, amante de Mussolini, revelam um Duce racista, cínico e violento

DIÁRIO DE LUTO, de Roland Barthes
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domingo, novembro 15

CAMUS - O MARXISMO



















Pelo contrário, (Camus) pensa que o marxismo não resiste à reflexão, e contradiz-se quando é posto em prática. Os seus adeptos parecem viver do seu servilismo inconsciente, mal informados sobre a ideologia que professam tão vigorosamente, vivendo somente da sedução:

“Contar-se-iam pelos dedos da mão os comunistas que chegaram à revolução pelo estudo do marxismo. Convertem-se primeiro e só depois lêem as Escrituras". (“O Homem Revoltado”)

São os participantes ideais de um estado baseado no anonimato e na alegada eficiência dos seus funcionários. A burocracia inunda toda a forma de totalitarismo mesmo a que se diz democrática. É a Secretária da Peste que em Estado de Sítio se assume como revolucionariamente justa – e, na verdade, que haveria mais justo que a morte que a todos abraça? – e assim fala sobre a revolução:

“As revoluções não falam de insurrectos. A polícia, hoje, serve para tudo, mesmo para derrubar o governo. E não será melhor assim, de resto? O povo pode descansar enquanto os bons espíritos pensam por ele e decidem em seu lugar sobre a quantidade de felicidade que lhe é favorável”

In CAMUS, M. Luiza Borralho – Rés, 1984 (Um livro raro acerca de Camus, editado em Portugal, que encontrei, por acaso, numa livraria de Lisboa – muito interessante.)

Para A Regra do Jogo


sábado, novembro 14

UMA PEQUENA LUZ ...


Para além desta pertinente observação tenho a certeza que hoje, pelo menos durante noventa minutos, ninguém falará nas escutas …
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