Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, dezembro 14
" Douro - Património Mundial"
“Quatro anos depois da classificação do Douro como Património Mundial, a região poderá receber uma advertência da UNESCO porque continuam a proliferar as lixeiras e as más construções, não estando sequer delimitada com a sinalização rodoviária apropriada.”
Esta notícia seria para rir, não fora para chorar. Durante quatro anos não fizeram NADA. Dá para entender muita coisa que se passa em Portugal. Mesmo o que acontece a muitos daqueles que fazem coisas. Vejam as datas. A Região do Douro foi declarada Património Mundial numa data coincidente com as eleições autárquicas de 2001 que originaram a queda do governo socialista de Guterres.
Todas as estruturas e acções, destinadas a honrar a decisão da UNESCO, de classificar o Douro como Património Mundial, foram desmanteladas ou não foram implementadas, durante os governos do PSD/PP. Os responsáveis pela gestão deste processo de desmazelo total e absoluto vão ser investigados? Estiveram a vencer alguma remuneração, de qualquer espécie? E os autarcas? Ninguém se apercebeu que esta é uma das poucas regiões do país que pode ser um pólo estruturado e pujante do turismo nacional? Quem são os verdadeiros responsáveis?
Eis aqui uma vergonha nacional! Será que não vai acontecer nada? Oh da guarda!
Veja aqui e aqui e aqui
A VERDADE
Imagem Daqui
A palavra Verdade tem surgido, nos últimos tempos, em evidência. Teodora Cardoso titula “A Verdade” o seu artigo, de hoje, no “Jornal de Negócios”. Harold Pinter centrou no tema da verdade o seu discurso da cerimónia do Nobel da Literatura.
Contra a mentira contrapõe-se a verdade. A propósito do discurso e postura de Cavaco impõe-se, de facto, repor a verdade da herança da sua governação de dez anos – um terço da nossa vida democrática, pós 25 de Abril de 1974.
(…) O que Cavaco Silva nos legou reduziu-se, porém, à expansão dos regimes especiais, ao reforço da rigidez e da incapacidade de gestão e inovação e sobretudo a um aumento dos encargos com a função pública que se cifrou em 90,4 % no triénio 1989/91, 50 pontos percentuais acima da subida da taxa de inflação no mesmo período, estrategicamente centrado no ano em que obteve a sua segunda maioria absoluta. É certo que os governos Guterres, embora com um menor contributo quantitativo, não fizeram melhor. Mas pelo menos devemos a António Guterres não vir apresentar-se-nos como o detentor da verdade nas áreas em que errou.
Cavaco Silva tem agora razão quando diz que, sem crescimento económico, não se resolverão os problemas do emprego ou do orçamento. É, contudo, à miopia com que dirigiu uma fase ímpar de crescimento que devemos as dificuldades actuais. Que a solução destas em período de crise exige maiores sacrifícios, durante mais tempo, também não oferece dúvidas. Que Cavaco detenha agora a verdade que tão completamente lhe escapou enquanto primeiro-ministro, isso sim oferece as maiores dúvidas. (…)
In “Jornal de Negócios” – 14/12/2005
Artigo, na íntegra, aqui e IR AO FUNDO E VOLTAR
A palavra Verdade tem surgido, nos últimos tempos, em evidência. Teodora Cardoso titula “A Verdade” o seu artigo, de hoje, no “Jornal de Negócios”. Harold Pinter centrou no tema da verdade o seu discurso da cerimónia do Nobel da Literatura.
Contra a mentira contrapõe-se a verdade. A propósito do discurso e postura de Cavaco impõe-se, de facto, repor a verdade da herança da sua governação de dez anos – um terço da nossa vida democrática, pós 25 de Abril de 1974.
(…) O que Cavaco Silva nos legou reduziu-se, porém, à expansão dos regimes especiais, ao reforço da rigidez e da incapacidade de gestão e inovação e sobretudo a um aumento dos encargos com a função pública que se cifrou em 90,4 % no triénio 1989/91, 50 pontos percentuais acima da subida da taxa de inflação no mesmo período, estrategicamente centrado no ano em que obteve a sua segunda maioria absoluta. É certo que os governos Guterres, embora com um menor contributo quantitativo, não fizeram melhor. Mas pelo menos devemos a António Guterres não vir apresentar-se-nos como o detentor da verdade nas áreas em que errou.
Cavaco Silva tem agora razão quando diz que, sem crescimento económico, não se resolverão os problemas do emprego ou do orçamento. É, contudo, à miopia com que dirigiu uma fase ímpar de crescimento que devemos as dificuldades actuais. Que a solução destas em período de crise exige maiores sacrifícios, durante mais tempo, também não oferece dúvidas. Que Cavaco detenha agora a verdade que tão completamente lhe escapou enquanto primeiro-ministro, isso sim oferece as maiores dúvidas. (…)
In “Jornal de Negócios” – 14/12/2005
Artigo, na íntegra, aqui e IR AO FUNDO E VOLTAR
CAMUS - "CARNETS III"
“Celui qui a conçu ce qui est grand, doit aussi le vivre.”
Nietzshe
(Epígrafe do “Carnets III, de Albert Camus – Mars 1951 – Décembre 1959)
Embora tardiamente, como sempre, comprei a edição francesa embora somente os volumes II e III dos “Carnets” (o volume I encontra-se esgotado). Mas o volume III era, para mim, o mais importante.
A versão original é composta pelo Volume I – editado em 1962, Volume II - editado em 1964 e Volume III - editado em 1989, com os títulos e abrangendo os períodos que se indicam:
Carnets I, 1935-1942, Gallimard, 1962 (Blanche); Carnets II, Janvier 1942-Mars 1951, Gallimard, 1964 (Blanche); Carnets III, Mars 1951-Décembre 1959, Gallimard, 1989 (Blanche).
Qualquer destes “Carnets” se desdobra em diversos “Cadernos”. O “Carnets III” compreende os Cadernos VII, VIII e IX, escritos desde 1951 até Janeiro de 1960 (data da morte de Camus).
A minha leitura destes últimos três cadernos, publicados em 1989, tinha sido parcial, por outras fontes que não o original, pois nunca foram traduzidos em português.
As transcrições que tenho feito, têm origem nas leituras integrais, de juventude e releituras contemporâneas, dos “Cadernos” I a VI, da edição portuguesa, da "Livros do Brasil", abrangendo o período de 1935 a 1951.
Eis a oportunidade de uma primeira leitura, integral, da edição original do “Carnets III” e, posteriormente, ir dando notícias de alguns dos meus sublinhados.
Resta a estranheza por, desde os anos 60, nunca ter sido realizada qualquer reedição desta obra e, ainda mais, o facto, do tomo III dos “Carnets” nunca ter sido traduzido em Portugal.
Na verdade este facto não nos deverá causar espanto pois somos uma província distante do centro da Europa civilizada e assim nos comprazemos a continuar – na graça do senhor!
Nietzshe
(Epígrafe do “Carnets III, de Albert Camus – Mars 1951 – Décembre 1959)
Embora tardiamente, como sempre, comprei a edição francesa embora somente os volumes II e III dos “Carnets” (o volume I encontra-se esgotado). Mas o volume III era, para mim, o mais importante.
A versão original é composta pelo Volume I – editado em 1962, Volume II - editado em 1964 e Volume III - editado em 1989, com os títulos e abrangendo os períodos que se indicam:
Carnets I, 1935-1942, Gallimard, 1962 (Blanche); Carnets II, Janvier 1942-Mars 1951, Gallimard, 1964 (Blanche); Carnets III, Mars 1951-Décembre 1959, Gallimard, 1989 (Blanche).
Qualquer destes “Carnets” se desdobra em diversos “Cadernos”. O “Carnets III” compreende os Cadernos VII, VIII e IX, escritos desde 1951 até Janeiro de 1960 (data da morte de Camus).
A minha leitura destes últimos três cadernos, publicados em 1989, tinha sido parcial, por outras fontes que não o original, pois nunca foram traduzidos em português.
As transcrições que tenho feito, têm origem nas leituras integrais, de juventude e releituras contemporâneas, dos “Cadernos” I a VI, da edição portuguesa, da "Livros do Brasil", abrangendo o período de 1935 a 1951.
Eis a oportunidade de uma primeira leitura, integral, da edição original do “Carnets III” e, posteriormente, ir dando notícias de alguns dos meus sublinhados.
Resta a estranheza por, desde os anos 60, nunca ter sido realizada qualquer reedição desta obra e, ainda mais, o facto, do tomo III dos “Carnets” nunca ter sido traduzido em Portugal.
Na verdade este facto não nos deverá causar espanto pois somos uma província distante do centro da Europa civilizada e assim nos comprazemos a continuar – na graça do senhor!
SOB O CÉU AZUL
Fotografia de Angèle
O céu sempre azul era
O meu teto infinito ali
À mão luziam estrelas
Incandescentes longas
As noites que eu senti
O céu sempre azul vi
Rodear o horizonte lá
Onde o olhar alcança
De prazeres e carícias
Que melhor tempo há?
Criança do meu lugar
Amado ao sul receei
O passo a medo dado
Mãos prudentes além
De mim me tomaram
Nas suas mãos d´ouro
Sob o céu azul luziam
Quais espaços infinitos
Incandescentes puras
As noites que eu vivi
Lisboa, 31 de Janeiro de 2005
O céu sempre azul era
O meu teto infinito ali
À mão luziam estrelas
Incandescentes longas
As noites que eu senti
O céu sempre azul vi
Rodear o horizonte lá
Onde o olhar alcança
De prazeres e carícias
Que melhor tempo há?
Criança do meu lugar
Amado ao sul receei
O passo a medo dado
Mãos prudentes além
De mim me tomaram
Nas suas mãos d´ouro
Sob o céu azul luziam
Quais espaços infinitos
Incandescentes puras
As noites que eu vivi
Lisboa, 31 de Janeiro de 2005
terça-feira, dezembro 13
EXPLICO ALGUMAS COISAS
numa manhã o fogo
saltava da terra
devorando os seres,
e ardia,
havia pólvora,
e sangue.
Bandidos com aviões e mouros,
bandidos com anéis nos dedos e duquesas,
bandidos com frades negros e suas bendições
vinham pelo céu matar crianças,
e o sangue delas escorria pelas ruas
sem ruído algum, corria como sangue de criança.
Chacais que seriam alvo de desprezo de outros chacais,
pedras que o cardo seco morderia
e cuspiria, víboras que as próprias víboras abominariam!
Face a face com vocês vi o sangue
da Espanha erguer-se
para afogá-los em uma onda
de orgulho e de facas!
Generais
traidores:
vejam minha casa morta,
vejam a Espanha alquebrada:
de todas as casas sai um metal
que arde,
em vez de flores,
mas de cada oco da Espanha
a Espanha emerge
e de cada criança morta sai um rifle
com olhos,
e de cada crime nascem balas
que um dia encontrarão o caminho
do coração de vocês.
E vocês me perguntarão:
por que os poemas dele
não falam de sonhos, e de folhas
e dos grandes vulcões de sua terra natal.
Venham e vejam o sangue nas ruas,
venham e vejamo sangue nas ruas,
venham e vejam o sangue nas ruas!"
Pablo Neruda
(Excerto do poema “Explico Algunas cosas” de Pablo Neruda, citado por Harold Pinter na Conferência de atribuição do Prémio Nobel da Literatura – tradução retirada daqui.)
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Explico algunas cosas
Preguntaréis: ¿Y dónde están las lilas?
¿Y la metafísica cubierta de amapolas?
¿Y la lluvia que a menudo golpeaba
sus palabras llenándolas
de agujeros y pájaros?
Os voy a contar todo lo que me pasa.
Yo vivía en un barrio
de Madrid, con campanas,
con relojes, con árboles.
Desde allí se veía
el rostro seco de Castilla
como un océano de cuero.
Mi casa era llamada
la casa de las flores, porque por todas partes
estallaban geranios: era
una bella casa
con perros y chiquillos.
Raúl, ¿te acuerdas?
¿Te acuerdas, Rafael?
Federico, ¿te acuerdas
debajo de la tierra,
te acuerdas de mi casa con balcones en donde
la luz de junio ahogaba flores en tu boca?
¡Hermano, hermano!
Todo
eran grandes voces, sal de mercaderías,
aglomeraciones de pan palpitante,
mercados de mi barrio de Argüelles con su estatua
como un tintero pálido entre las merluzas:
el aceite llegaba a las cucharas,
un profundo latido
de pies y manos llenaba las calles,
metros, litros, esencia
aguda de la vida,
pescados hacinados,
contextura de techos con sol frío en el cual
la flecha se fatiga,
delirante marfil fino de las patatas,
tomates repetidos hasta el mar.
Y una mañana todo estaba ardiendo
y una mañana las hogueras
salían de la tierra
devorando seres,
y desde entonces fuego,
pólvora desde entonces, y desde entonces
sangre.
Bandidos con aviones y con moros,
bandidos con sortijas y duquesas,
bandidos con frailes negros bendiciendo
venían por el cielo a matar niños,
y por las calles la sangre de los niños
corría simplemente, como sangre de niños.
¡Chacales que el chacal rechazaría,
piedras que el cardo seco mordería escupiendo,
víboras que las víboras odiarían!
¡Frente a vosotros he visto la sangre
de España levantarse
para ahogaros en una sola ola
de orgullo y de cuchillos!
Generales
traidores:
mirad mi casa muerta,
mirad España rota:
pero de cada casa muerta sale metal ardiendo
en vez de flores,
pero de cada hueco de España
sale España,
pero de cada niño muerto sale un fusil con ojos,
pero de cada crimen nacen balas
que os hallarán un día el sitio
del corazón.
Preguntaréis: ¿por qué su poesía
no nos habla del sueño, de las hojas,
de los grandes volcanes de su país natal?
¡Venid a ver la sangre por las calles,
venid a verla sangre por las calles,
venid a ver la sangre por las calles!
Pablo Neruda
De España en el corazón
segunda-feira, dezembro 12
"NEMO BONUS"
Passa hoje mais um ano, o terceiro, sobre os acontecimentos que relatei, sucintamente, num artigo intitulado “Há silêncios que não podem ser eternos”.
“O facto que hoje evoco passou-se há dois anos. Merece ser recordado pois, entretanto, ganhou uma inusitada actualidade. No dia 12 de Dezembro de 2002, cedo de manhã, fui acordado por um telefonema da Rádio Renascença, que me pedia um comentário às notícias que, nessa madrugada, circulavam acerca de “irregularidades” no INATEL a cuja direcção presidia.”
Evoco-o, simplesmente, embora pudesse divulgar uns outros documentos, ainda mais impressivos, que surgem na sequência dos acontecimentos relatados naquele artigo. Fica para mais tarde.
Hoje acrescento uma citação de Albert Camus, acerca do “problema do mal”, dedicada ao Dr. Bagão Félix que, recentemente, testemunhou a propósito da questão dos crucifixos nas escolas.
“O único grande espírito cristão que olhou de frente o problema do mal, foi Santo Agostinho. O resultado disso foi o terrível “Nemo Bonus” (*). Depois, o Cristianismo consagrou-se a dar ao problema soluções provisórias.
O resultado está à vista. Porque esse é o resultado. Os homens levaram tempo a chegar aí, mas hoje, estão envenenados por uma intoxicação que data de há 2000 anos. Estão fartos do mal ou resignados, o que vem a dar na mesma coisa. Pelo menos já não podem suportar a mentira a tal respeito.”
(*) Nemo bonus, nisi solus Deus. [Vulgata, Lucas 18.19]. Ninguém é bom, senão só Deus.
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Continuação) – 1948 – 1951. Tradução de António Ramos Rosa. Edição “Livros do Brasil”. (A partir de “Carnets II”, 1964, Éditions Gallimard).
UM PEQUENO ESTREMECIMENTO
Tenho uma leve percepção que hoje alguns espíritos sentados sobre a convicção da mais que certa vitória de Cavaco devem ter sentido um pequeno, pequeníssimo, estremecimento.
As campanhas eleitorais são um combate e acontecem, quase sempre, coisas inusitadas. O Dr. Soares foi insultado por uma homem de boina que dava ares a ex- combatente. Mas isso ainda foi o menos: o pior é que o homem fez menção de chegar a vias de facto.
Reparei que a nota de repúdio, pelo acto anti democrático, oriunda dos serviços da candidatura do Dr. Cavaco, chegou ao primeiro plano das notícias quase antes do acontecimento propriamente dito. Ele há milagres na comunicação que não lembram ao diabo.
Mas tenho a certeza que aquela equipa de “sábios”, na qual antevejo o inefável Prof. Espada e o Dr. Joaquim Aguiar, devem ter trocado, no meio de umas cachimbadas, em sussurro, uma frase do género: “não querem lá ver?” Devem ter sentido, pela primeira vez (porque pensar já pensaram muito) que o “homem” é, de facto, uma força da natureza.
Outros ainda, mais das bases, devem ter rosnado que o Dr. Soares é, na realidade, um perigoso político profissional que anda no meio das gentes, a apertar mãos e dar beijinhos e, dessa forma, poderá vir a ser considerado um provocador pelas entidades competentes, pois pensam que há entidades competentes ...
Ou terá sido o Dr. Portas, com a sua inegável imaginação estratégica, a dar o seu testemunho de apoio ao Prof. Cavaco?
Uma pequena luz bruxuleante se acendeu, decerto, no fundo de alguns espíritos mais cépticos …
As campanhas eleitorais são um combate e acontecem, quase sempre, coisas inusitadas. O Dr. Soares foi insultado por uma homem de boina que dava ares a ex- combatente. Mas isso ainda foi o menos: o pior é que o homem fez menção de chegar a vias de facto.
Reparei que a nota de repúdio, pelo acto anti democrático, oriunda dos serviços da candidatura do Dr. Cavaco, chegou ao primeiro plano das notícias quase antes do acontecimento propriamente dito. Ele há milagres na comunicação que não lembram ao diabo.
Mas tenho a certeza que aquela equipa de “sábios”, na qual antevejo o inefável Prof. Espada e o Dr. Joaquim Aguiar, devem ter trocado, no meio de umas cachimbadas, em sussurro, uma frase do género: “não querem lá ver?” Devem ter sentido, pela primeira vez (porque pensar já pensaram muito) que o “homem” é, de facto, uma força da natureza.
Outros ainda, mais das bases, devem ter rosnado que o Dr. Soares é, na realidade, um perigoso político profissional que anda no meio das gentes, a apertar mãos e dar beijinhos e, dessa forma, poderá vir a ser considerado um provocador pelas entidades competentes, pois pensam que há entidades competentes ...
Ou terá sido o Dr. Portas, com a sua inegável imaginação estratégica, a dar o seu testemunho de apoio ao Prof. Cavaco?
Uma pequena luz bruxuleante se acendeu, decerto, no fundo de alguns espíritos mais cépticos …
domingo, dezembro 11
AMISTAD
Há muito tempo que leio, olho e sinto o amistad, do António José Alegria, que não conheço pessoalmente. Mas o que é isso de conhecer pessoalmente? Nós lemos, vemos e ouvimos os clássicos! Nós torcemos por artistas, desportistas e damos apoio a políticos! Quantas pessoas dessas, cada um de nós, conhece pessoalmente? Poucas, muito poucas!
Nem por isso se esvai a nossa curiosidade de conhecer as suas obras e de acompanhar as suas carreiras. Apreciamos e dão-nos prazer? Ora aí está o que, no essencial, interessa. Mas que se mantenha viva a chama da nossa curiosidade em que nos conheçamos pessoalmente.
(A propósito deste post que muito agradeço.)
Nem por isso se esvai a nossa curiosidade de conhecer as suas obras e de acompanhar as suas carreiras. Apreciamos e dão-nos prazer? Ora aí está o que, no essencial, interessa. Mas que se mantenha viva a chama da nossa curiosidade em que nos conheçamos pessoalmente.
(A propósito deste post que muito agradeço.)
Crónica de Uma Fidelidade (4)
Imagem daqui
No ano de 1976, na sequência da aprovação da Constituição, as eleições legislativas foram ganhas pelo PS de Mário Soares e as presidenciais foram vencidas pelo general Eanes, representando a solução política e militar moderada para a crise.
No ano de 1976, na sequência da aprovação da Constituição, as eleições legislativas foram ganhas pelo PS de Mário Soares e as presidenciais foram vencidas pelo general Eanes, representando a solução política e militar moderada para a crise.
O MES foi afastado do parlamento nas eleições legislativas de 25 de Abril, apoiou a candidatura presidencial de Otelo tendo rompido, de seguida, de forma radical, com qualquer devaneio de oposição violenta ao modelo político de democracia representativa em fase de consolidação.
Mário Soares tomou posse, em 23 de Setembro, como Primeiro-ministro à frente do I Governo Constitucional.
Amadureciam, assim, as condições para se tomasse a sério a ideia de por fim à experiência do MES o que requeria previamente concretizar, de forma explícita, uma ruptura política e ideológica com o passado. Foi o que aconteceu no decurso do ano de 1977.
O Lustre e a Criadora
Foi um jantar, simplesmente, em casa de MM e PS, como sempre acolhedor e regado a discussões fraternais.
Desta vez com a particularidade de “inaugurar” um lustre, ou seja, uma glamorosa “luminária de teto”, numa sala renovada.
O lustre, por sinal, criação de minha mulher, Margarida Ramos, é fabricado em Portugal (Marinha Grande) e ganhou o prémio da revista “Madame Figaro” na “Feira Internacional de Paris – 2001”. Tem ilustrado inúmeras capas de prestigiadas revistas internacionais. É o que se pode chamar um lustre português com sucesso.
Desta vez com a particularidade de “inaugurar” um lustre, ou seja, uma glamorosa “luminária de teto”, numa sala renovada.
O lustre, por sinal, criação de minha mulher, Margarida Ramos, é fabricado em Portugal (Marinha Grande) e ganhou o prémio da revista “Madame Figaro” na “Feira Internacional de Paris – 2001”. Tem ilustrado inúmeras capas de prestigiadas revistas internacionais. É o que se pode chamar um lustre português com sucesso.
sábado, dezembro 10
Viagem Pelo Corpo
Imagem de ph&-no
(…)
Enquanto eu mordo contra o muro a cúpula do riso
inclinas tanto os vagarosos braços
que a tarde desce sensivelmente por eles
até configurar-se em tuas mãos
Ruy Belo
AQUELE GRANDE RIO EUFRATES
Aquele Grande Rio Eufrates
(…)
Enquanto eu mordo contra o muro a cúpula do riso
inclinas tanto os vagarosos braços
que a tarde desce sensivelmente por eles
até configurar-se em tuas mãos
Ruy Belo
AQUELE GRANDE RIO EUFRATES
Aquele Grande Rio Eufrates
MICHELLE BACHELET
No próximo domingo o povo chileno vai, segundo todas as sondagens, eleger a socialista Michelle Bachelet para a Presidência da República.
Ouvi falar dela numa visita ao Chile. Era uma mulher, política prestigiada, que tinha sido ministra da saúde e que transitara para ministra da defesa facto inédito na história do Chile e, suponho, de toda a América Latina.
Filha de um general, assassinado às mãos da ditadura de Pinochet, a sua eleição será uma grande vitória do povo chileno.
Será assim honrada a tradição democrática do Chile. Pela nossa parte festejaremos com júbilo a sua vitória. Nunca esqueceremos a tragédia da ditadura de Pinochet, nem o sacrifício de Allende que ofereceu a sua vida em defesa da liberdade e da democracia.
Ouvi falar dela numa visita ao Chile. Era uma mulher, política prestigiada, que tinha sido ministra da saúde e que transitara para ministra da defesa facto inédito na história do Chile e, suponho, de toda a América Latina.
Filha de um general, assassinado às mãos da ditadura de Pinochet, a sua eleição será uma grande vitória do povo chileno.
Será assim honrada a tradição democrática do Chile. Pela nossa parte festejaremos com júbilo a sua vitória. Nunca esqueceremos a tragédia da ditadura de Pinochet, nem o sacrifício de Allende que ofereceu a sua vida em defesa da liberdade e da democracia.
Muitos podem querer apagar da memória o 13 de Setembro de 1973, nós não o esquecemos, primeira condição para que se não possa repetir.
sexta-feira, dezembro 9
CRUCIFIXO - UM "CORPUS ABERTO"
Scarlett Johansson
"Um crucifixo, mesmo numa escola pública, não significa que o Estado passe a ser dependente de qualquer confissão religiosa ou que o ensino público tenha carácter religioso". António Bagão Félix, PÚBLICO, 9-1-2-2005
A cruzada, nos jornais, do Dr. Bagão, em prol dos crucifixos nas escolas, fez-me aflorar à memória algumas coisas terríveis que não é oportuno lembrar agora. Mas apeteceu-me, como católico, fazer um exercício de memória.
Não me lembro se, na minha escola primária, na minha sala de aula, havia crucifixo. Não me lembro se era obrigatório rezar no início das aulas. Foi, é verdade, há muitos anos. Mas lembro-me das professoras e professores, a começar pela D. Pessanha (1ª e 2º classes), que era muito tradicionalista e autoritária.
Nunca levei reguadas dela mas era assustador assistir ao suplício dos que as apanhavam. Seria diante do crucifixo? Só uma vez fui humilhado quando me mandou para casa, antes do fim das aulas, por ter sujado os dedos de tinta, resultado da incontinência daquelas canetas de aparo que se alimentavam mergulhando-as nos tinteiros incrustados nas carteiras.
Lembro-me de uma professora jovem, cujo nome esqueci, que ensinava de maneira diferente, pois era uma época de introdução de novos métodos; lembro-me de entender a aritmética e de sentir prazer com ela (a aritmética); vejo o Prof. Bica, exímio tocador de acordeão, nos corredores; sinto a D. Maria José que, na 4ª classe, fez com que tudo me parecesse fácil, incluindo os exames de admissão que fiz dois, um ao liceu, outro à escola técnica.
Eu adorava a D. Maria José, suponho que ela me retribuía a adoração, não soube mais dela, pois ao longo dos anos sempre me queria ver, acho que faleceu, mas trago o seu rosto e a sua voz sempre comigo.
Lembro-me do Padre Henrique, das actividades religiosas fora da escola e das explicações já no liceu, do seu sorriso bondoso, palavra culta, fluente e humanista desenhando a figura de um grande pedagogo solidário. Mas do crucifixo do Dr. Bagão nicles.
Não sei se o Dr. Bagão corre por conta própria, ou se tem mandato da hierarquia da igreja, mas tanto se dá, pois cada um é livre de expressar livremente a sua opinião e não sofrer penitência pelo exercício dessa liberdade. A prática é a prática! As palavras são as palavras. Somos coerentes, ou seja, as palavras e as práticas são coincidentes! Não é Dr. Bagão?
Aqui vai uma réplica, de minha lavra, à frase do “Público”, citada em epígrafe, extraída do meritíssimo texto “pró crucifixo” do Dr. Bagão:
“Um Dr. Bagão Félix colocado, mesmo num ministério das finanças, não significa que o Estado passe a ser dependente de qualquer confissão religiosa ou que a banca e as seguradoras abandonem a busca do lucro em favor de objectivos filantrópicos”.
Como já estão fartos de saber ando em leituras e releituras de Camus. Talvez muitos não saibam qual o tema da tese de Camus para obter o seu diploma de estudos superiores: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme, entre Plotin e Saint Augustin”.
Camus era, pois, um intelectual que estudara o catolicismo e que tinha pelos católicos mais do que simpatia: “le sentiment d´une partie liée. C´est un fait qu´ils s´intéressent aux mêmes choses que moi”. Mas acrescentava, marcando as distâncias: “À leur idée, la solution est evidente, elle ne l´est pas pour moi.”
Feitas estas ressalvas, para que não me julguem, sem provas, incréu, ou me lancem à fogueira, ou excomunguem, por citar gente de pouca fé, deixo o meu contributo, via Albert Camus, para o meritório debate do crucifixo.
E porque não dedicá-las ao Dr. Bagão, hoje, em que, se não erro, passam exactamente três anos sobre o dia em que deu posse à Dra. Catalina (e eu estava lá), para que todos possamos reflectir acerca dos temas da verdade e da mentira, da vergonha e do arrependimento, da sinceridade e do cinismo, da justiça e da liberdade.
“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”
“Verdade deste século: À força de vivermos grandes experiências, tornamo-nos mentirosos.”
“Há quem se remanseie numa mentira como os que se refugiam na religião.”
“Cristãos felizes: Guardaram a graça para si próprios e deixaram-nos a caridade.”
(Albert Camus, Sublinhados dos “Carnets”, por mim próprio)
"Quando se meditou muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções." - p. 15
“Eu moro no bairro judeu, ou o que assim se chamava até ao momento em que os nossos irmãos hitlerianos limparam tudo. Que barrela! Setenta e cinco mil judeus deportados e assassinados, é a limpeza pelo vácuo. Admiro esta aplicação, esta paciência metódica! Quando não se tem carácter, é preciso ter método.” - p. 24
(Albert Camus, Sublinhados de “A Queda”, por Ana Alves).
Citações in “Cadernos de Camus”
"Um crucifixo, mesmo numa escola pública, não significa que o Estado passe a ser dependente de qualquer confissão religiosa ou que o ensino público tenha carácter religioso". António Bagão Félix, PÚBLICO, 9-1-2-2005
A cruzada, nos jornais, do Dr. Bagão, em prol dos crucifixos nas escolas, fez-me aflorar à memória algumas coisas terríveis que não é oportuno lembrar agora. Mas apeteceu-me, como católico, fazer um exercício de memória.
Não me lembro se, na minha escola primária, na minha sala de aula, havia crucifixo. Não me lembro se era obrigatório rezar no início das aulas. Foi, é verdade, há muitos anos. Mas lembro-me das professoras e professores, a começar pela D. Pessanha (1ª e 2º classes), que era muito tradicionalista e autoritária.
Nunca levei reguadas dela mas era assustador assistir ao suplício dos que as apanhavam. Seria diante do crucifixo? Só uma vez fui humilhado quando me mandou para casa, antes do fim das aulas, por ter sujado os dedos de tinta, resultado da incontinência daquelas canetas de aparo que se alimentavam mergulhando-as nos tinteiros incrustados nas carteiras.
Lembro-me de uma professora jovem, cujo nome esqueci, que ensinava de maneira diferente, pois era uma época de introdução de novos métodos; lembro-me de entender a aritmética e de sentir prazer com ela (a aritmética); vejo o Prof. Bica, exímio tocador de acordeão, nos corredores; sinto a D. Maria José que, na 4ª classe, fez com que tudo me parecesse fácil, incluindo os exames de admissão que fiz dois, um ao liceu, outro à escola técnica.
Eu adorava a D. Maria José, suponho que ela me retribuía a adoração, não soube mais dela, pois ao longo dos anos sempre me queria ver, acho que faleceu, mas trago o seu rosto e a sua voz sempre comigo.
Lembro-me do Padre Henrique, das actividades religiosas fora da escola e das explicações já no liceu, do seu sorriso bondoso, palavra culta, fluente e humanista desenhando a figura de um grande pedagogo solidário. Mas do crucifixo do Dr. Bagão nicles.
Não sei se o Dr. Bagão corre por conta própria, ou se tem mandato da hierarquia da igreja, mas tanto se dá, pois cada um é livre de expressar livremente a sua opinião e não sofrer penitência pelo exercício dessa liberdade. A prática é a prática! As palavras são as palavras. Somos coerentes, ou seja, as palavras e as práticas são coincidentes! Não é Dr. Bagão?
Aqui vai uma réplica, de minha lavra, à frase do “Público”, citada em epígrafe, extraída do meritíssimo texto “pró crucifixo” do Dr. Bagão:
“Um Dr. Bagão Félix colocado, mesmo num ministério das finanças, não significa que o Estado passe a ser dependente de qualquer confissão religiosa ou que a banca e as seguradoras abandonem a busca do lucro em favor de objectivos filantrópicos”.
Como já estão fartos de saber ando em leituras e releituras de Camus. Talvez muitos não saibam qual o tema da tese de Camus para obter o seu diploma de estudos superiores: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme, entre Plotin e Saint Augustin”.
Camus era, pois, um intelectual que estudara o catolicismo e que tinha pelos católicos mais do que simpatia: “le sentiment d´une partie liée. C´est un fait qu´ils s´intéressent aux mêmes choses que moi”. Mas acrescentava, marcando as distâncias: “À leur idée, la solution est evidente, elle ne l´est pas pour moi.”
Feitas estas ressalvas, para que não me julguem, sem provas, incréu, ou me lancem à fogueira, ou excomunguem, por citar gente de pouca fé, deixo o meu contributo, via Albert Camus, para o meritório debate do crucifixo.
E porque não dedicá-las ao Dr. Bagão, hoje, em que, se não erro, passam exactamente três anos sobre o dia em que deu posse à Dra. Catalina (e eu estava lá), para que todos possamos reflectir acerca dos temas da verdade e da mentira, da vergonha e do arrependimento, da sinceridade e do cinismo, da justiça e da liberdade.
“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”
“Verdade deste século: À força de vivermos grandes experiências, tornamo-nos mentirosos.”
“Há quem se remanseie numa mentira como os que se refugiam na religião.”
“Cristãos felizes: Guardaram a graça para si próprios e deixaram-nos a caridade.”
(Albert Camus, Sublinhados dos “Carnets”, por mim próprio)
"Quando se meditou muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções." - p. 15
“Eu moro no bairro judeu, ou o que assim se chamava até ao momento em que os nossos irmãos hitlerianos limparam tudo. Que barrela! Setenta e cinco mil judeus deportados e assassinados, é a limpeza pelo vácuo. Admiro esta aplicação, esta paciência metódica! Quando não se tem carácter, é preciso ter método.” - p. 24
(Albert Camus, Sublinhados de “A Queda”, por Ana Alves).
Citações in “Cadernos de Camus”
PARTIDA ADIADA
Fotografia daqui
era poente à beira mar
o sol em tons de vermelho
anunciava o fim do dia
deixei a partida adiada
mãos a deslizar ásperas
ao longo do teu corpo
fui náufrago sobrevivente
nesse dia sem fim anunciado
ao mar imaginado
as horas passaram esquecidas
que as deixei perdidas
seriam oito da tarde
era poente à beira mar
e o teu corpo suspenso
nas minhas mãos sorrindo
anunciava o fim do dia
In “Ir pela Sua Mão”
Editora Ausência – Maio 2003
era poente à beira mar
o sol em tons de vermelho
anunciava o fim do dia
deixei a partida adiada
mãos a deslizar ásperas
ao longo do teu corpo
fui náufrago sobrevivente
nesse dia sem fim anunciado
ao mar imaginado
as horas passaram esquecidas
que as deixei perdidas
seriam oito da tarde
era poente à beira mar
e o teu corpo suspenso
nas minhas mãos sorrindo
anunciava o fim do dia
In “Ir pela Sua Mão”
Editora Ausência – Maio 2003
MENTIRA
Imagem daqui
Cavaco, segundo a SIC, afirmou, hoje, em Faro: "No passado, Portugal foi um País de sucesso. Dizia-se mesmo que Portugal era a Califórnia da Europa. Porque é que não podemos voltar a esse tempo?", questionou o candidato presidencial, numa referência implícita aos 10 anos em que foi primeiro-ministro, de 1985 a 1995.
Como ando a ler e a reler, desvairadamente Camus, li esta afirmação enquanto lia esta outra de Camus: “O privilégio da mentira é de vencer sempre aqueles que querem servir-se dela. (…) A liberdade não é dizer o que nos apetece […] nem instaurar a ditadura em nome de uma liberdade futura. A liberdade consiste, portanto, em não mentir.” (*)
A afirmação que a SIC afirma Cavaco ter afirmado é uma pura mentira. Ter-se-á iniciado o verdadeiro tempo da revelação do carácter do candidato? Nunca houve um “Portugal de sucesso”, nos dez anos dos governos de Cavaco, nem nunca houve uma “Califórnia em Portugal”, a não ser no pior da propaganda Cavaquista.
Não podemos voltar a um tempo passado que nunca existiu. Nos dez anos dos governos de Cavaco o que houve foi o desaproveitamento dos vultuosos subsídios da UE, o enriquecimento sem causa de muitos dignitários do cavaquismo, a perda de uma oportunidade histórica, irrepetível, de consolidar as finanças públicas, as marchas e as bandeiras negras da fome e, na verdade, construção de obras públicas.
Mas Cavaco devia corar de vergonha em proferir estas declarações em Faro, a minha cidade natal, quando não foi sequer capaz, em dez anos, recebendo Portugal 1 milhão de contos por dia de subsídios da UE, de concluir a autoestrada Lisboa-Algarve, nem a Via do Infante.
É que existe uma relação íntima entre a vergonha (ou a falta dela) e a mentira. Mas este é um exercício filosófico que o candidato não merece seja desenvolvido.
Cavaco, segundo a SIC, afirmou, hoje, em Faro: "No passado, Portugal foi um País de sucesso. Dizia-se mesmo que Portugal era a Califórnia da Europa. Porque é que não podemos voltar a esse tempo?", questionou o candidato presidencial, numa referência implícita aos 10 anos em que foi primeiro-ministro, de 1985 a 1995.
Como ando a ler e a reler, desvairadamente Camus, li esta afirmação enquanto lia esta outra de Camus: “O privilégio da mentira é de vencer sempre aqueles que querem servir-se dela. (…) A liberdade não é dizer o que nos apetece […] nem instaurar a ditadura em nome de uma liberdade futura. A liberdade consiste, portanto, em não mentir.” (*)
A afirmação que a SIC afirma Cavaco ter afirmado é uma pura mentira. Ter-se-á iniciado o verdadeiro tempo da revelação do carácter do candidato? Nunca houve um “Portugal de sucesso”, nos dez anos dos governos de Cavaco, nem nunca houve uma “Califórnia em Portugal”, a não ser no pior da propaganda Cavaquista.
Não podemos voltar a um tempo passado que nunca existiu. Nos dez anos dos governos de Cavaco o que houve foi o desaproveitamento dos vultuosos subsídios da UE, o enriquecimento sem causa de muitos dignitários do cavaquismo, a perda de uma oportunidade histórica, irrepetível, de consolidar as finanças públicas, as marchas e as bandeiras negras da fome e, na verdade, construção de obras públicas.
Mas Cavaco devia corar de vergonha em proferir estas declarações em Faro, a minha cidade natal, quando não foi sequer capaz, em dez anos, recebendo Portugal 1 milhão de contos por dia de subsídios da UE, de concluir a autoestrada Lisboa-Algarve, nem a Via do Infante.
É que existe uma relação íntima entre a vergonha (ou a falta dela) e a mentira. Mas este é um exercício filosófico que o candidato não merece seja desenvolvido.
(*) Entrevista ao “Progrès de Lyon” (Natal 1951).
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