quarta-feira, julho 6

TEMPO


Imagem e apresentação de Prozacland e, já agora, recomendando a leitura de "Donde vem a electricidade?"

Apetece-me fazer um comentário aos comentários, em geral, no mínimo cépticos, a propósito da entrevista de José Sócrates, à SIC, acerca dos projectos de desenvolvimento a realizar em Portugal nos próximos anos.

Não acreditar é a ideia dominante. Há razões para isso. Já sabemos. Mas só na política? Não será reduzir demasiado a vida social sacralizar o “não acreditar” à política e aos políticos? Mas o resto da vida não está quase toda fora da política? Acreditamos, afinal, em quê?

Política = criação de expectativas. Não se pode condenar um político por cumprir o seu papel. Criar expectativas. Porventura de sinais contrários. Mas, no caso de Sócrates, há uma vantagem evidente: é forte nas convicções e na afirmação de uma vontade política. Se lhe juntarmos a maioria absoluta convenhamos que não é nada pouco.

No fim resta julgar o sucesso ou fracasso das políticas anunciadas. É o ritual democrático que os saudosistas das tiranias de direita e de esquerda têm dificuldade em engolir. No fim o povo julgará: o governo cumpriu ou frustrou as expectativas? No entretanto é preciso acreditar, ao menos, no tempo. Tempo: “Medida de duração dos fenómenos” [Houaiss].

O governo, um dia, cairá. Mas parece-me que é manifestamente prematuro sonhar com a sua queda a breve prazo. Parece-me que vai durar e deixar fundas marcas. Porque este não é um governo com um lider fraco (como foram Guterres, Durão e Santana, cada um ao seu estilo).

Goste-se de Sócrates, ou não se goste, a personalidade dos lideres conta muito na orientação, durabilidade e na obra dos governos democráticos. Esse facto, aparentemente despiciendo, ajudará a que o Tempo se afirme como o mais forte aliado deste governo.

4 comentários:

Orlando disse...
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Orlando disse...

Caro Eduardo, antes de mais agradeço a gentileza do seu link.

Concordo consigo que devíamos dar o benefício da dúvida a Sócrates e julgar no fim. Acontece que às vezes as coisas são muito complexas. Só daqui a várias eleições o aeroporto estará construido e todas as consequências da sua construção terão ocorrido. Entretanto muitas outras decisões terão sido tomadas que afectam a nossa economia e será quase impossível deslindar umas das outras. Era bom que não fosse assim.

Votei em Sócrates e se calhar voltava a votar hoje nele. As coisas estão demasiado perogosas para que eu me permita dar ao luxo de votar em branco. Sinto-me por isso á vontade para o criticar.

Orlando disse...

Paris tem dois aeroportos, Londres três. destruir um aeroporto que acabou de ser ampliado não faz sentido. Acontece que o terreno do aeroporto é demasiado suculento para que os especuladores imobiliários não lhe tentem estender as mãos. Lisboa foi ficar muito mais longe da europa, vai perder vantagens competitivas, etc. Mais razões aqui.

Eduardo Graça disse...

Leio sempre o seu blog e não acredito na verdade de sentido único mas "nas verdades" por isso gosto das suas opiniões concordando, ou não, plenamente, com elas. Quanto ao projecto de um novo aeroporto custa-me a crer que todas as ideias antigas, estudos e projectos, acerca do mesmo, tenham resultado de devaneios de lunáticos e de influências ilegítimas de especuladores imobiliários. Como cidadão, não como técnico, que de transportes não percebo nada, custa-me ver a aproximação à Portela, em voo rasante, de tantos aviões todos os dias. Assim como sempre pensei, no ar, vendo a nossa bela cidade de Lisboa (apesar de tudo) o que dirão os cépticos no dia em que ocorrer o desastre do despenhamento de um avião num bairro residencial ou na avenida da República em hora de ponta. Parece-me uma situação absurda a existência da Portela que mais não seja por razões de segurança e de natureza ambiental. E pergunto-me qual a razão da actual fobia público/política aos grandes projectos de infraestruturas de transportes. Posso estar 100% enganado mas desconfio que mais vale arriscar o novo do que defender o velho.
Um abraço e parabéns pelo seu blog.