quinta-feira, dezembro 27

CGD/BCP


Umas notas mais acerca da saga BCP/CGD após ter lido e ouvido uma multidão de opiniões e notícias. Interessante a argumentação acerca da partilha dos lugares pelo chamado bloco central na lógica antiga inaugurada por Almeida Santos e Ângelo Correia, aquando do governo do ” bloco central”, nos idos dos anos 80. Dizem os defensores da partilha centrista – um modelo como outro qualquer de partilha do poder - que sempre que o governador do Banco de Portugal é socialista o presidente da CGD é social democrata.

O argumento é falacioso. Pois nem sequer é necessário recuar muito tempo para encontrar a situação oposta, ou seja, basta olhar para a situação que durou até ontem: o actual governador do Banco de Portugal – Constâncio – é socialista – até foi secretário-geral do PS – e o ex-Presidente da CGD - Santos Ferreira – também é socialista (ou próximo)!

O mais extraordinário fenómeno que surgiu nos meandros desta discussão pública – e ainda bem que há discussão pública – foi a intervenção de Luís Filipe Menezes exigindo a nomeação para a presidência da CGD de um social democrata, no caso referindo o nome de Miguel Cadilhe, quando, ao mesmo tempo, numa entrevista ao Expresso, anunciava a sua intenção programática, que é para levar a sério, de desmantelar o Estado, ou, para ser mais preciso, nas suas palavras: desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem na sociedade portuguesa e que oprime as pessoas [o link para a entrevista, como por milagre, desapareceu].

Como alguém dizia o que Menezes poderia argumentar, para manter o mínimo de coerência, era uma modalidade qualquer de privatização da CGD o que não seria sequer original no ideário recente do PSD.

No meio de tudo o argumento crítico mais forte contra o trânsito de Santos Ferreira da CGD para o BCP é o da carência de uma chamada “cláusula de rescisão” pois, na verdade, não é de admirar que os accionistas do BCP fiquem todos contentes em contratar um gestor que conhece por dentro o seu maior concorrente.

Além do mais com ele vão mais dois, ou seja, o núcleo duro dos futuros gestores do BCP - o maior banco privado português- vai ser constituido por uma tríade de gestores que levam consigo – sem beliscar a sua honestidade pessoal – todos os segredos da concorrência a que acresce ainda o ex-Director Geral dos Impostos – Paulo Macedo – que conhece todos os segredos da “máquina fiscal”.

Como diria o outro: não está nada mal, não senhor!
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quarta-feira, dezembro 26

Oscar Peterson

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BCP/CGD


O BCP vai mudar de gerência, os accionistas lá saberão porquê. Hoje mesmo o presidente da CGD, em fim de mandato, vai selar a saída da Caixa a caminho da presidência do BCP. Trata-se de um gestor de créditos firmados. É, certamente, uma boa escolha. Só não se entende qual o papel do Vara, ou para bom entendedor …

A democracia vive com suas virtudes e seus defeitos. Vara representa aquela categoria de personagens que sobrevivem por obra e graça dos insondáveis mistérios da democracia como outros personagens sobreviveram graças aos insondáveis mistérios da ditadura. Assim seja …

Para a Presidência da CGD transitará um personagem da outra metade da esfera central do regime que permanece, por ora, na penumbra. O regime respirará de alívio se for encontrada uma solução a contento de todos menos de Luís Filipe Meneses que já deve ter percebido que o verdadeiro líder do PSD é, afinal, … Cavaco Silva.
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terça-feira, dezembro 25

Sarkozy y Carla


Isto é mesmo a sério mesmo que seja só um romance para fazer notícias pois a política é cada vez mais um encadeado de romances para fazer notícias.

Luís Filipe Menezes, além da “aposta radical (…) de, em meia dúzia de meses, desmantelar de vez o enorme peso que o Estado tem na sociedade portuguesa e que oprime as pessoas”, ainda está a tempo de aprender como se pode fazer sonhar as pessoas …
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Vivre avec Picasso


Uma primeira nota acerca das minhas prendas de Natal. A primeira de todas vai para: Vivre avec Picasso, de Françoise Gilot. Já contei, muito tempo atrás, a odisseia da edição em português deste livro [A minha vida com Picasso] que um dia perdi e recuperei, por acaso, num alfarrabista depois de já ter perdido as esperanças. É um daqueles livros “menores” que contribui para a felicidade dos leitores apaixonados por este género de literatura.
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quinta-feira, dezembro 20

ÁRVORES

Helder Gonçalves
(Clicar na fotografia para aumentar)

Camponês, que plantaste estas árvores reais como pássaros vivos na verdura autêntica das ramagens, sabias bem que nada valem as suas asas fulvas e imaginárias nas florestas do tempo.

Tu sim, que concebeste todas estas folhas, flores e frutos, toda esta terra de harmomia – no tamanho duma semente mais pequena que o coração das aves.
“Terra de Harmonia” – Obras Completas – Círculo de Leitores
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quarta-feira, dezembro 19

ANIVERSÁRIO

Fotografia de Helder Gonçalves
(Clicar na Fotografia para ampliar)

Obrigada ao Luis Novaes Tito, da Barbearia, ao António Pais, do Fim de Semana Alucinante, à Addiragram, das Aguarelas de Turner, à Helena F. Monteiro, da Linha de Cabotagem, ao Nuno, de A Defesa de Faro, à Carminda Pinho, do Forum Cidadania, à Joana Lopes, do Entre as Brumas da Memória, ao Helder Gonçalves pela magnífica fotografia e aos que, por outros meios, até este momento, tiveram a gentileza de saudar o aniversário deste blogue que me permitiu ainda descobrir o Aniversário de Blogues.
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QUATRO ANOS

Posted by PicasaFotografia de Helder Gonçalves

Deixar uma marca

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
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terça-feira, dezembro 18

RETRATO DE SÓCRATES NO "LIBÉRATION"

José Sócrates. Blairiste et déterminé, le Premier ministre socialiste portugais, 50 ans, a été la cheville ouvrière du traité simplifié, signé jeudi à Lisbonne.

(…)
«Qu’est-ce qui différencie la gauche de la droite ? L’égalité. Mais pour moi la première valeur, celle qui l’emporte sur les autres, c’est la liberté. Je suis donc un démocrate socialiste.»
(…)
«Mon père, architecte, s’est arraché à la misère, rappelle-t-il. C’est vrai, je suis un provincial, je me suis fait sans demander la permission à personne. Je n’ai pas d’alliés parmi les maîtres à penser portugais et l’aristocratie de gauche.»
(…)
«Si la gauche considère que je mène une politique de droite, elle a tort : je remets sur pied l’Etat social. Les nations endettées ne sont pas libres. La gauche, ce n’est pas l’immobilisme, c’est le mouvement, l’évolution.»
(…)
S’il est en «plastique», c’est un plastique dur.
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DIVAS & CONTRABAIXOS

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CARLA BRUNI


O recém-divorciado presidente da França, Nicolas Sarkozy, foi visto acompanhado da cantora e ex-top model Carla Bruni, em uma visita à Euro Disney, em Paris, no último sábado.


Se for o caso só mostra bom gosto!

segunda-feira, dezembro 17

ORÇAMENTO CML - 2008


O orçamento da Câmara Municipal de Lisboa para 2008, proposto pelo presidente, António Costa (PS), foi hoje aprovado com os votos contra do movimento Cidadãos por Lisboa e PCP, as abstenções do movimento Lisboa com Carmona e do PSD, e os votos favoráveis do PS e do Bloco de Esquerda.

O orçamento para 2008, o primeiro no âmbito do plano de saneamento financeiro, totaliza 546 milhões de euros, representando um corte de 32 por cento no valor global da despesa, face a 2007,….

O mais interessante nesta notícia é o facto do Orçamemto ter sido aprovado com os votos contra do Movimento Cidadãos por Lisboa (Helena Roseta) e do PCP. Estou curioso por saber quais as razões que explicam estes votos contra a proposta de orçamento.

Um voto de protesto contra a direita, personificada pelo socialista António Costa, coligado com o BE? Ou um voto pela positiva em nome de um orçamento alternativo?
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PROCESSO UGT

Não conheço o chamado “processo UGT” mas ouço falar dele há um ror de anos. Nada sei dos detalhes da acusação, nem das eventuais responsabilidades dos acusados. O que sei é que a voz popular, face ao desfecho da sentença, a absolvição, proclamará que a culpa morreu solteira.

Tudo visto e ponderado só me apetece dizer que este processo, com pessoas arguidas durante vinte anos (20), com todas as manobras processuais e os efeitos da erosão do tempo, apesar da sentença, configura uma situação de “terrorismo de estado”, ou estou a exagerar? [Imagem daqui]
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domingo, dezembro 16

Jorge Semprun

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Memórias ...


Nasci ao fundo da Rua de Santo António e ali aprendi a andar. Recordo diferentes Natais por ali passados, todos diferentes, todos iguais ao longo dos últimos 40 anos. Recordo com emoção, os últimos passeios antes das lojas fecharem pela mão do meu avô a "admirar as montras" como ele dizia. Ou então, à espera do meu pai, já fora de horas, a atender os últimos clientes que vinham de longe e que não podiam ir de mãos a abanar. E eu à espera que a loja fechasse. E o gato com o rabo a abanar. E sempre as lojas, sempre o servir. Servir e sorrir, ser competente e atencioso, ser melhor, ser diferente. A qualquer hora, fora de horas, a toda a hora…Sinto-me em casa por ali…como se sentem milhares de pessoas que nesta altura e noutras alturas procuram fugir da massificação das compras por obrigação. Que procuram apenas uma boa tarde sentida de uma cara conhecida e um doce que não venha de um franchising pasteleiro. E dois dedos de conversa. E um olá. E um café. E outro. Sem tempo, sem pressa. Apetece-me dizer que vim só por vir, que vim para estar enquanto noutros sítios digo ao que vim e o que quero comprar. Esta concentração cosmopolita dos pequenos prazeres humanos em tão pequeno espaço físico não a encontro em mais nenhuma outra parte do Algarve apesar dos teatros, arenas, shoppings e outras obras dos faraós locais. Quando por ali estou sei que pertenço aqui. Que este espaço é meu. Que faço parte desta cidade. Que não sou um mero cliente. E arrumo-me, faço a barba e até transporto um certo porte de respeito para com ela. Piso com cuidado a calçada portuguesa. Quem sabe, talvez encontre ao virar da esquina um antigo amigo, o Sr. Rodrigues ou até aviste o meu avô. Para lhe agarrar a mão e irmos por aí admirar as montras e acabarmos aquela conversa inacabada que um dia retomaremos.
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sábado, dezembro 15

Oscar Niemeyer

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ALDEIAS DO INTERIOR DE PORTUGAL

O Pedro Pedrosa criou uma empresa na área do turimo aventura prosseguindo a sua paixão no apoio à construção de projectos de desenvolvimento turístico sustentável. Foi ele o Coordenador do projecto da Carta do Lazer das Aldeias Históricas que, depois de um longo período de hibernação, parece querer voltar a levantar voo através de um portal, finalmente adjudicado, em construção, ainda sem endereço, e da constituição de uma agencia de gestão da marca publica-privada à semelhança das Aldeias do Xisto.

No projecto Aldeias do Xisto foi constituida uma agencia - ADXTUR - que agrupa todas as Câmaras Municipais, agências privadas, associações e individuais que têm por fim gerir e manter a qualidade da marca e do destino com trabalho em curso de certificação da qualidade de serviços e de imagem, entre outros.

Os meus desejos sinceros de boa sorte pois todas estas inicitaivas, sendo uma realidade pouco conhecida, são verdadeiras guardas avançadas do desenvolvimento económico/social de regiões deprimidas do interior do país.
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quinta-feira, dezembro 13

TRATADO, REFERENDO ...

Hoje, apesar da dor de cabeça, é impossível não escrever algo acerca do Tratado Reformador de Lisboa. Neste dia 13 de Dezembro foi selado um compromisso entre os 27 governos dos países da UE em prol do prosseguimento do projecto europeu que teve inicio em 1957. Falta a fase de ratificação do Tratado por cada um dos países membros e, como seria de esperar, veio à tona a questão do referendo.

Não há neste facto quelquer novidade nem mesmo surpreende a aliança entre as forças políticas que ocupam os extremos de qualquer hemiciclo em prol da realização do referendo. O que surpreende é o facto, por exemplo, da Juventude Socialista ter saído, hoje mesmo, em sua defesa.

Já dei o meu modesto contributo acerca do Tratado e do Referendo em dois artigos de opinião: PORTUGAL NA PRESIDÊNCIA e REFERENDO E TRATADO EUROPEU. Reconheço que a defesa do referendo, reclamado pelo PS no seu programa eleitoral, e também pelo PSD, se tornou num compromisso inconveniente mais por razões dos outros do que de nós mesmos.

Mas seria uma jogada política de mestre se Sócrates, apesar das razões que diz assistirem às dúvidas do Presidente, viesse a propor a realização do referendo, ou seja, cumprisse com o prometido. Difícil? Impossível? Deve ser da febre. Mas sempre me dava a oportunidade de votar: SIM!

Mas caso a opção do Governo socialista seja a da ratificação do Tratado pelo Parlamento então terá que explicar, com detalhe e detença, as razões da quebra do compromisso eleitoral que assumiu perante os portugueses. Não me parece que esta explicação seja politicamente irrelevante. Parece-me mesmo que será muito relevante não tanto como resposta às tomadas de posição do PCP e do BE mas pela credibilidade política do próprio PS enquanto partido de Governo.
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Para quem ainda tenha dúvidas acerca do sucesso da presidência portuguesa da UE vale a pena ler este depoimento qualificado.
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uma por rolo

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terça-feira, dezembro 11

EDUCAÇÃO


Aviso à cabeça que não assisti ao debate de hoje no parlamento, versando o tema da educação, e que o que sei resulta da leitura das notícias na net e de uma imagens que vi passar num café onde avistei o tiranete de dedo espetado a perorar … imagino que fosse acerca de segurança.
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Mas serve o presente post só para dizer que, apesar de ser apóstolo do futuro que, como diz o povo, a Deus pertence, há um tema acerca do qual Santana Lopes não devia abrir a boca sem morrer de vergonha: a educação. Também é verdade que a vergonha não é o seu forte …
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A ministra da educação do governo de Santana Lopes foi uma senhora chamada Maria do Carmo Seabra, o grau zero na matéria, sendo a época do seu magistério a da maior balbúrdia no ME de que há memória nos últimos decénios, incluindo a deslocalização de uma Secretaria de Estado para Aveiro.
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Todos os indicadores, acerca do estado da educação em Portugal, que têm vindo a lume, se referem a períodos de tempo que não ultrapassam o ano de 2006 quando é sabido que o actual governo entrou em funções na primavera de 2005.

Todos os dados avançados, seja por quem for, com mais ou menos grau de certeza, no plano quantitativo, são meramente empíricos, ou provisórios, pois em matérias de educação não é possível escrutinar resultados qualitativos à distância de um ou dois anos face ao momento da tomada de novas medidas de política.

O mais seguro para todos , críticos e criticados, oposição, corporações e governo, se estiverem de boa fé, é esperar pelos resultados de 2008 que devem ser divulgados em 2009, exactamente o ano das eleições legislativas. Ora aí está um timing apertado, mas razoável, para se realizar um balanço acerca dos resultados da política de educação deste governo e dele retirar as devidas ilacções. A democracia tem algumas coisas que fazem lógica!
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A CHINA E A CIMEIRA UE/ÁFRICA

China diz-se satisfeita com conclusões da cimeira Europa-África em Lisboa

Os chineses é que sabem! Vejam lá se encontram na tomada de posição que divulgaram alguma palavra crítica acerca da cimeira EU/África? Os chineses que estão em África em força escolhem, assim, na sua infinita sabedoria, aliarem-se aos seus potenciais concorrentes. Mais vale prevenir do que remediar …
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segunda-feira, dezembro 10

SEIXAS DA COSTA

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Otis Redding

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ALBERT CAMUS - O DIA DO NOBEL CINQUENTA ANOS DEPOIS


Quando soube da atribuição do Prémio Nobel “pela sua importante obra literária, que foca com penetrante seriedade os problemas que se colocam nos nossos dias à consciência dos homems”, Albert Camus escrevu nos Cadernos: “Prémio Nobel: estranho sentimento de desânimo e melancolia. Aos vinte anos, pobre e nu, conheci a verdadeira fama” .

Camus afirmou então que o Prémio deveria ter sido atribuido a André Malraux e manifestou dúvidas acerca da sua própria capacidade e força criadora que sempre o atormentaram. Após o anúncio da atribuição do Nobel sujeitou-se a ataques odiosos, que o não deixaram indiferente e comentou: “Assustado com aquilo que me acontece e que não pedi. E, para cúmulo, ataques tão infames que o coração se me aperta.”(Cadernos).

Mas Camus, segundo todos os testemunhos, não podia, nem queria, recusar o Prémio. Telefonou, de imediato, à mãe, que sempre viveu na Argélia, como que a agradecer à sua origem a honra que lhe tinha batido à porta. Escreveu a Jean Grenier, o seu professor e mentor intelectual : “(…) quando recebi a notícia, o meu primeiro pensamento foi, depois de minha mãe, dirigido ao senhor. Sem o senhor, sem essa mão efectuosa que estendeu à criança pobre que eu era, sem a sua instrução e o seu exemplo nada disto tinha acontecido.” (citado a partir de Roger Quilliot).

René Char, um amigo de todas as horas, não cabia em si de contente e manifesta esse contentamento de várias formas incluindo um artigo publicado, logo em 26 de Outubro de 1957, no Figaro littéraire, intitulado “Je veux parler d’ un ami”.

No ínicio de Dezembro de 1957 Camus partiu com a mulher, Francine, para Estocolmo e, em todas as suas aparições em público, tinha a consciência que devia estar preparado para ser atacado a propósito da sua discrição a respeito do conflicto na Argélia que estava no auge.

Albert Camus , a 10 de Dezembro de 1957, passam hoje 50 anos, recebeu das mãos do Rei Gustavo VI da Suécia o diploma e, no banquete que se seguiu, proferiu o seu discurso de agradecimento. Logo num dos dias seguintes escreveu a Jean Grenier descrevendo, de forma sintética, o que sentia: “A corrida acaba, o touro está morto, ou quase.

Albert Camus – discurso de 10 de Dezembro de 1957

Dircurso pronunciado, segundo a tradição, na Câmara Municipal de Estocolmo, no fim do banquete que encerrava as cerimónias da atribuição dos Prémios Nobel. (Versão integral em francês.)

Alguns excertos:

Je ne puis vivre personnellement sans mon art. Mais je n'ai jamais placé cet art au-dessus de tout. S'il m'est nécessaire au contraire, c'est qu'il ne se sépare de personne et me permet de vivre, tel que je suis, au niveau de tous. L'art n'est pas à mes yeux une réjouissance solitaire. Il est un moyen d'émouvoir le plus grand nombre d'hommes en leur offrant une image privilégiée des souffrances et des joies communes.
(...)
C'est pourquoi les vrais artistes ne méprisent rien ; ils s'obligent à comprendre au lieu de juger. Et s'ils ont un parti à prendre en ce monde ce ne peut être que celui d'une société où, selon le grand mot de Nietzsche, ne règnera plus le juge, mais le créateur, qu'il soit travailleur ou intellectuel.

(...) l'écrivain peut retrouver le sentiment d'une communauté vivante qui le justifiera, à la seule condition qu'il accepte, autant qu'il peut, les deux charges qui font la grandeur de son métier : le service de la vérité et celui de la liberté. Puisque sa vocation est de réunir le plus grand nombre d'hommes possible, elle ne peut s'accommoder du mensonge et de la servitude qui, là où ils règnent, font proliférer les solitudes. Quelles que soient nos infirmités personnelles, la noblesse de notre métier s'enracinera toujours dans deux engagements difficiles à maintenir : le refus de mentir sur ce que l'on sait et la résistance à l'oppression.
(...)
Ces hommes, nés au début de la première guerre mondiale, qui ont eu vingt ans au moment où s'installaient à la fois le pouvoir hitlérien et les premiers procès révolutionnaires, qui furent confrontés ensuite, pour parfaire leur éducation, à la guerre d'Espagne, à la deuxième guerre mondiale, à l'univers concentrationnaire, à l'Europe de la torture et des prisons, doivent aujourd'hui élever leurs fils et leurs œuvres dans un monde menacé de destruction nucléaire.
(...)
Chaque génération, sans doute, se croit vouée à refaire le monde. La mienne sait pourtant qu'elle ne le refera pas. Mais sa tâche est peut-être plus grande. Elle consiste à empêcher que le monde se défasse.
(...)
Je n'ai jamais pu renoncer à la lumière, au bonheur d'être, à la vie libre où j'ai grandi. Mais bien que cette nostalgie explique beaucoup de mes erreurs et de mes fautes, elle m'a aidé sans doute à mieux comprendre mon métier, elle m'aide encore à me tenir, aveuglément, auprès de tous ces hommes silencieux qui ne supportent, dans le monde, la vie qui leur est faite que par le souvenir ou le retour de brefs et libres bonheurs.

Ramené ainsi à ce que je suis réellement, à mes limites, à mes dettes, comme à ma foi difficile, je me sens plus libre de vous montrer pour finir, l'étendue et la générosité de la distinction que vous venez de m'accorder, plus libre de vous dire aussi que je voudrais la recevoir comme un hommage rendu à tous ceux qui, partageant le même combat, n'en ont reçu aucun privilège, mais ont connu au contraire malheur et persécution. Il me restera alors à vous en remercier, du fond du cœur, et à vous faire publiquement, en témoignage personnel de gratitude, la même et ancienne promesse de fidélité que chaque artiste vrai, chaque jour, se fait à lui-même, dans le silence.
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sábado, dezembro 8

Julia Stegner

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LESSING E A NET


Deixo abaixo um excerto das palavras de Lessing que, ao abordar a questão do livro e da leitura, nas suas diversas facetas, aprecia negativamente a internet. Vi, hoje, uma notícia, incipiente, no “Diário Notícias” acerca desta conferência, escrita a partir de uma outra notícia publicada no “El Pais”, rebaixando, na verdade, o discurso de Lessing ao nível do pior da imprensa escrita.

Lessing, ao falar acerca da Internet, aborda uma questão que não conhece, ou conhece mal, que não entende, ou entende mal, desvalorizando um meio que permite, imaginem, ao contrário da imprensa escrita, divulgar, na íntegra, e valorizar, a sua Conferência.

Eis como se prova, uma vez mais, que não é possível travar o progresso condenando, por ineptos, apesar de todos os riscos e derivas, os protagonistas desse progresso que, tantas vezes, no caso da Internet, são, ao mesmo tempo, produtores e consumidores.

Ce qui nous est arrivé, c'est une invention incroyable : les ordinateurs, Internet et la télévision. Une révolution. Ce n'est certes pas la première révolution que nous, l'espèce humaine, affrontons. La révolution de l'imprimerie, qui n'a pas été seulement l'affaire de quelques décennies mais s'est étalée sur beaucoup plus de temps, a changé notre vision du monde et nos modes de pensée. Téméraires, nous l'avons acceptée sans réserve, comme toujours, sans jamais nous demander : « Que va-t-il maintenant advenir de nous avec cette invention de l'imprimerie ? » De la même façon nous n'avons jamais pris une seule fois le temps de nous demander : Comment allons-nous, comment nos esprits vont-ils évoluer avec la nouveauté d'Internet, qui a séduit toute une génération pour la convertir à ses inepties, au point que même des êtres tout ce qu'il y a de plus raisonnable avoueront que, une fois accrochés, il leur est difficile de se déconnecter, et qu'ils peuvent se laisser entraîner à passer une journée entière à bloguer, à bluguer etc.
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sexta-feira, dezembro 7

Karlheinz Stockhausen

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PICASSO

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A democracia em debate

Darryl Baird

“É verdade, o senhor conhece aquela cela de masmorra a que na Idade Média chamavam o «desconforto»? Em geral, esqueciam-nos aí para o resto da vida. Esta cela distinguia-se das outras por engenhosas dimensões. Não era suficientemente alta para se poder estar de pé, nem suficientemente larga para se poder estar deitado. Tinha-se de adoptar o género tolhido, viver em diagonal; o sono era uma queda, a vigília um acocoramento.”

In “A Queda”, Albert Camus, na data em que, cinquenta anos atrás, recebeu o Nobel da Literatura.

Não sei se é vantajoso para Portugal negociar com Chávez mas todos os países negoceiam com todos e, se forem grandes potências, ninguém leva a mal. A natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios. De outra maneira nenhum país democrático negociava com a China que não é um país democrático. Porque não com a Venezuela que é um país democrático? Imaginem!

Não sei se é vantajoso para Portugal gastar energias na promoção de uma cimeira dos países da União Europeia com os países africanos. Uma parte significativa dos regimes políticos dos países africanos são cleptocracias, oligarquias, ditaduras e o mais que se possa imaginar para pior (com excepções!). Neste caso, mais uma vez, a natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios.

Não sei se é vantajoso para Portugal apostar na consolidação e aprofundamento da União Europeia e suponho que, mesmo dentro do partido do governo, campeiam dúvidas acerca da bondade do projecto europeu. Pois se a natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios que razão há para partilhar um espaço supra nacional que exige um esforço de partilha da liberdade e da democracia?

Não sei se é vantajoso para Portugal dispor de um governo que se sujeite ao julgamento das urnas, ou seja, um governo democrático se, como diz a voz do povo e a de alguns intelectuais ultra pessimistas, como Medina Carreira, os governos, nos últimos trinta anos, são todos iguais na incúria, incompetência e desleixo? A mensagem subliminar deste discurso é a de que a natureza dos regimes políticos interessa pouco aos negócios e, ainda menos, aos cidadãos.

Há cada vez mais gente que defende que não é possível em Portugal discutir seja o que for acerca do futuro, o futuro dos portugueses, pois o tempo, no nosso tempo, corre a uma velocidade vertiginosa e os políticos eleitos, seguindo as regras da democracia representativa, tornam-se lívidos perante os ciclos eleitorais e a ditadura mediática, reduzindo a ética republicana a um minúsculo emblema que ostentam na lapela.

Se a maioria dos cidadãos está apartada da política e, na sua mão, somente luze uma vaga esperança em assegurar a sobrevivência material, não sei se não seria vantajoso para Portugal “convocar as cortes” para debater, enquanto é tempo, a própria democracia em prol de uma reforma profunda do regime democrático, a duras penas conquistado.

Ao contrário de todas as evidências a natureza dos regimes políticos interessa aos negócios e, mais do que aos negócios, interessa aos cidadãos e só o inconformismo que ouse colocar a democracia em debate pode salvar a própria democracia.

[Artigo publicado na edição de hoje do Semanário Económico – versão integral.]
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