domingo, maio 4

sexta-feira, maio 2

JANIS JOPLIN

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“The show must go on”.


Eu não acredito na infalibilidade das sondagens. Elas fazem parte do jogo político. Estão por dentro e não por fora desse jogo. Esta surge num momento crítico para o PSD. O drama que ela confirma é o da erosão política da direita. Mesmo Cavaco sofre por ter pactuado com o estatuto de inimputável de Jardim. Só pode ser essa a explicação para a queda abrupta da sua popularidade.

O PSD corre o sério risco de entrar num beco sem saída. A sua implosão deixou de ser uma hipótese académica. As eleições directas para a presidência do partido podem agravar as divisões internas, aprofundando a crise de representação política da direita. Pois ninguém pense que o PS – como alguns vaticinam – se possa tornar numa espécie de Partido Institucional.

Realisticamente é possível conceber a sobrevivência do PSD, transitoriamente sob a direcção de Manuela Ferreira Leite, numa lógica de contenção de danos face às eleições de 2009, com o sacrifício da sua ala populista? Uma espécie de regresso ao PSD cavaquista?

Como pode Manuela Ferreira Leite credibilizar um programa, e um discurso político, alternativos ao PS de Sócrates sob o peso da coincidência das mesmas propostas programáticas? As desvantagens de Sócrates não são capitalizáveis por Manuela. As desvantagens de Manuela são capitalizáveis por Sócrates.

É um círculo vicioso, estrategicamente vantajoso para o PS, que só poderia ser quebrado por uma candidatura de ruptura, ou seja, por um candidato de direita, com um programa, ao mesmo tempo, inovador e respeitável e um discurso populista, género “português suave”. O drama é que esse candidato a primeiro-ministro não existe. Ou, pelo menos, não foi ainda revelado.
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Marianne Faithfull

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quinta-feira, maio 1

FLORES DE MANUELA FERREIRA LEITE


Reparei na notícia das afirmações de Manuela Ferreira Leite na 1ª acção de campanha para a liderança do PSD e não quis acreditar. O discurso político dela tem a vantagem de parecer que se distancia dos discursos dos políticos profissionais. Um bocado hesitante e atrapalhado. Mas o que disse ela na Ajuda?

Faz-me lembrar quando há muitos anos, porque é 1º de Maio, o MES realizou a primeira acção de campanha eleitoral – para a constituinte ou para as primeiras legislativas – com uma sessão em Campolide. Era terreno do “inimigo” e, à última da hora, verificou-se que não havia mobilização. Nós acreditávamos na mobilização espontânea do povo em apoio das boas ideias. Nada. Logo na manhã do dia seguinte os jornais controlados pelo PCP puxaram para cima a notícia do fracasso … e morremos logo ali.
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MAIO DE 1968 ... TODOS OS MAIOS


A força das efemérides leva-nos ao Maio de 68. Passaram 40 anos. Àqueles que me questionam acerca das vivências desse tempo respondo, entre o sério e o irónico, que não me lembro de nada. Claro que me lembro mas as minhas vivências não me mobilizam para a reflexão. Frequentava a Universidade e, mesmo antes de nela ter ingressado, desde 1965, que participava dos movimentos de oposição à ditadura.

Durante os acontecimentos de Maio de 68 devo ter feito tanta coisa … ajudei a elaborar, imprimir e distribuir cadernos que divulgavam abundante informação acerca do que estava a acontecer em França. Lembro-me deles mas não me lembro do título da colecção. Discutia-se, no fundo, porque éramos modestos, uma coisa comezinha que era … a tomada do poder na universidade. Que afinal não era utopia porque viria a tornar-se realidade pouco tempo depois. Uma das vítimas foi o jovem assistente Cavaco Silva.

Em Abril de 1968 lia os “Cadernos” de Albert Camus, disso tenho a certeza, pois neles escrevi a data exacta da primeira leitura apaixonada (Abril – 3 – 1968 – FARO – CAIS.) Tal só foi possível porque as minhas preferências, no pensamento e acção, pelos 20 anos, nada tinham a ver com o Partido Comunista ou com os grupos marxistas-leninistas emergentes.

Eu vinha das vivências culturais, ligadas ao teatro amador; interessava-me o teatro e lia os dramaturgos, nalguns casos como ofício prático, clássicos e não só, (Gil Vicente, Eugène Ionesco, Luigi Pirandello, Thornton Wilder…) e também poetas (José Gomes Ferreira, encantava-me …) romancistas, de várias correntes e, claro, os neo-realistas (Urbano Tavares Rodrigues …). Filósofos, ícones da época, mais Gramsci que Marx, mais Lukács que Lenin, mais Camus que Sartre … mais Marcuse que Engels … Já para não entrar no encantamento pela rebeldia e música de Mary Joplin, Jimmy Hendrix e outros, além dos francófonos e dos portuguesíssimos que todos sabem quais são!.. E ainda, sem saber, militava numa estrutura da LUAR no Algarve.

As minhas experiências, anteriores ao Maio de 68, por razões de geração, eram mais próximas do espírito de Maio do que eu próprio supunha. Estavam mais próximas dos ideais libertários do que da ortodoxia comunista, pró soviética ou pró chinesa. Nunca na vida militei, nem simpatizei, com o PCP nem com os diversos grupos marxistas-leninistas que estavam a desabrochar. Respeitava a tradição da luta do PCP mas não me interessavam os valores em que ela assentava.
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Este desalinhamento político-ideológico manteve-se ao longo do tempo e havia de desembocar na aventura colectiva de criação do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Esta foi a resposta de muitos de nós à angústia de um desejo de empenhamento político que não encontrava resposta em qualquer das ideologias e organizações instaladas na esquerda que víamos como demasiado disciplinadoras na militância e ortodoxas nas ideias.

A gestação de um movimento autónomo de contestação ao regime – nas escolas, sindicatos, quartéis, igrejas, bairros e fábricas – correu antes, e depois, do Maio de 68 que incendiou, ainda mais, essa vontade de construir uma alternativa que a guerra colonial tornava urgente.

A ideia da criação desse movimento político, anti-autoritário, anti-fascista, anti-capitalista e anti-colonialista, ganhara corpo no sucesso de muitas lutas sectoriais, na preparação de candidaturas independentes a direcções de sindicatos, associações de estudantes e recreativas, na experiência de criação de comités que desencadeavam greves e reivindicações à revelia das estruturas sindicais e associativas tradicionais.

Enfim estávamos confiantes que o caminho do futuro passava pela criação do nosso próprio movimento de contestação ao regime fascista, a partir das bases, sem obediência a chefes nem a hierarquias que, na verdade, nos repugnavam.

Entre os anos de 1965 a 1968 fiz a minha aprendizagem na luta política de base. Fui um soldado raso na revolta da juventude contra a tirania. No teatro amador, na secção cultural da associação de estudantes de económicas, ou na sua reprografia, (secção de folhas), que dirigi, na direcção da cooperativa livreira Livrelco; em comissões de curso; na organização de acções de propaganda e de manifestações (as relâmpago eram as melhores! …) contra o governo; na CDE de 1969, antecedida pela tentativa, falhada, e pouco conhecida, de aproximação à CEUD de Mário Soares …

Muitas e boas razões para me lembrar do Maio de 68, vivido em Portugal, que deixou raízes mais fundas do que muitos, hoje, querem fazer crer, mas que, para mim, é uma simples memória no cotejo com os desafios do presente e do futuro.
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CULPADO

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quarta-feira, abril 30

CARTAZES DO MES




Porque estamos na véspera do 1º de Maio uma sequência de cartazes do MES (Movimento de Esquerda Socialista) de 1975. Foram-me enviados, em 2006, pela investigadora Margarida Boto. Publiquei-os, anteriormente, ilustrando os seguintes postes: A B C D
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ESQUERDA SOCIALISTA - Nº 1

E como estamos em véspera do 1º de Maio aqui fica o número um do “Esquerda Socialista” jornal do Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.

O jornal foi dado à estampa tardiamente – 16 de Outubro de 1974 – e o seu design gráfico, tal como o símbolo do MES, são de autoria do Robin Fior. O seu primeiro director foi o César de Oliveira. Antes, pela passagem do 1º aniversário do golpe militar que derrubou Allende, no Chile, 11 de Setembro, já tinha saído o nº0 com uma tiragem de loucura! Aí uns 100 000 exemplares, ou estou enganado? [Post corrigido.]
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terça-feira, abril 29

O RIDÍCULO MATA

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O CASO MENTAL PORTUGUÊS


Compreendo muito bem o que Francisco Sarsfield Cabral escreveu, no Público, domingo passado, acerca do provincianismo português: UM CASO DE PROVINCIANISMO, que respigo do Jumento.

Este é um tema que pensadores e artistas portugueses já ilustraram com o talento da sua escrita. Uma das reflexões mais interessantes é a de Fernando Pessoa numa nota de estilo crítico intitulada: O CASO MENTAL PORTUGUÊS, publicada em 1932.

Começa assim: Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria «provincianismo».

E acaba assim: O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro - aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres. Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.

É sempre muito estimulante e útil a sua leitura, em particular, nos dias de hoje.
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ANIVERSARIANDO


Rosário: são magníficas as coincidências. Agradeço e envio, na volta do correio, um pequeno álbum de imagens de Javier Bardem.
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segunda-feira, abril 28

JESSICA


Andei à procura de uma moça com uma máquina promocional a sério que tivesse nascido no dia de hoje. O mesmo dia em que eu nasci. Já estava um bocado farto da companhia do António (Salazar). Encontrei a Jessica que, mesmo sem o apoio do Sr. António Cunha Vaz, está no top. Vá lá saber-se porquê! Deve ter a trabalhar para ela uma formidável máquina promocional. E o Sr. António Cunha Vaz ocupa a primeira página do Público. Porquê? Juro que fui obrigado a fazer um esforço brutal para deslindar quem era a figura. Passaram-me pela cabeça as mais desvairadas candidaturas à liderança do PSD. Mas não encaixava, e daí? Tive que ler as legendas. Foi difícil. Ou o negócio está mal ou está a preparar-se para fazer carreira política! Só pode ser no PSD. É o António Cunha Vaz. A coisa está preta.
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IMAGENS RARAS DO 25 DE ABRIL




Este epílogo dos murais de Abril tem muitas imagens que ecoam na minha memória. E já que se falou, algures, do pano de fundo do I Congresso do MES (Dezembro de 1974) aqui o deixo, de novo, numa fotografia rara. O pano foi desenhado com os pés descalços marcando pegadas que caminhavam para o centro do símbolo. Este foi o único símbolo feminil dos partidos surgidos, à luz do dia, com a revolução do 25 de Abril. Nem seta, nem aresta, nem punho, nem martelo, nem foice, simplesmente um círculo vermelho encerrando a sigla e a estrela de cinco pontas.
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domingo, abril 27

HÁ MAIS VIDA PARA ALÉM DOS INQUÉRITOS


Um inquérito anunciado pelo PR diz que os jovens sabem pouco acerca do 25 de Abril. Passa a ideia que os jovens de hoje são ignorantes. Ponto final. Estas coisas não se discutem. Mas pus-me a pensar acerca de quais as respostas de Cavaco Silva, enquanto jovem, a algumas perguntas.

Qual o primeiro presidente eleito na Primeira República? Qual o primeiro presidente da república do Estado Novo? Ou, a respeito de organizações internacionais, das quais Portugal é membro: quantos países fundaram a OTAN (NATO)? Ou acerca de resultados eleitorais: qual o resultado das “eleições” presidenciais de 1958?

Imagino as respostas de Cavaco Silva em 1959, pelos seus 20 anos! Ao que dizem era um rapaz que não se interessava muito pela política! Eu sei que os tempos eram outros, mas sempre existia a disciplina de OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação)! Ninguém lhe dava importância nenhuma!

Então lembrei-me de uma frase de Camus: “Decadência! Os discursos sobre a decadência! O século III antes de Jesus Cristo foi um século de decadência para a Grécia. Ele deu ao mundo a geometria, a física, a astronomia e a trigonometria com Euclides, Arquimedes, Aristarca e Hiparque.” [Cadernos].
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sábado, abril 26

BIOGRAFIA DO GENERAL SEM MEDO

O livro tem 1 225 páginas sem considerar as notas finais. Toda a gente sabe que Humberto Delgado era uma figura contraditória. Pelo temperamento e pelas ideias. Mas a vida e obra das grandes figuras com intervenção cívica e política marcante no nosso país merecem ser conhecidas. É a luta incessante contra o esquecimento que deveria preocupar a comunidade, através das instituições representativas do Estado e da sociedade. Esta biografia não é uma banal reconstituição da vida de um militar que se meteu pelos atalhos da política. As primeiras impressões de leitura apontam não só para um melhor conhecimento do homem como do modo como se faz justiça em Portugal. Não só ontem, mas hoje. A discrição dos detalhes da farsa do julgamento dos seus assassinos, já em plena democracia pós 25 de Abril, é exemplar. Escreve ao autor – neto do General - a páginas 1 217: “Os dezassete volumes que o compõem (o processo do assassinato de Delgado) transitaram, já no século XXI, após a extinção dos tribunais militares, para a 2ª Vara Criminal de Lisboa, onde o processo recebeu até um novo número e teoricamente se mantém em aberto, a pretexto de se desconhecer se o réu revel Casimiro Monteiro está vivo ou morto”. O património histórico, que é o próprio processo foi salvo, in extremis, nos últimos dias, pelo governo mas, pergunto: a justiça portuguesa já sabe se “o réu revel Casimiro Monteiro está vivo ou morto”? .
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Algumas questões explicadas pelo autor da obra.
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sexta-feira, abril 25

25 DE ABRIL - PRESENTE


À porta de armas do Quartel do Campo Grande (Lisboa) posando para a única fotografia que assinala a minha participação na revolução do 25 de Abril. Num intervalo dos dias tensos nos quais se começou a cerzir um sonho que parecia inalcançável: a Liberdade.
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