quinta-feira, março 3

As Novas Políticas Sociais e o Governo Socialista

Já está disponível no site do “Semanário Económico” o artigo com o título em epígrafe.

O mesmo pode ainda ser consultado no IRAOFUNDOEVOLTAR.

Revolta



Durante o mês de Março publicarei um conjunto de 10 posts, ilustrados com imagens, a partir de um texto original – “Fragmentos Autobiográficos” - inspirado nesta citação de Camus:

“Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...”

Fotografia de Helder Gonçalves

quarta-feira, março 2

"O Aprendiz de Feiticeiro"



Publico hoje o último post do meu livro artesanal construído a partir de excertos de “O Aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira”. A obra, salvo erro, é de 1971 e a minha “edição” ocorreu em 1981, por mero acaso, em coincidência com a morte do autor.

Para quem quiser aqui tem uma edição recente.

"A Última Tília"



“ Tchekov, primeiro acto do “Tio Vânia”. Fala Astrov:

- O homem foi dotado de razão e força criadora para multiplicar o que lhe legaram, mas até hoje não criou, destruiu. Há cada vez menos florestas, os rios secam, a caça desaparece, o clima torna-se mais rude dia a dia, a terra mais pobre e mais feia. Vejo que me olhas ironicamente, tudo o que digo te parece que não é a sério e … e, talvez seja apenas mania minha, mas quando passo por uma floresta que salvei ou ouço o rumor da floresta ainda jovem que plantei com as próprias mãos, torno-me consciente de que o clima depende um pouco de mim e que se o homem dentro de mil anos tiver de ser feliz mo fica também a dever um pouco. Quando planto uma bétula nova e a vejo em seguida cobrir-se de folhas verdes, balançar ao vento, o meu coração enche-se de orgulho …

Pobre Astrov. Os operários derrubam a última tília e partem nos camiões pouco antes de se acenderem as lâmpadas da praça, que são (como os arboricidas gostam) flores de gás.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (6 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

terça-feira, março 1

O Meu Irmão Dimas Morreu



O meu irmão Dimas era um “self-made-man”. Pertencia aquela rara plêiade de portugueses que triunfou na vida pelas suas próprias mãos. Com o seu trabalho. Sem golpes nem favorecimentos espúrios. Um artista de fina sensibilidade e operário na sua arte, perfeccionista, preocupado com os detalhes, homem de honra e de palavra.

Sofreu, certamente, em silêncio, os males do nosso tempo e a doença súbita que, em poucos dias, o ceifou para a vida. Eu fui um filho tardio. A sua adolescência coincidiu com a minha meninice. Sempre fui para ele “o meu menino”. O meu irmão Dimas raramente dizia palavras de circunstância. Nem era homem de grandes manifestações públicas de afecto. Mas eu sempre senti o halo da sua secreta afeição e solidariedade.

A imagem que dele guardo, para sempre, está neste retrato a preto e branco. A família completa posa para a Kodak de meu pai. No Jardim da Alameda, em Faro. Respira-se um ar de felicidade e o meu irmão, adolescente, deixa perceber a sua elegância. Eu empoleiro-me no banco na hora do disparo. A máquina, suspensa num tripé, accionada por meu pai, deixa passar aqueles segundos que ainda lhe permitem tomar o lugar no retrato.

Reparo nas roupas domingueiras que todos envergávamos. O meu olhar e o de minha mãe pousam, certeiros, na objectiva. Os olhares de meu pai e de meu irmão pousam em algo, ou alguém, ligeiramente ao lado. Simétricos dois a dois. Reparo na expressão feliz do seu rosto e na sua esguia mão.

Que dia terá sido aquele? Um aniversário? Um dia de festa? Um momento para todo o sempre.

Lusomundo - Negócio Fechado

A notícia aí está. A poucos dias do início da entrada em funções do novo governo. Ninguém questiona nada! Deve ser mesmo assim! Negócio fechado!

Em palavras chãs a PT vendeu aos “Irmãos Oliveira” os órgãos de comunicação social que detinha. Daqui a algum tempo se verão as consequências.

(Afinal o PS já se pronunciou, concordando com a venda, e as "entidades reguladoras" que se amanhem. O problema é que o pronunciamento do PS tem o tom de "fim de festa". Mas qual festa? Ou de alívio! Mas de que dor?)

segunda-feira, fevereiro 28

"Aprendizes"



“Passamos duas vezes pela beira-rio, ao sair da cidade e no regresso já com o crepúsculo carregado de estrelas. Jornais. A guerra química. A desfolhagem instantânea das florestas no Vietnam ou, pior ainda, a incubação da doença, que o vento, as folhas caídas, a própria seiva, transmitem de árvore em árvore contaminando o chão, assassinando-o. Nenhuma raíz viverá ali nos próximos cinquenta anos, pelo menos. Afinal estes tipos com as suas serras mecânicas não passam de aprendizes.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (5 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

Durão e as Línguas

Durão também encrencado com os espanhóis
Ainda a questão da línguas na UE. Veja no Diário de Lisboa.

domingo, fevereiro 27

Vítor Wengorovius



Fui hoje confrontado, longe de Lisboa, com a notícia da morte de Vítor Wengorovius. Aqui lhe deixo a minha homenagem. No percurso político comum que fizemos, em certo momento, constituiu-se um grupo que ficou conhecido como "O Grupo dos Cinco".

Hoje o Ferro Rodrigues lembrava-me que eu e ele somos os dois únicos sobreviventes desse grupo: os outros eram o Agostinho Roseta, o Afonso de Barros e o Vítor Wengorovius.

Reparo que os jornais publicam hoje nomes de dirigentes do MES que, em boa parte, não correspondem à realidade mas a uma imagem da realidade que se foi construindo, na comunicação social, ao longo dos anos.

Aqui deixo uma referência a Vítor Wengorovius num texto, elaborado a partir de um post publicado no absorto, que deverá integrar um livro, a editar em breve, no qual publicarei também a lista dos verdadeiros dirigentes (eleitos), fundadores do MES, da qual o Vítor faz parte:

"O mais vibrante activista do MES, oriundo do movimento católico progressista, foi o advogado Vítor Wengorovius.

Tendo desempenhado um papel determinante no movimento estudantil, aquando da crise de 1961/62, é um brilhante orador e conduziu-se, em todas as circunstâncias, como um hábil, infatigável e maduro negociador, capaz de gerar consensos e fazer pontes em todas as direcções.

Foi sempre prejudicado, nos planos pessoal e político, pelo seu excesso de talento para formular propostas e soluções de consenso e pelas manifestações do seu temperamento fulgurante.


A Nuno Teotónio Pereira e a Vítor Wengorovius devemos todos, os jovens quadros que se reuniram, desde os anos 60, até ao início da década de 80, em torno do MES, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e contagiante humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva."


Fotografia de Helder Gonçalves

sábado, fevereiro 26

Termas de Manteigas

Vejo na Lusa uma notícia recorrente. Este projecto que eu conheço bem, é um atentado contra o ambiente, o desenvolvimento sustentável e o interesse público. A não ser que tenha mudado muita coisa desde a minha exoneração de Presidente do INATEL. Mas não mudou certamente. Pelo menos a água de que se fala e que é o mais valioso recurso que é preciso salvaguardar.

Em Outubro serão as eleições autárquicas. Espero que ninguém tenha a tentação de destruir uma obra moderna e consolidada – As Termas e o Complexo Hoteleiro de Manteigas do INATEL – por um “elefante branco” do qual resultará, mais tarde ou mais cedo, mais despesa pública sem a correspondente contrapartida de serviço público e de impulso ao desenvolvimento regional.

"Covilhã, 25 Fev (Lusa) - A Câmara de Manteigas está a estudar com a iniciativa privada a construção de um complexo lúdico-termal na vila, revelou hoje à agência Lusa o presidente da autarquia, José Manuel Biscaia.

O autarca lamenta, no entanto, "problemas provocados pela burocracia".
Segundo o edil, o investimento previsto "pode ascender a três milhões de euros e está previsto para terrenos junto às termas de Caldas de Manteigas, propriedade do INATEL".
"Queremos construir um espaço com tudo o que está ligado à água, em plena montanha", descreve.
Além das piscinas, "haverá zonas de descanso e lazer em plena água, diferentes tipo de banhos e espaços de hidroterapia", refere o autarca.
A área será complementada com serviços de restauração, comércio e diversão.
"O objectivo é conseguir com as termas cativar mais público, de outras faixas etárias e que não tenha apenas necessidades terapêuticas, mas também de lazer", sublinha José Manuel Biscaia.
Segundo o próprio, a obra está ainda "em fase de anteprojecto", sendo os detalhes acertados com privados com os quais o estudo está a ser desenvolvido.
Apesar de ambicionar arrancar com obras ainda até ao final do ano, o presidente da Câmara de Manteigas queixa-se de excesso de burocracia, que diz estar a atrasar o processo.
"Há um problema burocrático com a identificação de terrenos do INATEL que está a provocar um impasse junto de um dos investidores", descreve.
"Do ponto de vista burocrático, este processo tem sido um rosário de amarguras", classifica.
A estância termal de Caldas de Manteigas, propriedade do INATEL, é alimentada pelas nascentes da Fonte Quente, com água a 42 graus, e da Fonte Santa, com água a 19 graus.
As águas sulfurosas, captadas a 60 metros de profundidade, são indicadas para o tratamento de reumatismo, dermatoses, doenças das vias respiratórias e musco- esqueléticas.
Em pleno Vale Glaciário do Zêzere, as instalações das termas estão situadas a três quilómetros da vila de Manteigas.
LFO.

Obrigado Irmão

Foi no liceu a primeira vez que pisei o palco. Impulsionado pelo meu único irmão, Dimas, entrei nas aventuras da arte de representar. E assim fiz durante um par de anos. Ir-me-ia fazer bem. Tenho aqui ao meu lado um volume das “Obras Completas de Gil Vicente”, da “Colecção de Clássicos Sá da Costa”. Um livro antigo e muito bonito. Nele leio o primeiro texto com que me defrontei nos preparos da arte de representar.

Diz assim:

“Vem Apariço e Ordonho, moços de esporas, a buscar farelos, e diz logo:

Apa. Quem tem farelos?

Ord. Quien tiene farelos?

Apa. Ordonho, Ordonho, espera mi.
Ó fideputa ruim!
Sapatos tens amarelos,
Já não falas a ninguém.
(…)”

É a farsa “Quem tem farelos?” composta, por Gil Vicente, nos fins de 1508, princípios de 1509.

Ninguém se espante mas em Portugal não existe qualquer companhia teatral dedicada a estudar, divulgar e representar o teatro de Gil Vicente.

Obrigado irmão.

sexta-feira, fevereiro 25

Entardecer


Há dias em que o entardecer é um momento sublime em que a cor do ar vibra ao nosso olhar. Há dias em que o entardecer nos trás notícias dolorosas que têm o sabor amargo das coisas inevitáveis.

Fotografia de Helder Gonçalves

"Dêem-me a terra, mesmo poluída."

“Lá em baixo, onde as avenidas desaguam no rio (afluentes de alcatrão em pedra), os esgotos, o lixo pela água dentro. Mais adiante cemitérios de comboios, a ferrugem cor de chocolate espesso e uma tímida erva selvagem nos reiles carcomidos. O hidrovião, de súbito, poisado a meio da estrada marginal, com gaivotas sobre as asas desmanteladas. Outros dois suspensos nas breves rampas de lançamento, enquanto a aragem fluvial lhes desenha manchas de óxido na fuselagem, esquecidos à beira do cais cheio de lodo, limos, detritos encrostados na alvenaria, e apesar disso a água dum azul claríssimo. Por enquanto. Depois o extenso gradeamento do parque militar. Mais detritos. A manhã desolada. Centenas de viaturas podres, jipes, tanques, milhares de pneus abandonados, pirâmides negras de borracha, e (ao voltarmos) milhões de estrelas no firmamento. Dêem-me a terra, mesmo poluída. Este carbono pulmonar, onde contudo adeja ainda a nossa ração de oxigénio. Toda a tarde o calor turvo no horizonte, que nos lembrava o halo silencioso de um incêndio. Árvores em fogo. Três nuvens rectilíneas de céu a céu, três traços de fumo deixados pelos jactos de uma patrulha. Urbanização nas alturas. Como é que a tua beleza, Gelnaa, há-de sobreviver sem uma máscara antigás?”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (4 de 6)

Cesário Verde


Cesário Verde (Aniversário)

Trabalho acerca do poeta no "Público".

O Livro de Cesário Verde (Primeira Edição)


O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL
(Fragmento)

I

AVE-MARIAS

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba-me;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem os carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos,
Embrenho-me a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinido de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!


(Versão integral no ir ao fundo e voltar)

quinta-feira, fevereiro 24

A Dignidade Não Tem Preço

A direita já começou a entender alguma coisa do que aconteceu no passado dia 20. Mas o discurso da derrota é arrogante e contristado. Vai demorar muito tempo até que retire todas as consequências das políticas que realizou. E que “realize” os erros e as injustiças que, de forma consciente, cometeu.

Não falo de números, mas de pessoas. Um país não é um “grande número” resultante do somatório de cifras, taxas, pessoas, grupos, empresas, corporações, comentadores, amigos, conhecidos e quejandos.

É uma comunidade integrada, com passado e tradição, cidadãos e famílias, iniciativa e trabalho, alegrias e dores, humores e aflições, necessidades e desejos.

A dignidade não tem preço e, em democracia, a comunidade não perdoa a indignidade de quem governa.

José Afonso - 3

Há uns anos atrás, num bar, talvez em Madrid, reconheci Luís Pastor que pensava nunca mais vir a reencontrar. Dirigi-me a ele, dei-me a conhecer, e descrevi-lhe brevemente as circunstâncias do nosso primeiro encontro. Logo me reconheceu e reviveu as memórias desse momento descrevendo-o com detalhe e emoção.

Tinha sido um concerto em Serpa, em cuja organização devo ter participado, em que Luís Pastor acompanhou José Afonso.

Foi uma daquelas intervenções loucas dos tempos da revolução. José Afonso evocou-as, com orgulho, agora mesmo, no memorável concerto do Coliseu, de 1983, que a “RTP Memória” acaba de passar.

Que voz extraordinária também a de Luís Pastor felizmente, pelo que vejo, em plena actividade.

quarta-feira, fevereiro 23

"Contra a clorofila"



“A aridez desdobrada em cimento, pavimentos estéreis, fumegantes, como as avenidas novas que sobem da beira-rio para as estradas do norte e o aeroporto, cerros nus, talhados sobre as faixas de rodagem, a monstruosa ossatura das fábricas à mostra, quantidades colossais de gases num labirinto canalizado para o alto, e lá em cima a chama, a nuvem tóxica, que de quando em quando o vento espalha pela cidade. Vindo da lua, o cosmonauta diz que poluir o ar e as águas da terra é um crime inominável. Diz, depois de atravessar no seu escafandro o céu dum astro sem ar nem água: dêem-me a terra, é tudo o que desejo. E entretanto os empreiteiros, os lunificadores e os seus operários trabalham nesta praça, aplicadamente, contra a clorofila.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (3 de 6)

Foto de Helder Gonçalves

José Afonso - 2

Grândola Vila Morena - ouça aqui.

Ainda Durão e Itália

No “Diário de Lisboa”
Os novos desenvolvimentos da fúria dos italianos.

José Afonso

O Almocreve das Petas ajudou-me a não esquecer o aniversário da morte de José Afonso. Tantas vezes o encontrei, muitas vezes, com a sua mulher – Zélia - em plena pujança de homem e artista ou já no tempo da sua doença.

José Afonso é um dos pilares mais vigorosos na formação cívica, estética e política da geração que fez a revolução de Abril.

Um homem vertical. Um grande poeta. Um músico de talento. Um extraordinário interprete.

Honra à sua memória.

Cantigas Do Maio
(Eu Fui Ver A Minha Amada)

Eu fui ver a minha amada
lá prós lados dum jardim
dei-lhe uma rosa encarnada
para se lembrar de mim

Eu fui ver o meu benzinho
lá prós lados dum paçal
dei-lhe o meu lenço de linho
que é do mais fino bragal

Minha mãe quando eu morrera
ai chore por quem muito amargou
para então dizer ao mundo
ai Deus mo deu ai Deus mo levou

Eu fui ver uma donzela
numa barquinha a dormir
dei-lhe uma colcha de seda
para nela se cobrir

Eu fui ver uma solteira
numa salinha a fiar
dei-lhe uma rosa vermelha
para de mim se encantar

Minha mãe quando eu morrer ...

Eu fui ver a minha amada
lä nos campos eu fui ver
dei-lhe uma rosa encarnada
para de mim se prender

Verdes prados verdes campos
onde está minha paixão
as andorinhas não param
umas voltam outras não

Minha mãe quando eu morrer...