quinta-feira, março 5

MES - Anti-autoritário e de esquerda toda a vida…


Para os Caminhos da Memória

Na sequência do IV Congresso do MES, realizado a 8 de Julho de 1979, marcado pela vitória da moção intitulada “Nova Prática, Novo Programa, Outro Caminho”, foi aberto o caminho para a auto-crítica em relação à orientação política anterior e para uma demarcação, assumida e sem regresso, do MES face à chamada “Esquerda Revolucionária”.

Foi Vítor Wengorovius quem assumiu as funções de porta-voz desta ruptura que haveria de anteceder a extinção do MES, formalizada em 7 de Novembro de 1981, no emblemático jantar/festa realizado no pavilhão sobrevivente da Exposição do Mundo Português (ironias da história!).

Na política nada acontece por acaso, apesar dos imponderáveis que o acaso dita, e das idiossincrasias, por vezes bizarras que, em cada época, os dirigentes políticos ostentam. Tudo isto para dizer que, no caso do MES, não fui o primeiro a assumir a autocrítica dos seus erros, mérito que Nuno Brederode Santos, simpaticamente, me atribuiu, mas Vítor Wengorovius em entrevista concedida, em 19 (?) de Novembro de 1979, ao extinto diário “Portugal Hoje”:

“ (…) Entre os erros cometidos interessa hoje sublinhar, não tanto os derivados de discutíveis atitudes pessoais ou de relativa inexperiência devida à juventude da maioria dos seus dirigentes, mas os próprios estratégicos ou os mais importantes a nível táctico.

Contrariando as vantagens das suas origens (…) o MES veio a enredar-se rapidamente no confronto apressado em torno do marxismo-leninismo, a querer construir voluntaristicamente um partido desse tipo, a querer disputar a cintura industrial de Lisboa, dando muito pouca atenção quer ao operariado de outras zonas do país quer aos trabalhadores de serviços, quer à juventude (…) e a perder assim o seu papel original. Vogou depois ao sabor das oscilações do processo revolucionário (…).”

Nessa mesma entrevista VW, em nome do MES, explicou também, com detalhe, as razões da decisão tomada na reunião da sua Comissão Política, realizada em 18 de Novembro desse ano, que consagrava o rompimento definitivo, com a chamada “esquerda revolucionária”.

Embora mantendo em aberto, em teoria, uma via estreita para a criação de uma futura força partidária de esquerda “democrática, socialista e independente” (do PS e do PCP), que nunca viria a passar do papel, VW anunciou, publicamente, a 19 de Novembro de 1979, a decisão do MES de não concorrer às eleições legislativas intercalares de 2 de Dezembro de 1979 aconselhando, ao mesmo tempo, “aos partidos de esquerda com menores possibilidades de elegerem deputados” que desistam a favor do PS ou da APU” tendo em vista o “voto eficaz contra a direita” que concorreria unida na “Aliança Democrática” (AD).

Em declarações prestadas à imprensa, nesse mesmo dia, VW explicou as razões que levaram ao fracasso das negociações entre o MES, a UDP e a UEDS tendo em vista a criação de uma “frente eleitoral” alternativa, destinada a concorrer às eleições intercalares que se avizinhavam: “ E tal aconteceu (…) devido às posições de auto-afirmação partidária tomadas quer pela UDP quer pela UEDS, vindo estas a apresentar candidaturas isoladas que de forma nenhuma respondem às condições mínimas de uma candidatura unitária com verdadeira credibilidade.[Diário de Lisboa de 21/11/79.]

Na verdade o IV Congresso do MES fez emergir uma orientação política que não podendo já fazer regressar o MES às suas origens de força política de “esquerda socialista”, desempenhando um papel de “charneira” entre as diversas esquerdas, assumiu como inevitável o fim da sua breve, empolgante e solitária aventura partidária.

Talvez o MES tenha morrido não uma, mas três vezes: com a ruptura do I Congresso, em Dezembro de 74; com o apelo ao voto no PS, ou na APU, nas eleições intercalares de Dezembro de 79 e, finalmente, em apoteose, no Jantar/Festa de extinção, em Novembro de 81. Anti-autoritário e de esquerda toda a vida...
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quarta-feira, março 4

DO JORNALISMO POR UM JORNALISTA

Entrevista com Jean Daniel

A capacidade de fazer o mal que tem o jornalista é devastadora. Em um dia ou em uma hora se pode desmontar uma reputação. É um poder terrível.

Não é a frase antecedente que me conduz a postar a entrevista com Jean Daniel. É o cruzamento, a propósito dela, da vida dos protagonistas cujo percurso e obra sempre me interessaram muito. Neste caso cruzam-se Jean Daniel, um velho jornalista, no activo, e Albert Camus, apresentado como seu inspirador, na sua faceta de jornalista. O tema é de uma actualidade desarmante e a sua simples abordagem mostra a actualidade de princípios éticos antigos. Um sinal de esperança.

[Também no ir ao fundo e voltar.]
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terça-feira, março 3

O EURO ... DEPRESSA!


Les déclarations se multiplient à l'Est, pour demander à l'Union européenne (UE) de "simplifier les procédures d'adhésion à la zone euro", selon les termes du premier ministre polonais, Donald Tusk, quelques jours avant le sommet des Vingt-Sept, à Bruxelles dimanche 1er mars. Sur les dix pays de la région ayant rejoint l'UE depuis 2004, huit ont toujours leur propre monnaie. Les trois pays baltes ont intégré le mécanisme de change MCE II, antichambre de l'entrée dans la zone. Seules la Slovénie et la Slovaquie ont adopté l'euro, partagé par 16 Etats membres de l'UE.
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UM LUGARZINHO NO CÉU

estreia dia 6 de Março na Guilherme Cossoul

O altaCena, grupo de teatro da histórica Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, estreia o seu novo espectáculo, Um Lugarzinho no Céu , cuja acção se passa na rua, numa zona ribeirinha e que tem como personagens centrais três arrumadores e uma empregada doméstica. Um deles, Mirov, é ucraniano e num longo telefonema que faz para a sua mulher, fala em russo. Esse telefonema não tem (propositadamente) tradução para português.

Fidélio, o Toxicodependente, Casimiro, o Jornalista, Mirov, o Ucraniano e Anunciada, empregada doméstica. O que é que os une naquela zona onde ninguém passa, onde ninguém vive? Será a tragédia que se avizinha?

SINOPSE

Fidélio, Casimiro e Mirovic são arrumadores. Anunciada, empregada doméstica, é namorada de Fidélio, trazendo-lhe todos os dias dinheiro, comida e cigarros. Fidélio é o patrão da zona e é ele que comanda o trabalho de Mirov e Casimiro. Embora Mirov faça tudo para passar despercebido, já que o seu único objectivo é arranjar dinheiro para voltar para casa, acaba por ser o alvo do ciúme de Fidélio, já que Anunciada manifesta por Mirov um carinho especial. Dá-lhe comida e cigarros. Fidélio começa a ficar desconfiado aumentando a sua agressividade para com Mirov. Anunciada, preocupada, decide pagar uma viagem de camioneta para a Ucrânia, de modo a acabar com o seu drama. Fidélio apercebe-se e vem pedir contas a Casimiro, com quem Anunciada tinha combinado tudo. No calor da discussão tira de uma ponta e mola e, quando o ataca, Mirov atravessa-se à frente e morre. Fidélio é preso, Mirov morre e consegue finalmente regressar à sua terra, num caixão pago pela embaixada do seu país. Anunciada tem direito ao seu momento de glória ao ser a protagonista de uma notícia que saiu no jornal.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Texto:
Joaquim Paulo Nogueira
Encenação: Joaquim Paulo Nogueira, Joana Lobo (Assistente de encenação /Dinâmicas de corpo e voz)

Actores: Ana Gil, Filipe Luz, Miguel Santos, Rui Pereira e José Carlos Pontes (pianista)
Música original: José Carlos Pontes
Espaço Cénico e Figurinos: Isabel Alves Mendes
Espaço sonoro: Hugo Guerreiro
Graffitis: Marco Almeida
Iluminação: Marinel Matos
Sonoplastia: Dina Marques
Luminótecnia: Carlos Casimiro e Élio Luís
Cartaz/Programa: Tiago Alves Mendes /Magnésio
Direcção de Produção: Élio Luís
Retroversão do telefonema de Mirov: Valentina Naumyuk do Grupo RefugiActo
Fotografia: David Marçal e Daniel Lobo Antunes

Produção: AltaCena
Ideia original: Joaquim Paulo Nogueira, José Boavida e Pedro Alpiarça
Duração: 1h30
Classificação etária: M12
Preço: 7,5 € e 5 €
Apresentações: Março: 6,7,13,14,21,27,28 Abril: 3,4 de às 21h30
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domingo, março 1

SESSENTÕES


Kathleen Sebelius vai ser a “ministra da saúde” de Obama e Vital Moreira o cabeça de lista do PS nas eleições para o parlamento europeu. A emergência dos sessentões, ou o envelhecimento activo trazido para a política, é um efeito colateral do envelhecimento demográfico. As sociedades ocidentais dão sinais, paulatinamente, de ter assimilado as vantagens da incorporação da experiência dos mais velhos na direcção da coisa pública.
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sábado, fevereiro 28

VITAL MOREIRA

Decorre em Espinho o Congresso do PS. A cobertura mediática carrega nas tintas da monotonia só quebrada pela exaltação da ausência de Manuel Alegre. A imagem mediática que passa é de um Congresso alinhado nos elogios ao governo do PS e ao seu líder. Sem asperezas, nem confrontos, nem diferenças de opinião. Os jornalistas sem “matéria” de escândalo entrevistam-se a si próprios. De súbito Sócrates anuncia o cabeça de lista às eleições europeias: Vital Moreira.Trata-se de um intelectual, académico e político que não é filiado no PS e que, em matérias relevantes, tem manifestado algumas discordâncias com a linha oficial do partido e do governo. No seu discurso ao Congresso Vital Moreira aceita o desafio e declara-se "socialista free-lance". Afinal o PS ainda consegue criar expectativas, surpreender pela novidade e pela diferença. Os jornalistas buscam, afanosamente, entre os militantes anónimos, uma declaração de desagrado pela escolha. Em vão. A escolha parece ser, entre muitas possíveis, uma boa escolha, alheia à demagogia e ao populismo e fiel à tradição do PS na luta pela construção de um europeísmo sem tergiversações, nem cedências, à emergência dos nacionalismos e da xenofobia. Sócrates escolhe para uma eleição difícil, tradicionalmente pouco participada, um cabeça de lista que permitirá acomodar qualquer resultado. Digam o que disserem, pensem o que pensarem, uma jogada política de mestre.
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Bob: nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.

Manche. Saint-Sauveur-Le-Vicomte. 16th June 1944. US soldier.


“Bob ao ataque nos prados de Verão. O seu capacete coberto de goiveiros e de ervas bravas.”

“Bob à l´attaque dans les prairies d´été. Son casque couvert de ravenelles et d´herbes folles. »


Bob: milhões de mortos jazem nos prados
de verão da Normandia. Nasci no tempo
de enterrar os mortos. Cresci com o som
do choro longínquo dos seus órfãos. Aqui
à ponta ocidental não chegou a liberdade
de chorar os capacete cheios de lágrimas
suspensos nas mãos das viúvas solitárias.

Bob: milhões de mortos em nome da paz
não foram suficientes. O teu sangue regou
o chão da Europa e no verão da Normandia
nasceu a esperança de um novo dia. Bob:
ainda bem que vieste. A barbárie sucumbiu.
O teu capacete coberto de goiveiros e ervas
bravas foi um alvo fácil como fácil é morrer.


* Citação de 1944, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 4 (Janeiro de 1942 – Setembro 1945) - página 121, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (1935 – 1948) – “Cahier IV (janvier 1942 – septembre1945) – página 1021, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original, aqui: folles/bravas (?). Neste caso a citação que serviu de epígrafe não corresponde aquela que, neste momento, leio no original. Não encontro uma explicação imediata para a discrepância.)
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sexta-feira, fevereiro 27

GENERALIDADES E INSINUAÇÕES

Susana Raab

Fernando Ulrich pede mais reflexão no combate à crise e quer saber o que se passou no Freeport

Cada um é livre de expressar as suas opiniões. Está fora de questão e por via do exercício pleno da liberdade de opinião todos os dias estamos sujeitos a ouvir os mais diversos epígonos perorar acerca de todos os assuntos, questões e processos.

Contra nossa vontade somos obrigados, com uma frequência avassaladora, a sentarmo-nos à mesa do café, da taberna ou do banco de jardim, ouvindo “falar mal”, o único desporto nacional que dá conforto à maioria dos portugueses.

Muito pior é quando o discurso do “falar mal” alcança o patamar da legitimidade, capturada por representantes dos poderes instituídos, ou por reputados comentadores, por fuga de informação ou informação em fuga.

Acontece que quase tudo o que se ouve, neste exercício de “falar mal”, é verdade excepto aquilo que toca em questões que dominamos tecnicamente, ou conhecemos por experiência própria, pois logo aí verificamos a pura nudez da mentira.

O populismo medra na ignorância e os ignorantes ganham diploma de sabedoria das mãos dos pregadores do populismo. No caso apetecia-me perguntar a Fernando Ulrich como vai de saúde o banco a que preside. O que se passou na banca e, em particular, no BPI?
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segunda-feira, fevereiro 23

UMA NOITE ESPECIAL

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ANTINOMIAS POLÍTICAS


As caixas de comentários dos jornais online, sites e blogues, tudo o que mexe na esfera da informação no espaço virtual, ou como lhe queiram chamar, são uma choldra. São a face visível da mente de muitos comentadores encartados e bem vencidos (de vencimento) que debitam dislates, insinuações e mentiras no espaço público. A liberdade que a democracia política permite tem a vantagem extraordinária de banalizar o dislate, a insinuação e a mentira. É uma das faces da sociedade de consumo. Mas se o povo ficar à mingua como se vai aguentar a democracia liberal na Europa? De súbito uma velha questão torna-se actual! Camus no imediato pós guerra, num texto escrito entre Setembro e Outubro de 1945, interrogava-se:

Antinomias políticas. Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais. Esta escolha não é fácil. Pareceu-me sempre que na realidade não há carrascos, há apenas vítimas. No fim de contas, bem entendido. Mas é uma verdade que está pouco espalhada.

Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos, e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.

Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso?
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sábado, fevereiro 21

Não posso viver fora da beleza.

“Não posso viver fora da beleza. É o que me torna fraco diante de certos seres.”

“Je ne peux pas vivre hors de la beauté. C´est ce que me rend faible devant certains êtres. »*


A caminho do futuro incerto
se joga a minha vida
e os gestos dela
tudo se joga menos a pura
beleza daquela face
e o meu olhar nela

não seria capaz de viver
fora da beleza
e um olhar por vezes basta
novidade do breve desejo
arrebatado e triste
no aceno de despedida

chegar partir abrir a mão
apertar os lábios
e lamber as feridas
sorver a lágrima
que cai pelo rosto desabrida
e não perder o trilho

amar o dia como a um filho
que se viu nascer
e admirar a beleza do seu rosto
olhar o anoitecer
e a luz que ilumina o caminho
me faz crer

não posso viver fora da beleza
perdida a juventude
o meu corpo oblíquo
rememora resiste e reverdece
qual movimento do desejo
que se não perde e cresce.


* Citação de 1943, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 4 (Janeiro de 1942 – Setembro 1945) - página 88, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (1935 – 1948) – “Cahier IV (janvier 1942 – septembre1945) – página 994, Oeuvres complètes – II. (Mesmo quando surgem duvidas tenho mantido sempre a tradução original.) [Também no Caderno de Poesia.]
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quinta-feira, fevereiro 19

RENÉ CHAR


QUE VIVA!

Este lugar é só um voto do espírito, um contra-sepulcro.

Na minha terra preferem-se as ternas provas da primavera e os pássaros mal-vestidos aos objectivos longínquos.

A verdade espera pela aurora à luz de uma vela. O vidro da janela não está limpo. Pouco importa ao atento.

Na minha terra não se fazem perguntas a um homem comovido.

Não há sombra maligna no barco soçobrado.

(…)

Só se pede de empréstimo o que se pode devolver aumentado.

Há folhas, muitas folhas, nas árvores da minha terra. Os ramos podem escolher não ter frutos.

Ninguém acredita na boa-fé do vencedor.

Na minha terra agradece-se.

“A Sesta Branca”, in Os Matinais (1947-49)

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CHAR FAZ 33 ANOS EM 1940.

CHAR É DENUNCIADO COMO MILITANTE DE EXTREMA-ESQUERDA À PERFEITURA DE VAUCLUSE.

AS SUAS ANTERIORES ACTIVIDADES NO MEIO SURREALISTA SERVIRAM TAMBÉM DE PRETEXTO PARA A DENÚNCIA.

PASSA À CLANDESTINIDADE E COM O NOME DE CAPITÃO ALEXANDRE ORGANIZA A RESISTÊNCIA, DIRIGE A SAP, A SECÇÃO DE ATERRAGEM E PARAQUEDISMO, DESDE 1940 A 1944.

[RENÉ CHAR – ESTE FANÁTICO DAS NUVENS, Uma antologia organizada por Marie-Claude Char e Y. K. Centeno, tradução de Y.K. Centeno – Cotovia, uma prenda recente do António Silva.]
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FRANÇA - A CRISE (2)


Sommet social : 2,6 milliards d'euros pour les classes moyennes
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quarta-feira, fevereiro 18

PRÉ-HISTÓRIA


Seduziu-me também esta capa da qual me lembro muito bem. E lembrei-me que continuo a ser adepto incondicional do MES talvez porque me poupa a maçada de defender as suas propostas. A simples, e sábia, decisão de o extinguir libertou-me, e aos seus militantes, aderentes e simpatizantes, das obrigações que a sua existência exigia. Resta uma espécie de reconfortante filiação nas memórias pois nelas cabe toda a gente e ninguém.

Só não estou de acordo com o Pedro Rolo Duarte no parêntesis em que afirma que franjas do MES terão estado na origem do Bloco de Esquerda. As relações históricas entre o MES, a UDP e a LCI, em conjunto ou separado, revelam uma profunda incapacidade de gerar consensos duradoiros em prol da criação de uma frente política. Na verdade só ocorreram encontros de ocasião. Vou escrever um dia destes, com mais detença, acerca deste assunto.

Por isso não posso deixar de sorrir quando o Bloco de Esquerda, hoje, se reclama da Esquerda Socialista. Quanto muito foi o MES, por puro mimetismo, na época remota dos “amanhãs que cantam”, que se deslocou para o campo da esquerda revolucionária, ou extrema-esquerda, que é o verdadeiro campo político das organizações que deram origem ao Bloco.

O Bloco, ou interpostos ideólogos por ele, quando reivindica o ideário da esquerda socialista ensaia uma manobra, seguindo a velha táctica “entrista”, típica dos partidos trotskistas, visando capturar parte da “inteligência afecta ao PS”. O tom beatífico do seu líder é a face pós moderna da extrema-esquerda, já falecida, de cujos programa, e ideologia, a esmagadora maioria dos antigos acólitos do MES, por estarem vivos, se separaram há muito.

Não quer isto dizer que no Bloco não se possam encontrar meia dúzia de antigos filiados no MES, como também os há no PSD, mas, com toda a estima e consideração, são o que eu chamo de activos tóxicos. É no que dá a bendita liberdade … Haja saúde!
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