Havia uma porta embutida na parte argamassa na qual se podia
ler: “Cantina agrícola Mme. Jacques.” Filtrava-se luz pela frincha inferior. O
homem imobilizou o cavalo junto dela e, sem descer, bateu. Acto contínuo, uma
voz sonora e decidida inquiriu: “Quem é?” “Sou o novo gerente da propriedade do
Santo Apóstolo. A minha mulher vai dar à luz. Preciso de ajuda.” Ninguém
respondeu. Passado um momento, foram levantados ferrolhos e a porta
entreabriu-se. Descortinou-se a cabeça negra e ondulada de uma europeia de
faces cheias e nariz um pouco abaulado acima dos lábios grossos. “Chamo-me
Henri Carmery. Pode ir junto de minha mulher? Tenho de chamar o médico.” (…) O
médico olhou-o com curiosidade. “Não tenha medo, que tudo há-de correr bem.”
Cormery volveu para ele os olhos claros, fitou-o calmamente e declarou com uma
ponta de cordialidade: “Não tenho medo. Estou habituado aos golpes duros do
destino.” (…) A chuva tombava com mais intensidade no telhado antigo e velho. o
médico procedeu a um exame sob os cobertores. Em seguida, endireitou-se e
pareceu sacudir algo na sua frente. Soou um pequeno grito. “É um rapaz”,
anunciou. “E bem constituído.” “Começa bem”, disse a dona da cantina. “Com uma
mudança de casa.” A mulher árabe riu no canto e bateu as palmas duas vezes.
Albert Camus, in O Primeiro Homem
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