sábado, maio 10

HUMBERTO DELGADO (I)


Tenho dedicado parte do meu tempo à leitura da Biografia de Humberto Delgado, escrita pelo seu neto Frederico Delgado Rosa. Na verdade é uma obra notável não só pela descrição pormenorizada da vida e obra de alguém que, tendo sido um indefectível apoiante de Salazar até cerca da 2ª grande guerra, o desafiou numa luta, que havia de ser de vida ou morte, como por ter sido escrita por um seu familiar confirmando a incúria dos poderes públicos, em Portugal, em honrar os mais elementares compromissos na defesa da verdade histórica, fazendo justiça aos seus maiores.

Passam hoje, exactamente, 50 anos sobre o dia em que teve início a campanha presidencial de Humberto Delgado: 10 de Maio de 1958. Respigo algumas passagens da conferência de imprensa inaugural da campanha no antigo Café Chave de Ouro, em Lisboa. As respostas do General, desde a mais conhecida a outras, são notáveis ainda para mais se atentarmos ao contexto político da época em que foram proferidas.

“Dez horas são dez horas!”Cultor da pontualidade, Humberto Delgado tomou o seu lugar na mesa de honra.

Não foi preciso muito tempo para saber o que tinha Humberto Delgado a dizer quanto às suas intenções a respeito de Oliveira Salazar. Com efeito, essa pergunta delicada, perigosa e mais ansiada que todas, foi logo a primeira a ser colocada, pela boca do correspondente em Lisboa da agência France-Presse desde 1948, o jornalista Lindorfe Pinto Basto. (…)

“Sr. General, se for eleito Presidente da República, que fará do Dr. Presidente do Conselho?”

Cortando cerce o silêncio de sepulcro que se instalou no vasto salão de chá, Humberto Delgado proferiu firme e secamente estas palavras que tomando toda a gente de surpresa e de assalto, incluindo os seus mais próximos correligionários, ficaram para a posteridade e são uma das frases mais célebres e mais citadas da história contemporânea de Portugal:

“Obviamente demito-o!”*

*(… )“no entanto o jornalista Lindorfe Pinto Basto afirmaria, passados muitos anos, que a resposta de Humberto Delgado foi: “Demito-o, é óbvio!” (…)
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