terça-feira, junho 10

DIA DE PORTUGAL

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Luís de Camões

Sonetos da Edição de D. António Álvares da Cunha, de 1668
In Lírica – Terceiro Volume das Obras Completas - Círculo de Leitores
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segunda-feira, junho 9

"A RAÇA"


“A raça”! Estes pequenos sinais são para levar a sério? Pareceu-me que o Presidente da Republica mostrou uma sua característica particular: lida mal com a pressão. Quando os jornalistas lhe quiseram arrancar um comentário – e insistiram – acerca da paralisação dos patrões camionistas saiu-lhe uma palavra (“raça”) seguida de uma frase, (“o dia da raça”) fora do contexto, infeliz e despropositada. Sobreveio uma memória mais antiga! Bom assunto para os psicanalistas. Ora, para os mais distraídos, o “dia da raça” era a designação do “dia de Portugal” nos tempos da outra senhora, da ditadura que, no nosso país, bondosamente, costumamos chamar por “estado novo”! Somos muito dados a estas bondades perante os inimigos da liberdade! E muitos (novos e velhos) ainda por aí passeiam impunes! Felizmente que a democracia é, pela sua natureza, tolerante mesmo para com as gafes do mais alto magistrado da nação que devia zelar, acima de todos, por ela. Neste caso não zelou e deve levar uma repreensão registada. Pelo menos aqui. Não vale grande coisa mas sempre me permite cumprir com um dever de cidadania activa. Desta vez de acordo com o BE. Se fosse o primeiro-ministro Sócrates o autor da gafe caía o Carmo e a Trindade (a Trindade?). E os patrões camionistas, se a paralisação chegar até 4ª feira, o que vão fazer quando chegar a hora do jogo Portugal-República Checa para o europeu? Acho que o acordo vai ser anunciado um tempinho antes do jogo. Mera curiosidade!
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FUTEBOL- "FLUXO" E RESISTÊNCIA (de novo)

Peter MarlowHélder Postiga

Publiquei, em Outubro de 2007, Sob o título FUTEBOL – “FLUXO” E RESISTÊNCIA, um artigo de opinião que vem muito a propósito da presente época na qual o futebol surge no lugar cimeiro de todas as notícias.

O futebol é uma paixão antiga que vem dos tempos da minha meninice, sendo, ao mesmo tempo, um fenómeno que suscita debate, e reflexão, permitindo abordagens que vão bastante além do terreno linear do “pega ou larga”, da cega paixão ou da diabólica recusa.

Transcrevo o artigo, em referência, na sua versão original:


"Tout ce que je sais de plus sûr à propos de la moralité et des obligations des hommes, c'est au football que je le dois.” - Albert Camus


Scolari e Mourinho, treinadores de futebol, representam, no imaginário popular, o desejo de lideranças fortes, mobilizando ódios e paixões, criando expectativas de vitórias que redimam a honra de comunidades, povos e nações.

Nenhum outro fenómeno, senão o futebol, na maior parte dos países, regiões e continentes, mobiliza o interesse de tanta gente, sem distinção de idades, raças, credos, estatutos sociais ou económicos.

É um fenómeno paradigmático em que o jogo – actividade de lazer – se transformou num espectáculo de massas que, não deixando de criar a ilusão do jogo, deu origem, nas sociedades contemporâneas, a um “fluxo futebolístico” no qual o que se consome é o próprio fluxo.

O futebol como fenómeno de massas, mediatizado, suscitando rivalidades e lutas de claques fanáticas, mobilizando meios financeiros vultuosos, alimentando ilusões de vitórias e alentando nacionalismos serôdios, é um fluxo que combina o “fluxo do ter”, ”da informação”, “do ver”, ”do “ soletrar”, do “viajar”.

Os sujeitos do espectáculo, do “fluxo futebolístico”, os jogadores mas também os treinadores/seleccionadores, deixaram de ser os senhores da sua vontade, entregues às regras de um mercado com leis próprias; os mediadores da informação deixaram de se compadecer com a “notabilidade” dos factos e preocupam-se em estimular a capacidade de efabulação das massas; as vitórias e as derrotas deixaram de ser o “resultado do jogo” mas o acontecimento mais ou menos forjado destinado a alimentar o fluxo.

Não que tenha deixado de existir o jogo autêntico – presente no futebol amador e noutras modalidades – mas este passou à categoria de resíduo social, lugar de resistência, só, plena e pontualmente reconhecido, no plano do fluxo, quando é, ao mesmo tempo, o lugar da tragédia... a queda de uma baliza esmagando o jovem,... ou o sacrifício exultante dos amadores de uma selecção de “rugby” enfrentando uma luta desigual na qual ocuparam, no palco mediático global, o papel de resistentes.

O fluxo subjuga o jogo, que se transforma no próprio fluxo, mas não elimina as manifestações de resistência em que o jogo autêntico persiste.

Desde a “Ilha da Culatra”, no meu Algarve, às mais pequenas ilhas dos Açores, desde as pequenas colectividades recreativas às grandes empresas, desde as escolas às ruas, o “fluxo futebolístico” encontra a sua réplica em milhares de resistentes que, apagados da ribalta mediática, são o outro lado de uma realidade humana que persiste em não se deixar apagar.

Scolari e Mourinho deixarão, um dia, de ser actualidade, mas o “fluxo futebolístico” vai persistir, e o seu outro lado, o jogo autêntico, resistirá em todo o mundo, bastando para tal que hajam jogadores e um objecto simples, mais ou menos arredondado, no qual se possam dar pontapés.

O tema do futebol é fascinante, além do mais, porque nos faz ir em busca de explicações para uma paixão que, avant la lettre, Camus intuía, a partir da sua própria experiência, exercer uma influência mobilizadora das grandes massas, lugar de “alienação” mas, ao mesmo tempo, de resistência cuja influência social a pura razão dificilmente apreende.
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MOUTINHO

Portugal es Moutinho

Gosto de percorrer os media internacionais para conhecer alguma coisa do mundo. No caminho também se aprende como os outros nos vêem a nós, no caso, acerca do talento individual ao serviço do colectivo. Vale para tudo, na vida dos indivíduos e das colectividades, para quem quiser entender a força do futebol como fenómeno de massas.
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Gisele Bündchen

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domingo, junho 8

OS SOCIALISTAS FRANCESES

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HUMBERTO DELGADO (VII)


As eleições presidenciais de 1958 disputaram-se no domingo, dia 8 de Junho, passam hoje exactamente 50 anos. A campanha eleitoral da candidatura presidencial de Humberto Delgado encerrou a 4 de Junho, de forma apoteótica, em Beja mas ao contrário do que sempre tinha acontecido, em anteriores eleições presidenciais, em ditadura, Humberto Delgado, fez questão de levar a sua candidatura até às urnas. E assim foi.

Delgado queria mostrar ao país, e ao mundo, que as eleições em Portugal eram uma farsa e, mais do que isso, estava determinado a criar um movimento que abrisse portas à implantação de uma democracia em Portugal.

“Nos três dias que faltavam até ao acto eleitoral de domingo, circulou de mão em mão uma proclamação final de Humberto Delgado aos portugueses, encorajando-os a votar: “Apesar dos assaltos e das prisões; apesar da violência e das agressões; apesar de violarem e encerrarem as nossas sedes; apesar das intimidações, dos insultos, e prepotências de que, sempre e redobradamente nos últimos dias, temos sido passivos; apesar da censura e das injustiças; apesar de se preparar uma burla eleitoral de que somos vitimas, eu – por tudo e por isso mesmo – vos convido a seguir comigo o nosso destino comum. Às urnas, amigos! Lutemos de forma a desmascarar os traidores e os cobardes, aqueles que cometeram e vão cometer ilegalidades constitucionais, aqueles que são inimigos do Povo e dos princípios cristãos! Às urnas, cidadãos!”

No próprio dia da votação, 8 de Junho de 1958, o penúltimo acto da farsa eleitoral salazarista foi a publicação de um decreto governamental que proibia a fiscalização das assembleias de voto por elementos da oposição. (…)

Ao deslocar-se com Maria Iva ao Liceu Camões, para votar, Humberto Delgado foi alvo de uma derradeira apoteose popular. À saída, foi levado em ombros como em plena campanha eleitoral e envolvido em gritos de “Humberto! Humberto! Humberto!”. A cena foi filmada – e essas são raríssimas imagens em movimento das eleições de 1958.”

[Transcrições, a bold, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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sábado, junho 7

PORTUGAL 2 - TURQUIA 0


Num país que parece mais fadado para chorar as desgraças do que para apreciar o trabalho dos seus melhores aqui ficam as crónicas do espanhol El Pais e do sítio da UEFA acerca do Portugal 2 - Turquia 0. Foi só uma vitória mas de uma selecção de luxo que contribui para colocar Portugal nas bocas do mundo por boas razões. Foi acima de tudo uma equipa cheia de surpresas agradáveis. Uma esperança e uma alegria!
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A BANDEIRA E O HINO

O fenómeno futebolístico, desprezado por uns, idolatrado por outros, permitiu que os símbolos nacionais sejam do conhecimento geral. A bandeira e o hino de Portugal entraram no quotidiano dos portugueses, nos últimos anos, através do desempenho internacional da selecção nacional de futebol. É essa realidade que dentro de momentos vai ter mais uma representação em Genebra. Boa sorte!
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sexta-feira, junho 6

RESPIRAR O MESMO AR

Fotografia de Hélder Gonçalves
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Le salut par un Noir

Jean Daniel - Le Nouvel Observateur

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Ce qui empêche toute spéculation pessimiste sur les Etats-Unis, c'est que l'affrontement aux élections primaires d'une femme et d'un Noir a montré au monde que les Etats-Unis peuvent rester le pays du changement. Selon le titre d'un livre célèbre, il y a même chez les Américains une «tradition du changement». L'avenir, pour eux, ce n'est pas conserver, c'est adapter ou innover. Quand bien même, d'ailleurs, changeraient-ils de mentalité, les Américains ne sont plus maîtres d'une certaine évolution, notamment démographique. La population américaine a changé. Le nombre de Blancs d'origine européenne décline au fur et à mesure que celui des Hispaniques et des Asiatiques augmente. La seule chose qui pourrait dans l'avenir les rattacher à l'ancien monde, c'est la prédiction de Samuel Huntington dans son «Choc des civilisations», à savoir que le plus grand danger sera constitué par une alliance islamo-confucéenne entre les Chinois et les musulmans contre l'Occident. Mais Barack Obama a déclaré que c'était précisément contre une si funeste éventualité qu'il se battrait.
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A CADEIRA DO PODER

Charlize Theron

A história das divisões na esquerda é antiga, repleta de disputas fratricidas, mal entendidos, alianças e cisões, inimizades e rompimentos, ódios e ressentimentos. Basta puxar um pouquinho pela memória e logo nos lembraremos de inenarráveis acontecimentos nos quais está presente toda esta panóplia de fenómenos do “mal-estar” no interior da própria esquerda os quais resultam, em boa medida, da sua difícil relação com o exercício do poder. Fora do governo a esquerda parece que se reencontra consigo própria. É o que deixa passar a mensagem de Alegre. O governo assenta bem à direita e a oposição assenta bem à esquerda. Mas para que servirá a esquerda, em democracia, se não for capaz de assumir as dificuldades de governar. Se não for capaz de resistir aos apelos do imaginário da esquerda tradicional que a coloca sempre no lugar da resistência?
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CRISTIANO RONALDO

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quinta-feira, junho 5

UM DIA ...

O perigo de entregar o poder a fanáticos, seja qual for a sua ideologia, ou religião, é que de um dia para o outro o mundo pode desabar sobre as nossas cabeças. E esta notícia mostra-nos, certamente, só a ponta do iceberg.
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VERGONHAS ALGARVIAS


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ALEGRE (II)

Fotografia daqui

Devo esclarecer que nada me move contra Manuel Alegre que foi, aliás, para mim, como para tantos portugueses da minha geração, uma referência forte na resistência ao estado novo. Mas quando os artistas, de qualquer disciplina, se metem nos caminhos da política activa ponho-me em guarda!

A recente arrancada de Manuel Alegre em confronto com a direcção do PS, e do Governo por ele suportado, não é inocente. Ele lá sabe as linhas com que se coze. Mas achei-o demasiado azedo para os primórdios de uma campanha presidencial “à la longue” e demasiado polémico para uma manobra de força tendo em vista a repartição interna de poderes “à la carte”.

Pura ostentação de um esquerdismo tardio? Antecipação de oposição a um governo de “bloco central”, pós legislativas de 2008? Em qualquer caso, contra as minhas expectativas, depois da sessão do Trindade, a dissidência de Alegre parece irreversível!

Tenho a convicção que hoje, à vista da evolução do mundo e, em particular, da Europa, talvez seja preferível um PS de centro/esquerda a um outro PS qualquer que, não sei com quem, de forma séria, se teria de arranjar para formar governo. Pois é do exercício do poder que estamos a falar e não da organização de saraus culturais.

Acho que o PCP é a única força política da esquerda com sabedoria, histórica e prática, para entender isso. Não é por acaso que se não envolveu na aventura do Trindade. O PCP só se envolve em aventuras se caído em desespero, no fim do caminho, ou arrastado por acontecimentos imprevisíveis, deixando, mesmo assim, sempre uma porta aberta para retroceder em boa ordem. É uma tradição que vem de longe.

Manuel Alegre faz-me lembrar Humberto Delgado sem as estrelas do jovem general e sem a ditadura de Salazar do outro lado! Sem ditadura do outro lado, e sem tropas do seu, o “general” Alegre corre o risco de bivacar no campo do “bloco de esquerda”, ou seja, numa futura “terra de ninguém”.
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IGUALDADE


Pedro Lomba, no Diário de Notícias, escreve: JÁ QUE FALAM DE IGUALDADE. Mais coisa, menos coisa, poderia escrever o mesmo. À direita, e em certa esquerda, reina um grande equívoco na apreciação das aquisições do estado social, em particular, na Europa.
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quarta-feira, junho 4

Jefferson Airplane

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ALEGRE

uma chamada esquerda do PS que é a esquerda e a direita de si própria. O seu lugar situa-se algures entre o passado o presente e o futuro. O seu passado é republicano laico e socialista, o seu presente é ser “do contra” e o seu futuro é admirar o seu passado. Há uma esquerda do PS que se move em torno de princípios que estão enunciados em tábuas antigas, prossegue lutas em prol das conquistas da história e nutre a crença que há sempre uma porta entreaberta para o futuro. Há uma chamada esquerda do PS que sempre encarnou as dores do parto de uma esquerda nova. Geme, trina, sentencia, pontua, comunica, compunge-se, chora e, na versão popular, acena lenços brancos nas bancadas.
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JORGE DE SENA - pelo 30º aniversário da sua morte

[Lisboa, 2 de Novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978]

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

8/4/53

Em finais de 1979, não sei precisar a razão, interessei-me por conhecer a obra de Jorge de Sena. Talvez tenha sido a memória, muito viva, que retive do seu empolgante discurso na cerimónia realizada, na Guarda, no dia 10 de Junho de 1977. Talvez tenha sido o resultado da busca de refúgio para as dores de uma ruptura amorosa; talvez tenha sido a necessidade de me reencontrar com a obra de artistas que, tal como Camus, fizeram do culto pela liberdade o seu lema de vida.

Hoje preocupam-me os sinais da ascensão de novas formas de autoritarismo que, inevitavelmente, brigarão com a liberdade. E dou comigo a pensar como é possível que os herdeiros das diversas variantes do estalinismo, no nosso país, ganhem créditos, cívicos e eleitorais, apresentando-se como estrénuos defensores da liberdade que, na verdade, abominam. E de como por essa Europa fora se adensam os sinais da ascensão de um novo (ou velho?) fascismo.

Na roda da história volta à tona a velha contradição entre justiça e liberdade sendo que os defensores do primado da liberdade sempre se vêem isolados em épocas de escassez material, relativa ou absoluta, em favor da popularidade de ideologias igualitárias, sejam de matiz comunista ou fascista.

Quando escasseia o pão, e a vida encarece, ganham fôlego os demagogos, de todas as cores, que aproveitam o descontentamento popular para cavalgar a onda e alcandorar aos píncaros o “discurso social” que o mesmo é dizer a reivindicação do predomínio dos princípios, e das políticas, da igualdade sobre os princípios, e as políticas, da liberdade.

Por mim advogo, correndo todos os riscos, o primado da liberdade. Nem novo estalinismo, nem novo fascismo. Nem a sombra dos tiranos quanto mais os seus rostos. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.

Meus caros: é por isso que me dou ao trabalho, minoritário e persistente, mas afinal na companhia de tantos outros, de lembrar personagens, que arrostando com o silêncio da nossa cultura oficial, pelo seu exemplo e pela sua obra, nos conclamam à vigilância activa, apesar da flacidez das chamadas democracias consolidadas, na defesa da liberdade.

Eis a razão de fundo porque presto a minha homenagem a Jorge de Sena, morto faz hoje 30 anos, e que jaz sepultado, para vergonha da pátria portuguesa, na última das terras da sua peregrinação – os Estados Unidos da América. Salvé Jorge Cândido de Sena!

Ver aqui e aqui algumas referências e poemas de Jorge de Sena.
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Fiz uma pequena alteração no título deste post e, numa primeira leitura da comunicação social, não encontrei uma única referência à efeméride.
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terça-feira, junho 3

RAMMSTEIN


Como manifestação de repúdio em relação às novas exigências das autoridades americanas para a entrada nos Estados Unidos de cidadãos dos países da UE (isso mesmo, da União Europeia!) posto uma música de homenagem à causa palestiniana pela controversa, e popular, banda alemã Rammstein.
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ELOGIO DA VIDA MONÁSTICA

Jorge de Sena (pelo 30º aniversário da sua morte)
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Portrait

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HUMBERTO DELGADO (VI)

Humberto Delgado

Visitei um dia destes o Café Aliança, na minha cidade de Faro, acompanhado pelo meu filho. Aproximei-me das mesas dos “habitués” e meti conversa:

“ – Olá! Como estão, ando atrás de uma fotografia da passagem do Humberto Delgado aqui pelo café. Está difícil de encontrar.” Todos se interessaram pela conversa e, quase todos, tinham bem presente na memória a passagem de Humberto Delgado pelo Algarve.

“Eu vi-o entrar por aquela porta, isto estava cheio de Pides"; “Eu vi duas fotografias dele, uma naquela porta e outra aqui no café!”; “Eu estava, à época, em Olhão e vi a loucura que foi a sua recepção pelo povo!” As fotografias, até hoje, não apareceram mas isso pouco importa.

Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”.

No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe:

“À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.”

De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas.

Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General.

Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose.

[Transcrições, a bold, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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segunda-feira, junho 2

MOURINHO NO INTER DE MILÃO

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ITÁLIA - O REGRESSO DO FASCISMO?

Imagem daqui

O caldo ideológico em que medra o fascismo faz o seu caminho em Itália. Mais do que a afirmação de uma ideologia estão em marcha politicas visando a perseguição a grupos étnicos minoritários. Espera-se uma reacção enérgica, e exemplar, da Comissão Europeia presidida por José Manuel Barroso. Assim como a condenação pública da política xenófoba e racista do governo italiano por parte dos governos dos países da Europa democrática. Se tal não acontecer tornar-se-ão cúmplices daquela política e perderão a autoridade moral e política para defenderem os seus próprios nacionais emigrantes. Portugal como país de emigração – à vista de todos nas imagens a propósito do europeu de futebol – deveria ser o primeiro país a condenar publicamente a deriva fascizante do governo italiano. E já agora a nova líder do PSD que foi eleita trazendo na boca a palavra “social”.
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domingo, junho 1

A SELECÇÃO A CAMINHO DA SUIÇA

Acompanhei um pouco por acaso, mas com curiosidade, reportagens da viagem da selecção de futebol a caminho da Suíça. Pondo de lado a componente oficial é impressionante a capacidade de mobilização popular da selecção. A chegada a Neuchâtel mostra uma imagem do povo português - emigrante - ao mesmo tempo entusiasta, moderno e disciplinado. Talvez excessivamente confiante no sucesso da selecção neste europeu. Sou céptico mas anseio que a realidade me desminta.
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HUMBERTO DELGADO (V)


O ambiente na cidade dos estudantes estava muito tenso, na verdade, e mais tenso se tornou no dia seguinte, por ser a data prevista para a enguiçada visita de Humberto Delgado a Braga. Tinha sido adiada inicialmente para 3 de Junho, mas acabou sendo antecipada, por sua decisão, para o primeiro dia do mês. Era um domingo, e logo pela manhã Raul Porto Duarte dirigiu-se a Humberto Delgado, no Hotel Astória. Ao ver o inspector da PIDE, este perguntou?

“- Que quer?

“- Quero comunicar-lhe que não está autorizado a seguir para o norte. Terá de regressara a Lisboa.

“ – Oiça: eu só recebo ordens que venham de alguém com a minha categoria ou superior. De si, não as recebo.

“Porto Duarte esboçou um gesto, quase imperceptível, de levar a mão à arma, mas o general atalhou brutalmente:

“ – E se o pretender fazer com uma pistola, tenho aqui outra.” – E mostrou na cintura a arma que trazia. “ – Convença-se que não recebo ordens da PIDE, que não é coisa alguma e não pode prender um general no activo. Estou disposto a seguir para Braga e só não irei se receber uma ordem militar por escrito, emanada do Governo.”

“O General olhava para o outro como se fosse um verme e deu meia volta (…) O pide estava branco como a cal, hesitou uns segundos e saiu.”

Humberto Delgado acabou por não ir a Braga nesse dia seguindo o conselho dos seus correligionários que reuniu para esse fim. A ordem escrita proibindo militarmente a deslocação acabou por chegar à uma hora da manhã por um oficial do Estado Maior do Quartel General da 2ª Região Militar.

A ida a Braga, por si só, não era a principal preocupação de Humberto Delgado, nem foi por acaso que antecipou de 3 para 1 de Junho a projectada visita à capital do Minho. O que estava realmente em jogo naquele início do mês era a eclosão de um levantamento militar pelo qual assumia a responsabilidade. Se os oficiais envolvidos cumprissem a intentona, marcada que estava para o dia 2, Humberto Delgado encontrar-se-ia então no local da arrancada do “28 de Maio”, o que teria um efeito moral , podendo funcionar como catalisador de adesões no exército. A intentona, no entanto, acabou por não ser levada a cabo.

[Transcrição de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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sábado, maio 31

BOICOTE À GALP - CONTRIBUIR PARA A CRIAÇÃO DO MERCADO DE COMBUSTÍVEIS


Apesar desta brincadeira se pensa que uma empresa grande, estratégica e coisa e tal, não pode ser boicotada, desengane-se.
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AS ELEIÇÕES NO PSD

Ilustração daqui

Os resultados das eleições directas para o líder do PSD são os seguintes (extraídos da acta oficial):

• Total de Eleitores – 77.088
• Total de Votantes – 45.444
• Votos Brancos – 254
• Votos Nulos – 97
• Candidato Mário Patinha Antão – 308 votos
• Candidato Pedro Santana Lopes – 13.427 votos
• Candidato Manuela Ferreira Leite – 17.224 votos
• Candidato Passos Coelho - 14.134 votos

Os resultados supra mencionados correspondem ao apuramento obtido até às 20h00 horas do dia 31 de Maio de 2008.

Falta apurar os resultados das seguintes Assembleias de Voto:

• Almeirim;
• Constância;
• Ferreira do Zêzere;
• Mesão Frio;
• Penedono;
• Peso da Régua;
• São Paulo;
• Londres;
• Newark;
• Rio de Janeiro

Como sempre acontece neste tipo de eleição – no PSD e no PS – vai correr um rio de tinta da pena de comentadores e uma torrente de palavras da boca de comentaristas. Mas, valha a verdade, a legitimidade deste processo eleitoral não esconde, ao mesmo tempo, a sua assustadora debilidade. Já não falo da guerra entre os candidatos e seus apoiantes. O que me chocou quando abri o sítio do PSD para me certificar dos resultados é ter verificado ser tão pouca gente a decidir dos destinos de um partido e, quiçá, de um povo.
Dos 77 088 militantes inscritos votaram 45 444 (59%). O expoente máximo desta espécie de paródia democrática é Patinha Antão que obteve 308 votos apesar de ter ocupado infindáveis minutos de tempo de antena nos órgãos de comunicação – incluindo as televisões. Manuela Ferreira Leite, que vai liderar o PSD, obteve 17 224 votos (37,9% do total de votos expressos)!
A legitimidade das eleições democráticas não se discute. Mas convenhamos que estes números (sem falar da qualidade de eleitos e eleitores!) revelam uma democracia restrita, limitada, talvez doente, que permite um sem número de interrogações acerca da sustentabilidade, e viabilidade, do próprio regime político democrático. Como podem tão poucos – ao nível dos partidos que são o sustentáculo do regime de representação que é o nosso – deter o poder de definir políticas nacionais cruciais para a vida de toda a comunidade?
Quem se der ao trabalho de percorrer os quadros de resultados, distrito a distrito, concelho a concelho, não pode deixar de sentir um arrepio de desconforto. Quer ao nível nacional, quer local, existem muitas entidades associativas, de natureza diversa, com mais filiados activos e participantes (muitos mais) do que os 77 088 eleitores para não falar dos 45 444 votantes nestas eleições directas do PSD. Todos podemos fingir que tudo vai bem, que a democracia é mesmo assim, mas algo vai mal no “Reino da Dinamarca”.
Ah! Já agora parece-me que o equilíbrio da repartição dos magros votos pelos três candidatos institucionais vai – pelo que entendi das palavras de Santana Lopes – apoiado por Jardim (que nem votou) - transformar a vitória de Manuela Ferreira Leite num inferno. Uma espécie de continuação da guerra civil interna por outros meios. A ver vamos!
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JORGE DE SENA (pelo 30º aniversário da sua morte)

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Passionata, de David LaChapelle

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quinta-feira, maio 29

REFERENDO NA IRLANDA

Margens de Erro
(Clique na imagem para ampliar)

Realiza-se, no próximo dia 12, na Irlanda o referendo ao Tratado de Lisboa. Este acontecimento é mais importante do que parece. O SIM tem fortes hipóteses de sair vencedor. Caso contrário, pelo menos no plano político, a UE sairá ainda mais enfraquecida. Em época de crise económica, e nas vésperas das eleições presidenciais americanas, seria, pelo menos, grave.
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EXERCÍCIO DE CIDADANIA

Dane Shitagi

Entendo. Pretende-se demonstrar que há outras esquerdas para além da que suporta politicamente o governo. Mas para que esta manifestação seja um saudável exercício de cidadania, além de montra de vaidades pessoais e nostalgias frentistas, é preciso que sirva para apresentar alternativas concretas – e viáveis – ao chamado deficit social. A ver vamos. Assumir a responsabilidade de governar é uma maçada … e o Dr. Mário Soares que o diga! Já agora assinalo a originalidade da sessão ser acolhida no Teatro da Trindade … pois não lhe conhecia a vocação … pelos menos nos tempos modernos!
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quarta-feira, maio 28

Ideology in Paradise



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CRISTIANO RONALDO - UMA GUERRA

Por estes dias têm corrido rios de tinta em Espanha, e no mundo inteiro, em torno da figura de Cristiano Ronaldo. A disputa pelos serviços do jovem talento envolve muito dinheiro. Os artistas que fazem os povos sonhar saem muito caros. Falo dos povos não das elites. Carlos Queiroz, do Manchester, avança com a tese nacionalista: os espanhóis, no fundo, querem roubar Ronaldo a Portugal. Uma patetice. No meio desta guerra o mais certo é o rapaz ir-se abaixo. Se resistir será mesmo um caso de estudo.
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terça-feira, maio 27

COMBUSTÍVEIS - CONTRIBUINDO PARA A CRIAÇÃO DE UM MERCADO


Se o protesto público contra o aumento dos preços dos combustíveis não faz sentido, nas palavras dos donos do negócio, por razões de se tratar de um fraco negócio, porque razão não mudam de ramo? Se os donos do negócio, ao longo de toda a cadeia, do produtor ao consumidor final, agem com transparência, na fixação dos preços, porque razão parecem temer a fiscalização dos governos e o boicote dos consumidores? Se os principais prejudicados com o aumento dos preços dos combustíveis são os trabalhadores, pois são eles os consumidores mais indefesos, porque razão as centrais sindicais não levantam um dedo em sua defesa? Se os efeitos do aumento dos preços dos combustíveis são de âmbito global porque razão as organizações transnacionais não reúnem, de emergência, para concertar políticas comuns de ataque à crise? O protesto público contra o aumento do preço dos combustíveis é já uma realidade independentemente das formas que venha a assumir. O boicote que se anuncia será útil para organizar o descontentamento social, que cresce de forma galopante, denunciando a “bolha” especulativa que todos os mais altos responsáveis políticos, de forma explícita, têm vindo a referir. Pode ser que ajude os donos do negócio a refrearem a sua arrogância especulativa e os responsáveis políticos a entender que estão a governar em cima de um barril de petróleo próximo a explodir.

Já referiram, aderiam ou apoiaram (do Jumento):
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