terça-feira, setembro 2

JUSTIÇA

Joseph McDonald

A propósito desta notícia: Paulo Pedroso ganha acção por prisão ilegal no processo da Casa Pia . Imagino os comentários daqueles que só acreditam na justiça quando decide a favor dos seus interesses particulares ou das suas convicções. Lembro-me de uma das muitas reflexões de Camus acerca da justiça:

“Mas ninguém é culpado absolutamente, não se pode pois condenar ninguém absolutamente I) aos olhos da sociedade 2) aos olhos do indivíduo.”

Albert Camus – Cadernos
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Ainda a propósito da sentença de hoje, de novo, Albert Camus, nos Cadernos:

“O pensamento está sempre à frente. Ele vê muito longe, mais longe do que o corpo que está no presente. Suprimir a esperança, é reconduzir o pensamento para o corpo. E o corpo terá de apodrecer.”
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domingo, agosto 31

CAMINHOS DA MEMÓRIA

O passado também é agora. Caminhos da Memória regressam renovados a 1 de Setembro. Darei o meu modesto contributo como colaborador regular.
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PARA A HELENA E VIVAM AS EMPATIAS!


A Helena surpreendeu-me, na verdade, com uma dedicatória a propósito de uma obra sobre Camus. Obrigada pela lembrança. Vi a nota final na qual se reproduz uma frase de Camus . Fui buscar à estante o primeiro volume das Obras Completas, abri nas páginas do primeiro ensaio de “Noces”: “Noces à Tipasa” e, curiosamente, aquela frase está, por mim, sublinhada a lápis:

“Je comprends ici ce qu´on appelle gloire: le droit d´aimer sans mesure. Il n´y a qu´un seul amour dans ce monde. Étreindre un corps de femme, c´est aussi retenir contre soi cette joie étrange qui descend du ciel vers la mer.»

Camus escreveu « Noces », uma das suas primeiras obras, tinha 23/24 anos, em 1936 e 1937, sempre a considerou como um conjunto de ensaios, no sentido exacto e limitado do termo. Foi publicada, em Argel, em 1938. Para se compreender a natureza da obra, de forma breve, cito o que Camus escreveu, a propósito do manuscrito de “Noces à Tipasa”, numa carta dirigida a Marguerite Dobrenn, de 7 de Agosto de 1937: “ Il est écrit pour nous tous, pour nous de la mer”.
Vivam as empatias!
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quinta-feira, agosto 28

OBAMA CANDIDATO


Discursos de Hillary e Bill Clinton, na íntegra, no Pepsi Center. E René Marie. In Caquis Caídos.
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FÉRIAS PAGAS


Primeiro dia de regresso ao trabalho após as férias pagas, essa aquisição recente dos trabalhadores, ao contrário do que muita gente pensa, mais por desmemória do que por outra razão qualquer. Na verdade foi o governo da frente popular, no ano de 1936, em França, que instituiu, alargando às grandes massas de trabalhadores, essa banalidade dos nossos dias que são as férias (pagas).
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quarta-feira, agosto 27

A ESTÉTICA DO CINZENTO


Desta vez o ponto de partida para o tema foi, paradoxalmente, uma reflexão acerca das razões da longevidade de alguns ícones da moda. No MARGENS DE ERRO é possível obter uma apreciação do estado das sondagens tendo por alvo, não as “top models", mas as eleições Presidenciais americanas. Em dois candidatos confrontam-se imaginários opostos, diametralmente opostos, o novo e o velho, a mudança e a continuidade, mas qualquer um deles tem que mostrar que tem dentro dele as expectativas que o outro desperta. Complicado!

Acrescento algumas observações óbvias: as presidenciais americanas decorrem nos USA e não na Europa (quero que ganhe o Obama mas não voto!); entre os factores decisivos para a formação da opinião, e o sentido do voto, está o estado da economia interna nos USA (parece que o eventual agravamento da crise deveria favorecer Obama, mas …); como sempre acontece, no caso de presidenciais americanas, ainda mais nestas, há muitos imponderáveis que podem influenciar o resultado até ao final se estivermos perante uma disputa renhida como parece ser o caso (como vai evoluir, por exemplo, o conflito no Cáucaso?).

Este final de ano apresenta-se, por todas as razões, cheio de dúvidas, perplexidades, esperanças e perigos. Fala-se, abertamente, do regresso da “guerra fria” e há sinais de recessão nas economias dos países do chamado bloco ocidental … Neste quadro todos os cuidados são poucos na gestão das expectativas colectivas e individuais … Pela minha parte tenho receio, para não dizer medo, do que se possa vir a passar!
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FIDEL ÁNGEL GORKY


Ao mesmo tempo, através de generacion y, tomo conhecimento da prisão de Gorky Avila e dou comigo a pensar como funcionam os mecanismos da linguagem dos dirigentes em defesa dos regimes políticos que apoiam – todos os regimes – mas, em particular, dos totalitários… pois a propósito de Gorky Avila também Fidel poderia afirmar: No pudo contenerse.
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terça-feira, agosto 26

O VERMELHO E O NEGRO


Chego ao Benfica pelo caminho das férias. Não para mostrar regozijo pelos dois únicos atletas portugueses medalhados nos JO ostentarem o emblema do Benfica, nem sequer apreensão pelo facto do futebol no Benfica se ter transformado, em definitivo, numa “grande superfície” a qual serve de plataforma para a transacção de “activos” mais do que para o exercício de um desporto que dá pelo nome de futebol. O Benfica corre o sério risco, aliás, já no próximo sábado, logo à 2ª jornada, dizer adeus ao título … Mas o que, na verdade, me tirou do sério foi ter dado comigo, em plenas férias, destinadas ao repouso do corpo e do espírito, a ouvir o Dr. Bagão Félix, na SIC, no papel de comentarista de um jogo do Benfica. Eu sou daqueles que defende a liberdade de expressão, em todas as circunstâncias, estando fora de causa o exercício da liberdade de opinião do Dr. Bagão Félix. Mas, por este caminho, no exercício da minha liberdade que nem o Dr. Bagão Félix, no exercício da sua, conseguirá algum dia limitar, se a coisa se repetir, vou ter de abdicar de ver o Benfica na televisão. Para conhecimento do Dr. Pinto Balsemão!
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segunda-feira, agosto 25

"FALO, MAS NÃO OUÇO!"


No outro dia fomos a Fervença, ali para os lados de Pêro Pinheiro (Sintra) e perdemo-nos na busca de uma daquelas lojas que têm tudo para as obras em casa. Um dos interlocutores ouvidos à beira da estrada, instado a dar opinião acerca da localização da coisa, desarmou-nos: “falo, mas não ouço!”, disse com os olhos muito abertos, loquazes e aparentemente felizes. Pediu para falar mais alto, mas era preciso falar mesmo muito alto. Escrita num papel a rota perdida olhou, rápido e, com incontida exaltação, apontou o sítio que se via a olho nu, “é alem aquela casa amarela!” … “sabem, foi na Suíça” … e gesticulou como se estivesse a manusear um martelo pneumático. “E também parti as pernas!” acrescentou, olhos abertos, loquazes e aparentemente felizes. E retomou a sua marcha com o jeito de quem, com aquela informação precisa e concisa, tinha cumprido uma importante missão. Um perdedor achado numa estrada no emaranhado das estradas dos arrabaldes de Sintra que é uma região como se fosse quase só um arrabalde. Lembrei-me da cena ao ler os Perdedores, tema que os JO estimulam. Portugal ficou em 46º, pela classificação oficial e, pelas minhas contas, só 16 países (em 27) da União Europeu nos suplantaram. Talvez nos achemos perdidos nos arrabaldes da Europa mas perdedores, perdedores, de verdade, já não …
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REGRESSO AO TRABALHO

Regresso de férias em lume brando. As notícias da paróquia vão pouca mais além da Linha do Tua. A linha não encerra mas encerraram os Jogos Olímpicos de Pequim sem protestos – ao menos audíveis - como se tivesse chegado a hora da democracia. Encontrei o Correia de Campos e congratulei-me com o facto de terem deixado de existir problemas com o SNS, ninguém reivindica nem urgências nem maternidades, o INEM chega sempre a horas e os idosos não mais caíram das macas nas esperas da urgência. Parece agora que chegou a vez dos assaltos, um velho tema, o da insegurança (ou segurança), reedição do “filme” já rodado com o Fernando Gomes … sem novidades. Não tarda começam as aulas … o Nogueira deve estar a acabar as férias … e eu vou ter um final de ano cheio de peripécias. Ajustar contas com o passado antes que se faça tarde … é afinal o que estamos a fazer sempre. Aqui vou continuar presente, a partir de hoje, com mais regularidade para quem me quiser encontrar… bem-vindas e bem-vindos … eu vou visitar quem me apetecer, algumas e alguns apetece-me sempre …
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sábado, agosto 23

Joseph R. Biden Jr.

Uma notícia, eventualmente, importante: Senator Barack Obama introduced Senator Joseph R. Biden Jr. as his running mate on Saturday, a choice that strengthens the Democratic ticket’s credentials on foreign policy heading into the general election against Senator John McCain.

sexta-feira, agosto 22

NELSON ÉVORA


Português, filho de cabo verdeanos, nascido na Costa do Marfim. Ganhou a 4ª medalha de ouro, em Jogos Olímpicos, para Portugal numa modalidade do atletismo chamada de técnica. As outras três foram todas conquistadas, no atletismo, mas em corridas de longa distância: Carlos Lopes e Rosa Mota (maratona) e Fernanda Ribeiro (10 000 metros). Há por aqui umas diferenças que mais se avolumam se considerarmos que todas as restantes hipóteses de conquista de medalhas – no presente – se situam em modalidade e provas com forte componente técnica (além do atletismo (saltos e marcha) no judo, na vela, no triatlo e, provavelmente, na canoagem … o mundo nem começou nem acabou com estes Jogos Olímpicos …
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quarta-feira, agosto 20

PS: COM O PÁSSARO NA MÃO!


No MARGENS DE ERRO pode ler-se um estudo muito interessante intitulado: “Uma previsão dos resultados das eleições legislativas de 2009” de Luís Aguiar-Conraria e Pedro Magalhães. (Deixo aqui os sublinhados que constam da própria publicação.)

A investigação sobre Portugal e outros países mostra que a precisão das previsões que se possam fazer com base nas sondagens está muito dependente da proximidade temporal entre a recolha das intenções de voto e o acto eleitoral.

O que queremos prever no caso das eleições portuguesas? O objectivo fundamental, à semelhança do que sucede na esmagadora maioria dos modelos congéneres, é prever a percentagem de votos no partido do governo em relação ao total de votos válidos, brancos e nulos, assim como estimar se esse valor é suficiente para uma vitória eleitoral.

Vários estudos sobre as intenções de voto e a popularidade dos líderes mostram que os eleitores portugueses são predominantemente retrospectivos, ou seja, castigam ou recompensam os governos de acordo com o desempenho económico passado.

Um estudo recente sobre os eleitorados dos dois principais partidos mostra que o PS tende a sofrer sistematicamente, após as suas passagens pelo governo, uma deserção acentuada por parte do eleitorado de esquerda, na sequência de políticas mais centristas do que aquelas defendidas pela coligação de eleitores que o leva ao poder.

Com base nestes pressupostos, o nosso modelo prevê que o PS venha a obter 38,35% dos votos nas próximas eleições legislativas. A probabilidade de que este valor torne o PS o partido mais votado é superior a 99%.
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segunda-feira, agosto 18

BIOGRAFIA DE HUMBERTO DELGADO - UMA LEITURA NECESSÁRIA

Terminada a leitura da Biografia de Humberto Delgado, de autoria de seu neto Frederico Delgado Rosa, não resisto a deixar algumas notas. Na minha meninice – como já antes assinalei – senti pessoalmente o frémito da campanha presidencial de 1958 e nunca mais se apagaram da minha memória as imagens do empolgamento popular que a figura de Humberto Delgado suscitou.

Esta obra promissora de desenvolvimentos, e aprofundamentos, que se aguardam para o próximo futuro, mereceria, além do mais, uma verdadeira divulgação popular que contribuísse para desmitificar o branqueamento do fascismo português e da figura do seu líder e mentor – Salazar – que amiúde se quer fazer passar como um político brando na repressão, tolerante nos costumes e eficaz na política.

A leitura das 1225 páginas de texto deste livro sugere uma meditação acerca do "fenómeno Humberto Delgado", após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, até aos nossos dias, mesmo que não nos aventuremos pelos caminhos da crítica e nos limitemos – como é o caso – ao simples papel de leitores atentos e interessados. Eis algumas breves, e despretensiosas, dessas possíveis reflexões:

(1) É do mais elementar bom senso desconfiar das ideias feitas acerca da história, em particular, da “história oficial”, quando envolve personagens carismáticos e acontecimentos com forte carga política e emotiva;

(2) Os protagonistas que marcam, pelo seu pensamento e acção, a história das nações são homens com suas virtudes e defeitos transformando-se a si próprios a par das transformações que suscitam;

(3) O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a ruptura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria;

(4) Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da acção militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965;

(5) Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá;

(6) Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea anti-salazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e acções, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras;

(7) O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco;

(8) O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos;

(9) Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspectos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites;

(10) Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os políticos, militares, juízes, magistrados, jornalistas e decisores de todos os escalões da hierarquia do estado a começar pelo Senhor Presidente da República;

(11) Espero que o autor, cuja coragem não pode ser só uma herança de sangue, prossiga as suas investigações para que os portugueses possam conhecer todos os meandros do assassinato de Humberto Delgado, para que sejam identificados os seus autores, materiais e morais, assim como os encobridores, localizados os que ainda possam estar vivos, reabrindo, eventualmente, o processo, levando a que os criminosos paguem pelos seus actos e contribuindo, dessa forma, para que os portugueses se reconciliem com a justiça do seu país.

(12) Nunca nenhum processo-crime está definitivamente encerrado enquanto subsistirem fundadas suspeitas de que se não fez justiça. É o caso.
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