quarta-feira, fevereiro 22

POETANDO

Posted by Picasa Van Gogh - A igreja em Auvers - 1890

Acabei de escrever o artigo mensal, a publicar em breve, pelo “Semanário Económico”, ao qual dei o singelo título de LIBERDADE. Ficou-me, no entanto, a dúvida se não deveria juntar-lhe uma lista de autores e livros acerca do tema.

Coloquei em epígrafe um verso de Jorge de Sena, embora com riscos de repetição: “Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam.” Mas poderia ter escolhido esta frase de Albert Camus: «Explication des horreurs modernes par la peur. Atome, procès soviétique, etc. La trahison de la gauche intellectuelle.»(*)

Frase escrita, certamente, no rescaldo da ruptura com Sartre e outros intelectuais da “Temps Modernes” apoiantes, à época, da política da União Soviética.

A Liberdade pode parecer um tema tão simplório, ou mesmo irrelevante, para alguns intelectuais do nosso tempo que fiquei preocupado com o entendimento que pudessem fazer da minha sanidade mental. Ingenuidade da minha parte pois, na sua maioria, eles, na verdade, não se preocupam com nada!

Mas está tudo bem, graças a Deus. É que tenho andado a fazer uma recolha de poemas do grupo de poetas dos “Cadernos de Poesia”+ António Gedeão. Quais sejam: Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal, Tomaz Kim e Jorge de Sena. E ao lê-los, pela primeira vez, ou ao relê-los, pela enésima, compreende-se tão bem a questão da Liberdade, os seus meandros e os difíceis caminhos da sua conquista. Calafrios é o que sinto ao ler alguns deles!

Sabem que esses poetas eram todos – com excepção de Tomaz Kim – de formação académica técnico-científica bebendo a sua “inspiração” na tradição poética anglo-saxónica? Trataram de letras, mas não eram de letras. A sua obra representa uma ruptura assinalável com a tradição poética predominante na sua época – anos 1940/50 – e coincide, no tempo cronológico, com a escrita de Albert Camus a qual, recorrentemente, reproduzo.

Talvez não seja um acaso a coincidência dos títulos! Cadernos versus Cadernos!

(*) Albert Camus - “Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)- Gallimard

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