quarta-feira, março 8

CELEBRAÇÕES

Posted by Picasa O acontecimento nacional verdadeiramente importante de hoje é o Liverpool- Benfica. Depois, está bem de ver, do Dia Internacional da Mulher.

Que vivam as mulheres, em particular, todas as que me visitam na intimidade deste blogue. Para elas deixo a flor.

Amanhã o acontecimento mais importante será o resultado do Liverpool-Benfica.

terça-feira, março 7

PARA DIZER DEVAGAR

Posted by Picasa Fotografia in phe-no

Pelo menos que ao fim teus sacramentos cubram de coragem
igual à de evitar-te, ao ver-se então de pé na tua frente,
aquele que nem sempre soube ser bastante transparente
para dele imprimir nos dias nada mais que a tua imagem

Ruy Belo

Boca Bilingue

POSSES

Posted by Picasa Ron Mueck

Há acontecimentos que não têm importância nenhuma, no concerto das nações, mas que estão condenados a ganhar a maior notoriedade nacional. A lista dos representantes dos Estados estrangeiros na futura tomada de posse do novo Presidente da República explica tudo.

"En amour, ..."


«En amour, s´en tenir à ce qui est.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

segunda-feira, março 6

GOVERNO - UM ANO (II)

Posted by Picasa Ron Mueck

Por vezes parece que o governo ostenta demasiadas certezas. Outras vezes parece que enceta fugas para a frente. As certezas inabaláveis apresentam-se, por vezes, à mistura com convicções profundas.

Mas sabemos como, na política, as certezas, quase sempre, eliminam as convicções enquanto, por regra, as convicções eliminam as certezas. Sei que nenhum governo gosta de ostentar as suas dúvidas. Os governos preferem que se lhes reconheçam as virtudes e, tanto mais, as convicções.

Compreendo o mecanismo mas deveria ser possível a um ministro expor publicamente as suas dúvidas ou desalinhar do “autorizado” consenso. Falo de Freitas do Amaral mas podia falar também de Correia de Campos. Ou então ao governo deveria ser concedida a dádiva de dispor de uma espécie de “alto-comissário para a dúvida”.

Não se governa nem com as dúvidas próprias nem com as dores alheias. Eu sei. O país é pequeno e o governo, em funções, é maioritário e de um só partido. O que talvez exigisse um pouco mais de distanciamento político e de reflexão critica face às tendências intempestivas de uma liderança voluntariosa.

Um ano é pouco tempo para um governo. Mas pode ser uma eternidade para um cidadão injustiçado ou uma família desempregada.

No nosso modelo de sociedade, fundado na tradição do estado centralista, das prebendas e favores, a sorte não bafeja a iniciativa dos audazes nem o desempenho dos mais capazes.

A sorte está como que resguardada para uma plêiade de predestinados que a recebem por respeito e consideração a uma tradição que enraíza no obscurantismo autoritário do salazarismo e na lógica perversa do vazio a que José Gil chamou a “não inscrição”.

Estamos nas vésperas da entrada em funções de um novo Presidente da República com a legitimidade de uma eleição democrática e as fragilidades de um perfil pessoal autoritário.

Talvez seja aconselhável ao governo, socialista e maioritário, sem deixar de se afirmar pela iniciativa, em prol das mudanças reformistas, ser capaz de corrigir, sem parcimónia, os seus enganos e de assumir, com mais frequência, as suas dúvidas.

É a velha questão do diálogo que, sem honra nem glória, foi tornada a origem de todos os males pela anterior governação socialista em favor do prestígio da deriva autoritária que se tornou na panaceia universal que haverá de salvar a pátria da decadência. A ver vamos!

domingo, março 5

ESTATE (VERÃO)

Posted by Picasa Cesare Pavese

C'è un giardino chiaro, fra mura basse,
di erba secca e di luce, che cuoce adagio
la sua terra. È una luce che sa di mare.
Tu respiri quell'erba. Tocchi i capelli
e ne scuoti il ricordo.

Ho veduto cadere
molti frutti, dolci, su un'erba che so,
con un tonfo. Cosí trasalisci tu pure
al sussulto del sangue. Tu muovi il capo
come intorno accadesse un prodigio d'aria
e il prodigio sei tu. C'è un sapore uguale
nei tuoi occhi e nel caldo ricordo.

Ascolti.
La parole che ascolti ti toccano appena.
Hai nel viso calmo un pensiero chiaro
che ti finge alle spalle la luce del mare.
Hai nel viso un silenzio che preme il cuore
con un tonfo, e ne stilla una pena antica
come il succo dei frutti caduti allora.

Cesare Pavese


Verão

Este é um jardim claro, de erva seca e luz
entre muros baixos, que coze com calma
a sua terra. É uma luz que sabe a mar.
Tu respiras aquela erva. Tocas os cabelos
e neles agita-se a memória.

Vi cair
muitos frutos, doces, sobre uma erva que conheço,
com um baque. Também assim tu estremeces
com o sobressalto do sangue. Rodas a cabeça
como se à tua volta acontecesse um prodígio aéreo
e o prodígio és tu. Há um sabor igual
nos teus olhos e na tua cálida recordação.

Escutas.
As palavras que escutas mal te tocam.
Tens no rosto calmo um pensamento claro
que finge nos teus ombros a luz do mar.
Tens no rosto um silêncio que aperta o coração
com um baque e o faz destilar uma dor antiga
como o suco dos frutos caídos nesse tempo.

In Dopo (Depois)
LAVORARE STANCA (TRABALHAR CANSA)
Tradução de Carlos Leite – Edições Cotovia

FISCO: UM DILIGENTE INCUMPRIDOR ...

Posted by Picasa Ron Mueck

De quando em vez, em média duas vezes ao ano, tenho uns percalços com o fisco. Coisas de somenos pois com o fisco não podem os remediados confrontarem-se com coisas de somais.

Mas esta, tal como outras do passado, fazem acreditar nas dúvidas, expressas por diversas entidades e cidadãos, acerca da anunciada divulgação pública de listas de devedores ao fisco.

O que me aconteceu desta vez? Não foi uma situação virtual mas bastante real e, infelizmente, pouco original.

Sou sócio de uma sociedade com minha mulher. Há muitos anos. Uma pequena sociedade familiar que permite cumprir a legalidade – em todos os campos – no que respeita à actividade profissional de minha mulher.

Tempos atrás recebi uma notificação para pagar uma dívida de IRC. A empresa que trata da contabilidade confirmou, e documentou, que não havia qualquer dívida. Desloquei-me à repartição de finanças para esclarecer a situação. Não havia dúvidas, nem dívidas.

Escrevi o respectivo requerimento para que fosse reposta a situação tudo num ambiente da maior simpatia e cordialidade. Já aprendi que não nos devemos irritar em determinados sítios face a determinadas autoridades. É tudo muito natural.

Fui logo avisado que não serviria de nada tal requerimento pois, mais tarde, receberia uma citação daquelas ameaçadoras para que procedesse ao pagamento da dívida inexistente.

Assim foi. Dias atrás chegou a citação respeitante à “divida em cobrança coerciva”, com nº de processo, juros de mora, indicações acerca do seu cálculo face à previsão do futuro incumprimento, etc, etc…

Regressei à repartição de finanças para tentar repor o prestígio de contribuinte cumpridor que, à viva força, a administração se não dispunha a reconhecer. Fui recebido com simpatia e sem azedume. Feitas as verificações confirmou-se a situação da inexistência da dívida.

Mas desta vez deu para entender o processo que me levou a receber duas comunicações formais do fisco e me obrigou a duas deslocação à repartição de finanças.

Um dos pagamentos por conta – o tal que originou a suposta dívida – tinha sido lançado na conta de outro contribuinte. Alguém no fisco inscreveu o número de contribuinte errado no sistema informático. Paguei por conta de outro…

O funcionário diligente retirou-se surgindo depois com um documento que, segundo me informou, anula a citação referente à minha “divida em cobrança coerciva”.

Tudo correu na maior perfeição e com infinita simpatia. Quase fui tentado a pedir desculpa pelo incómodo.

A Administração Fiscal, e o seu diligente funcionário, ficaram impávidos e serenos. Apresentar desculpas, para quê? É tudo muito natural!

Por isso tenham cuidado, quando lá para Julho, forem divulgadas ao público as listas dos devedores ao fisco!

JUIFS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

«Juifs, vivant en tant que culture depuis 4 000 ans. Les seuls.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sábado, março 4

POETA

Posted by Picasa Van Gogh - Auto-retrato de chapéu de feltro - 1887-88

Não me agradam os versos que dizem aspirações falhadas,
com o seu ar de inutilidade, de fastio e de velhice.

Porque o artista nunca falha. É impossível falhar,
porque uma obra se realiza dentro dele e deita para fora raízes
que são os seus versos, os seus desenhos ou as suas palavras.

O Artista nunca cede ante o gosto dos outros;
e a sua obra é um azorrague de insultos;
e em tudo revela a sua força desaproveitada.

Saúl Dias

sexta-feira, março 3

LIBERDADE - UMA VEZ MAIS


Foi publicado na edição de hoje do “Semanário Económico”, sob o título LIBERDADE, o artigo do qual aqui reproduzo a epígrafe e o parágrafo de abertura. Pode ser lido, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR.

“Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam.”
Jorge de Sena


Julgava eu que a questão da liberdade era uma questão esclarecida – senão adquirida e inegociável – nas chancelarias e nas opiniões públicas ocidentais. Afinal parece que não é! A liberdade é, pasme-se, uma alínea na agenda dos políticos ocidentais que carecem de sobre ela se debruçar, opinar, duvidar, relativizar …

quinta-feira, março 2

GENEROSIDADE

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

«Lorsqu´un homme est généreux sans affectation ceux mêmes qui s´enrichissent de sa générosité trouvent qu´il ne fait que sont devoir.» (*)

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

(*) De uma longa citação a propósito de «Benjamin Constant – Journal Intime» cuja edição integral havia sido publicada, na íntegra, em 1952, pela Gallimard.

PROPAGANDA

Posted by Picasa Deutscher sei stolz und schweige!Flugzettel mit Warnung vor Spionen10,5 x 14,8 cm

A lógica da pura propaganda política:

No princípio impõe-se, no meio descompõe-se e no fim decompõe-se. Resta saber antecipar, no tempo, o princípio, o meio e o fim.

quarta-feira, março 1

TEM CUIDADO LIBERDADE

Posted by Picasa "O que se passou no '24 Horas' é um sinal: em Portugal a liberdade de informação não tem muitos amigos"

José Manuel Fernandes, PÚBLICO, 01-03-2006

Estou de acordo com o teor do editorial publicado no Público de hoje da pena do seu director: José Manuel Fernandes. Consegui ler esse editorial. Trata da velha questão da liberdade. Todas as medidas que abram as portas à limitação da liberdade de imprensa são um perigo para a liberdade em geral.

É mil vezes preferível ser injustiçado por uma notícia falsa, ou encomendada, do que abrir as portas à censura. Neste caso será toda a sociedade a sofrer as penas infringidas por um qualquer governo à livre informação. Os socialistas deveriam cuidar da liberdade acima de tudo.

Pode ser popular, nos dias de hoje, tomar cuidados com os abusos na manipulação da informação. Mas, no futuro, os que hoje cuidam, com desvelo, dessa tarefa podem ser as primeiras vítimas dos seus próprios cuidados. A ver vamos!

terça-feira, fevereiro 28

ÁCIDOS E ÓXIDOS

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

(…)
Sou homem de palavra e hei-de cumprir tudo
hão-de encontrar coerência em cada gesto meu
Ser isto e não aquilo, amar perdidamente
alguém alguma coisa as cláusulas do pacto
(…)

Ruy Belo

ÁCIDOS E ÓXIDOS
Boca Bilingue

Um homem que diz - não.

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

Regresso de uma pequena ausência. No aniversário da morte de meu irmão visitei os seus lugares. Eram também os meus lugares. O céu, as casas, as ruas, as gentes, os cheiros, a luz e a claridade persistem, a sul, para além do frio do inverno e dos episódios da vida.

O que dizem os sobreviventes não me interessa nada. O que me interessa, neste momentos de celebração, é a herança espiritual dos que partiram. A sua memória e as marcam dela na vida presente para além dos gestos mesquinhos do quotidiano.

Nestes dias busco, na família, a harmonia na vida em comum com os outros. É um retempero para todas as contrariedades que resultam da definição de Albert Camus na abertura de “O Homem Revoltado”: “Que vem a ser um homem revoltado? Um homem que diz – não.”

sábado, fevereiro 25

SETE POEMAS DE AMOR E MORTE

Posted by Picasa Van Gogh - Paisagem em Auvers depois da chuva - 1890

(No primeiro aniversário da morte do meu irmão Dimas)

I

O chão branco de fogo cega o olhar
Longe a coroa de mar envolve a terra
E os sonhos rasam o teto do mistério

II

A parede milenar suspensa deixa ver
O passado remoto e as vozes ressoam
Pelo ar de boca em boca sussurradas

III

A risca amarela marca um tempo eterno
E os sinais de fogo desenhados a quente
Na memória fixam o momento da morte

IV

A lápide gravada a letras claras assinala
O tempo que se desfez na mão fechada
Torrão quente que faz do corpo semente

V

A eira debandou do trigo elevado ao céu
E as ervas tomaram a forma de regatos
Correndo para as nascentes fulminadas

VI

Toca a corneta na estrada anunciando
O peixe e os corpos jovens banham-se
Na sombra fresca do arvoredo ardente

VII

Fixo o olhar perdido à beira do poço
E a pedra lançada ao fundo não ecoa
Canção de amor à morte desesperada

Lisboa, 22 de Março de 2005

SNACK-BAR

Posted by Picasa Fotografia de Hélder Gonçalves

(…)
Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar
caminha para o mar pelo verão
(…)

Ruy Belo

SNACK-BAR
Boca Bilingue

"L´esprit scientifique triomphe."

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

«Actuelles – 10 médecins français, dont la moitié juifs, signent, sans autre information que le communiqué du gouvernement de Moscou une déclaration applaudissant à l´arrestation de leurs confrères soviétiques dont le 9/10 sont juifs. L´esprit scientifique triomphe. Un peu plus tard, le même gouvernement décrète l´innocence de ces médecins toujours en prison.»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard

sexta-feira, fevereiro 24

NATURA

Posted by Picasa “akroma, angel of wrath”
(imagem de carta Magic escolhida por meu filho)


aqui a vida chega a tornar-se auspiciosa
aos sons do mar

e olho por dentro a luz que revolve o ar
à minha volta

Azenhas do Mar, 19 de Fevereiro de 2006

KILAS, O MAU DA FITA

Posted by Picasa Hoje de madrugada dei comigo a ver, na RTP, “Kilas, O Mau da Fita” do José Fonseca e Costa. A fita já ia a meio mas, de repente, a minha memória como que se iluminou.

Parecia-me reconhecer todos os gestos, rostos, diálogos, sons e lugares. Até o Lima Duarte tão jovem…Acho que assisti à sua estreia no Festival da Figueira da Foz numa viagem memorável que fiz com a Guida. Se não foi a estreia foi uma apresentação especial. Devo ter sido um dos primeiros espectadores daquele filme.

E revi um Mário Viegas divinal que a última vez que o vi, antes da sua morte, ia eu a descer o Largo Camões e ele passou de carro, no lugar do pendura, e me fez uma saudação esfusiante que eu dele sempre recebia quando, por acaso, nos encontrávamos.

Outra vez vendo-me na plateia, a assistir a um espectáculo, de cima do palco me interpelou. E era sempre assim …

Desde que partilhamos a madrugada da revolução no mesmo quartel e aquele espectáculo inolvidável para as tropas revoltosas, em plena euforia revolucionária, passamos a ser cúmplices na vida que, de facto, nos separava e nos transcendia. Nunca mais deixei de o lembrar e ele retribuía-me em dobro.

Por isso me comovi ontem quando, desprevenido, fui confrontado com a sua imagem no papel do malandro português suave …Descansa lá no espaço etéreo ao qual subiste que eu partilho as memórias nesta vida descontente …

quinta-feira, fevereiro 23

sem título (VII)

Posted by Picasa Fotografia José António Alegria in Amistad

não me digas não pois mesmo no teu silêncio alisado
eu descubro uma voz que sempre fala e me descobre


23 de Fevereiro de 2006

ESPANTO, HORROR, INDIGNAÇÃO ...

Posted by Picasa Ron Mueck

“Ministro "chocado" com envolvimento de crianças na morte de um sem-abrigo
O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, lamentou hoje o alegado envolvimento de um grupo de 12 crianças e adolescentes no homicídio de um sem-abrigo, no Porto, afirmando que está "chocado".”

In Público on line

Chocado ando eu há muito tempo com muitas coisas. Algumas delas oriundas da própria área da responsabilidade do meu amigo, e actual Ministro, Vieira da Silva. Um Ministro toma sobre si responsabilidades e obrigações pesadas. Opta. Decide. Nomeia e exonera. Avalia o desempenho das organizações que tutela.

O governo sabe que existem instituições que se definem como concentracionárias. Não sei se esta designação está fora de moda mas aplica-se a instituições como prisões, conventos, quartéis, reformatórios …

Algumas delas não podem ser extintas por razões óbvias. Outras, no entanto, deviam conhecer o destino das velharias sem préstimo que só podem originar males maiores à sociedade.

Ao estado devia exigir-se a tarefa higiénica de extinguir a maior parte das instituições que albergam os designados jovens em risco. A começar pela Casa Pia e por aí adiante …

A época dos reformatórios já acabou há muito. Neles se esconderam - e escondem - as maiores misérias e, quiçá, os crimes mais hediondos. Os jovens não devem ser, por princípio, internados em instituições públicas. O estado que assuma as suas responsabilidades, em pleno, através de mecanismos que apoiem a integração dos jovens na sociedade, através de famílias ou instituições, não públicas, de pequena dimensão e com projectos socialmente reconhecidos pela comunidade.

Tarefa controversa, difícil e complexa. Eu sei. Mas para que servem, hoje, os governos? Para gerir a chamada “mudança na continuidade”, na linha da célebre consigna do governo de Marcelo Caetano?

EFEITOS SECUNDÁRIOS

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

(…)
Banho lustral de ausência é este tempo
de pés postos na terra em puro esquecimento
E vamo-nos perdendo de nós mesmos, vamos
dispersos em bocados, vítimas do vento
ficando aqui, ali, nalgum lugar que amamos
(…)

Ruy Belo

EFEITOS SECUNDÁRIOS
Boca Bilingue

quarta-feira, fevereiro 22

POETANDO

Posted by Picasa Van Gogh - A igreja em Auvers - 1890

Acabei de escrever o artigo mensal, a publicar em breve, pelo “Semanário Económico”, ao qual dei o singelo título de LIBERDADE. Ficou-me, no entanto, a dúvida se não deveria juntar-lhe uma lista de autores e livros acerca do tema.

Coloquei em epígrafe um verso de Jorge de Sena, embora com riscos de repetição: “Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam.” Mas poderia ter escolhido esta frase de Albert Camus: «Explication des horreurs modernes par la peur. Atome, procès soviétique, etc. La trahison de la gauche intellectuelle.»(*)

Frase escrita, certamente, no rescaldo da ruptura com Sartre e outros intelectuais da “Temps Modernes” apoiantes, à época, da política da União Soviética.

A Liberdade pode parecer um tema tão simplório, ou mesmo irrelevante, para alguns intelectuais do nosso tempo que fiquei preocupado com o entendimento que pudessem fazer da minha sanidade mental. Ingenuidade da minha parte pois, na sua maioria, eles, na verdade, não se preocupam com nada!

Mas está tudo bem, graças a Deus. É que tenho andado a fazer uma recolha de poemas do grupo de poetas dos “Cadernos de Poesia”+ António Gedeão. Quais sejam: Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal, Tomaz Kim e Jorge de Sena. E ao lê-los, pela primeira vez, ou ao relê-los, pela enésima, compreende-se tão bem a questão da Liberdade, os seus meandros e os difíceis caminhos da sua conquista. Calafrios é o que sinto ao ler alguns deles!

Sabem que esses poetas eram todos – com excepção de Tomaz Kim – de formação académica técnico-científica bebendo a sua “inspiração” na tradição poética anglo-saxónica? Trataram de letras, mas não eram de letras. A sua obra representa uma ruptura assinalável com a tradição poética predominante na sua época – anos 1940/50 – e coincide, no tempo cronológico, com a escrita de Albert Camus a qual, recorrentemente, reproduzo.

Talvez não seja um acaso a coincidência dos títulos! Cadernos versus Cadernos!

(*) Albert Camus - “Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)- Gallimard

terça-feira, fevereiro 21

"...La mer sous la lune, ..."

Posted by Picasa Fotografia de José Marafona

««En mer. La mer sous la lune, ses étendues silencieuse. Oui, c´est ici que je me sens le droit de mourir tranquille, ici que je puis dire : « J´étais faible, j´ai fait pourtant ce que j´ai pu. »»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard