segunda-feira, agosto 18

BIOGRAFIA DE HUMBERTO DELGADO - UMA LEITURA NECESSÁRIA

Terminada a leitura da Biografia de Humberto Delgado, de autoria de seu neto Frederico Delgado Rosa, não resisto a deixar algumas notas. Na minha meninice – como já antes assinalei – senti pessoalmente o frémito da campanha presidencial de 1958 e nunca mais se apagaram da minha memória as imagens do empolgamento popular que a figura de Humberto Delgado suscitou.

Esta obra promissora de desenvolvimentos, e aprofundamentos, que se aguardam para o próximo futuro, mereceria, além do mais, uma verdadeira divulgação popular que contribuísse para desmitificar o branqueamento do fascismo português e da figura do seu líder e mentor – Salazar – que amiúde se quer fazer passar como um político brando na repressão, tolerante nos costumes e eficaz na política.

A leitura das 1225 páginas de texto deste livro sugere uma meditação acerca do "fenómeno Humberto Delgado", após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, até aos nossos dias, mesmo que não nos aventuremos pelos caminhos da crítica e nos limitemos – como é o caso – ao simples papel de leitores atentos e interessados. Eis algumas breves, e despretensiosas, dessas possíveis reflexões:

(1) É do mais elementar bom senso desconfiar das ideias feitas acerca da história, em particular, da “história oficial”, quando envolve personagens carismáticos e acontecimentos com forte carga política e emotiva;

(2) Os protagonistas que marcam, pelo seu pensamento e acção, a história das nações são homens com suas virtudes e defeitos transformando-se a si próprios a par das transformações que suscitam;

(3) O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a ruptura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria;

(4) Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da acção militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965;

(5) Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá;

(6) Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea anti-salazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e acções, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras;

(7) O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco;

(8) O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos;

(9) Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspectos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites;

(10) Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os políticos, militares, juízes, magistrados, jornalistas e decisores de todos os escalões da hierarquia do estado a começar pelo Senhor Presidente da República;

(11) Espero que o autor, cuja coragem não pode ser só uma herança de sangue, prossiga as suas investigações para que os portugueses possam conhecer todos os meandros do assassinato de Humberto Delgado, para que sejam identificados os seus autores, materiais e morais, assim como os encobridores, localizados os que ainda possam estar vivos, reabrindo, eventualmente, o processo, levando a que os criminosos paguem pelos seus actos e contribuindo, dessa forma, para que os portugueses se reconciliem com a justiça do seu país.

(12) Nunca nenhum processo-crime está definitivamente encerrado enquanto subsistirem fundadas suspeitas de que se não fez justiça. É o caso.
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VANESSA FERNANDES

Estava difícil mas tinha que ser a Vanessa Fernandes a ganhar a primeira medalha (prata) para Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim. Uma jovem que ainda terá oportunidade de, em condições normais, participar em mais edições dos Jogos Olímpicos. O triatlo é uma das modalidade técnica mais difíceis que exige, para um atleta alcançar um lugar cimeiro, dedicação e abnegação sem limites. Parabéns!
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terça-feira, agosto 12

Negócios, negócios, dinheiro, dinheiro.


Estou cansado de lutar pela sobrevivência moral rodeado de notícias que quase sem excepção só falam, de forma explícita, ou nas entrelinhas, de negócios. Negócios, negócios, dinheiro, dinheiro.

17/7/2008 - [Do diário.]

O COMANDANTE ÁGOAS

O homem que não gosta de massagens

Por esta época, sempre de passagem pelo teclado, sem tempo para delongas, certifico-me que, salvo as noticias dos Jogos Olímpicos e da guerra do Cáucaso, o resto se resume a exercícios de fogo real das polícias, com e sem danos colaterais. O governo mostra autoridade! Vamos a ver se o povo que aplaude, em silêncio, gratifica nas urnas... São, de qualquer forma, exercícios perigosos. Enquanto isso a melhor manchete que encontro disponível é mesmo a que guinda o Comandante Ágoas, à falta de medalhas, aos píncaros da notoriedade. Segundo li, algures, o governo italiano, seguiu-lhe as pisadas … por razões de higiene … vão no bom caminho!
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domingo, agosto 10

ARTICULAÇÕES


Visitei, na última incursão familiar a Faro, a exposição ARTICULAÇÕES, presente na antiga Fábrica da Cerveja. Também reparei na “invasão” da Exposição pela animação sonora do “arraial popular” que decorre nas redondezas. Como hei-de dizer? Não me incomodou particularmente. O que é preciso é ter a imaginação suficiente para integrar o som da música pimba no universo da arte contemporânea. Para a próxima vez, organizem-se! Mas a exposição resiste, pois é muito interessante. Vale bem uma visita!
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sexta-feira, agosto 8

OS JOGOS OLÍMPICOS DE PEQUIM ESTÃO ABERTOS

Os Jogos Olímpicos de Pequim estão abertos, glória aos vencedores, honra aos vencidos. Mas, como sempre, os Jogos Olímpicos também merecem ser olhados como uma realidade política que nunca, em tempo algum, deixaram de ser.
[Através de A Terceira Noite.]

An Open Letter by more than 100 former and current Olympic athletes, including Olympic champions, World champions and World record holders

Dear Mr. President Hu,

We all hope that the Olympic Summer Games in China will be a great success and that the Olympic ideals will come to life.

That is why we are asking you:

- to enable a peaceful solution for the issue of Tibet and other conflicts in your country with respect to fundamental principles of human rights.

- to protect freedom of expression, freedom of religion and freedom of opinion in yourcountry,including Tibet.

- to ensure that human rights defenders are no longer intimidated or imprisoned.

- to stop the death penalty.

China is the focus of worldwide attention. Your decision on these issues will determine the successof the Olympic Games and the image the world will have of China in the future. We are asking you to respect human rights in China in order to achieve lasting peace and reconciliation.

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L’été libertaire d’Albert Camus

«La liberté n’est pas un cadeau qu’on reçoit d’un Etat ou d’un chef, mais un bien que l’on conquiert tous les jours, par l’effort de chacun et l’union de tous (1).»

(...)

On comprend mieux pourquoi la gauche n’a jamais aimé Camus : trop proche des insoumis. La droite, elle, a espéré le récupérer - mais l’antitotalitarisme de l’écrivain, qui l’a mené à Bakounine, le père de l’anarchie, a débouché, comme nous le rappelle activement l’exposition de Lourmarin, sur la non-violence, jamais sur des interventions armées, fussent-elles disculpées par le droit d’ingérence. «Tuer les hommes ne sert à rien que tuer encore.» (2).
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RUY BELO


Pelo 30º aniversário da sua morte (retomando a publicação, em excertos, de A Margem da Alegria – logo colocarei a etiqueta respectiva nas postas antigas …]
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quinta-feira, agosto 7

FARO - O INSÓLITO PSD ALGARVIO


Pobres e mal agradecidos. A governação autárquica da cidade de Faro, salvaguardados raros e esporádicos actos de lucidez, tem sido, ao longo dos últimos decénios, um desastre. Todo a gente o sabe, toda a gente o diz. Uma cidade em declínio mas que possui a maior riqueza natural do Algarve – um naco majestoso da Ria Formosa - e a maior riqueza intelectual da região - a Universidade do Algarve - localizada em Faro. É muito, apesar de todos os erros, deixando em aberto a esperança de um futuro melhor. Mas há quem não tenha emenda. A direcção nacional do PSD anuncia que não se faz representar na Festa do Pontal e o PSD local anuncia que não apoia a atribuição da medalha de ouro da cidade ao primeiro-ministro pela criação de um curso de medicina na Universidade do Algarve. O PSD não se lobriga, abandona à sua sorte os seus próprios prosélitos, desdenha de uma importante conquista em benefício da região, definha, a olhos vistos, como alternativa política, pelo silêncio, ausência e provincianismo.
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quarta-feira, agosto 6

COMBUSTÍVEIS: OLHANDO O HORIZONTE ...


Após a subida que a todos lembra os analistas apontam para uma descida continuada do preço dos combustíveis. Neste caso, como em todos os outros, nestas coisas da economia, nada melhor do que o mercado. Aqueles que sonham com as velhas receitas da intervenção do Estado, através da fixação administrativa de preços, estão, salvo condições extremas que hoje não se verificam, às avessas das boas práticas. Mas ocorreu-me perguntar acerca do destino daquelas medidas especiais da época da subida desenfreada do preço dos combustíveis? O que estarão a pensar fazer as associações de camionistas? Como acomodaram nas suas economias as vantagens particulares que lhes foram concedidas pelo governo? E que dizer da subida do preço da bandeirada dos táxis? Tudo normal! É o mercado. Mas talvez seja bom reconhecer que a intervenção do governo que muitos criticaram por tardia, no essencial, se não justificava. E se os preços subirem de novo e de novo voltarem a descer? Conseguirão certos grupos de pressão, através de ameaças de paralisar o país, obter novos, e injustificados, benefícios à custa da maioria dos cidadãos?
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terça-feira, agosto 5

OS DILEMAS DO PODER ...

Bruni, no fundo, bate no ponto do nosso espirituoso comandante Ágoas: toda a gente sabe como começa, mas ninguém sabe como acaba. Com os dilemas do poder se constrói o prestígio da autoridade …
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Soljenitsyne

Quand Soljenitsyne bouleversait la France et le monde
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A 89 ans, après avoir été au front pendant la Seconde guerre mondiale, subi les privations du goulag et réchappé à une tumeur développée dans ce même camp, Alexandre Soljenitsyne est mort dimanche. Avec l’Ina, récit d’une vie de dissidence qui a bouleversé la Russie, la France et le monde.


[Dos Caminhos da Memória]
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segunda-feira, agosto 4

A BARRA DA CULATRA


Nesta espécie de despique A Defesa de Faro apresenta imagens da “Barra da Culatra”. [Clique nas imagens para ampliar.]
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UM LUGAR DO OUTRO MUNDO

Bruno Barbey - Near the Town of Faro. Gipsy family

De regresso temporário, antes de nova partida, alimentarei aos soluços esta pequena estrada de comunicação. Ainda não foram concluídas as visitas, nem atingidos os mínimos de recuperação (de quê?), talvez do cansaço de permanência no mesmo lugar. As línguas de areia na ponta mais longínqua da ilha da Culatra são um paraíso na terra. Um lugar do outro mundo. Chega-se lá de barco particular e as areias movem-se com as marés não permitindo, graças a Deus, a ocupação permanente pelo homem predador da natureza. Olhando a serra algarvia, que se desnuda a norte, pensei nas gerações dos meus antepassados que de lá olharam este mar de delícias mas raramente provaram, fisicamente, da sua formosura. Contrastes ...
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sábado, agosto 2

MEMÓRIA DA MINHA CIDADE



Uma cidade é a memória viva das suas gentes. Por estes dias revisito a cidade de Faro, ao sul do Sul, calcorreando lugares, revendo famílias, amigos e confrontando-me com memórias. No coração da cidade, frente à antiga “travessa dos surradores” na qual, noutro tempo, suponho, o pelo das bestas era limpo e alisado, sobreviveu uma marca do passado político que também foi o meu.

Deve ser uma das últimas reminiscências da acção dos “pintores de parede” que, no ano quente de 1975, desenharam o símbolo feminil do MES que sobreviveu a todas as limpezas, a todas as tentativas de destruição do centro comercial de Faro – a Rua de Santo António – que se mantém acesa, qual luz bruxuleante, desvanecida, mas viva, como diria o poeta, memória que, apesar de todas as vicissitudes, me conforta.
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segunda-feira, julho 28

HARTZ

A Revista Digital Española de Poesía HARTZ, dirigida por RENÉ LETONA, reservou-me uma surpresa agradável. Na secção OTRAS APARICIONES surge uma breve, e simpática, resenha do meu livro artesanal “Primeiros Poemas”, realizado em parceria com a Isabel Espinheira. Os meus agradecimentos.
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PS NA FRENTE - APESAR DA CRISE


PS volta a subir nas intenções de voto
Depois de em Maio o PS ter caído para os valores mais baixos desde as últimas eleições legislativas, o Barómetro Político Marktest mostra em Julho uma nova subida das intenções de voto neste partido

[Uma sondagem da Católica, de meados de Julho, face-a-face, com base numa amostra maior, dava o PS com 40% e o PSD com 32%. Em qualquer caso, mesmo navegando por mares encapelados, o PS surge, em todas as sondagens, na frente. Pode perguntar-se: isto serve para quê? Para o mesmo que servem todas as sondagens: medir a temperatura do eleitorado e condicionar as expectativas. Se desse o resultado contrário, ou seja, o PSD à frente, a Dra. Manuela Ferreira Leite, embora a contra gosto, soltaria um ai!]
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domingo, julho 27

ATÉ QUANDO ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA?


Este período de férias tem sempre este ingrediente requentado das diatribes do Dr. Alberto João Jardim. Mas este ano o dignitário da Madeira pode ser questionado acerca das razões pelas quais não se candidatou à liderança do PSD – nacional. Já quase toda a gente se esqueceu que, recentemente, tiveram lugar eleições para os órgãos dirigentes do PSD. Jardim posicionou-se para ser “empurrado” para a liderança do PSD (nacional) mas ninguém, do topo à base, se entusiasmou com a ideia. Foi uma pena. Jardim bem merecia ser alcandorado à liderança do PSD. Seria a última oportunidade de se sujeitar ao sufrágio popular, em eleições livres, democráticas e nacionais, recebendo, ao fim de mais de trinta anos, de forma civilizada, a resposta aos insultos que, impunemente, profere contra a democracia que o alimenta.
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sábado, julho 26

CAMUS - a fidelidade


Não se pode dizer que já não há piedade, não, deuses do céu, nós não cessámos de falar nela. Simplesmente, já não se absolve ninguém. Sobre a inocência morta pululam os juízes, os juízes de todas as raças, os de Cristo e os do Anticristo, que são, aliás, os mesmos, reconciliados no «desconforto».
Aquele que adere a uma lei não teme o julgamento que o reinstala numa ordem em que crê. Mas o maior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei. Nós vivemos, porém, neste tormento.
Uma pessoa das minhas relações dividia os seres em três categorias: os que preferem não ter nada que esconder a serem obrigados a mentir, os que preferem mentir a não ter nada que esconder e, finalmente, os que amam ao mesmo tempo a mentira e o segredo. Deixo à sua escolha o compartimento que me convém.
Que importa, no fim de contas? As mentiras não conduzem finalmente à via da verdade? E as minhas histórias, verdadeiras ou falsas, não tenderão todas para o mesmo fim, não terão o mesmo sentido? Que importa, então, que sejam verdadeiras ou falsas se, nos dois casos, são significativas do que fui e do que sou?

Camus - A Queda (Sublinhados de Ana Alves) in Cadernos de Camus

[Um amigo, através de mensagem electrónica, dizia-me, a propósito do meu post 4000, atraiçoado pelo teclado, preparado para uma língua outra: E obra! Forca, forca camarada Graca! Venham mais 5…mil posts! Grande abraço. Calculo que produzir 5000 postas demorasse, ao meu ritmo, mais de cinco anos e o que posso prometer, por ora, é diminuir o ritmo de produção por uma simples e prosaica razão: férias. Como não sou fundamentalista de nenhuma causa não carregarei um portátil às costas por todos os lugares da peregrinação pela nossa terra. Além do mais preciso de ler, caso contrário desaprenderei de escrever!]
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sexta-feira, julho 25

CURSO DE MEDICINA NO ALGARVE

Nubar Alexanian

Um dia, ao jantar, ainda recentemente, um médico amigo deu-se ao trabalho de me explicar o processo de blindagem do acesso aos cursos de medicina. Trata-se, em breves palavras, de pura usurpação do poder por uma corporação ou, ainda mais fininho, por uma geração dentro dessa corporação. A manobra tem contornos dantescos, como tantas outras que ocorrem no nosso país, grotescos e irreais. Mas que existem, existem … Mariano Gago qualifica a situação a que se chegou de irresponsabilidade social: uma elite de médicos, estabelecidos na praça, com as suas ligações em rede, amarrando todos poderes, “secou” o acesso aos cursos de medicina. A ponta do iceberg, que todos podemos observar, em todo o esplendor, são as notas de acesso aos cursos de medicina que podem catrapiscar por aqui. Apesar das evidências do disparate, a roçar as raias do criminoso, a abertura de um curso de medicina na Universidade do Algarve, suscita vagas de comentários desprimorosos, ou mesmo insultuosos, comprovando a força social da corporação, ou de alguns dos seus ilustres membros, que mesmo com os pés para a cova, movem o céu e a terra para manterem a coutada protegida de intrusos que lhes estraguem o negócio. Talvez viesse a propósito ouvir uma palavrinha de Sua Excelência o Senhor Presidente da República acerca do tema. É muito simples: apoia Sua Excelência a expansão da oferta de vagas nos cursos de medicina? Apoia a abertura de um novo curso de medicina na universidade da sua região de origem?
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Generación Y

Aterrizaje forzoso a propósito das comemorações do 26 de Julho, em Cuba, por Yoani Sanchez. O ano passado, por esta data, eu estava lá ...
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BibliOdyssey

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quarta-feira, julho 23

COMBUSTÍVEIS - SEGURAMENTE MAIS PESADOS

Hoje ainda é quarta-feira, 23 de Julho, mesmo no final, véspera de um período tradicional de férias. Salvo uma gasolineira que fez uma baixa simbólica dos preços dos combustíveis todas as outras arrastam os pés mantendo-os ao nível que resultou da escalada dos preços do crude nos mercados internacionais. Conheço razoavelmente, por formação académica, a lei da oferta e da procura, as regras dos mercados, a função dos reguladores, modelos de formação de preços, os conceitos de monopólio, oligopólio e por afora. Em tempos gerou-se, entre os consumidores, um movimento inorgânico de repulsa pelo aumento galopante do preço dos combustíveis.

O consumidor final em sentido geral – cidadão ou empresa – recebeu um forte incentivo à abstenção do consumo pelo efeito preço. É um princípio básico: o preço de um bem aumenta o consumo do mesmo retrai-se. No caso dos hidrocarbonetos – gasolina e gasóleo, para o que nos interessa considerar – o aumento do preço no consumidor final resulta do aumento do preço a montante.

Os produtores, e todos os intervenientes do processo de transformação e comercialização do crude, incluindo especuladores, aumentaram os preços, e as suas vantagens, o que se repercutiu no preço do produto final. O consumidor protesta porque precisa de continuar a consumir, e resiste a alocar a esse consumo uma quota mais elevada do seu rendimento disponível ou, no caso de ser empresa, luta por atenuar a erosão das suas margens. Pressupondo, claro está, que o consumidor quer continuar a consumir por inércia ou pura necessidade de assegurar, por sobrevivência, a continuidade do seu negócio. Não esqueçamos a intervenção do governo que criou, sob a forte pressão de um ou outro lobby organizado, distorções à lógica de mercado.

Onde eu quero chegar é, obviamente, ao movimento que se gera quando o preço cai no produtor como tem acontecido nas últimas seis semanas. Segundo todos os dados disponíveis o mercado, neste caso, deixa de servir para justificar a lógica de fixação dos preços ao consumidor final o que não deixa de ser um fenómeno espantoso. Porque razões, quando caiem os preços do crude no mercado internacional, não caiem os preços dos mesmíssimos produtos no consumidor final? E porque razões ninguém protesta?

As grandes gasolineiras inventam, neste caso, mil e um argumentos para não descer os preços torneando a lógica de mercado. Mas para os subir invocaram o mercado, ou seja, o aumento dos preços nos mercados internacionais do crude. A autoridade reguladora da concorrência está calada que nem um rato. O governo reza pela baixa por puras razões de macro economia: o consumidor que se abstenha de consumir ou que pague o preço da época da carestia. Os agentes económicos – ou parte deles - já foram satisfeitos pela intervenção do governo através de benefícios especiais (transportadores, por ex.) ou liberalização dos preços dos serviços cobrados aos clientes (táxis, por ex.). O que não se entende é onde está o funcionamento do mercado que parece nunca existir em benefício dos consumidores!
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NAIDE GOMES - 7,04

Gomes the star as Europe sweeps the jumps in Stockholm

Posso estar enganado mas não vi uma única imagem animada deste salto em comprimento de Naide Gomes que, com 7,04 metros, passa a ser recorde nacional e iguala a melhor marca mundial do ano. Pormenores!
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A DEMOCRACIA (?) ITALIANA

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terça-feira, julho 22

4000

Esta é a posta nº 4000. Não se trata de uma celebração mas de um número redondo. Este blogue vai a caminho dos cinco anos de vida, é construído à unha, não tem fins mercantis, (aliás nunca recebi um cêntimo pela minha actividade de escriba); sou amador assumido; um optimista da vontade. A principal razão da persistência deste blogue, além do prazer que me dá construí-lo, é, simplesmente, a comunicação: saber que do outro lado está alguém que nos escuta, uma espécie de nova família alargada, uma comunidade, com a qual se ensaia a partilha de um espaço público reinventado. Ter como certo que o futuro não espera por nós….

Aproveito para revelar alguns dos meus blogues de culto que não figuram na lista de favoritos da direita (salvo seja!), e ainda uma fotografia, revelando a minha face, contra os anónimos, marchar, marchar! …
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Bleue



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segunda-feira, julho 21

MADDIE

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O PECADO NA BRASILEIRA


Pelo menos no tempo de aulas, frequentando o Liceu e morando na Rua de Santo António, eu entrava na Brasileira quase todos os dias. Na descida no caminho de casa no tempo do calor – e o tempo do calor durava muito tempo – entrava na Brasileira, passava pelo balcão, tomava na mão um copo de água fresca dos que repousavam em cima de uma bandeja, bebia-a sofregamente e desandava. Lembro-me do ambiente como se fosse hoje: dos empregados, do patrão, do ar fresco do interior, pelo menos para mim, e do fascínio dos gelados que não eram para comer a toda a hora, nem sequer todos os dias, mas somente nos dias de festa. Foi na Brasileira que, pela primeira vez, de forma vibrante, senti um revés na minha formação católica. Após uma cerimónia na Sé – não sei se o crisma se a comunhão solene – transgredi com as regras que me haviam, dolorosamente, sido ensinadas. Escapei-me sozinho – não sei porquê – dirigi-me à Brasileira e não resisti: comi o gelado que não deveria ter comido e assumi o sentimento de culpa que guardei bem guardado. A verdade é que, no momento, me reconciliei com a vida terrena caindo numa das suas armadilhas.
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Ciganos lançam ultimato

Ferdinando Scianna

Este processo mistura todas as vicissitudes dos processos de realojamento (vindos dos anos 80/90), questiona os princípios clássicos da integração social (tão caros à esquerda) e faz emergir as questões da criminalidade e segurança pública (transversal a todos os estratos sociais). Começa a dar a imagem de uma questão mal enquadrada pelas autoridades que pode vir a criar um problema de proporções imprevisíveis. Espera-se que não tenha que ser o primeiro-ministro a lançar mão à resolução do problema que se não compadece com simplificações administrativas pois não é tolerável que qualquer parte do território nacional não seja livre de ser frequentado, e habitado, por qualquer cidadão seja qual for o seu estrato social, etnia ou estado de alma.
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"The Dark Knight"

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BERLIM


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sábado, julho 19

Borislaw Geremek

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REFLEXÃO ACERCA DO TEMPO

Regressemos à infância feliz
(dos dias sem tempo perdido)
Oiçamos o ruído imperceptível
(das vozes do nosso sangue)
Adivinhemos a força do vento
(do segredo bem guardado)
Cuidemos da memória pura
(dos amantes da liberdade)

30/4/2008
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sexta-feira, julho 18

MENEZES VOLTA A ATACAR

Luís Filipe Menezes, para quem não se lembre, o anterior líder do PSD, passou à táctica de guerrilha. Tendo abandonado a liderança do partido sob uma chuva de críticas, em forma de campanha organizada, que sempre denunciou, e volta a denunciar, Menezes anunciou retirar-se para a pacatez da gestão do município de Gaia mas, a partir de hoje, tornou claro que está pronto para o combate pela liderança do partido. Senão qual o sentido do parágrafo com que encerra o artigo publicado no DN?

Menezes irá flagelar a liderança de Manuela Ferreira Leite com críticas tanta mais duras e certeiras quanto o PS, e Sócrates, se mantiverem confortáveis nas sondagens, descendo devagar mas não o suficiente para que o PSD ameace, de forma credível, a sua maioria nas eleições legislativas. Menezes torna-se um aliado de Sócrates partilhando ambos, cada um à sua maneira, um velho, e brilhante, lema de António Gramsci: “O nosso pessimismo aumentou, mas permanece vivo e cheio de actualidade o nosso lema: pessimismo da inteligência, optimismo da vontade”. (L´Ordine Nuovo, 4 de Março de 1921).
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NELSON MANDELA



Pelo 90º aniversário de Nelson Mandela Sequência de fotografias de Ian Berry

1961. Nelson Mandela.
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Nelson MANDELA, soon to become President MANDELA, at the election night victory celebration in the Carlton Hotel in Johannesburg. Here he receives a hug from Mrs Chris HANNI, widow of ex MK leader Chris HANNI, assassinated before the election.1994. The MK is the military wing of the ANC.
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Nelson MANDELA and F.W. DE KLERK. 1994.
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quinta-feira, julho 17

SARAMAGO NA "CASA DOS BICOS"

Jean Gaumy – Lisbon. October 1990

Não sou um apreciador entusiasta da obra e da personalidade de José Saramago. Mas há algo de incompreensível e irracional na posição daqueles que disseram não à cedência da "Casa dos Bicos" à Fundação José Saramago. Os que se opuseram, não só pela palavra como pelo voto, foram Carmona Rodrigues (ex-presidente da CML, apoiado pelo PSD) e, mais significativo, o próprio PSD. É esta uma consequência prática da política preconizada por Manuela Ferreira Leite seguindo o lema “não há dinheiro para nada”.

A importância desta decisão da CML, para a cidade de Lisboa e para o país, é tão óbvia que entra pelos olhos dentro de qualquer cidadão normal. A "Casa dos Bicos" – goste-se ou não da sua arquitectura – associada à biblioteca de Saramago e às actividades que a Fundação, certamente, desenvolverá, tornar-se-á uma referência cultural da baixa de Lisboa e do país. O essencial do investimento da CML neste projecto é de natureza imaterial e tem um valor cultural muito apreciável. O resto é mesquinharia.
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quarta-feira, julho 16

INFLAÇÃO - BOM RESULTADO (RELATIVO) PARA PORTUGAL

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NEIL YOUNG (PELO MEU FILHO MANUEL)


Apareceu em palco com um blazer salpicado de tinta verde fluorescente e logo se percebeu que aquilo não ia ser, à semelhança de bob dylan, uma deprimente espécie de concerto de um gajo envelhecido... Ao contrário de bob dylan, que se revelou uma múmia cansada destas andanças e mt arrogante, neil young revelou td a sua juventude do alto dos seus 62 anos.

Interacção qb, muitos saltos e grandes guitarradas deixaram os fãs realizados... sem medo nem vergonha do seu estatuto de "dinossauro" aproveitou-se dele tanto para apresentar o seu mais recente álbum como também para tocar todos os clássicos em grande estilo... (faltando apenas o "Hey Hey, My My"o que nos deixou tristes...)!

Com imensos instrumentos em palco todos os membros da banda foram rodando nos instrumentos estando assim o concerto em constante mudança...mantendo sempre a energia do público. Os pontos altos foram sem duvida o "Rockin' in the Free World" que pôs td o público a cantar e, para mim, "The Needle and the Damage Done"...

Neil terminou o concerto, como se esperava, com um cover dos Beatles no qual foi completamente à loucura destruindo a sua guitarra...por fim abandonou o palco entre muitos aplausos para dar lugar a Ben Harper!

[Segunda posta do meu filho Manuel desta vez acerca do concerto de Lisboa de Neil Young! – este é um fenómeno interessante: o gosto das novas gerações cruza-se, muitas vezes, com o das mais velhas!]
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BISBILHOTICE

Eric Percher

O meu coração balança entre o fascínio d´O admirável mundo dos ‘chips’ e o velho mundo das pegadas e impressões digitais. A devassa da nossa vida íntima está à mão de qualquer aprendiz de feiticeiro. Quando me aproximo de um terminal multibanco já sei que estou a ser filmado; quando meto a chave à porta de casa idem; quando estabeleço uma comunicação telefónica, pela rede fixa ou móvel, quando envio uma mensagem electrónica ou acedo a um site, sei que posso estar a ser vigiado! Para não falar das bases de dados da administração fiscal, dos bancos e por aí fora … Já li, há muito, os livros que anteciparam o “big brother”. Uma brincadeira de crianças … Mas ainda pior que todos os dispositivos mecânicos disponíveis para o homem se vigiar a si próprio é o “chip” que o homem incorpora na sua natureza que dá pelo nome de bisbilhotice (uma saudação para o Matias Alves!).
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ILDA

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terça-feira, julho 15

MICHELLE BRITO

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BANCO DE PORTUGAL - REVISÃO EM BAIXA


Foi tornado público o Boletim Económico Verão 2008 do Banco de Portugal. Como seria de esperar uma revisão em baixa da previsão de crescimento da economia, em 2008, desta feita, para 1,2%. Deixo, de seguida, os dois primeiros parágrafos da Conclusão:

As actuais projecções apontam para um fraco crescimento da economia portuguesa em 2008 e 2009, contemplando desta forma a interrupção do processo de recuperação gradual da actividade económica verificado nos anos anteriores, o qual tinha sido caracterizado por uma evolução mais favorável das exportações a partir de 2006 e por uma expressiva aceleração do investimento em 2007.

Na segunda metade de 2007, ocorreram vários choques de origem externa, nomeadamente a eclosão de uma turbulência sem precedentes nos mercados financeiros internacionais, associada a uma rápida e significativa reavaliação do risco pelos investi dores. As indicações mais recentes apontam para uma maior persistência desta situação de turbulência face ao inicialmente esperado, afectando em especial a evolução dos mercados de exportação e as condições de financiamento dos agentes económicos. Ao mesmo tempo, verificou-se uma intensificação do aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais, para níveis historicamente elevados em termos nominais e reais.
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Não resisto a anotar este curioso subtítulo na notícia da RTP (on-line) acerca da previsão da inflação em Portugal e na Zona Euro (é o serviço público no seu melhor!):

Taxa de inflação superior à da Zona Euro
O governador do Banco de Portugal disse aos deputados que o país conquistou competitividade externa nos últimos nove meses, porque tem uma taxa de inflação inferior à da Zona Euro. Temos tido uma inflação mais baixa do que a área euro, o que acontece pela primeira vez”, disse Constâncio. Uma inflação mais baixa que a da Europa a 15 traduz-se “por um ganho de competitividade externa”, explicou na comissão de Orçamento e Finanças. Portugal mantém o ritmo de crescimento de preços inferior aos seus parceiros do euro desde Setembro de 2007, acrescentou Constâncio.
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