domingo, março 16

VITÓRIA DO PS - MUNICIPAIS EM FRANÇA

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DISSERAM LIBERDADE?


Esta palavra liberdade é uma palavra muito séria. Não é para ser usada para aí aos quatro ventos por quem só se lembra dela quando lhe convém. Entre outras coisas, a liberdade implica a coragem de dar a cara por aquilo em que se acredita. Não me merecem nenhum respeito os professores que passaram a semana anterior à manifestação a falar aos jornais sob anonimato ou nome fictício - perante a complacência ou mesmo cumplicidade dos jornalistas. Diziam que assim se precaviam contra represálias da “ditadura” da ministra da Educação. E, ao aceitaram tal anonimato e a sua justificação, os jornalistas fizeram-se cúmplices dessa acusação gratuita de que a ministra é pessoa para perseguir quem se lhe opuser. Também cá tenho algumas cartas anónimas de professores desses, invariavelmente forradas de insultos e difamações pessoais de toda a ordem. Em nome da liberdade e da sua dignidade ofendida, dizem. Dizem, mas não sabem: a liberdade é outra coisa. E a dignidade também.
Espanta-me a falta de reflexão sobre a inversão ética da tese aqui contida: se alguém se recusa a subscrever as opiniões que emite é porque está com medo; e, se está com medo, é a prova de que a liberdade está ameaçada. Onde houver um cobarde, portanto, será sempre sinal de que a liberdade está em perigo - a conclusão até pode estar certa filosoficamente, o caminho para lá chegar é que representa uma inversão de valores. Se todos falássemos sob anonimato sem dúvida que viveríamos ainda em ditadura. E sabem quem seriam os primeiros a calar-se?

Miguel Sousa Tavares, In Expresso. Versão integral aqui, via O Jumento.
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A CIMEIRA DA VERGONHA

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sábado, março 15

PS: O COMÍCIO DO PORTO


O PS realizou o comício do Porto. Alguns defenderam que se tratou de uma manifestação dispensável, politicamente defensiva. A ideia faz sentido mas a luta política, como qualquer luta, é feita de avanços e recuos, ataques e defesas, rupturas e consensos … e, para encurtar razões, o comício foi um acto político corajoso!

Deu para perceber alguns aspectos curiosos que podem ter passado despercebidos ou ser desvalorizados: o regresso de Jorge Coelho à tribuna, as presenças de Correia de Campos e Isabel Pires de Lima, ministros recentemente remodelados e, mais importante, o sinal público de que Elisa Ferreira poderá vir a ser a candidata do PS à Câmara Municipal do Porto.

Se a minha antevisão estiver certa estes sinais são mais importantes para o futuro do que muitos possam pensar.
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ALGARVE - ESTRADA NACIONAL 125


De vez em quando gosto de regressar à minha terra e aquela estrada faz parte das minhas memórias mais longínquas. Tornou-se, com o passar do tempo, numa espécie de trilho para gincana, ou, se quisermos ser mais realistas, num cemitério. Não sei como vai ser executada a obra, nem o tempo real que vai demorar, mas é mais uma tarefa difícil a que este governo mete ombros. Aos governos pede-se que cumpram os programas e resolvam os problemas. Não sei se é para preparar o lançamento de portagens na Via do Infante mas é um imperativo para a promoção do desenvolvimento do Algarve dispor de uma via rodoviária decente, alternativa à Via do Infante, e essa via só pode ser a Estrada Nacional 125. A solução está mesmo à mão mas o mais difícil é ir além do blá blá blá, ou seja, fazer.
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EDUARDO BARROSO


Choque frontal: a excelência profissional de Eduardo Barroso contra a inveja nacional. Um dia ele disse-me, e disse também numa entrevista, sem citar nomes, que tinha ficado magoado por o termos excluído da lista de candidatos do MES a umas eleições. Devem ter sido as primeiras eleições do período pós 25 de Abril. A descrição da cena dita por ele é de morrer a rir. Diz ele, pois não me lembro de nada, que o chamamos e lhe dissemos que não podia ser candidato porque era sobrinho do Mário Soares. No lugar dele iria ser candidato o José Gameiro. Custa-me a acreditar mas devo reconhecer que se ele o diz deve ser verdade. Nunca mais se esqueceu dessa exclusão. Ele jura a pés juntos que é verdade. Foi deplorável. Como é deplorável ser apodado de mercenário da medicina! Um dos maiores, senão o maior, cirurgião português em actividade!
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quinta-feira, março 13

CONSERVEMOS O EQUILÍBRIO


“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”

Cadernos (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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AVALIAÇÃO, DEMOCRACIA, CONFLITO

Fairmount, Indiana, 1955

A necessidade de avaliação dos profissionais do serviço público é relativamente fácil de compreender. Como é fácil de reconhecer o papel da avaliação do desempenho individual dos funcionários na melhoria da qualidade dos serviços públicos. O que fica demonstrado pelos últimos acontecimentos é que em Portugal não existe cultura de avaliação e auto avaliação. Nesta área tudo tem sido, ao longo dos tempos, um fingimento. Mas esta não é uma questão específica dos professores. É uma questão que envolve toda a administração pública. O debate em torno da questão da avaliação seria inevitável, com mais ou menos intensidade, mais ou menos impacto público, mais ou menos conflitualidade, o que é inerente a qualquer grande mudança que se pretenda realizar na administração pública. No caso concreto dos professores entendam-se as razões e assuma-se o confronto. Em democracia o funcionamento das instituições e a aplicação da lei permitem, em liberdade, encontrar sempre solução para todos os conflitos.
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CORES E SÍMBOLOS

Imagem daqui

Quem pensa que em Portugal não há oposição política pode desenganar-se. Nunca, fosse qual fosse o regime, em Portugal, deixou de existir oposição política. Hoje mais do que nunca, à velocidade surpreendente das flutuações da opinião pública, a oposição pode ser obrigada a engolir o poder mesmo quando não está preparada para o digerir. E cada partido, com vocação de poder gera, em si mesmo, oposição às suas próprias políticas. Os símbolos e as cores são importantes nesta geometria do poder. No PS já existia o partido do punho e o partido da rosa. No PSD, a partir de agora, passa a existir o partido laranja e o partido azul. Verdadeiramente só o PCP não muda nem de cor, nem de símbolo e, ao contrário dos outros, se algum dia mudar morre.
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terça-feira, março 11

IGREJA E POLÍTICA

Episcopado espanhol felicita Zapatero

Deus lhes perdoe pelo mal que disseram que já foram castigados pelo voto popular. E tu, José olhai bem o arrependimento deles e sede cuidadoso na administração do verbo que sempre acreditei na tua boa fé.

O CARÁCTER

Águeda Sena, uma grande mulher da cultura portuguesa, enviou-me ainda a propósito disto, “O Carácter”, cujo autor é seu pai, Faria de Vasconcelos, acompanhado de uma simples dedicatória: Para o Eduardo Graça com afecto e admiração de Águeda Sena”.

Obrigada. Compreendo a mensagem e transcrevo alguns parágrafos soltos desse magnífico texto de seu pai, um extraordinário intelectual e pedagogo português, esquecido, cujos pensamento e acção foram marcantes na primeira metade do século XX:

Quero falar-vos do carácter.

É um tema que tem sido tratado muitas vezes. Há nele uma força de atracção e de fascinação poderosa e facilmente explicável. (…)

Uma pessoa de carácter não só delibera, não só pesa com vigor as razões que convém adoptar mas também toma uma decisão forte. Um acto de carácter é um acto de decisão pessoal, é a afirmação de uma acção intensa e vigorosa. (…)

Mas não basta ver com claridade, decidir-se pessoalmente. Uma pessoa de carácter é uma pessoa de acção, leva as suas decisões à prática, não fica fechado em si, nos seus castelos interiores, nos seus sonhos. Esse alguém quer dar vida às suas ideias, às suas decisões, tem sede e fome de realidades, o mundo exterior é luta pelo mundo interior que leva em si. (…)

Não fomos feitos para a luta e se a empreendemos, quantas vezes a abandonamos no meio do caminho. Fechamo-nos nas nossas casas, tapamos portas e janelas quando as responsabilidades e os ruídos da acção são mais fortes. E através de um buraquinho olhamos as peripécias do combate. Se eles ganham, estamos com eles e quase nos apoderamos do seu triunfo, se perdem, quando não lhes viramos as costas, caímos sobre eles como inimigos implacáveis. (…)

Uma qualidade mais do carácter é o entusiasmo, esse raro e largo poder de vibrar, de dar-se, de admirar.

O entusiasmo é criador, faz surgir a vida múltipla e fecunda. A palavra entusiasmo significa em Grego: “Deus está entre nós”. É admirável o sentido. E com efeito o entusiasmo tem algo de divino. Um ser entusiasta cria um mundo em si e cria-o em torno de si. (…)

Ser um carácter é criar e dar-se ao mesmo tempo! Nós os artistas, é o que fazemos.

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O POLIS, FARO E O DR. SILVA NOBRE

A propósito da descrição de um episódio (A Defesa de Faro)

Bela descrição que dá para pensar em tantas coisas, desde a evolução dos cuidados de saúde públicos à religião, desde os espaços públicos da cidade às suas figuras ilustres, como o Dr. Silva Nobre. A cidade que não sobrevive sem a iniciativa criadora das suas gentes, sem cuidar dos seus espaços mais nobres, sem criar riqueza, promovendo a economia, a educação, a cultura, a história, o ambiente, atraindo o investimento e a massa cinzenta.
Faro tem duas saídas para não se deixar apagar do mapa do desenvolvimento da região e do país: a universidade, pólo de atracção para a criação de riqueza na área do conhecimento e o turismo, pólo de atracção para criar riqueza na área da economia mercantil. Todos os investimentos estratégicos, numa época em que os recursos, incluindo os fundos comunitários vão ser cada vez mais escassos, deveriam ser canalizados, no essencial, para estas duas áreas.
O Polis pode ser um factor de mobilização de recursos útil para a dinamização de uma estratégia de desenvolvimento da cidade se não passar ao lado de qualquer uma delas.
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segunda-feira, março 10

SURPRESAS E AFECTOS

A Helena divulgou na Linha de Cabotagem o livro/objecto Primeiros Poemas (capa e dois poemas), ilustrado com aguarelas e grafismo da Isabel Espinheira, uma micro edição, destinada a ser prenda de Natal para a “família alargada” mas que se tornou, devido ao atraso, simplesmente num livro.

O livro/objecto, de concepção artesanal, apesar de ser realizado em tipografia, é uma homenagem à minha mulher Guida reproduzindo na capa, e no interior, uma fotografia que eu próprio lhe tirei no regresso de uma viagem a Sagres no verão de 1980 ou 81.

Foi inspirado num outro, esse sim de beleza excepcional, uma prenda de Natal que a Helena, no tempo próprio, me enviou. E assim corre a vida entre o que mais interessa: surpresas e afectos.
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