segunda-feira, agosto 22

UM CRIME COM AUDIÊNCIA


Imagem de Conta Natura

Toda a gente sabia, desde há muito, que 2005 seria um ano forte de incêndios florestais. Basta saber somar 2+2. Eu próprio escrevi um artigo acerca da questão da água e da seca severa, ou extrema, que tem assolado o país e toda a Europa meridional. Nada do que está acontecer é surpresa para ninguém.

O governo entrou em funções no tempo errado para a abordagem estruturada desta questão. Não esquecer que as eleições decorreram em finais de Fevereiro e o governo iniciou funções em pleno período em que já deveria estar executado todo o programa de prevenção e em estado operacional o programa de combate aos incêndios florestais. São as questões de calendário.

Mas não são essas que me preocupam agora. O que me preocupa é, como tem sido aflorado por muita gente, o papel dos órgãos de comunicação social, em particular os canais de televisão, na informação acerca dos incêndios florestais.

Estamos a assistir, semanas a fio, a um verdadeiro crime a que ninguém tem coragem de por fim. A acção de todos os canais de televisão na transformação dos incêndios num espectáculo mediático é, pura e simplesmente, um crime.

As reportagens, sistemáticas e repetitivas, em directo, à boca da fornalha, as entrevistas com populares em pânico, a exploração das imagens dantescas do fogo a galopar a floresta, são um chamamento à faceta animalesca que o homem trás dentro de si. Geram incendiários que anseiam por produzir o seu próprio espectáculo. Degradam a auto estima das populações. Revelam o lado negro do negócio da comunicação, dominado, em exclusivo, pelas audiências, sem sentido de ética quanto mais de patriotismo.

Os juristas que façam o enquadramento legal do crime em apreço e o Estado, através dos legítimos representantes do povo, que ponha termo a este escândalo. A não ser assim um dia vamos ter um clamor em favor de uma nova censura.

4 comentários:

galgata disse...

Leí lo de los incendios en el diario!!! Es un verdadero escándalo :(
Lo siento!
El calor a veces hace cosas horribles.

Eduardo Graça disse...

Obrigado pela tua atenção. A seca e o calor fazem coisas horríveis mas o homem não ajuda nem cuidando do ordenamento do território, nem no estabelecimento de regras para a escolhas das espécies a plantar, nem na limpeza das matas, nem na forma como divulga o flagelo. Parece uma encenação de um espectáculo que "vende".

maria disse...

Todos sabemos tudo. O que se deve fazer, quando se de fazer, como se deve fazer. Por isso a impotência cala mais fundo. Quando já não podemos fechar as portas, quando não podemos cerrar os olhos, porque mesmo com as portas fechadas e os olhos cerrados, o cheiro da destruição entra-nos na alma. Então penso porque é que a minoria de que eu faço parte não é mais extensa?

Eduardo Graça disse...

Pois é. Passamos o dia a ouvir falar num debate nacional acerca do assunto. O governo já abriu tantas frentes de combate que tocam interesses corporativos... parece que os polícias vão fazer uma manif e ameaçam com mais qualquer coisa ... estou curioso de saber o quê... os profs.... o pessoal da justiça ...Como não quer a coisa está toda a gente a empurrar o governo para a tomada de medidas draconianas, a respeito da floresta, que, ao longo de décadas, ninguém foi capaz de tomar. Talvez, para já, seja necessário fazer cumprir as leis que existem: limpeza da mata 50 metros em redor das casas, nada de foguetórios, etc...