Eis outro magnífico texto, acerca de Albert Camus, de autoria de Maria Luísa Malato Borralho, a propósito do cinquentenário da sua morte. Foi publicado, no passado dia 15 de Janeiro, em As Artes Entre as Letras e pode ser lido, na íntegra, AQUI.
Fez no dia 4 de Janeiro cinquenta anos que Albert Camus morreu. Tinha uns dias antes, terminado uns apontamentos sobre a forma de aforismos: um nunca fechado ensaio sobre o que não convém esquecer, sobre o que convém arrastar ao longo do tempo. Chamara-lhe “Para Nemésis” (Nemésis, a deusa filha da Noite e do Oceano), e dedicara-o a Cerésol, um amigo de longa data. Evocar Camus poderia ser mais um ritual literário. Não é ele que nos move. Mas o pretexto para não o deixar morrer. Porque um escritor morre quando não é lido. E a avaliar pelas leituras das novas gerações que chegam aos cursos universitários de Literatura, a crer nos inquéritos que preenchem, e nos modelos de literatura que incorporam, Albert Camus caiu num indiferente silêncio. Quem é Albert Camus? Um escritor que não queria esquecer em si a amálgama de raças de que todos somos feitos. Amarguravam-no os rótulos, sacudia-os muitas vezes debalde, sobretudo depois de ter recebido o Prémio Nobel. Sempre demasiado filósofo para entrar na cúria dos escritores, demasiado escritor para entrar na quinta dos filósofos, demasiado instintivo para o coro dos existencialistas, demasiado existencialista para o hino dos neo-realistas, demasiado materialista para ser religioso, demasiado religioso para ser materialista.