O meu pai
Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado
pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos.
Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de
cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até
ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas
de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas
as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para,
apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e
ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi.
Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma
das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à
vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
[Um dos posts de
família, este de 12 de dezembro de 2006, através dos quais, sempre com um prazer
muito especial, me reconcilio com a memória.]
[Republicado em 10 de dezembro de 2012.]
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