Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, janeiro 27
sexta-feira, janeiro 19
EUGÉNIO DE ANDRADE
Eugénio de Andrade (Fundão, Póvoa de Atalaia, 19 de Janeiro de 1923 — Porto, 13 de Junho de 2005)
Li hoje a notícia. O Eugénio de Andrade está muito doente
Uma notícia não desfaz o mundo nem o inexorável destino.
Peguei num livro e os teus poemas límpidos como a água
Perto da nascente correram pela minha face como gotas
Salgadas que se desfaziam nas letras cerzidas a ouro que
Soletrei com um olhar subitamente luminoso vendo-te
De pé no lugar do poeta que se deixa tomar pela beleza.
Li hoje a notícia. É verdade. A pena parou de garatujar
Versos claros, transparentes, amorosos, mais que perfeitos.
“A beleza não é lugar de perfeição.” Retrato de Actriz (Eunice)
Nemésio (Vitorino): “Ninguém te lê os versos, tão admiráveis
Alguns, e a prosa não tem muitos leitores, …” Admirável
Admiração a tua fazendo belo o mundo à volta, talentosos
Os outros, admiráveis se tu os sonhaste belos por dentro.
Li hoje a notícia. Um velho livro de poemas de Federico.
Ao teu jeito português foi o primeiro que li dele. A paixão
Desabrida em sangue cigano escorrendo pelos lábios
Sedentos de um amor implacável que ardia em chamas.
Soube o que era a Espanha mais por ele e por ti juntos
Do que por mil e uma travessias de fronteiras que além
De nós tinham o encanto das mulheres que se assumiam.
Li hoje a notícia. Já sabia que havias de adoecer um dia.
E o anúncio ao menos evita que alguém amigo te faça
O que fizeste ao Sena: “É por orgulho que já não sobes
As escadas? Terás adivinhado...” Senti ternura. A mão
Escapuliu-se-me e tomou o lugar do coração que pulsou
Mais depressa agarrando tudo o que havia por perto
Fazendo uma concha de terra florida para te guardar.
A voz. Li hoje a notícia. Aguardo a tua despedida tal
Como se fosse a de um familiar íntimo perto de mim.
Seguro a tua mão ouço o suspirar do teu corpo no fim
Conheço os teus versos mas não sei se será suficiente.
E me interrogo que farão da tua memória os vindouros.
Não foste fonte de poder nem encantador de serpentes.
Simplesmente poeta. Quanto baste para não ser gente.
Lisboa, 7 de Junho de 2004
Li hoje a notícia. O Eugénio de Andrade está muito doente
Uma notícia não desfaz o mundo nem o inexorável destino.
Peguei num livro e os teus poemas límpidos como a água
Perto da nascente correram pela minha face como gotas
Salgadas que se desfaziam nas letras cerzidas a ouro que
Soletrei com um olhar subitamente luminoso vendo-te
De pé no lugar do poeta que se deixa tomar pela beleza.
Li hoje a notícia. É verdade. A pena parou de garatujar
Versos claros, transparentes, amorosos, mais que perfeitos.
“A beleza não é lugar de perfeição.” Retrato de Actriz (Eunice)
Nemésio (Vitorino): “Ninguém te lê os versos, tão admiráveis
Alguns, e a prosa não tem muitos leitores, …” Admirável
Admiração a tua fazendo belo o mundo à volta, talentosos
Os outros, admiráveis se tu os sonhaste belos por dentro.
Li hoje a notícia. Um velho livro de poemas de Federico.
Ao teu jeito português foi o primeiro que li dele. A paixão
Desabrida em sangue cigano escorrendo pelos lábios
Sedentos de um amor implacável que ardia em chamas.
Soube o que era a Espanha mais por ele e por ti juntos
Do que por mil e uma travessias de fronteiras que além
De nós tinham o encanto das mulheres que se assumiam.
Li hoje a notícia. Já sabia que havias de adoecer um dia.
E o anúncio ao menos evita que alguém amigo te faça
O que fizeste ao Sena: “É por orgulho que já não sobes
As escadas? Terás adivinhado...” Senti ternura. A mão
Escapuliu-se-me e tomou o lugar do coração que pulsou
Mais depressa agarrando tudo o que havia por perto
Fazendo uma concha de terra florida para te guardar.
A voz. Li hoje a notícia. Aguardo a tua despedida tal
Como se fosse a de um familiar íntimo perto de mim.
Seguro a tua mão ouço o suspirar do teu corpo no fim
Conheço os teus versos mas não sei se será suficiente.
E me interrogo que farão da tua memória os vindouros.
Não foste fonte de poder nem encantador de serpentes.
Simplesmente poeta. Quanto baste para não ser gente.
Lisboa, 7 de Junho de 2004
sábado, janeiro 13
NOVAS LIDERANÇAS
Interrogo-me muitas vezes acerca do que me parece ser uma peculiaridade do capitalismo português: ser um capitalismo sem capitalistas. O coração do capitalismo, a banca, está deserto de capitalistas portugueses. Todos os bancos, com exceção da CGD (Público), da Caixa de Crédito Agrícola (Cooperativo)e do Montepio (Mutualista), são maioritariamente detido por capital estrangeiro. Os capitalistas portugueses, os ditos privados, têm vindo a buscar outras paragens e tornaram-se, quanto muito, filantropos mais para efeitos de marketing do que para promoção do bem comum. Os liberais, paradoxalmente, clamam pelo apoio do Estado, enquanto exploram as suas falhas, e os seus grupos de reflexão (e pressão) estão retirados em parte incerta, ou ensaiando guerrilha comunicacional. No dia da eleição do novo líder do PSD fico curioso por conhecer o núcleo duro do programa económico/social do PSD que o distinga do programa do PS. Um enigma para desvendar nas próximas semanas!
domingo, janeiro 7
Pelo 1º aniversário da morte de Mário Soares
Pode pensar-se o que se quiser, ser afável (ou feroz) adversário, admirador incondicional ou simpatizante complacente, Mário Soares será dos raros nomes, senão o único, que ficará na memória coletiva na história do século XX português.
sábado, janeiro 6
O FUNERAL DE ALBERT CAMUS - 6 de JANEIRO DE 1960
Le 6 janvier 1960, une foule d´anonymes et quelques amis se retrouvent devant la grande maison de Lourmarin où le corps d´Albert Camus a été transporté dans la nuit. Quatre villageois portent le cercueil que suivent son épouse, son frère Lucien, René Char, Jules Roy, Emmanuel Roblès, Louis Guilloux, Gaston Gallimard et quelques amis moins connu, parmi lesquels les jeunes footballeurs du village. Le cortège avance lentement dans cette journée un peut froide et atone de ce « pays solennel et austère – malgré sa beauté bouleversante ».
Devant le caveau, Francine Camus jette une rose sur le cercueil. Le maire prononce une courte allocution et le silence n´est troublé que par le bruit de la terre sue le bois de la bière.
L´heure est de recueillement. Les communiqués officiels, les télégrammes affluent. Tous unanimes dans l´hommage et l´affliction conjugués.
Les temps ont changé, et ils sont nombreux, les détracteurs d´hier qui saluent aujourd´hui la disparition de celui aux côtés duquel ils avaient obstinément refusé de marcher. Celui qui, au terme de tant d´attaques et de malveillance, avait choisi de s´enfermer dans un douloureux silence.
Les premiers tirs étaient venus de gauche, et plus particulièrement du parti communiste qui ne pardonnait pas à cet ex-compagnon de route de prendre du recul, de regarder en face certaines réalités. De dire l´intolérable : le stalinisme, les camps, les idéaux mis au pas par des tyrans de l´histoire.
In Les Derniers Jours de la vie d´Albert Camus, José Lenzini, Actes Sud
quinta-feira, janeiro 4
quarta-feira, janeiro 3
Pelo aniversário da morte de Albert Camus
1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994.
segunda-feira, janeiro 1
1 JANEIRO 2018
Primeiro dia de um novo ano. O mais notável das conversas da passagem do ano, no que toca à política, foi a ausência do tema das finanças públicas. É uma novidade absoluta face aos anos anteriores (muitos) e deve-se, como sempre, à improvável conjugação de fatores. Juros abaixo do que seria expetável, politica de compra de divida seguida pelo BCE, astuta, e competente, gestão orçamental de Centeno em contexto de estabilidade politica interna, reconhecimento pela UE de que, afinal, existe alternativa às politicas orientadas pela ortodoxia liberal. Ao que dizem os especialistas, que se enganam muitas vezes, somente lá para os idos de 2019/2020 poderá ocorrer alteração significa face ao cenário atual. Ainda para mais os sinais de instabilidade politica estão do lado de Espanha, Alemanha e Itália (para ser minimalista)assumindo Portugal um papel novo na cena europeia e internacional o que só para os que desconhecem a história é facto inédito. Os dois factos mais relevantes dos últimos tempos foram as eleições de Guterres (ONU)e Centeno (EUROGRUPO) a que se seguirá a de Vitorino (OIM). Os nossos problemas não resultam de continuarmos a ser um país periférico (a geografia tem diversas leituras), mas da incapacidade (ou dificuldade)em criar elites com massa critica para encetar, de forma consequente, um verdadeiro processo de modernização inovador do nosso modo de viver e produzir riqueza. Não vale a pena embarcar nos visões conservadoras isolacionistas (anti europeias e anti globalização), nem nos cantos de sereia dos diversos populismos que estão associados aos velhos slogans salazaristas. O caminho do progresso passará sempre por afirmar Portugal como parceiro ativo, cosmopolita, num mundo aberto. Novo ano, novas esperanças.
sábado, dezembro 30
POPULISMOS
Neste breve interregno do trabalho (tornei-me obsessivo com o trabalho) em vésperas do final do ano - nada mais que uma marca no calendário - dou comigo a pensar que o maior perigo do nosso tempo são os populismos. De manifestações sociais filhas de ressentimentos, desilusões, pilhagens, misérias e injustiças, assumem-se cada vez com maior expressão politica. Os populismos são a antecâmara da tirania seja qual for a sua ideologia - de esquerda ou de direita, assumindo-se, ou não, com a defesa em todo o esplendor de seus horrores. Os exemplos estão à vista com suas legiões de propagandistas e doutrinadores de todas as qualidades e graus.
segunda-feira, dezembro 25
ANIVERSÁRIO DO I CONGRESSO DO MES ( 21 e 22 dezembro 1974)
Por estes dias de solstício de inverno (21 e 22 de dezembro) passou mais um aniversário do I Congresso do MES. Para quem não saiba, por razões da usura do tempo, trata-se de um pequeno partido político criado, de facto, imediatamente antes do 25 de abril de 1974 mas formalizado somente após a restauração das liberdades, em data imprecisa no plano burocrático, mas precisa no plano político, a meu ver, na manifestação do 1º de maio de 74, em Lisboa, através da inscrição da sua sigla – ainda sem símbolo - num pano que muitas generosas mãos arvoraram.
Foi longo o período de gestação do MES, ainda mais se medido à velocidade vertiginosa dos acontecimentos pós 25 de abril de 1974, sendo o seu I Congresso realizado somente cerca de oito meses após o dia 25 de abril. Naquele contexto oito meses era uma eternidade … Este processo, trespassado por lutas e debates, teve muitos e ilustres protagonistas oriundos de diversos sectores da oposição à ditadura. Muito já foi escrito, estudado e debatido acerca da ditadura, seus protagonistas e processos (apesar de alguns, nos quais me incluo, acharem que foi pouco).
O despretensioso escrito que dou à estampa deve-se, no essencial, à necessidade que sinto, de manter viva a memória e divulgar nomes de cidadãos – dos quais somente uma meia dúzia têm notoriedade pública - que partilharam a experiência única, e irrepetível, de participarem numa revolução. De onde surgiram, o que os impeliu a reunirem-se sob uma mesma bandeira, o que os entusiasmou, o que ganharam e perderam, quando, e como, se desiludiram, quais os percursos pessoais e profissionais que percorreram não vem ao caso.
O que quero mesmo, repetidamente, de forma consciente e voluntária, é colocar a memória e os nomes de protagonistas do MES (infelizmente somente parte deles) não como resquício de um passado glorioso, mas como legenda de um acontecimento histórico concreto que permitiu restaurar, apesar de todas as faltas e erros, o mais precioso bem de que uma comunidade humana se pode orgulhar, a liberdade. Aquisição que, como todos sabemos, nunca é definitiva conquistando-se, a duras penas, no quotidiano da vida, ontem, hoje e amanhã.
Tenho escrito acerca do MES, que o mesmo é dar rosto a pessoas que, a partir da segunda metade do século XX, fizeram parte de um relevante sector intelectual não-alinhado com o Partido Comunista, de um segmento do movimento sindical/operário de base forjado num programa inovador de cariz, assumidamente, anti capitalista, de um núcleo duro do movimento estudantil que se havia radicalizado, saindo da órbita dos comunistas e dos grupos maoistas, após as lutas de 1969 e de uma franja significativa do movimento católico progressista que se bateu duramente, em particular, contra a guerra colonial.
As confluências de diversas correntes sectoriais, através dos seus activistas, no MES foi possível pela acção de muita gente que assumiu simples, ousadas ou mesmo inúteis tarefas, assumindo um papel relevante em cada uma delas, que não sou capaz de fazer caber neste escrito, mas que me apetece referenciar, correndo o risco do subjectivismo de meu juízo, algumas individualidades que muito influenciaram o desenvolvimento da curta história do MES.
Serei inevitavelmente injusto para muitos amigos que prezo mas preciso, neste breve exercício, de ser sucinto.
- No sector intelectual, Nuno Brederode Santos que, como já descrevi noutras crónicas, com descrição e rara inteligência/intuição política, foi o verdadeiro mentor da opção pela saída do MES da corrente política que sempre foi publicamente associada à liderança de Jorge Sampaio, a sua personalidade de referência mais marcante em termos políticos e com notoriedade pública até ao presente;
- No sector sindicalista/operário António Santos Júnior, líder incontestado do movimento operário, com origem nas lutas da TAP, que havia de encabeçar uma lista vencedora nas eleições do Sindicato dos Metalúrgicos, sendo silenciado quando se preparava para tomar a palavra no comício do 1º de maio em nome do MES e Agostinho Roseta, desde sempre ligado de forma continuada, e persistente, à acção politico-sindical que originou uma corrente sindical não comunista que haveria de desembocar, com todas as suas vicissitudes, na UGT;
- No movimento estudantil Alberto Martins, pelo papel desempenhado no despoletar da crise académica de 1969 em Coimbra, afrontando de forma desabrida os ditamos do regime e Ferro Rodrigues no movimento estudantil de Lisboa, em particular, em Económicas que havia sido transformada, após 1968, na peugada do movimento de Maio em França, numa espécie de "território libertado”;
- No movimento dos católicos progressistas, Nuno Teotónio Pereira, oriundo de famílias conservadoras, com obra de referência na actividade profissional de arquitecto, tendo vindo a tornar-se numa referência incontornável na luta contra a guerra colonial, e a ditadura, para as novas gerações e Vítor Wengorovius, o mais intenso mobilizador de vontades, o orador mais infatigável de todos, sempre buscando consensos, superando divergências e reparando relações.
(Manuel Serra adversário direto, e assumido, de Mário Soares no I Congresso do PS, realizado a uma semana de distância do I do MES, no mesmo local, contou-me, na última conversa antes de falecer, que havia reunido com VW para desafiar o MES a aderir ao PS logo em dezembro de 1974, criando condições para ganhar aquele Congresso, o que VW nunca me revelou.)
O MES constituiu-se, formalizando-se, num Partido a custo pois as suas raízes beberam muito da ideologia libertária, que havia esmorecido ao longo do período da ditadura, mas que César de Oliveira fez retornar propondo, e fazendo vencer, a consigna que o MES adaptou nos seus primórdios: «A emancipação dos trabalhadores tem de ser obra dos próprios trabalhadores».
O MES foi, na verdade, um partido minoritário de elites, e de causas perdidas, nunca se assumindo como projecto politico de poder, abordando as eleições às quais concorreu – constituintes de 1975 e legislativas de 1976 - com um surpreendente espírito de cruzada pedagógica junto dos portugueses, que nunca haviam conhecido a cor da liberdade, razão pela qual, sem apelo nem agravo, em todas foi estrondosamente derrotado.
O MES foi, no seu âmago, um partido da esquerda radical, mais do que um partido esquerdista, lidando mal com alinhamentos ideológicos mesmo aquando da sua deriva marxista-leninista, reconheçamo-lo, uma mera proclamação artificial e dolorosamente patética. O MES foi um esboço de casa comum na qual se acolheram cidadãos desalinhados – livres de compromissos com o antigo regime - que aspiravam combater as brutais desigualdades e iniquas misérias herdadas do “Estado Novo”.
Nele se acolheram uma plêiade de altos quadros intelectuais, operários, sindicalistas, estudantis, activistas de movimentos sociais emergentes, com escassa experiência política, que na voragem de um singular tempo de brasa, sonhavam – sob diversos e contraditórios ideários socializantes - a mudar tudo na sociedade portuguesa fazendo do MES, na sua breve existência, antes e pós I Congresso de 21 e 22 de dezembro de 1974, um espaço de rebeldia e, no período fundador, de criatividade como revelam, por exemplo, as designações de inúmeras estruturas criadas e a obra gráfica, criada por Robin Fior, para a criação de uma imagem para o MES.
O MES foi, por fim, um partido que ousou auto extinguir-se – se bem que nem todos os que nele tomaram parte tenham concordado com o “sacrifício” - tendo cada um dos seus membros, ao longo do tempo, saído, em liberdade, dando ca aminho às suas vidas nos mais diversos caminhos. Extinguindo-se, por ato público o MES assumiu, de forma radical, o fracasso do seu projecto político salvando a essência dos sonhos que presidiram à sua criação.
Um Movimento que influenciou uma geração inteira e que, 40 anos passados, deixou um legado de luta por causas que genuinamente foram (e são) assumidas por justas, porque fundadas na aspiração à igualdade, justiça social e liberdade.
Que viva!
(Republicação de um post de 22 de dezembro de 2014 com uma pequana alteração na frase de abertura.)
Foi longo o período de gestação do MES, ainda mais se medido à velocidade vertiginosa dos acontecimentos pós 25 de abril de 1974, sendo o seu I Congresso realizado somente cerca de oito meses após o dia 25 de abril. Naquele contexto oito meses era uma eternidade … Este processo, trespassado por lutas e debates, teve muitos e ilustres protagonistas oriundos de diversos sectores da oposição à ditadura. Muito já foi escrito, estudado e debatido acerca da ditadura, seus protagonistas e processos (apesar de alguns, nos quais me incluo, acharem que foi pouco).
O despretensioso escrito que dou à estampa deve-se, no essencial, à necessidade que sinto, de manter viva a memória e divulgar nomes de cidadãos – dos quais somente uma meia dúzia têm notoriedade pública - que partilharam a experiência única, e irrepetível, de participarem numa revolução. De onde surgiram, o que os impeliu a reunirem-se sob uma mesma bandeira, o que os entusiasmou, o que ganharam e perderam, quando, e como, se desiludiram, quais os percursos pessoais e profissionais que percorreram não vem ao caso.
O que quero mesmo, repetidamente, de forma consciente e voluntária, é colocar a memória e os nomes de protagonistas do MES (infelizmente somente parte deles) não como resquício de um passado glorioso, mas como legenda de um acontecimento histórico concreto que permitiu restaurar, apesar de todas as faltas e erros, o mais precioso bem de que uma comunidade humana se pode orgulhar, a liberdade. Aquisição que, como todos sabemos, nunca é definitiva conquistando-se, a duras penas, no quotidiano da vida, ontem, hoje e amanhã.
Tenho escrito acerca do MES, que o mesmo é dar rosto a pessoas que, a partir da segunda metade do século XX, fizeram parte de um relevante sector intelectual não-alinhado com o Partido Comunista, de um segmento do movimento sindical/operário de base forjado num programa inovador de cariz, assumidamente, anti capitalista, de um núcleo duro do movimento estudantil que se havia radicalizado, saindo da órbita dos comunistas e dos grupos maoistas, após as lutas de 1969 e de uma franja significativa do movimento católico progressista que se bateu duramente, em particular, contra a guerra colonial.
As confluências de diversas correntes sectoriais, através dos seus activistas, no MES foi possível pela acção de muita gente que assumiu simples, ousadas ou mesmo inúteis tarefas, assumindo um papel relevante em cada uma delas, que não sou capaz de fazer caber neste escrito, mas que me apetece referenciar, correndo o risco do subjectivismo de meu juízo, algumas individualidades que muito influenciaram o desenvolvimento da curta história do MES.
Serei inevitavelmente injusto para muitos amigos que prezo mas preciso, neste breve exercício, de ser sucinto.
- No sector intelectual, Nuno Brederode Santos que, como já descrevi noutras crónicas, com descrição e rara inteligência/intuição política, foi o verdadeiro mentor da opção pela saída do MES da corrente política que sempre foi publicamente associada à liderança de Jorge Sampaio, a sua personalidade de referência mais marcante em termos políticos e com notoriedade pública até ao presente;
- No sector sindicalista/operário António Santos Júnior, líder incontestado do movimento operário, com origem nas lutas da TAP, que havia de encabeçar uma lista vencedora nas eleições do Sindicato dos Metalúrgicos, sendo silenciado quando se preparava para tomar a palavra no comício do 1º de maio em nome do MES e Agostinho Roseta, desde sempre ligado de forma continuada, e persistente, à acção politico-sindical que originou uma corrente sindical não comunista que haveria de desembocar, com todas as suas vicissitudes, na UGT;
- No movimento estudantil Alberto Martins, pelo papel desempenhado no despoletar da crise académica de 1969 em Coimbra, afrontando de forma desabrida os ditamos do regime e Ferro Rodrigues no movimento estudantil de Lisboa, em particular, em Económicas que havia sido transformada, após 1968, na peugada do movimento de Maio em França, numa espécie de "território libertado”;
- No movimento dos católicos progressistas, Nuno Teotónio Pereira, oriundo de famílias conservadoras, com obra de referência na actividade profissional de arquitecto, tendo vindo a tornar-se numa referência incontornável na luta contra a guerra colonial, e a ditadura, para as novas gerações e Vítor Wengorovius, o mais intenso mobilizador de vontades, o orador mais infatigável de todos, sempre buscando consensos, superando divergências e reparando relações.
(Manuel Serra adversário direto, e assumido, de Mário Soares no I Congresso do PS, realizado a uma semana de distância do I do MES, no mesmo local, contou-me, na última conversa antes de falecer, que havia reunido com VW para desafiar o MES a aderir ao PS logo em dezembro de 1974, criando condições para ganhar aquele Congresso, o que VW nunca me revelou.)
O MES constituiu-se, formalizando-se, num Partido a custo pois as suas raízes beberam muito da ideologia libertária, que havia esmorecido ao longo do período da ditadura, mas que César de Oliveira fez retornar propondo, e fazendo vencer, a consigna que o MES adaptou nos seus primórdios: «A emancipação dos trabalhadores tem de ser obra dos próprios trabalhadores».
O MES foi, na verdade, um partido minoritário de elites, e de causas perdidas, nunca se assumindo como projecto politico de poder, abordando as eleições às quais concorreu – constituintes de 1975 e legislativas de 1976 - com um surpreendente espírito de cruzada pedagógica junto dos portugueses, que nunca haviam conhecido a cor da liberdade, razão pela qual, sem apelo nem agravo, em todas foi estrondosamente derrotado.
O MES foi, no seu âmago, um partido da esquerda radical, mais do que um partido esquerdista, lidando mal com alinhamentos ideológicos mesmo aquando da sua deriva marxista-leninista, reconheçamo-lo, uma mera proclamação artificial e dolorosamente patética. O MES foi um esboço de casa comum na qual se acolheram cidadãos desalinhados – livres de compromissos com o antigo regime - que aspiravam combater as brutais desigualdades e iniquas misérias herdadas do “Estado Novo”.
Nele se acolheram uma plêiade de altos quadros intelectuais, operários, sindicalistas, estudantis, activistas de movimentos sociais emergentes, com escassa experiência política, que na voragem de um singular tempo de brasa, sonhavam – sob diversos e contraditórios ideários socializantes - a mudar tudo na sociedade portuguesa fazendo do MES, na sua breve existência, antes e pós I Congresso de 21 e 22 de dezembro de 1974, um espaço de rebeldia e, no período fundador, de criatividade como revelam, por exemplo, as designações de inúmeras estruturas criadas e a obra gráfica, criada por Robin Fior, para a criação de uma imagem para o MES.
O MES foi, por fim, um partido que ousou auto extinguir-se – se bem que nem todos os que nele tomaram parte tenham concordado com o “sacrifício” - tendo cada um dos seus membros, ao longo do tempo, saído, em liberdade, dando ca aminho às suas vidas nos mais diversos caminhos. Extinguindo-se, por ato público o MES assumiu, de forma radical, o fracasso do seu projecto político salvando a essência dos sonhos que presidiram à sua criação.
Um Movimento que influenciou uma geração inteira e que, 40 anos passados, deixou um legado de luta por causas que genuinamente foram (e são) assumidas por justas, porque fundadas na aspiração à igualdade, justiça social e liberdade.
Que viva!
(Republicação de um post de 22 de dezembro de 2014 com uma pequana alteração na frase de abertura.)
terça-feira, dezembro 19
ABSORTO - 14 anos
Deixar uma marca
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,
atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,
observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,
louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,
guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,
incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,
ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,
admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
(um programa para o absorto)
Fotografia de Hélder Gonçalves
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,
atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,
observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,
louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,
guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,
incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,
ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,
admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
(um programa para o absorto)
Fotografia de Hélder Gonçalves
domingo, dezembro 17
PELO 81º ANIVERSÁRIO DO PAPA FRANCISCO - QUE VIVA
O tempo é superior ao espaço
222. Existe uma tensão bipolar entre a plenitude e o limite. A plenitude gera a vontade de possuir tudo, e o limite é o muro que nos aparece pela frente. O «tempo», considerado em sentido amplo, faz referimento à plenitude como expressão do horizonte que se abre diante de nós, e o momento é expressão do limite que se vive num espaço circunscrito. Os cidadãos vivem em tensão entre a conjuntura do momento e a luz do tempo, do horizonte maior, da utopia que nos abre ao futuro como causa final que atrai. Daqui surge um primeiro princípio para progredir na construção de um povo: o tempo é superior ao espaço.
223. Este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos. Ajuda a suportar, com paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe. É um convite a assumir a tensão entre plenitude e limite, dando prioridade ao tempo. Um dos pecados que, às vezes, se nota na atividade sociopolítica é privilegiar os espaços de poder em vez dos tempos dos processos. Dar prioridade ao espaço leva-nos a proceder como loucos para resolver tudo no momento presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e autoafirmação. É cristalizar os processos e pretender pará-los. Dar prioridade ao tempo é ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços. O tempo ordena os espaços, ilumina-os e transforma-os em elos de uma cadeia em constante crescimento, sem marcha atrás. Trata-se de privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificarem em acontecimentos históricos.
PAPA FRANCISCO, in "EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM"
222. Existe uma tensão bipolar entre a plenitude e o limite. A plenitude gera a vontade de possuir tudo, e o limite é o muro que nos aparece pela frente. O «tempo», considerado em sentido amplo, faz referimento à plenitude como expressão do horizonte que se abre diante de nós, e o momento é expressão do limite que se vive num espaço circunscrito. Os cidadãos vivem em tensão entre a conjuntura do momento e a luz do tempo, do horizonte maior, da utopia que nos abre ao futuro como causa final que atrai. Daqui surge um primeiro princípio para progredir na construção de um povo: o tempo é superior ao espaço.
223. Este princípio permite trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos. Ajuda a suportar, com paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe. É um convite a assumir a tensão entre plenitude e limite, dando prioridade ao tempo. Um dos pecados que, às vezes, se nota na atividade sociopolítica é privilegiar os espaços de poder em vez dos tempos dos processos. Dar prioridade ao espaço leva-nos a proceder como loucos para resolver tudo no momento presente, para tentar tomar posse de todos os espaços de poder e autoafirmação. É cristalizar os processos e pretender pará-los. Dar prioridade ao tempo é ocupar-se mais com iniciar processos do que possuir espaços. O tempo ordena os espaços, ilumina-os e transforma-os em elos de uma cadeia em constante crescimento, sem marcha atrás. Trata-se de privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificarem em acontecimentos históricos.
PAPA FRANCISCO, in "EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM"
domingo, dezembro 10
Albert Camus - 60º aniversário da entrega do nobel da literatura
No dia do 60º aniversário da entrega do Nobel da literatura a Camus retomo uma reflexão acerca do sentido da sua obra. Desta forma dou sentido a uma ideia que se instalou nos primórdios deste blog, prestes a completar 14 anos de vida, de se trata de um blog Camusiano, o que nunca foi intenção do autor do mesmo.
A obra de Camus lança os fundamentos de uma filosofia do homem sem Deus numa tripla perspectiva: uma maneira de conceber o mundo (o absurdo); uma maneira de existir (a revolta); uma maneira de estar na vida (o amor).
O sentimento do absurdo orienta Camus para a descoberta dum valor – a revolta. Este valor não se situa nem na eternidade religiosa, nem na sua substituição laica, a história, mas, de forma muito cartesiana, no “provisório” que envolve toda a vida do homem e que, por esse facto, representa para ele o “definitivo”.
O projecto de Camus não é somente o de lançar os fundamentos de uma sabedoria de tipo existencial acerca da compreensão individual da revolta mas, de forma mais alargada, de uma sabedoria social e política a partir da compreensão histórica dessa revolta.
Esta passagem da revolta solitária contra o absurdo à revolta solidária contra o mal da história efectua-se pondo em evidência um novo cogito: “Revolto-me, logo somos”.
Em Camus a revolta, no início e no fim, está ligada ao amor. Não é pelo facto da existência ser um absurdo que o homem revoltado deve sucumbir à tentação de tudo negar. É preciso, incondicionalmente, preservar o valor da vida e do humano na sua tripla dimensão, ao mesmo tempo, existencial e individual, histórica e comunitária, mas também, cósmica, negando o que oprime o homem (o absurdo, o mal). Camus tem uma percepção física e metafísica da dignidade humana.
Identificar o inumano (o absurdo, o niilismo, o ressentimento, o mal), fundar o humano (a revolta, o amor), lançar os fundamentos de uma filosofia do homem sem Deus foi a tentativa filosófica e literária de Camus.
Propor uma sabedoria inédita, ao mesmo tempo, individual, colectiva e cósmica contra tudo o que nega o homem, o mutila e tende a destruí-lo é o fio condutor de toda a sua obra.
Os fundamentos desta filosofia do homem sem Deus são a revolta-e-o-amor. Ou ainda, com André Conte-Sponville, o absurdo-a revolta-o amor: 1) o não do mundo ao homem (o absurdo); 2) o não do homem ao mundo (a revolta); 3) o sim originário e último à vida, aos seres, à terra que os dois nãos, com o consentimento subjacente, assumem (o amor).
“Pessimista quanto ao destino humano – afirmava Camus – eu sou optimista quanto ao homem. E não em nome de um humanismo que sempre me pareceu limitado, mas em nome de uma ignorância que tenta não negar nada.”
Em 1957, nas vésperas de lhe ser atribuído o Nobel, ele declarou:
“ao descer de um comboio, um jornalista perguntou-me se me ia converter. Respondi: não. Nada mais que a palavra: não …Tenho consciência do sagrado, do mistério que há no homem e não vejo razões para não confessar a emoção que sinto perante Cristo e os seus ensinamentos. Receio, infelizmente, que em certos meios, em particular, na Europa, a confissão de uma ignorância ou a confissão de um limite ao conhecimento do homem, o respeito pelo sagrado, surjam como fraquezas. Mas se são fraquezas, assumo-as com força …”
A obra de Camus lança os fundamentos de uma filosofia do homem sem Deus numa tripla perspectiva: uma maneira de conceber o mundo (o absurdo); uma maneira de existir (a revolta); uma maneira de estar na vida (o amor).
O sentimento do absurdo orienta Camus para a descoberta dum valor – a revolta. Este valor não se situa nem na eternidade religiosa, nem na sua substituição laica, a história, mas, de forma muito cartesiana, no “provisório” que envolve toda a vida do homem e que, por esse facto, representa para ele o “definitivo”.
O projecto de Camus não é somente o de lançar os fundamentos de uma sabedoria de tipo existencial acerca da compreensão individual da revolta mas, de forma mais alargada, de uma sabedoria social e política a partir da compreensão histórica dessa revolta.
Esta passagem da revolta solitária contra o absurdo à revolta solidária contra o mal da história efectua-se pondo em evidência um novo cogito: “Revolto-me, logo somos”.
Em Camus a revolta, no início e no fim, está ligada ao amor. Não é pelo facto da existência ser um absurdo que o homem revoltado deve sucumbir à tentação de tudo negar. É preciso, incondicionalmente, preservar o valor da vida e do humano na sua tripla dimensão, ao mesmo tempo, existencial e individual, histórica e comunitária, mas também, cósmica, negando o que oprime o homem (o absurdo, o mal). Camus tem uma percepção física e metafísica da dignidade humana.
Identificar o inumano (o absurdo, o niilismo, o ressentimento, o mal), fundar o humano (a revolta, o amor), lançar os fundamentos de uma filosofia do homem sem Deus foi a tentativa filosófica e literária de Camus.
Propor uma sabedoria inédita, ao mesmo tempo, individual, colectiva e cósmica contra tudo o que nega o homem, o mutila e tende a destruí-lo é o fio condutor de toda a sua obra.
Os fundamentos desta filosofia do homem sem Deus são a revolta-e-o-amor. Ou ainda, com André Conte-Sponville, o absurdo-a revolta-o amor: 1) o não do mundo ao homem (o absurdo); 2) o não do homem ao mundo (a revolta); 3) o sim originário e último à vida, aos seres, à terra que os dois nãos, com o consentimento subjacente, assumem (o amor).
“Pessimista quanto ao destino humano – afirmava Camus – eu sou optimista quanto ao homem. E não em nome de um humanismo que sempre me pareceu limitado, mas em nome de uma ignorância que tenta não negar nada.”
Em 1957, nas vésperas de lhe ser atribuído o Nobel, ele declarou:
“ao descer de um comboio, um jornalista perguntou-me se me ia converter. Respondi: não. Nada mais que a palavra: não …Tenho consciência do sagrado, do mistério que há no homem e não vejo razões para não confessar a emoção que sinto perante Cristo e os seus ensinamentos. Receio, infelizmente, que em certos meios, em particular, na Europa, a confissão de uma ignorância ou a confissão de um limite ao conhecimento do homem, o respeito pelo sagrado, surjam como fraquezas. Mas se são fraquezas, assumo-as com força …”
sexta-feira, dezembro 8
Centeno - outra vez
Os fazedores de opinião, de todas as formações académicas, ligações politicas e defensores de interesses mais ou menos ocultos, insistem na sua campanha de descredibilização de Centeno, ou seja, dos resultados da politica que o governo tem adotado e na qual Centeno desempenha, certamente, um papel relevantes.
A tese é simples e, aparentemente, muito rudimentar: se não fosse a politica do anterior governo não seria possível o sucesso de Centeno e daí a sua eleição para dirigir o Euro grupo. É qualquer coisa, mal comparada, em homenagem aos adeptos do Sporting, caso vença o Campeonato, como dizer que o sucesso de Jesus será resultado da politica do Boloni (do que fui lembrar!) ou do Marco Silva! Ao passado sempre sucede o presente e ao presente sucederá o futuro...(em todos os casos com aspetos de continuidade e de rutura).
Já escrevi por aí o que penso de Centeno que os críticos dizem que era um desconhecido. Pois na verdade antes de ser conhecido ... e Centeno tem 50 anos de idade, afinal um jovem para a "missão impossível" de assumir as Finanças com o objetivo de conjugar o cumprimento das metas da zona euro, e da UE, com as exigências da esquerda da esquerda que apoia o governo socialista.
A direita, de todas as qualidades (incluindo uma parte que se acolhe no PS) nunca, jamais, aceitará esta "coligação" espúria e ainda para mais tendo alcançado resultados dois anos atrás considerados impossíveis. Espreitam uma oportunidade e, como sempre acontece na politica, mais dia menos dia, mais ano menos ano, ela surgirá. Mas entretanto o tempo não para e Centeno assumirá por um período mínimo de 2 anos a presidência do Eurogrupo que apesar de não valer porra nenhuma, como afirmou um finíssimo intelectual da nossa direita, é o lugar no qual, de forma informal, se debate o futuro da zona euro, do €, e se preparam medidas de fundo que, percorrendo os caminhos da burocracia da UE, desembocam em decisões que marcam o futuro da moeda única,da UE,dos países que a integram e dos respetivos povos.
Basta um mínimo de bom senso para entender, além do mais, o valor simbólico da eleição de Centeno - uma mudança de politica influenciada pela confirmação do falhanço das politicas puras e duras de austeridade e pelas mudanças politicas nos países centrais da UE - Alemanha (em crise politica e em vésperas de uma grande coligação na qual o SPD terá que assumir uma posição mais influente) e França (de Macron representando uma politica centrista - também pouco convencional - capaz de se libertar relativamente da ortodoxia neoliberal aberta ao ensaio de novas soluções).
Tudo isto é muito mais complexo pois não se pode descartar a curto/médio prazo uma subida das taxas de juro, mudança de orientação da politica monetária do BCE, subida consistente das forças politicas de extrema direita no seio da UE, reforço das pressões no sentido da fragmentação de alguns países que resultam de confederações de nações (Espanha, Bégica, ...) e muito mais. Todo um futuro indecifrável em muitos aspetos ainda para mais apimentado pelo destempero de Trump e pela ascensão da China assumidamente a caminho de se consagrar como a primeira potência global.
Centeno é só um jovem politico, oriundo da academia, curiosamente natural de Olhão - terra que deu ao longo da história grandes vultos á epopeia portuguesa e um cidadão decente, nada mau principio para Ministro das Finanças e Presidente do Euro grupo o que talvez doa a muita gente. Haja saúde!
A tese é simples e, aparentemente, muito rudimentar: se não fosse a politica do anterior governo não seria possível o sucesso de Centeno e daí a sua eleição para dirigir o Euro grupo. É qualquer coisa, mal comparada, em homenagem aos adeptos do Sporting, caso vença o Campeonato, como dizer que o sucesso de Jesus será resultado da politica do Boloni (do que fui lembrar!) ou do Marco Silva! Ao passado sempre sucede o presente e ao presente sucederá o futuro...(em todos os casos com aspetos de continuidade e de rutura).
Já escrevi por aí o que penso de Centeno que os críticos dizem que era um desconhecido. Pois na verdade antes de ser conhecido ... e Centeno tem 50 anos de idade, afinal um jovem para a "missão impossível" de assumir as Finanças com o objetivo de conjugar o cumprimento das metas da zona euro, e da UE, com as exigências da esquerda da esquerda que apoia o governo socialista.
A direita, de todas as qualidades (incluindo uma parte que se acolhe no PS) nunca, jamais, aceitará esta "coligação" espúria e ainda para mais tendo alcançado resultados dois anos atrás considerados impossíveis. Espreitam uma oportunidade e, como sempre acontece na politica, mais dia menos dia, mais ano menos ano, ela surgirá. Mas entretanto o tempo não para e Centeno assumirá por um período mínimo de 2 anos a presidência do Eurogrupo que apesar de não valer porra nenhuma, como afirmou um finíssimo intelectual da nossa direita, é o lugar no qual, de forma informal, se debate o futuro da zona euro, do €, e se preparam medidas de fundo que, percorrendo os caminhos da burocracia da UE, desembocam em decisões que marcam o futuro da moeda única,da UE,dos países que a integram e dos respetivos povos.
Basta um mínimo de bom senso para entender, além do mais, o valor simbólico da eleição de Centeno - uma mudança de politica influenciada pela confirmação do falhanço das politicas puras e duras de austeridade e pelas mudanças politicas nos países centrais da UE - Alemanha (em crise politica e em vésperas de uma grande coligação na qual o SPD terá que assumir uma posição mais influente) e França (de Macron representando uma politica centrista - também pouco convencional - capaz de se libertar relativamente da ortodoxia neoliberal aberta ao ensaio de novas soluções).
Tudo isto é muito mais complexo pois não se pode descartar a curto/médio prazo uma subida das taxas de juro, mudança de orientação da politica monetária do BCE, subida consistente das forças politicas de extrema direita no seio da UE, reforço das pressões no sentido da fragmentação de alguns países que resultam de confederações de nações (Espanha, Bégica, ...) e muito mais. Todo um futuro indecifrável em muitos aspetos ainda para mais apimentado pelo destempero de Trump e pela ascensão da China assumidamente a caminho de se consagrar como a primeira potência global.
Centeno é só um jovem politico, oriundo da academia, curiosamente natural de Olhão - terra que deu ao longo da história grandes vultos á epopeia portuguesa e um cidadão decente, nada mau principio para Ministro das Finanças e Presidente do Euro grupo o que talvez doa a muita gente. Haja saúde!
segunda-feira, dezembro 4
domingo, dezembro 3
O Zé Pedro morreu
Uma imagem que vale por mil palavras. Uma ressonância antiga que reemerge: unidos na vida e na morte!
Fotografia de João Porfírio
Fotografia de João Porfírio
sexta-feira, dezembro 1
A propósito do 1º de dezembro
Num tempo como o nosso de tantas incertezas (afinal comuns a todos os tempos) convivo mal com a ignorância e subalternização da história. Não que seja um especialista, ou estudioso, de história no sentido académico mas como simples cidadão interessado em conhecer os caminhos que nos conduziram, em todos os domínios, até ao presente. Se não erro não há, hoje, um único programa nos canais de televisão generalistas que verse acerca de história. A história de Portugal bem merecia que os meios públicos de comunicação - RTP/RDP - lhe dedicassem uma especial atenção. Vou esperar sentado ... até que a sociedade civil tenha suficiente força para impor a concretização de uma iniciativa que, de forma atraente, divulgue o essencial da história de Portugal.
domingo, novembro 26
GOVERNO - DOIS ANOS
Transcrevo abaixo o que escrevi no dia 27 de novembro de 2015 aquando da posse do governo em funções. Muita coisa foi feita em linha com o que era expetável e de todas estas destaco a retomada da confiança, interna e externa, que permitiu prestigiar Portugal perante os parceiros europeus, os mercados e as opiniões públicas. Não é uma pequena obra cujo sucesso, no entanto, está sempre sujeito às vicissitudes de fatores externos numa economia aberta como a portuguesa. Ainda mais assinalável o fato deste percurso ter sido feito com o apoio da esquerda parlamentar numa fórmula que, ou se transforma, ou se esgota no prazo máximo de uma legislatura. É o que parece, ...mas nem sempre o que parece é.
"Na madrugada do dia seguinte ao da posse do governo de António Costa que ocorreu em 26 de novembro de 2015 no Palácio da Ajuda. Fiz questão de estar presente, na qualidade de cidadão, porque sei o que quer dizer a palavra liberdade e também a palavra responsabilidade. Acabou um ciclo politico acerca de cuja natureza a história se encarregará. Não julgo útil, necessário e prudente, para beneficio da comunidade, contribuir para agudizar a crispação politica que, por ora, se tem circunscrito aos círculos políticos, apesar dos esforços de muitos meios de comunicação social (quase todos) para a propagar à maioria da população. Um dos mais interessantes fenómenos observáveis neste período pós eleitoral é o insucesso desses esforços. Como todos os que estavam melhor informados sabiam António Costa - até pelo que foi dito por ele próprio, e escrito nos documento oficiais do PS - nas condições de não obter uma maioria absoluta, dispunha de condições para alcançar um acordo à esquerda. Será, porventura, o único politico português no ativo capaz de obter sucesso em tal empreendimento. Neste dia em que escrevo não tenho tempo nem disposição para elaborar acerca dos motivos de tal vocação que merecem uma abordagem séria e aprofundada. Interessa-me, em especial, acompanhar as consequências do desenlace da crise politica e participar, tanto quanto seja capaz, na concretização de um programa politico que será hoje aprovado pelo Conselho de Ministros e cujo teor é conhecido por ter sido divulgado, ao contrário de uma nefasta tradição nacional, com antecedência. A respeito das politicas serão certamente assinaladas ruturas e continuidades, sinais de futuro e tonalidades diversas do presente, métodos e abordagens diversas do habitual, protagonistas novos e renovados relacionamentos de protagonistas antigos, um mundo de diferenças face às politicas do anterior governo e seus executantes. Aspiro a poder assinalar que este governo vai fazer diferente, sem arrogâncias nem autoritarismos; que julgará a herança do governo anterior de forma objetiva, justa e sem precipitações; que mudará o que houver a mudar, com o objetivo central de servir o bem comum em prol da melhoraria da vida dos cidadãos e da qualidade da democracia. Colocar no lugar cimeiro da politica a defesa da liberdade sem descurar a justiça e a igualdade."
sexta-feira, novembro 24
AS INUNDAÇÕES DE NOVEMBRO DE 1967 (II)
No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. (hoje, passados 50 anos, este percurso e sua envolvente, está, praticamente, igual).
Chovia muito, mas não estranhei porque, ao contrário de hoje, era normal chover nesta época do ano. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente.
Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, e devo ter-me dirigido ao Técnico para me juntar à gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos.
O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica.
Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade, de ação.
Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão.
No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.
Não foi a minha primeira participação num movimento cívico, com vocação politica, (havia participado antes nas “eleições” de 1965) mas foi a ação mais impressiva e intensa que jamais esqueci e que muito contribuiu para configurar uma vontade de participação cívica e politica que nunca mais me abandonou.
AS INUNDAÇÕES DE NOVEMBRO DE 1967
Poste de 20 de novembro de 2007, que reponho hoje, lembrando a passagem de 50 anos sobre as trágicas inundações de 1967.
No contexto da descrição sucinta dos últimos dois anos de Salazar à frente do governo de Portugal, no livro “ a história da PIDE”, Irene Flunser Pimentel – Circulo de Leitores/Temas e Debates, descreve-se um acontecimento marcante sobre o qual passam, nos próximos dias, 50 anos:
“O dia 25 de Novembro de 1967 foi marcado por chuvas diluvianas, em Lisboa e arredores, que causaram centenas de mortos, não sendo divulgada na imprensa a magnitude do desastre nem o número de vítimas. Muitos estudantes de Lisboa mobilizaram-se para ajudar as populações, apercebendo-se, nesse contacto, das terríveis condições em que viviam muitos portugueses. Entretanto, tinha havido no seio do regime o caso dos ballets roses, conforme noticiou, em Dezembro, o jornal inglês Sunday Telegraph.”
Participei numa das brigadas de estudantes que acorreu em apoio às populações dos arredores de Lisboa. Coube-me, com partida do Instituto Superior Técnico, desembarcar, se não erro, em Alhandra no meio de um ambiente desolador de destruição e morte. Lembro a complexa operação logística e as pás a remover a lama que engolira ruas e casas. O regime surpreendido pelas dimensões do desastre e pela prontidão da ação politico/solidária dos estudantes não foi capaz de suster o movimento.
Foi, certamente, este um dos mais significativos atos simbólicos que assinalou o início do fim da ditadura. Pouco tempo depois, em Fevereiro de 1968, Mário Soares foi preso, deportado e sujeito a residência fixa em São Tomé e Príncipe. Em 7 de Setembro de 1968 Salazar foi operado a um hematoma, após a queda da cadeira e, “no dia 17, após convocar uma reunião do Conselho de Estado, o Presidente da República anunciou que iria nomear novo presidente do Conselho de Ministros. Dez dias depois, informou que, “atormentado entre os seus sentimentos efetivos de gratidão”, decidira exonerar Salazar e nomear Marcelo Caetano” [pág.. 184]
Confesso que tinha perdido a noção exata da cronologia destes acontecimentos e fiquei surpreendido com a proximidade entre as grandes inundações de 25/26 de Novembro de 1967 e o mês de Setembro de 1968 que marca o fim político do ditador.
No contexto da descrição sucinta dos últimos dois anos de Salazar à frente do governo de Portugal, no livro “ a história da PIDE”, Irene Flunser Pimentel – Circulo de Leitores/Temas e Debates, descreve-se um acontecimento marcante sobre o qual passam, nos próximos dias, 50 anos:
“O dia 25 de Novembro de 1967 foi marcado por chuvas diluvianas, em Lisboa e arredores, que causaram centenas de mortos, não sendo divulgada na imprensa a magnitude do desastre nem o número de vítimas. Muitos estudantes de Lisboa mobilizaram-se para ajudar as populações, apercebendo-se, nesse contacto, das terríveis condições em que viviam muitos portugueses. Entretanto, tinha havido no seio do regime o caso dos ballets roses, conforme noticiou, em Dezembro, o jornal inglês Sunday Telegraph.”
Participei numa das brigadas de estudantes que acorreu em apoio às populações dos arredores de Lisboa. Coube-me, com partida do Instituto Superior Técnico, desembarcar, se não erro, em Alhandra no meio de um ambiente desolador de destruição e morte. Lembro a complexa operação logística e as pás a remover a lama que engolira ruas e casas. O regime surpreendido pelas dimensões do desastre e pela prontidão da ação politico/solidária dos estudantes não foi capaz de suster o movimento.
Foi, certamente, este um dos mais significativos atos simbólicos que assinalou o início do fim da ditadura. Pouco tempo depois, em Fevereiro de 1968, Mário Soares foi preso, deportado e sujeito a residência fixa em São Tomé e Príncipe. Em 7 de Setembro de 1968 Salazar foi operado a um hematoma, após a queda da cadeira e, “no dia 17, após convocar uma reunião do Conselho de Estado, o Presidente da República anunciou que iria nomear novo presidente do Conselho de Ministros. Dez dias depois, informou que, “atormentado entre os seus sentimentos efetivos de gratidão”, decidira exonerar Salazar e nomear Marcelo Caetano” [pág.. 184]
Confesso que tinha perdido a noção exata da cronologia destes acontecimentos e fiquei surpreendido com a proximidade entre as grandes inundações de 25/26 de Novembro de 1967 e o mês de Setembro de 1968 que marca o fim político do ditador.
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