"Olhando a prestação de Pedro Santana Lopes na televisão, na passada segunda-feira, espantou-me a falta de convicção da personagem. Como se um actor ágil em outros papéis de um vasto reportório se tivesse, de súbito, desencontrado.
O facto é por demais surpreendente. Enterrado numa cadeira em que as costas surgiam como orelhas negras, mais abismado na leitura do que em nos olhar de frente, com uma dicção preocupada em não falhar as palavras, em vez de demonstrar a firmeza do discurso, não era, nitidamente, alguém sentado no topo do Poder que nos falava. Era alguém que timidamente simulava estar a controlar as coisas, vagamente abordando temas que usualmente escutamos na boca de membros do Governo (impostos, salários, pensões de reforma), mas que, na verdade, estava só a fazer de conta, desenquadrado do papel, debitando falas que teriam sido escritas para outro, com uma indizível vontade de chegar ao fim da cena e ir-se embora o mais depressa possível.
Fez-me lembrar aqueles pobres adolescentes amadores em récitas de liceu que decoram com cuspo um papel em que não se sentem à vontade e o deitam cá para fora entre suores frios e pânico de ser ridículo ante tão larga audiência.
O espanto é ver que Pedro Santana Lopes, a quem já vimos desempenhar com talento papéis diversíssimos (de playboy a «enfant terrible» do PSD, de dirigente desportivo a Secretário de Estado), apareça agora tão desfibrado.
Um encenador pouco dado à paciência talvez desesperasse, considerando haver ali um puro erro de «casting» e apressando-se a escolher diferente intérprete para o papel de Primeiro-Ministro. Um outro, mais brando, consideraria a hipótese de uma ajuda especializada, umas quantas aulas de postura, movimento e voz - esperando que, no fim da preparação, o papel soasse mais credível. Mais necessário que tudo, todavia, é a prática daquilo que os actores chamam um «monólogo interior», um conjunto de referências anímicas que dê vida à personagem. Vida e não apenas técnica, não apenas fingimento, guarda-roupa e adereços."
Jorge Leitão Ramos, in Expresso on line
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, outubro 13
Diálogo no elevador
Antes da chegada ao destino entram três senhoras.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.
Uma delas:
Para onde eu vou?
Outra:
Ao Bar?
A outra:
À rua?
De novo a primeira:
Ao gabinete?
A dita:
Não sei. Vou regressar.
Saio e ela regressa ao ponto de partida.
Educação Profissional - Caminho do Futuro
Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo "Educação profissional - Caminho do Futuro" publicado, no "Semanário Económico", em Junho de 2004.
Um assunto sério
O Prémio Nobel da economia foi atribuído, dias atrás, a dois economistas que, segundo todas as notícias, têm estudado os benefícios das políticas macroeconómicas de longo prazo. Falamos de decisões económicas com influência real na vida quotidiana dos cidadãos. É a teorização daquilo que toda a gente de bom senso deveria considerar razoável: é preciso tempo para conceber e desenvolver, de forma estruturada, medidas que permitam resolver os verdadeiros problemas das sociedades. Mas os ciclos políticos são demasiado curtos contrariando a bondade da maioria das medidas de política económica.
A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?
Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!
A democracia parlamentar funda-se na livre escolha dos governos. Preservemos a liberdade de escolha dos cidadãos. Mantenhamos o sistema em que os responsáveis políticos são eleitos pelo voto universal, individual e secreto. Salvemos a democracia representativa de todas as tentações totalitárias. Mas como resolver este dilema? Como ganhar tempo para que as livres escolhas políticas favoreçam as mais sábias decisões económicas?
Além de reflexão aprofundada o tema carece de decisões políticas arrojadas. Mas mesmo para a reflexão e para a decisão é necessário tempo. Não falo de um tempo fora do tempo. Mas de um tempo ocupado com as tarefas de cada um, as suas urgências e aspirações, mas livre para a reflexão, o debate e a criação de novas soluções para velhos e novos problemas. Como criar o tempo necessário para que a democracia respire e se regenere? Um assunto sério!
segunda-feira, outubro 11
A quadratura do círculo
Este texto já estava escrito antes da comunicação ao país do senhor primeiro-ministro. A sua publicação, sem alterações, deve-se à nova estratégia de propaganda do governo que mostrou, hoje, uma faceta original. A comunicação foi gravada e, ao contrário do anunciado, passada sequencialmente nos telejornais da SIC, RTP, …e não sei onde mais. Não foi uma comunicação foi uma retransmissão. Não tive paciência para escrever nada em cima daquela comunicação flácida. O que antes tinha escrito acerca do que dela previa basta. Aqui vai.
Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.
Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.
Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).
Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.
Aposto que o primeiro-ministro vai anunciar ao país a “quadratura do círculo”. A ideia só pode ser uma. Aumento das remunerações, acima da inflação esperada, para os funcionários públicos. Diminuição do IRS. Flexibilização dos limites do endividamento das autarquias. Políticas de “diferenciação positiva” para “beneficiar” os mais desfavorecidos. Políticas variadas para prometer tudo a todos mas com “rigor e contenção”. Reformas estruturais só com incidência para depois de 2006.
Tudo somado e baralhado: mais despesa pública e menos receita, mas com cumprimento dos limites do deficit em 3%. E, acima de tudo, muita verdade e trabalho. A quadratura do círculo. O ministro das finanças benze o pacote. O PR vai achar péssimo em privado mas, em público, deixa correr com umas reservas com as quais o primeiro-ministro vai concordar. Serão contributos inestimáveis para melhorar as propostas.
Ora reparem no calendário eleitoral: dia 17 de Outubro, próximo, eleições regionais nos Açores e Madeira; Outubro de 2005 eleições autárquicas; inícios de 2006 eleições presidenciais e Outubro de 2006 eleições legislativas (se não houver azar…).
Amanhã vai começar a verdadeira “corrida eleitoral” da maioria. Se fosse no comércio a retalho teria direito a um anúncio do género: “tudo com 60% de desconto”.
"O que ele vai dizer?
O país está suspenso da comunicação que hoje fará o primeiro-ministro. Há quem garanta que não falará sobre o caso Marcelo, apontando antes para os desafios que o Governo vai enfrentar nos próximos meses. Há quem admita que voltará a desafiar o Presidente da República para, se considera que o executivo pressionou a TVI a afastar Marcelo, tomar as decisões consequentes. E há quem assegure que fará um balanço elogioso do que o Governo já fez e anunciará as linhas do orçamento do Estado para 2005. Mas há coisas de que o primeiro-ministro não falará.
E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.
Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.
É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?
Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."
Nicolau Santos, in "Expresso on line"
11 Outubro 2004
E a primeira delas é sobre a recente cimeira luso-espanhola, cada vez mais designada por cimeira ibérica, em que o primeiro-ministro de Portugal aceitou, pela primeira vez na história destes encontros, ter do outro lado da mesa não só o primeiro-ministro de Espanha, como representantes das autonomias espanholas.
Eu não sei se o primeiro-ministro tem consciência do significado político deste acto. Não sei se não lhe passa pela cabeça que a leitura política da cimeira é que Portugal se coloca, assim, como mais uma das regiões autónomas de Espanha. Eu não sei se ele sabe que nunca no passado, nenhum primeiro-ministro português aceitou participar nestas cimeiras que não tivesse, do outro lado da mesa, apenas e só o primeiro-ministro de Espanha - porque se trata de uma cimeira luso-espanhola e não de uma cimeira Madrid-Portugal e regiões autónomas. E, não sabendo ele, não sei se alguém não lhe terá lembrado os equívocos de aceitar uma cimeira com esta composição.
É talvez por isso que se lêem notícias dando indicações de que o ministro do Ambiente está a negociar, por ajuste directo, o controlo da rede de distribuição de água aos consumidores em Cascais e zonas envolventes. Já parece estranho que, num sector tão sensível como este, a transferência para os privados se faça por ajuste directo. Mas mais estranho ainda é que, do outro lado, o privado que aparece é a Sacyr Vallehermoso. É claro que se apresenta sob as vestes de Somague, que iniciou esse envolvimento quando era uma empresa portuguesa. Mas entretanto a Somague foi vendida aos espanhóis da Sacyr - e o prémio vai ser o Governo entregar-lhe de mão beijada, por ajuste directo, aquela rede de distribuição de água?
Parece mau de mais para ser verdade. Mas verdade, verdade é que um poder fraco faz fraca a forte gente. E um poder forte faz forte a fraca gente. Infelizmente, em Portugal, neste momento, estamos na primeira situação."
Nicolau Santos, in "Expresso on line"
11 Outubro 2004
domingo, outubro 10
Censura! Help!
Ajudem-me a interpretar a notícia da Lusa que abaixo transcrevo. Por favor! Se "tem que ser banida" é porque existe! O PR está a confirmar que existe censura em Portugal. O assunto é da maior gravidade. Já tinham dado por isso? Não me refiro à gravidade da declaração do PR. Mas à existência de censura. Eu, por acaso, já tinha sentido algo que brigou comigo! Do género da frase do PR: "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas..." Mas ninguém ligou coisa nenhuma. Então como se materializa a dita censura? Como? É isso? E onde? E quem são os agentes? E quando? E por que meios? E quais as medidas que o PR pensa tomar?
"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"
Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.
"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.
Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".
"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.
Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.
Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".
"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.
Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".
"Sampaio diz que "a censura tem que ser banida completa e
definitivamente"
Lisboa, 10 Out (Lusa) - O Presidente da República admitiu hoje a existência de "restrições potenciais ou implícitas" à liberdade de informação em Portugal e voltou a defender a criação de mecanismos independentes de regulação dos media.
"A censura tem que ser banida completa e definitivamente", acentuou Jorge Sampaio, em declarações à SIC, no âmbito de uma visita guiada ao Museu da Presidência da República, mas sem nunca se referir ao caso que levou Marcelo Rebelo de Sousa a abandonar os seus comentários na TVI.
Na opinião do Presidente, "hoje há novas maneiras de fazer as mesmas coisas, ou pelo menos as coisas mais adaptadas, que não deixam de ser restrições potenciais ou implícitas, que estão escondidas, mas que se exercem no quotidiano".
"É contra isso que uma sociedade aberta pode combater. Uma sociedade fechada não combate. A sociedade e os agentes políticos têm uma enorme responsabilidade de, pela sua independência e autonomia, poderem dizer o que pensam e poderem criticar os poderes imediatos da sociedade", sustentou.
Jorge Sampaio reconheceu que "o equilíbrio entre liberdade e regulação é difícil", mas insistiu na necessidade de uma entidade reguladora constituída por cidadãos independentes.
Para o Presidente da República, é necessário que a Alta Autoridade para a Comunicação Social seja substituída por "uma regulação independente, efectiva, constituída por gente de peso e acima de qualquer suspeita".
"Isso é indispensável para as liberdades continuarem com a esperança que elas deram à vida portuguesa nos últimos 30 anos", sublinhou.
Comentando a situação actual dos media e nunca o "caso Marcelo", Sampaio frisou que "nada pode substituir, de maneira nenhuma, a liberdade, no seu sentido mais amplo e mais forte", mas quando confrontado com a mediatização de alguns sectores da vida pública, como a Justiça, comentou: "Não tenho um tremendismo do desespero".
Che Guevara
Acabo de ver (em DVD) o documentário “A viagem de Che Guevara” realizado a propósito do filme “Diários de Che Guevara”, do brasileiro Walter Salles, em exibição em Lisboa mas que ainda não vi.
Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.
O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.
Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.
Este documentário mostra o companheiro de viagem de Che, Alberto Granado, guiando a reconstrução da viagem dos dois jovens amigos na travessia da América Latina. A moto que os transportou, na primeira parte da viagem, era uma Norton igualzinha à do meu pai.
O documentário é uma sequência de depoimentos, lugares, episódios, riscos, aventuras... Um mundo de experiências perigosas enfrentadas por dois jovens argentinos que queriam conhecer a América do Sul e a vida dos seus povos. Chegaram ao fim.
Uma viagem que, certamente, determinou a opção de Che pela revolução. Um testemunho comovente acerca de um percurso de vida raro: o de Che Guevara assassinado, na Bolívia, em 9 de Outubro de 1967. Passaram 37 anos.
sábado, outubro 9
"O monstro da totalidade
Outro discurso: neste dia 6 de Agosto, no campo, uma manhã dum dia esplêndido: sol, calor, flores, silêncio, calma, esplendor. Nada há que vagueie, nem o desejo nem a agressão; apenas o trabalho aqui está, à minha frente, como uma espécie de ser universal: está tudo cheio. Será então isto a natureza? Uma ausência… do resto? A Totalidade?”
6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
----------------------------------
Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.
O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.
A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.
6 de Agosto de 1973 – 3 de Setembro de 1974
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 47
(Fragmento 2 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
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Este é o último post desta série de fragmentos da minha primeira leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes”. A sua divulgação resulta do prazer da leitura que a obra me provocou. Aqui deixo o caminho para um melhor conhecimento do autor através do acesso a este sítio.
O meu livro artesanal (em folhas A4) foi elaborado, no início dos anos 80, através da colagem de fotocópias de fragmentos da obra. Escrevi, ao mesmo tempo, um conjunto de notas pessoais apostas, uma a uma, em cada página.
A última das quais é esta que seria capaz de escrever, letra a letra, ainda hoje: “não se podem menosprezar sistematicamente os actos as acções os gestos que nos dão prazer. são esses que podemos levantar nas mãos e lançar à nossa frente.” Este é o programa do prazer da acção e da acção por prazer.
Marcelogate
Todos os caminhos, no caso Marcelo, vão no mesmo sentido. Um autêntico processo de pressão ilegítima do governo sobre um canal de televisão privado; iniciativas para a eliminação ou condicionamento das vozes críticas do governo, em particular, se situadas na mesma área política; utilização do aparelho diplomático para fins duvidosos; colocação de "comissários" no controle do oligopólio da comunicação social pública ou controlada através da PT; e tudo o mais que adiante se verá.
Um "marcelogate". Alguém que investigue o caso a sério e quem de direito que retire as devidas consequência políticas.
"Velha Europa" na 3ª Idade
O “Expresso” na sua edição de hoje publica um trabalho acerca da questão demográfica a propósito de um relatório da EU intitulado: “A situação social na União Europeia – 2004”.
Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.
“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais
Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.
Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”
Deixo aqui um excerto. O trabalho publicado pode ser lido no IR AO FUNDO E VOLTAR assim como o artigo que publiquei, em Março de 2004, no “Semanário Económico”, sob o título “Imigração – não meter a cabeça na areia.
“Bruxelas faz as contas e adverte para o risco do aumento dos idosos face à população activa. Após 2010, as coisas vão piorar ainda mais
Um em cada seis cidadãos comunitários tem hoje mais de 65 anos, mas no início da próxima década, quando se assistirá a um rápido envelhecimento da população da União Europeia (UE), a proporção será de um em cada quatro.
Os dados e os alertas sobre a dimensão do problema figuram no relatório «A situação social na União Europeia - 2004», cuja síntese foi há dias publicada pela Comissão. Actualmente, os 74 milhões de idosos correspondem a 16,3% da população total, mas em 2010 o peso dos «seniores» será de 27%.”
"O teatro
Não acreditando na separação do afecto e do signo, da emoção e do seu teatro, não podia exprimir uma admiração, uma indignação, um amor, com medo de a significar mal. Assim, quanto mais comovido está mais insípido fica. A sua “sinceridade” não é mais do que o constrangimento dum actor que se não atreve a entrar em cena com medo de representar excessivamente mal.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 46
(Fragmento 1 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 46
(Fragmento 1 de 2, pag. 20)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Três meses depois
Passaram três meses exactos sobre a decisão do PR, após a fuga de José Manuel Barroso, de não convocar eleições gerais antecipadas. 9 de Julho de 2004. Três meses depois estamos, de novo, em plena crise política ou num arremedo dela? Manobras tácticas? Reposicionamento de forças? Mudança de generais? Preparo para as batalhas políticas nos prazos legais? Ou mais do que isso?
O tom dos discursos e o desenho do cansaço nos rostos deixa antever, pelo menos, excesso de nervosismo. A opinião pública não se alenta com as medidas anunciadas pelo governo. A base de apoio da maioria estreita-se. Todos os sinais vão nesse sentido.
As oposições estão mais frescas. Porque estão fora da linha de fogo dos descontentamentos provocados pelas medidas impopulares. Mas também porque mudaram, ou vão mudar, as lideranças (excepto o BE). O tempo é escasso para mais do que escaramuças tácticas. Na legislação, nos negócios e na propaganda. A evolução, a curto prazo, da economia não vai ajudar quem governa. Veja-se a escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais.
A anunciada aceleração desacelera. O factor tempo, finalmente, parece favorecer a oposição. O orçamento de estado para 2005 tem de ser apresentado até ao final da próxima semana. Disso falará certamente o primeiro-ministro na anunciada comunicação ao país de 2ª feira. Qual a mensagem? De confiança ou de renúncia? De esperança ou de desalento? De autenticidade ou de demagogia?
Veja o interessante artigo Marcelo e as «ondas de paixão», de Clara Ferreira Alves, no “Diário Digital”
O tom dos discursos e o desenho do cansaço nos rostos deixa antever, pelo menos, excesso de nervosismo. A opinião pública não se alenta com as medidas anunciadas pelo governo. A base de apoio da maioria estreita-se. Todos os sinais vão nesse sentido.
As oposições estão mais frescas. Porque estão fora da linha de fogo dos descontentamentos provocados pelas medidas impopulares. Mas também porque mudaram, ou vão mudar, as lideranças (excepto o BE). O tempo é escasso para mais do que escaramuças tácticas. Na legislação, nos negócios e na propaganda. A evolução, a curto prazo, da economia não vai ajudar quem governa. Veja-se a escalada do preço do petróleo nos mercados internacionais.
A anunciada aceleração desacelera. O factor tempo, finalmente, parece favorecer a oposição. O orçamento de estado para 2005 tem de ser apresentado até ao final da próxima semana. Disso falará certamente o primeiro-ministro na anunciada comunicação ao país de 2ª feira. Qual a mensagem? De confiança ou de renúncia? De esperança ou de desalento? De autenticidade ou de demagogia?
Veja o interessante artigo Marcelo e as «ondas de paixão», de Clara Ferreira Alves, no “Diário Digital”
sexta-feira, outubro 8
As pegadas do elefante
“Celeste Cardona recebeu do Montepio Geral durante sete anos (de 1996 a 2002) mais de quatro mil euros mensais, acrescidos de cartão de crédito e carro. Tinha sido contratada como consultora jurídica, depois de ter emitido um parecer positivo sobre o regime fiscal que favorecia a banca. Em 2002, garantiu a ex-ministra ao JN, deixou de receber tal verba. Tal como deixou de exercer a advocacia, atendendo a que a lei das incompatibilidades o proibia.
A "subida" a ministra parece ter representado, afinal, um grande rombo nas suas economias. Em 2003, quando apenas exercia a tutela da Justiça, Celeste Cardona declarou pouco mais de 80 mil euros. No ano anterior (2002), juntando os 202 mil euros de trabalho independente ao vencimento de deputada, declarou 278 mil euros.
Também por explicar está o facto das quantias pagas a Celeste Cardona pelo Montepio Geral terem transitado para o seu marido, o advogado Luís Queiró. Este contrato terá sido assinado no final de 2003, mas desde que Cardona tomou posse como ministra que a verba lhe passou a ser paga.” (JN)
A "subida" a ministra parece ter representado, afinal, um grande rombo nas suas economias. Em 2003, quando apenas exercia a tutela da Justiça, Celeste Cardona declarou pouco mais de 80 mil euros. No ano anterior (2002), juntando os 202 mil euros de trabalho independente ao vencimento de deputada, declarou 278 mil euros.
Também por explicar está o facto das quantias pagas a Celeste Cardona pelo Montepio Geral terem transitado para o seu marido, o advogado Luís Queiró. Este contrato terá sido assinado no final de 2003, mas desde que Cardona tomou posse como ministra que a verba lhe passou a ser paga.” (JN)
Diálogo matinal
A empregada de mesa, preocupada:
“A sua amiga anda tão tristinha!”
(silêncio)
“Acho que o cão dela está muito doente!”
(silêncio)
A empregada retira-se incrédula.
“A sua amiga anda tão tristinha!”
(silêncio)
“Acho que o cão dela está muito doente!”
(silêncio)
A empregada retira-se incrédula.
"A minha cabeça está baralhada
Sobre um determinado trabalho, sobre um determinado assunto (habitualmente aqueles sobre os quais se fazem dissertações), sobre um determinado dia de vida, gostaria ele de colocar como divisa este dito de comadre: a minha cabeça está baralhada (imaginemos uma língua na qual o jogo das categorias gramaticais obrigasse por vezes o sujeito a enunciar-se sob as vestes de uma velha).
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.
Nesta página escrevi, vá lá saber-se porquê: “generalizo talvez abusivamente.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 45
(Fragmento 3 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
E, todavia, ao nível do seu corpo, nunca sente a cabeça baralhada. (…)
Sente por vezes vontade de deixar repousar toda essa linguagem que tem na cabeça, no trabalho, nos outros, como se a própria linguagem fosse um membro cansado do corpo humano; parece-lhe que, se descansasse da linguagem, descansaria completamente, pelo feriado dado às crises, às repercussões, às exaltações, às feridas, às razões, etc. Vê a linguagem sob os traços duma velha mulher cansada (algo como uma antiga mulher-a-dias de mãos gastas) que suspira por uma certa aposentação”.
Nesta página escrevi, vá lá saber-se porquê: “generalizo talvez abusivamente.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 45
(Fragmento 3 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Abandono Escolar
Em Abril passado publiquei no "Semanário Económico" um artigo com o título: "Abandono escolar – uma emergência nacional". Agora que o ano escolar está finalmente a arrancar em pleno, nas escolas públicas, vale a pena regressar a um dos temas mais importantes da política educativa em Portugal. Por isso aqui deixo os parágrafos iniciais desse artigo que pode ser lido na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR.
"A Comissão Europeia divulgou um “projecto de relatório intercalar” acerca dos objectivos da “Estratégia de Lisboa” para os sistemas de educação e de formação na Europa. Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a “taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %”.
Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.
Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década."
"A Comissão Europeia divulgou um “projecto de relatório intercalar” acerca dos objectivos da “Estratégia de Lisboa” para os sistemas de educação e de formação na Europa. Esse relatório revela que, considerando os jovens com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, a “taxa média de casos de abandono escolar, precoce, na União é de 18,8 %”.
Surpreendente, ou talvez não, os dez países aderentes apresentam melhor desempenho que os actuais Estados membros da União com uma taxa de 8,4 %.
Outro facto relevante é que Portugal apresenta a mais alta taxa de abandono escolar da União Europeia com 45,5%. Ainda mais preocupante é o facto de Portugal (com a Dinamarca) ter invertido, a partir de meados da década de 90, a tendência para a melhoria deste indicador, encetada no início dessa mesma década."
quinta-feira, outubro 7
"Espantação"
Tanta gente espantada com a perseguição do governo à livre expressão da opinião e da crítica! Ainda não tinham dado por isso? Os jornalistas não sabem? Mostram-se indignados? Muitos deles próprios não participaram já em processos persecutórios?
No caso Marcelo a fonte é o próprio Marcelo. A perseguição ao “one-show-man” fez estilhaçar as ligações perversas entre todos os poderes. Expôs à vista desarmada as ligações perigosas entre os poderes político, económico e mediático. Os recíprocos condicionamentos e as dependências.
Fez emergir o desprezo do poder, exercido pelo governo, pelo elo mais valioso e, ao mesmo tempo, mais sensível da democracia: a liberdade.
Estamos no ponto em que a indiferença do poder presidencial, ou a omissão da sua acção, é imperdoável.
No caso Marcelo a fonte é o próprio Marcelo. A perseguição ao “one-show-man” fez estilhaçar as ligações perversas entre todos os poderes. Expôs à vista desarmada as ligações perigosas entre os poderes político, económico e mediático. Os recíprocos condicionamentos e as dependências.
Fez emergir o desprezo do poder, exercido pelo governo, pelo elo mais valioso e, ao mesmo tempo, mais sensível da democracia: a liberdade.
Estamos no ponto em que a indiferença do poder presidencial, ou a omissão da sua acção, é imperdoável.
"Tel Quel"
O corpo é a diferença irredutível e, ao mesmo tempo, o princípio de toda a estruturação (uma vez que a estruturação é o Único da estrutura (…). Se eu conseguisse falar política com o meu próprio corpo, tornaria a mais chã das estruturas (discursivas) numa estruturação; com a repetição produziria Texto. O problema está em saber se o aparelho político reconheceria durante muito tempo esta maneira de fugir à banalidade militante enfiando nela, vivo, pulsional, gozador, o meu próprio corpo único.”
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 44
(Fragmento 2 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
"Roland Barthes por Roland Barthes" - 44
(Fragmento 2 de 3, pag. 19)
Edição portuguesa: "Edições 70"
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