A minha inscrição no PS (Partido Socialista Português) ocorreu em 1986, após a extinção festiva do MES, em 1981, seguida de um conjunto de iniciativas fracassadas para tentar manter viva a chama de uma participação politica ativa independente dos partidos. A certa altura foi necessário fazer opções. Pela parte que me toca, decidi, em conjunto com um grupo que sempre se havia mantido unido, aderir ao PS. A minha militância nos anos mais recentes tem sido escassa mais por razões das funções públicas que tenho exercido do que pela falta de interesse pela politica que nunca me abandonou nem, certamente, abandonará. Não me sinto confortável misturando funções institucionais em organizações públicas, ou para públicas, e atividade política partidária. Mas sempre, nos momentos que considero relevantes, e decisivos, não me dispenso de tomar posição no terreno da disputa partidária. Sinto essa obrigação e não cedo a qualquer tipo de calculismo. Nas vésperas de uma eleição original no nosso regime democrático parlamentar - que defendo - as chamadas primárias, venho declarar o meu apoio a António Costa. Razões? Algumas que a razão desconhece! Outras que se fundamentam, no essencial, na perceção que Costa é o político profissional da área do centro esquerda mais capaz de buscar consensos em todas as direções e, mais importante, de os concretizar. Na nossa sociedade contemporânea esta é para mim a faceta mais importante de um líder de um partido de poder, pois é disso que se trata quando se fala, no nosso país, do PS ou do PSD. Nada sei, nem me dou ao trabalho de adivinhar, acerca do futuro da governação pós eleitoral. Mas sei que convém a toda a gente, seja qual for o seu posicionamento politico/ideológico, que o PS seja capaz de dialogar, de forma séria e realista, à sua esquerda e direita. Parece uma banalidade mas é da essência da politica a capacidade de, aceitando as diferenças e refregas próprias da luta democrática, buscar o maior consenso possível sem abdicar nunca da defesa dos princípios da liberdade e da democracia. Penso que, no campo socialista, Costa é quem reúne as melhores condições para pacificar o seu próprio partido e lançar as sementes de uma reforma profunda do regime que o salvaguarde da voracidade dos populismos que o ameaçam.
(Publicado em 26 de setembro de 2014 e que, no essencial, corresponde ao que penso hoje - apesar de toda a vozearia própria das campanhas eleitorais - nas vésperas das eleições legislativas de 4 de outubro.)
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