quinta-feira, março 25

Um livro de Lorca (III)

Neste terceiro excerto, José Viale Moutinho, no texto de apresentação do livro de Federico García Lorca intitulado: "ALOCUÇÃO AO POVO DA ALDEIA DE FUENTEVAQUEROS", afirma:

"Ora queria ainda falar-lhes de outra coisa, de algo tão idiota como o propalado apoliticismo de Federico Garcia Lorca. Ian Gibson, seu biógrafo mais atento, nas vésperas de apresentar uma reedição da sua obra "El asesinato de Garcia Lorca", creio que em finais dos anos 70 do século passado, ainda nas provas desse livro mostrou-me documentos que me surpreenderam porque revelavam um Lorca a intervir directa e politicamente.

Eu conhecia alguma correspondência sua a Teixeira de Pascoais, tanto mais que era amigo do sobrinho, o pintor João Teixeira de Vasconcelos.

Porém uma notícia intitulada Comité de Amigos de Portugal, editada no "El Socialista", de 6 de Maio de 35, dava nota da recente constituição de um Comité de Amigos de Portugal "que se propunha popularizar em Espanha os métodos brutais de repressão da ditadura fascista de Salazar em Portugal, organizando uma campanha de protesto entre as massas populares espanholas, assim como a ajuda em todas as suas formas às vítimas do fascismo português".

Entre outros, integravam o comité Ramón J. Sender, Rafael de Olmo, Victoria Kent, Pasionaria, Teresa Leon, Ortega y Gasset e Federico Garcia Lorca. O segundo documento a que me queria referir data de 4 de Julho de 1936 e é considerado como o último que ele assinou, pois foi fuzilado em 19 de Agosto seguinte.

É uma carta aberta do referido comité a Salazar formulando "um enérgico protesto em nome dos direitos e sentimentos que constituem a conquista mais apreciada da civilização: o direito e a liberdade de análise e de crítica e o sentimento de defesa e amparo da dignidade humana." diz depois a mensagem: "calam os escritores e os homens de pensamento em Portugal que não podem iludir a coacção brutal das suas armas, Sr. Salazar. Mas outros portugueses fazem a partir de fora do seu país a melhor homenagem ao seu próprio patriotismo e à sua cidadania, chamando a nossa consciência e a de todos os homens livres do mundo a favor dos lares portugueses desfeitos, dos milhares de concidadãos presos em condições desumanas, de centenas de homens inermes, cujo martírio se renova cada dia, e de milhões de seres humanos, a grande massa do povo português, que você procura envilecer na escravidão e na miséria".

Com Lorca, assinam este documento Largo Caballero, Ramón J, Sender, António Machado, Rafael Alberti, bem como milhares de outros antifascistas espanhóis."

(3 de 4 continua)

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