quinta-feira, junho 17

Open de Linhares é uma certeza. Será?!

Com este título recebi um email de António Aguiar acerca do "Open de Parapente" de Linhares da Beira. Um tema que muito me interessa não porque seja praticante mas porque á sua organização estive ligado 7 anos através do INATEL. Aqui, fica na íntegra, o texto de António Aguiar com um link para o jornal regional "O Interior".

Vejam aqui a notícia de "O Interior" de 9 de Junho

"Ao contrário do que diz a notícia, os instrutores e os directores de prova não foram contactados. Pelo contrário, estão a tratar de outros eventos noutro lado da Serra. Será que são os próprios autarcas que vão organizar o Open? Algum piloto foi convidado para dirigir a prova?

E a fpvl já se demarcou da afirmação "perante outras estruturas que neste momento estão a aparecer Linhares oferece as melhores condições porque a Escola de Parapente continua a assumir-se como a melhor do país que oferece óptimas condições de segurança"?

Ou o Autarca já fala em nome da FPVL? A fpvl que eu conheço nunca faria tal afirmação, mesmo que, noutro tempo, pudesse ser verdade. Agora,sem instrutores, onde está a escola? Já se pode dizer tudo, que os jornalistas publicam e... não investigam. A não ser que a autarquia esteja a pensar em cursos de parapente por correspondência...

Quero agradecer a todos os que, das mais variadas formas (protestando junto das autarquias e do Inatel, escrevendo para os jornais), se têm assumido na luta por Linhares. Mas ainda não chega.

Lembrem-se dos gloriosos voos realizados em Linhares, lembrem-se da Estrela vista acima dos 3000m e não parem de manifestar-se contra este abandono. Não vão em conversas de que "Linhares já é uma certeza".

Saibam conquistar os vossos
BONS VOOS!

Antº Aguiar"


O mentiroso insiste

Afinal parece que os estrategos de Bush ainda estão convencidos de que a repetição de uma mentira a torna verdade. Tentando desmentir o relatório da comissão independente aos atentados do 11 de Setembro Bush volta ao ataque. Quer fazer passar a ideia de que existência de "contactos" são, afinal, "ligações" ou "acordos". No fundo, quer fazer passar a mensagem de que havia uma conspiração contra os EUA com a participação empenhada de Saddam em aliança político/militar com a Al-Qaeda..

Ainda me lembro da disputa entre o chefe da missão de inspectores da ONU, que investigaram a questão da existência de armas de destruição maciça no Iraque, e a administração Bush. A guerra continua e não apareceram as armas.

Mas agora, que se saiba, os EUA têm Saddam preso. Se são democratas podem julgá-lo com todas as garantias próprias dos regimes democráticos e condená-lo se forem provados os seus crimes. Entre eles aqueles que a comissão de inquérito nega terem existido.

Não há paciência para aturar mentirosos ainda por cima burros… Desculpem lá a irritação... Isto passa...

"Bush insiste na existência de ligações entre Saddam e a Al-Qaeda

O Presidente norte-americano, George W. Bush, insistiu hoje na existência de ligações entre o regime iraquiano de Saddam Hussein e a rede Al-Qaeda, negadas ontem por um relatório preliminar da comissão independente que investiga os atentados do 11 de Setembro."

Uma mentira letal

Esta é uma conversa batida. Está aparentemente fora da actualidade actual. Todos já entendemos que os argumentos dos EUA para justificar a "guerra preventiva" no Iraque foram forjados. O assunto tornou-se vulgar.

Os estrategos da propaganda sabem que repetir muitas vezes uma mentira pode gerar uma verdade. A administração BUSH mentiu. Os seus aliados mentiram. Neste caso os estrategos da repetição da mentira perderam. A verdade sobreviveu nas opiniões públicas nacionais e mundial.

A própria lógica do sistema democrático se encarregou de restaurar a verdade. É uma grande vantagem do sistema democrático no cotejo com as tiranias. Agora falta que os mentirosos sejam removidos democraticamente do poder.

"11 de Setembro: "The New York Times" exige pedido de desculpas de Bush

O diário norte-americano "The New York Times" defende hoje, em editorial, que o Presidente George W. Bush deveria "pedir desculpas" por ter justificado a guerra contra o Iraque com base na alegada ligação entre o regime de Saddam Hussein e a rede terrorista Al-Qaeda - desmentida ontem pela comissão independente que investiga os atentados de 11 de Setembro."



Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes. Hoje é um dia de celebração da memória de Aristides Sousa Mendes. Um herói português.

O diplomata, cônsul português em Bordéus, no período da Segunda Guerra Mundial, emitiu "vistos" que salvaram a vida a milhares de refugiados, na sua maioria, judeus. Não era, no entanto, judeu.

A sua acção resultou de um imperativo de consciência. A 17 de Junho de 1940 tomou essa decisão. Foi perseguido e castigado por Salazar tendo falecido, desonrado e na miséria, em 1954.

INTERESSANTE!

"PSD e CDS-PP recusam audição do director da PJ sobre demissões no Porto

A maioria PSD/CDS-PP rejeitou hoje requerimentos da oposição a solicitar explicações do director nacional da Polícia Judiciária, Adelino Salvado, sobre os motivos das demissões de responsáveis daquela polícia no Porto envolvidos na operação "Apito Dourado"."

VEJAM A NOTÍCIA NA INTEGRA AQUI




Teus olhos entristecem

Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa

quarta-feira, junho 16

Euro - 2004 (Continuação)

O jogo acabou. Parece que o Scolari, finalmente, perdeu os complexos a respeito das "vacas sagradas" da selacção. Fez muitas mudanças. Ganhamos à Rússia. Aqui ao lado as buzinas assinalam a vitória.

Sobrevivemos até domingo. Mas para continuar no torneio vai ser necessário, certamente, ganhar à Espanha.

A Rússia estava enfraquecida mas a Espanha é muito forte. A tarefa da selecção de Portugal vai ser muito difícil. Mas como não sou abstencionista do futebol vou sofrer. Neste jogo tudo é possível. Daí o seu encanto.

Euro - 2004

Tenho alguns amigos que não sabem nada de futebol nem lhes interessa saber. No princípio achava esse desinteresse estranho. Via-os como uma espécie de abstencionistas numa matéria que pensava ser de interesse universal.

No caso das mulheres era o contrário. O interesse delas era uma raridade num mundo masculino. Esta minha visão foi-se modificando ao longo do tempo. Descobri uma filha de uma amiga minha que era (é ?) praticante de futebol.

As mulheres amantes do futebol deixaram de ser uma raridade. Mas os abstencionistas do futebol têm uma vantagem: não correm o risco de se desiludir com a derrota do seu clube ou da selecção nacional. Hoje é um dia grande para eles.

Deus queira que seja também um dia grande para mim. Basta que Portugal ganhe à Rússia. Nem que seja por meio a zero como disse Scolari

terça-feira, junho 15

Habilidades retóricas

Os resultados das eleições europeias, em Portugal, tiveram dois vencedores indiscutíveis: o PS e Ferro Rodrigues. Toda a gente compreende esta realidade pois ela entra pelos olhos dentro. Nestas eleições os derrotados foram o PSD e Durão Barroso. Esta já é uma realidade um pouco mais difícil de compreender por toda a gente.

A coligação "Força Portugal" levava a bordo o PP de Paulo Portas o que a tornou, paradoaxalmente, mais fraca, no plano eleitoral, do que o PSD sózinho. Mas vejam o discurso político, pós-eleitoral, do PSD, através de Santana Lopes:

"Santana Lopes rejeita que união com CDS-PP tenha prejudicado PSD
Pedro Santana Lopes garante que o PSD e o primeiro-ministro vão saber interpretar a mensagem dos resultados das eleições europeias. Na comissão política do partido, o vice-presidente dos sociais-democratas garantiu que a coligação é intocável e rejeitou a relação entre a derrota eleitoral e a união com o CDS-PP." SIC on line


Ora o PSD passou a sua representação no Parlamento Europeu de 9 para 7 deputados. O PP manteve os dois de que dispunha. Se isto não é um prejuízo para o PSD!.... Pacheco Pereira, cabeça de lista do PSD nas eleições europeias de 1999, insuspeito de simpatias com o PS, explica tudo no abrupto.

Vistas de Rua (5)

Rua Prof. João Barreira

Uma rua do plano de urbanização original de Telheiras. Concebida e construída com uma visão moderna de cidade. Uma rua de vistas largas e escala humana. Uma rua concebida para viver e conviver.

De um lado prédios de habitação com diversos tipos de acessos aos apartamentos. Do outro lado vivendas com comércio nos baixos. Tudo em tons rosa. Os passeios têm espaços generosos e verde quanto baste. As vivendas dispõem de uma falsa frente pois a verdadeira dá para um jardim nas traseiras.

Ao longo da rua a área comercial é um centro de convívio luminoso e arejado. Nele têm lugar pequenas esplanadas com "snacks", cafés, florista, galeria de arte, bancos, loja de jornais, tudo o que se possa imaginar.

A circulação automóvel corre mas torna-se quase indiferente ao bem-estar do circunstante. Não utilizo esta palavra por acaso. Circunstante é um "participante ou espectador de algo."

Uma rua moderna que respira e que viu crescer, desde o primeiro dia, o meu filho.

segunda-feira, junho 14

Fragmentos de Leituras

O "dandy"

O uso desenfreado do paradoxo corre o risco de implicar (ou, simplesmente, implica) uma posição individualista e, se é que se pode dizer, uma espécie de "dandysmo". No entanto o "dandy", embora solitário, não está só: S., que é estudante, diz-lhe - com pena - que os estudantes são individualistas; numa situação histórica dada - de pessimismo e rejeição - toda a classe intelectual é virtualmente "dandy", se não for militante. (É "dandy" aquele cuja única filosofia é viageira: o tempo é o tempo da minha vida.)

"Roland Barthes por Roland Barthes" -17
(Fragmento 1 de 4, pag. 9)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Eleições europeias - notas

Ainda antes de saber os resultados definitivos das eleições europeias, ainda em fase final de apuramento, é certa a vitória do Partido Socialista. Nada que não fosse razoável esperar.

A abstenção andará em torno dos 61% - próxima dos níveis das eleições europeias de 1999 e inferior à que ocorreu, nas mesmas eleições, em 1994. O PSD e o PP coligados obterão um resultado de 33,2 - muito inferior ao somatório dos resultados dos dois partidos nas eleições de 1999.

O PS deverá atingir os 44,5%, o seu melhor resultado de sempre. A esquerda, no conjunto, vence folgadamente obtendo cerca de 58,6% dos votos expressos.

O que estes resultados provam e as suas consequências imediatas:

1) os portugueses estão muito descontentes com o governo;

2) as alternativas credíveis carecem de candidatos credíveis (caso de Sousa Franco);

3) o governo vai ser remodelado muito em breve, ou, menos provável, cairá por erosão dos fundamentos do acordo de coligação que o suporta;

4) o PS é a única alternativa credível de governo alternativo;

5) o regime democrático carece de um PS com capacidade para forjar, com autonomia, uma alternativa de governo realista e credível;

6) Ferro Rodrigues é candidato declarado à liderança do PS no próximo congresso do PS;

7) Ferro Rodrigues será, salvo qualquer acontecimento imprevisível, líder do PS para as próximas batalhas eleitorais: regionais, autárquicas, legislativas e presidenciais;

8) o PCP "aguenta" o seu eleitorado e o Bloco de Esquerda tende a crescer;

9) o que determina o sucesso das alternativas políticas não é o efeito de malabarismos de ocasião mas a persistência dos líderes na apresentação de projectos assentes em ideias claras e convicções fortes.


A partir do discurso de vitória desta noite é isso que a esquerda exige a Ferro Rodrigues: ideias claras e convicções fortes. O voto "de castigo" no governo é, ao mesmo tempo, um endosso de responsabilidades ao PS para forjar um projecto de governo alternativo capaz de assumir o poder, o mais tardar, em 2006.

Também publicado em abébia vadia

domingo, junho 13

A PALAVRA IMPOSSÍVEL

Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor de uma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim
A única palavra sem disfarce -
A palavra que nunca se profere.

Adolfo Casais Monteiro
(1908/1972)

In "Rosa do Mundo" - 2001 Poemas para o futuro
Assírio & Alvim

Eugénio de Andrade

Ouvi dizer, e é público, que estás muito doente. Não serve de nada glosar as doenças nem chorar a morte dos poetas. Eles quando são verdadeiros ficam sempre vivos. Quando são grandes tornam-se imortais.

Não sei se Portugal segue esta regra universal. Aqui somos mais dados à inveja e ao esquecimento. Quanto mais obra, e mais aprimorada, sem vénias, nem costas curvadas, pior para o artista.

Não são palavras amargas, suficientemente amargas, as que digo. São o menos que se pode dizer de um país que inverte em tudo a hierarquia da importância dos homens. Por isso não te admires se fores votado ao esquecimento. A tua glória já dura há muito tempo. És, graças a Deus, admirado em vida. Admirado por aqueles que merecem admirar-te. Vais agora ser publicado na China.

Tenho aqui na minha frente uns quantos poemas teus dedicados a heróis e amigos mortos: Guillaume Apollinaire, Augusto Gomes, Vicente Aleixandre, Kavafis, Che Guevara, José Dias Coelho, Casais Monteiro, Pier Paolo Pasolini, Jorge de Sena, Ruy Belo, Carlos Oliveira, Vitorino Nemésio e tantos mais. Teus heróis e amigos.

Um poema destes vale mais que todas as homenagens da praxe com regresso garantido ao baú das memórias. Ainda para mais quando sabemos que estão na fila de espera um ror de poetas vivos, e de saúde, para ser consagrados e, quiçá, condecorados.

E porque ao ler este poema me lembraste tantas coisas, porque é dia de Santo António, porque vamos a votos, porque "é a pátria que nos divide e mata/ antes de se morrer.", aqui te deixo a minha homenagem.

A CASAIS MONTEIRO,
PODENDO SERVIR DE EPITÁFIO

O que dói não é um álamo.
Não é a neve nem a raiz
da alegria apodrecendo nas colinas.
O que dói

não é sequer o brilho de um pulso
ter cessado,
e a música, que trazia
às vezes um suspiro, outras um barco.

O que dói é saber.
O que dói
é a pátria, que nos divide e mata
antes de se morrer.

Setembro, 72

sábado, junho 12

EURO-2004

"Dez estádios novinhos em folha ou quase, nove cidades-sede e muitas anfitriãs das equipas, 16 selecções, 1,2 milhões de lugares disponíveis para os espectadores nos 31 jogos, a maior operação de sempre em termos de segurança em Portugal..." Público

Começa hoje, em Portugal, o Campeonato da Europa de Futebol. A notícia completa é composta pelos múltiplos números e detalhes de um grande investimento. Sou um amante do futebol. Por isso considero positivo para Portugal a realização do EURO-2004.

Este projecto, paradoxalmente, foi obra do governo anterior. Choveram as críticas dos seus actuais propagandistas. É bom não esquecer que para um pequeno país europeu, com 10 milhões de habitantes, situado na ponta mais ocidental de uma Europa que, agora com 25 países, encontra o seu centro de gravidade cada vez mais a leste, conquistar a organização de um grande evento, como o EURO-2004, é um feito extraordinário.

Foi o governo anterior que assumiu os riscos. Esse governo ao qual se têm assacado as maiores desgraças e que tem sido apelidado, sem parança, pelo actual, de ter deixado "uma pesada herança". Estas palavras parecem banais. Mas não são. É que este é o único grande projecto português, com projecção internacional, que se vislumbra no horizonte.

Não é preciso Portugal ser campeão europeu para que o EURO-2004 seja um sucesso. O facto de ter sido possível conquistá-lo para Portugal, organizar os empreendimentos previstos: obras físicas e promoção de Portugal no Mundo, é uma vitória de Portugal que coloca problemas mas deixa, no essencial, marcas positivas para o futuro.

E, já agora, vamos fazer força para que Portugal seja campeão.

sexta-feira, junho 11

CV-15

SANATÓRIO GERAL

Um blog do Brasil. Bom gosto. Escrita perfeita. Um prazer de leitura. Como todos os outros que tenho dado a conhecer, neste série, são de autores que não conheço pessoalmente. Mas a sua qualidade não engana a sensibilidade. São trocas de emoções e reconhecimento de interesses comuns ou complementares.

Aqui está a breve biografia da autora: "Pessoa: jovem dama em terras maurícias, tem um bonito nome e cara de biscoito Maria"

O programa sintético do Blog: diarices, pensamentos e historinhas




Um funeral diferente para um homem diferente

Acabei de participar no funeral de um distinto homem público: Sousa Franco. Em Portugal, por muito mal que se fale da política, temos um escol de políticos sérios, competentes e dedicados à causa pública. Não vou enumerar nomes de políticos contemporâneos nem daqueles que no passado honraram com a sua acção o serviço público. Mas são muitos.

A caminhada foi, a pé, da Basílica da Estrela ao Cemitério dos Prazeres. Conheço aquele caminho. Não porque participe em muitos funerais. Só vou quando me obriga um profundo sentimento de amizade ou de gratidão.

Conheço o espaço público destes actos porque neles vivi boa parte da minha juventude. Morei na parte alta da Calçada da Estrela, ali ao lado da Basílica, e frequentei o majestoso jardim e a sua esplanada. A mesma que Sousa Franco tanto apreciava. Nela namorei, estudei, conspirei, desesperei, me despedi e reencontrei. É um lugar de referência na minha vida. Fui hoje visitá-la e estava quase tudo na mesma. Compreendo como poucos a razão do gosto de Sousa Franco por aquele lugar.

Depois sobe-se na direcção de Campo de Ourique. Um desfile de memórias. O Cinema Paris em ruínas. Nele vi os primeiros filmes da minha estadia, que nunca mais acabou, em Lisboa. Ao cimo da subida, a Tentadora, o "Correio", o "Canas". Frequentei esses lugares vezes sem conta. Ainda hoje ao sentar-me na esplanada da Tentadora, depois da última penosa caminhada de solidariedade com Sousa Franco, o empregado me dirigiu a palavra: "então há quanto tempo..."

Aqueles lugares são uma parte do meu percurso de vida. Têm o encanto dos caminhos que fiz, vezes sem conta, para casa do Xico Chaves (agora no Brasil, ói, como vais?) ou para a casa em que vivi na Rua Sampaio Bruno.

O Bairro de Campo de Ourique é uma preciosidade da cidade de Lisboa. Nele respira-se a luz mais brilhante, a urbanidade mais civilizada, o vozear mais cativante e os cheiros mais atraentes. A autêntica "Cidade Branca" de Tanner. Campo de Ourique faz-nos acreditar que vale a pena viver em comum. Que é possível a uma cidade manter a escala humana.

Paradoxalmente o acto de acompanhar Sousa Franco à "última morada" faz-nos acreditar na vida e no futuro. Sei que era isso que ele gostaria de ouvir. E toda a população que quis ver passar o cortejo fúnebre, no seu silêncio respeitoso, nas suas faces hirtas de comoção, nos seus olhos embaciados, mostrava como a política reassume a sua grandeza quando os protagonistas merecem o respeito e a confiança do povo.

Perdeu-se uma vida mas ficou uma lição de liberdade, cidadania e humanismo.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (3)

Deixando de parte a discussão acerca da viabilidade e eficácia do ensino tecnológico, e das medidas que têm sido anunciadas, a sociedade portuguesa vive na expectativa de acolher jovens quadros técnicos formados nas diversas vias disponíveis da "educação profissional".

Nestas vias os jovens completam o ensino secundário, ou seja, o 12º ano e adquirem uma qualificação profissional de nível 3. Conheço essa realidade. A via da "educação profissional" não é uma alternativa menor. É uma alternativa maior. Este caminho já está descoberto e no terreno há muitos anos.

Para além de todas as alternativas que se queiram, legitimamente, implementar é preciso não perder de vista as realidades preexistentes da "educação profissional" e o apoio ao seu crescimento sustentado conjugando experiências, sinergias, recursos e inovação, desde os departamentos do estado, tantas vezes de costas voltadas, até à comunidade educativa, ao "mundo empresarial" e, em geral, à sociedade civil.

(Última parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)



Eleições Europeias mais importantes que nunca

Estas eleições são muito mais importantes do que muitos portugueses pensam. Manuel Villaverde Cabral diz tudo aquilo que me apetecia dizer.

Vejam a sua crónica no DN de hoje.


Ray Charles

Ray Charles, o músico norte-americano apelidado de "génio da soul", morreu hoje, aos 73 anos de idade.

Sempre me fascinou. Lembro-me de o ouvir nas "caixas de discos" e nas "audições clandestinas" que em grupo fazíamos dos cantores proibidos pela ditadura, em particular, José Afonso.

Ao longo do tempo, quando o ouvia, sempre me perguntava a mim próprio porque razão me parecia sempre melhor e exercia o mesmo fascínio das primeiras vezes.