Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, maio 28
2º OLHAR DE CÃO
Fotografia de Pachacuti
Eu sou um cão; e como tal
Por vezes mesmo bem demais tratado
Ninguém peça a ninguém mais do que pode dar.
E o cão, por meu bem ou por meu mal,
Para continuar a sê-lo e a parecê-lo,
Tem de ladrar e morder o seu bocado
E quem me passa a mão pelo pêlo
Nem sempre vê p´ra quem eu estou a olhar.
José Blanc de Portugal
ENÉADAS – 9 Novenas
Imprensa Nacional – Casa da Moeda
Eu sou um cão; e como tal
Por vezes mesmo bem demais tratado
Ninguém peça a ninguém mais do que pode dar.
E o cão, por meu bem ou por meu mal,
Para continuar a sê-lo e a parecê-lo,
Tem de ladrar e morder o seu bocado
E quem me passa a mão pelo pêlo
Nem sempre vê p´ra quem eu estou a olhar.
José Blanc de Portugal
ENÉADAS – 9 Novenas
Imprensa Nacional – Casa da Moeda
MOVIMENTO DE ESQUERDA SOCIALISTA
MES – Baixo Alentejo
Colecção de Conceição Neuparth – Depositada no Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra
Em 1971 o país ainda vivia na esperança de uma solução política para a crise do Estado Novo. Sabíamos que o futuro não podia esperar muito mais. Mas não sabíamos quanto iria ainda durar a ditadura apesar das timoratas tentativas de abertura política de Marcelo Caetano.
O MES (Movimento de Esquerda Socialista) nasceu da confluência de três movimentos que despontaram e ganharam corpo ao longo da década de 60 ganhando força a partir do simulacro de eleições em 1969: o movimento operário e sindical, o movimento católico progressista e o movimento estudantil.
A cumplicidade entre um numeroso grupo de activistas que actuavam, com autonomia, contra o regime, nestes diversos movimentos sectoriais, foi sendo reconhecida por alguns de nós o que, a certa altura, desembocou na consciência de que estávamos perante um movimento político informal. Daí até à ideia da sua institucionalização foi um pequeno passo.
Lembro sempre entre os esquecidos criadores do movimento o designer Robin Fior, um estrangeiro em Lisboa. Foi ele que desenhou o símbolo do MES, o único, adoptado pelos partidos portugueses, com uma declarada feição feminil. Robin foi também o autor da linha gráfica do jornal “Esquerda Socialista” e concebeu um conjunto de cartazes surpreendentes pela sua ousada modernidade.
Quantas horas passadas na sua companhia, e de sua mulher, desenhando uma imagem que ficou agarrada à minha memória. Admirável Robin...
[As fotografias e respectivas legendas do Jantar de Extinção do MES vão continuar. No dia em que passa mais um aniversário do golpe militar de 28 de Maio de 1926 que abriu o caminho para a instauração da ditadura em Portugal, para que se compreenda melhor do que falamos, quando falamos do MES, aqui fica uma variante de um post publicado em Março de 2004 no qual se fala de Robin Fior.]
Colecção de Conceição Neuparth – Depositada no Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra
Em 1971 o país ainda vivia na esperança de uma solução política para a crise do Estado Novo. Sabíamos que o futuro não podia esperar muito mais. Mas não sabíamos quanto iria ainda durar a ditadura apesar das timoratas tentativas de abertura política de Marcelo Caetano.
O MES (Movimento de Esquerda Socialista) nasceu da confluência de três movimentos que despontaram e ganharam corpo ao longo da década de 60 ganhando força a partir do simulacro de eleições em 1969: o movimento operário e sindical, o movimento católico progressista e o movimento estudantil.
A cumplicidade entre um numeroso grupo de activistas que actuavam, com autonomia, contra o regime, nestes diversos movimentos sectoriais, foi sendo reconhecida por alguns de nós o que, a certa altura, desembocou na consciência de que estávamos perante um movimento político informal. Daí até à ideia da sua institucionalização foi um pequeno passo.
Lembro sempre entre os esquecidos criadores do movimento o designer Robin Fior, um estrangeiro em Lisboa. Foi ele que desenhou o símbolo do MES, o único, adoptado pelos partidos portugueses, com uma declarada feição feminil. Robin foi também o autor da linha gráfica do jornal “Esquerda Socialista” e concebeu um conjunto de cartazes surpreendentes pela sua ousada modernidade.
Quantas horas passadas na sua companhia, e de sua mulher, desenhando uma imagem que ficou agarrada à minha memória. Admirável Robin...
[As fotografias e respectivas legendas do Jantar de Extinção do MES vão continuar. No dia em que passa mais um aniversário do golpe militar de 28 de Maio de 1926 que abriu o caminho para a instauração da ditadura em Portugal, para que se compreenda melhor do que falamos, quando falamos do MES, aqui fica uma variante de um post publicado em Março de 2004 no qual se fala de Robin Fior.]
sábado, maio 27
ALBERT CAMUS
Imagem daqui
Lettre Duperray. « Les syndicalistes révolutionnaires continuent à se donner à leur activité essentielle : chercher les raisons de se séparer sur des principes communs. »
Albert Camus
Lettre Duperray. « Les syndicalistes révolutionnaires continuent à se donner à leur activité essentielle : chercher les raisons de se séparer sur des principes communs. »
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VIII (Août 1954/Juillet 1958)
Gallimard
JACARANDÁS
Fotografia in OFÍCIO DIÁRIO
Ontem, a caminho do Teatro da Trindade, para ver “1755 – O Grande Terramoto”, passei defronte de um conjunto imponente de jacarandás floridos. A cidade se ilumina com as cores da primavera e respira os cheiros que a tornam feminina. Esta Lisboa que se reergueu depois de destruída e, formosa, resiste.
Ontem, a caminho do Teatro da Trindade, para ver “1755 – O Grande Terramoto”, passei defronte de um conjunto imponente de jacarandás floridos. A cidade se ilumina com as cores da primavera e respira os cheiros que a tornam feminina. Esta Lisboa que se reergueu depois de destruída e, formosa, resiste.
RUY BELO
Fotografia de Angèle
(…)
Ah portugal país sem pátria por trás
cabo do mundo eterno fim do ano
em ti me senti sempre encurralado
como se lá no extremo fosse o meu último dia
(…)
Ruy Belo
FILOLOGIA-FILOSOFIA OU TALVEZ LA MESSE
SUR LE MONDE OU O TESTEMUNHO A FAVOR
DE UM ENTUSIASTA DO CAMPO
Transporte no Tempo
(…)
Ah portugal país sem pátria por trás
cabo do mundo eterno fim do ano
em ti me senti sempre encurralado
como se lá no extremo fosse o meu último dia
(…)
Ruy Belo
FILOLOGIA-FILOSOFIA OU TALVEZ LA MESSE
SUR LE MONDE OU O TESTEMUNHO A FAVOR
DE UM ENTUSIASTA DO CAMPO
Transporte no Tempo
quinta-feira, maio 25
JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES - FILOMENA AGUILAR
Fotografia de António Pais
(Clique na fotografia para ampliar)
Raquel Lopes e Filomena Aguilar Ferro Rodrigues
Esta fotografia foi outra grande surpresa. Agradável. Nada sei da Raquel. A Filomena é a minha amizade mais antiga entre todas as mulheres. Está tudo dito. Mas acrescento que o tempo não mata a beleza. Amadurece-a por entre as vicissitudes da vida.
(Clique na fotografia para ampliar)
Raquel Lopes e Filomena Aguilar Ferro Rodrigues
Esta fotografia foi outra grande surpresa. Agradável. Nada sei da Raquel. A Filomena é a minha amizade mais antiga entre todas as mulheres. Está tudo dito. Mas acrescento que o tempo não mata a beleza. Amadurece-a por entre as vicissitudes da vida.
O DIÁLOGO E O COMUNICADO
Fotografia de Angèle
Mandar é respirar, não é desta opinião? E até os mais deserdados chegam a respirar. O último na escala social tem ainda o cônjuge ou o filho. Se é celibatário, um cão. O essencial, em resumo, é uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o direito de responder. «Ao pai não se responde», conhece a fórmula? Em certo sentido, ela é singular. A quem se responderia neste mundo senão a quem se ama? Por outro lado, ela é convincente. É preciso que alguém tenha a última palavra. Senão, a toda a razão pode opor-se outra: nunca mais se acabava. A força, pelo contrário, resolve tudo. Levou tempo, mas conseguimos compreendê-lo. Por exemplo, deve tê-lo notado, a nossa velha Europa filosofa, enfim, da melhor maneira. Já não dizemos, como nos tempos ingénuos: «Eu penso assim. Quais são as suas objecções?» Tornámo-nos lúcidos. Substituímos o diálogo pelo comunicado.
Albert Camus
A Queda, in CADERNOS DE CAMUS
(Sublinhados de Ana Alves)
Mandar é respirar, não é desta opinião? E até os mais deserdados chegam a respirar. O último na escala social tem ainda o cônjuge ou o filho. Se é celibatário, um cão. O essencial, em resumo, é uma pessoa poder zangar-se sem que outrem tenha o direito de responder. «Ao pai não se responde», conhece a fórmula? Em certo sentido, ela é singular. A quem se responderia neste mundo senão a quem se ama? Por outro lado, ela é convincente. É preciso que alguém tenha a última palavra. Senão, a toda a razão pode opor-se outra: nunca mais se acabava. A força, pelo contrário, resolve tudo. Levou tempo, mas conseguimos compreendê-lo. Por exemplo, deve tê-lo notado, a nossa velha Europa filosofa, enfim, da melhor maneira. Já não dizemos, como nos tempos ingénuos: «Eu penso assim. Quais são as suas objecções?» Tornámo-nos lúcidos. Substituímos o diálogo pelo comunicado.
Albert Camus
A Queda, in CADERNOS DE CAMUS
(Sublinhados de Ana Alves)
quarta-feira, maio 24
ABDICAR
Segundo a Lusa: “O Prémio Camões, o maior galardão literário da língua portuguesa, não tentou Luandino Vieira que, segundo o escultor José Rodrigues, seu grande amigo, vive "completamente despojado dos bens materiais" no Alto Minho.”
Um convite à reflexão!
SOBRE UM VERSO REENCONTRADO
Fotografia de Angèle
De vez em quando reencontro uns versos
Perdidos na soleira dos livros
Que começados não se perdem,
E recomeçam porque assim decidi.
De vez em quando largo as palavras a meio
Não lhes encontro o nexo
Nem me reencontro nelas e desejo perdê-las,
E recomeçam porque assim decidi.
De vez em quando mudo as palavras de lugar
Olho os livros neles procurando o desejo
De reencontrar os versos que não escrevi,
E recomeçam porque assim decidi.
De vez em quando desencontro-me
Com as palavras e deixo o tempo passar
Na espera que se faça silêncio na memória,
E recomeçam porque assim decidi.
Lisboa, 20 de Agosto de 2004
De vez em quando reencontro uns versos
Perdidos na soleira dos livros
Que começados não se perdem,
E recomeçam porque assim decidi.
De vez em quando largo as palavras a meio
Não lhes encontro o nexo
Nem me reencontro nelas e desejo perdê-las,
E recomeçam porque assim decidi.
De vez em quando mudo as palavras de lugar
Olho os livros neles procurando o desejo
De reencontrar os versos que não escrevi,
E recomeçam porque assim decidi.
De vez em quando desencontro-me
Com as palavras e deixo o tempo passar
Na espera que se faça silêncio na memória,
E recomeçam porque assim decidi.
Lisboa, 20 de Agosto de 2004
JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES - "TOLAS"
(Clique na fotografia para ampliar)
Da esquerda para a direita: João Mário Anjos, João Esteves (“Tolas”) e Afonso de Barros.
Esta série de fotografias reporta-se a um evento, tem autor identificado, cujo nome surge sob cada uma, e não pretende, assim como os textos que acompanham as fotografias, ser um exercício saudosista, nem reavivar ideias que, na sua essência, são datadas e associadas a uma circunstância histórica singular e irrepetível.
Mas tenho a convicção que os protagonistas retratados não esquecem o passado nem se esquecem mutuamente, não querem, e não podem, apagar as memórias, embora se assumam nas recusas, nas dúvidas e nos desafios do tempo presente.
Revemo-nos, assim, no simbolismo de um gesto de abdicação realizando, através desta poderosa rede de comunicação, um reencontro impossível de concretizar de outro modo.
Esta fotografia é um fragmento que tem a novidade de retratar, ao centro, o João Esteves (“Tolas”). Quando o António Pais me enviou esta fotografia, e a abri, foi como se tivesse visto o “Tolas” pela primeira vez, vivo, na amenidade de um convívio que se não interrompeu.
Da esquerda para a direita: João Mário Anjos, João Esteves (“Tolas”) e Afonso de Barros.
Esta série de fotografias reporta-se a um evento, tem autor identificado, cujo nome surge sob cada uma, e não pretende, assim como os textos que acompanham as fotografias, ser um exercício saudosista, nem reavivar ideias que, na sua essência, são datadas e associadas a uma circunstância histórica singular e irrepetível.
Mas tenho a convicção que os protagonistas retratados não esquecem o passado nem se esquecem mutuamente, não querem, e não podem, apagar as memórias, embora se assumam nas recusas, nas dúvidas e nos desafios do tempo presente.
Revemo-nos, assim, no simbolismo de um gesto de abdicação realizando, através desta poderosa rede de comunicação, um reencontro impossível de concretizar de outro modo.
Esta fotografia é um fragmento que tem a novidade de retratar, ao centro, o João Esteves (“Tolas”). Quando o António Pais me enviou esta fotografia, e a abri, foi como se tivesse visto o “Tolas” pela primeira vez, vivo, na amenidade de um convívio que se não interrompeu.
terça-feira, maio 23
PAISAGEM
Fotografia de Catherine
Vejamos:
Seis metros quadrados de janelas;
a árvore; verdes; cachos amarelos.
Telhados (um de madeira) e céu –
um céu desmaiado, azul aguado.
Aves não, nenhumas.
(Lagartos adivinham-se).
Gente inexistente.
Sons: um avião; cigarras.
E, de repente,
uma grande tristeza sem motivo.
(…)
In “ENÉADAS – 9 Novenas”
Imprensa Nacional – Casa da Moeda
15.1.57
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
Vejamos:
Seis metros quadrados de janelas;
a árvore; verdes; cachos amarelos.
Telhados (um de madeira) e céu –
um céu desmaiado, azul aguado.
Aves não, nenhumas.
(Lagartos adivinham-se).
Gente inexistente.
Sons: um avião; cigarras.
E, de repente,
uma grande tristeza sem motivo.
(…)
In “ENÉADAS – 9 Novenas”
Imprensa Nacional – Casa da Moeda
15.1.57
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
(Lisboa, 1914 – 2000, Lisboa)
JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES - "IR ATÉ AO FIM ..."
Fotografia de António Pais
(Clique na fotografia para ampliar)
Da esquerda para a direita: Luís Mergulhão, Pedro Pais, Albano, (?) e Nazaré.
Julgo que nesta fotografia está representado o pessoal do ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas).
É notável como, invariavelmente, os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário.
Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos?
(Clique na fotografia para ampliar)
Da esquerda para a direita: Luís Mergulhão, Pedro Pais, Albano, (?) e Nazaré.
Julgo que nesta fotografia está representado o pessoal do ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas).
É notável como, invariavelmente, os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário.
Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos?
Como disse Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”
segunda-feira, maio 22
CARREIRISMO
Mário-Henrique Leiria
Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofér fardado.
Era Director Geral das Polícias. Seu pai teve o enfarte.
Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves da mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofér fardado.
Era Director Geral das Polícias. Seu pai teve o enfarte.
---------------------------------------------------------------------
Mário Henrique Leiria nasceu em Lisboa em 1923. Frequentou por pouco tempo a Escola de Belas Artes. Entre 1949 e 1951 participou nas actividades da movimentação surrealista em Portugal. Teve vários empregos: marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil. Viajou. Em 1961 foi para a América Latina onde desenvolveu várias actividades, entre as quais a de encenador de teatro e de director literário de uma editora. Voltou nove anos depois. Colaborou em várias revistas e jornais nacionais.
REMBRANDT
Rembrandt (1606 - 1669)
Self Portrait as a Young Man - 1634 Uffizi, Florence
« Rembrandt : la gloire jusqu´en 1642, à 36 ans. À partir de cette date, la marche à la solitude et à pauvreté. Expérience rare et plus significative que celle, banale, de l´artiste méconnu. Sur une telle expérience on n´a encore rien dit. »
Albert Camus
Self Portrait as a Young Man - 1634 Uffizi, Florence
« Rembrandt : la gloire jusqu´en 1642, à 36 ans. À partir de cette date, la marche à la solitude et à pauvreté. Expérience rare et plus significative que celle, banale, de l´artiste méconnu. Sur une telle expérience on n´a encore rien dit. »
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VIII (Août 1954/Juillet 1958)
Gallimard
domingo, maio 21
JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES (DORL) - 7 DE NOVEMBRO DE 1981
(Clique na fotografia para ampliar)
Da esquerda para a direita. De pé: José Luís Ganhão, Margarida Guimarães, António Pinto Basto (posteriormente, enquanto jornalista, António Ribeiro Ferreira), Albano Machado, Pedro Pais, Manuel Pires, Luísa Ivo e Luís Castanheira Lopes; em baixo: Adelaide de Jesus, Miguel Teotónio Pereira, Constantino Ferreira, Rogério de Jesus, José António Vieira da Silva, Carlos Pratas e Isabel Cordovil.
Não me lembro se a data escolhida para o Jantar – 7 de Novembro – releva de um voluntário gesto simbólico ou se foi uma mera coincidência com o dia do aniversário da revolução bolchevique, na Rússia, em 1917.
A verdade é que, pelo calendário ocidental, a “Revolução de Outubro” ocorreu a 7 de Novembro de 1917 e o jantar de extinção do MES foi realizado no dia 7 de Novembro de 1981, coincidindo com o 64º aniversário daquela revolução.
Esta fotografia retrata os elementos da última DORL – Direcção da Organização Regional de Lisboa – do MES. Com mais rigor elementos que integraram sucessivas DORLs. Recordo, com saudade, a figura de José Luís Ganhão o único deste grupo que já nos deixou. Assinalo, ainda, uma significativa presença feminina que, no entanto, nunca esteve representada nas estruturas centrais da direcção do MES.
Curiosamente surge António Pinto Basto que haveria de ganhar notoriedade, como jornalista, assinando António Ribeiro Ferreira.
Da esquerda para a direita. De pé: José Luís Ganhão, Margarida Guimarães, António Pinto Basto (posteriormente, enquanto jornalista, António Ribeiro Ferreira), Albano Machado, Pedro Pais, Manuel Pires, Luísa Ivo e Luís Castanheira Lopes; em baixo: Adelaide de Jesus, Miguel Teotónio Pereira, Constantino Ferreira, Rogério de Jesus, José António Vieira da Silva, Carlos Pratas e Isabel Cordovil.
Não me lembro se a data escolhida para o Jantar – 7 de Novembro – releva de um voluntário gesto simbólico ou se foi uma mera coincidência com o dia do aniversário da revolução bolchevique, na Rússia, em 1917.
A verdade é que, pelo calendário ocidental, a “Revolução de Outubro” ocorreu a 7 de Novembro de 1917 e o jantar de extinção do MES foi realizado no dia 7 de Novembro de 1981, coincidindo com o 64º aniversário daquela revolução.
Esta fotografia retrata os elementos da última DORL – Direcção da Organização Regional de Lisboa – do MES. Com mais rigor elementos que integraram sucessivas DORLs. Recordo, com saudade, a figura de José Luís Ganhão o único deste grupo que já nos deixou. Assinalo, ainda, uma significativa presença feminina que, no entanto, nunca esteve representada nas estruturas centrais da direcção do MES.
Curiosamente surge António Pinto Basto que haveria de ganhar notoriedade, como jornalista, assinando António Ribeiro Ferreira.
(Correcções, assinaladas a vermelho, enviadas pela Luísa Ivo - ver comentário.)
FRIDA KAHLO
O autocarro
Exposição “Vida e Obra” de Frida Kahlo [1907/1954]. CCB, Lisboa, penúltimo dia. As considerações que pode ler aqui – de onde retirei também a imagem – poupam-me as críticas.
O que vi. Cores fortes. Alguns retratos e auto retratos impressivos. O tema da infertilidade ou da maternidade frustrada. Sofrimento físico, doença e adversidade. Passado, família e amigos. Implicitamente a política.
Diego Rivera, Trotsky e mecenas. Uma vida que se sobrepõe à obra. Uma obra sub representada. É preciso visitar o México para ver a obra de Frida Kahlo.
Já tive a felicidade de apreciar, ao vivo, parte da obra de Diego Rivera. Impressionante. Mas não vi as obras mais importantes de Frida.
Exposição “Vida e Obra” de Frida Kahlo [1907/1954]. CCB, Lisboa, penúltimo dia. As considerações que pode ler aqui – de onde retirei também a imagem – poupam-me as críticas.
O que vi. Cores fortes. Alguns retratos e auto retratos impressivos. O tema da infertilidade ou da maternidade frustrada. Sofrimento físico, doença e adversidade. Passado, família e amigos. Implicitamente a política.
Diego Rivera, Trotsky e mecenas. Uma vida que se sobrepõe à obra. Uma obra sub representada. É preciso visitar o México para ver a obra de Frida Kahlo.
Já tive a felicidade de apreciar, ao vivo, parte da obra de Diego Rivera. Impressionante. Mas não vi as obras mais importantes de Frida.
Camus - Cahier nº VIII
Fotografia de Angèle
« 17[8/1954]. Berl.*
Il est plus facile aux intellectuels de dire non que de dire oui. Le médecin Reclus qui avait pris partis pour Dreyfus, regardant les volumes de ses œuvres à la fin de sa vie s´aperçoit qu´il y a eu deux années où n´a rien produit. Ah! oui, Dreyfus : il avait consacré ces deux années à étudier les dossiers de l´affaire. Aujourd´hui on prend partis sur la lecture d´un article.
Après-midi perdue. »
*Emmanuel Berl (1892-1976) était devenu l´ami de Camus
Albert Camus
« 17[8/1954]. Berl.*
Il est plus facile aux intellectuels de dire non que de dire oui. Le médecin Reclus qui avait pris partis pour Dreyfus, regardant les volumes de ses œuvres à la fin de sa vie s´aperçoit qu´il y a eu deux années où n´a rien produit. Ah! oui, Dreyfus : il avait consacré ces deux années à étudier les dossiers de l´affaire. Aujourd´hui on prend partis sur la lecture d´un article.
Après-midi perdue. »
*Emmanuel Berl (1892-1976) était devenu l´ami de Camus
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VIII (Août 1954/Juillet 1958)
Gallimard
sem título XXX
Fotografia de Philippe Pache
Fosse meu tudo o que não tem medida certa
seria feliz por possuir o mundo
Tomaria em mãos as diversas artes
sendo múltiplo fingir-me-ia uno
uno por dentro e por fora repartido em partes
19 de Maio de 2006
Fosse meu tudo o que não tem medida certa
seria feliz por possuir o mundo
Tomaria em mãos as diversas artes
sendo múltiplo fingir-me-ia uno
uno por dentro e por fora repartido em partes
19 de Maio de 2006
sábado, maio 20
FARENSE/BENFICA
(ver foto ampliada)
Em 15 de Março passado iniciei a minha colaboração no A Defesa de Faro com este post . A propósito de um comentário de hoje, em adenda, aqui fica o texto original. Poucos momentos depois de, por coincidência, ter sido anunciado Fernando Santos como novo treinador do Benfica.
Uma das maiores alegrias da minha vida foi sempre o Farense. Vivi desde 1955
à beira do estádio de S. Luís e aproveitava todas as oportunidades para ver mesmo os treinos. Lembro-me dos rostos dos jogadores mais antigos como se os estivesse aqui na minha frente. O Vinueza, o Reina, o Queimado, o Ventura, o Rato, (guarda redes) o Tarro e tantos outros que as imagens antigas me ajudarão a decifrar. Mas eram equipas que andavam pela 2ª divisão, na melhor das hipóteses, pois parece que, à época, "o sistema" não permitia, salvo o Olhanense num período determinado, que qualquer equipa do Algarve subisse à primeira divisão.
Em 15 de Março passado iniciei a minha colaboração no A Defesa de Faro com este post . A propósito de um comentário de hoje, em adenda, aqui fica o texto original. Poucos momentos depois de, por coincidência, ter sido anunciado Fernando Santos como novo treinador do Benfica.
Uma das maiores alegrias da minha vida foi sempre o Farense. Vivi desde 1955
à beira do estádio de S. Luís e aproveitava todas as oportunidades para ver mesmo os treinos. Lembro-me dos rostos dos jogadores mais antigos como se os estivesse aqui na minha frente. O Vinueza, o Reina, o Queimado, o Ventura, o Rato, (guarda redes) o Tarro e tantos outros que as imagens antigas me ajudarão a decifrar. Mas eram equipas que andavam pela 2ª divisão, na melhor das hipóteses, pois parece que, à época, "o sistema" não permitia, salvo o Olhanense num período determinado, que qualquer equipa do Algarve subisse à primeira divisão.
A equipa representada na foto foi, sem dúvida, uma das melhores de sempre. À época já não vivia em Faro mas acompanhava à distância a sua carreira vendo alguns jogos disputados em Lisboa. Mas lembro-me destes jogadores todos dos quais destaco o Benje, um guarda redes fabuloso, o Mirobaldo, um goleador tecnicista elegante, que se fora hoje faria carreira num grande clube, o Sério, "carregador de piano", o Farias um "ala" de categoria, faltando aqui o Adilson que com Mirobaldo e o Farias, formavam um esquadrão de ataque temível que, soube agora, era designado como MFA.
Destes jogadores o que atingiu maior notoriedade, como treinador, foi o Manuel José, rapaz de Vila Real, um falso lento que colocava a bola milimétricamente à distância. É hoje treinador campeão africano. Que será feito de cada um destes jogadores verdadeiras glórias do Farense. Um dia quando o Farense se reerguer para fazer orgulhar o meu filho, que fiz sócio logo quando nasceu, alguém se lembre de homenagear os vivos e celebrar a memória dos desaparecidos. Eles são parte da história de uma cidade e região.
----------------------------------------------------
Comentario, tardio, deixado hoje, por J. Cabrita, na caixa de comentários de A Defesa de Faro:
Comentario, tardio, deixado hoje, por J. Cabrita, na caixa de comentários de A Defesa de Faro:
Ah! Os jogos – e os treinos, concorridíssimos – do Farense no velho campo pelado de São Luís (mais tarde relvado, após a subida à 1ª divisão)! Que momentos inesquecíveis
viveu Faro por essas alturas! Uma mística autêntica envolvia a urbe e a sua equipa! Havia carinho autêntico, espontâneo, em redor desses jogadores, estimados como filhos da casa...!
viveu Faro por essas alturas! Uma mística autêntica envolvia a urbe e a sua equipa! Havia carinho autêntico, espontâneo, em redor desses jogadores, estimados como filhos da casa...!
Diz bem o Eduardo Graça – amigo e velho condiscípulo do Liceu de Faro, e vizinho de São Luís, e que muito gostaria de reencontrar (perguntava sempre por ti, a teu pai e a teu irmão Dimas, saudosos falecidos) –, naqueles tempos o sistema dificultava os voos mais altos das equipas sulinas... Mas tivemos equipas de grande gabarito, de raça e pundonor, que, hoje, pediriam meças às melhores equipas do nosso País.
Bons tempos para quem os viveu – e nós tivemos essa rara felicidade!Mas é preciso que a Fénix Farense renasça, com o mesmo espírito de sempre! Hoje, é mais complicado (o "deus" "mamon" manda e corrompe tudo...) mas... quem sabe...? Como dizia A. de Saint Éxupéry : "il y avaient des innocents qui savaient que les choses étaient impossibles... et pourtant ils les ont faites!"·
Abraços a todos os genuínos farenses – e um especial ao meu velho condiscípulo e amigo Eduardo Graça!
J. Cabrita
J. Cabrita
(Agradeço e retribuo com amizade.)
ACTUALIDADE POLÍTICA
Laetitia Casta
Utilizo o olhar deslumbrante desta moça para anunciar que deixei de comprar jornais. Um dia, muitos anos atrás, também deixei de fumar. É uma questão de saúde! Leio, no entanto, os jornais nas bancas, nos cafés, na casa dos amigos e na net e, porque não sou fundamentalista, também fumo, de vez em quando, uma cigarrilha.
Hoje, por acaso, num bar, reparei que o EPC* diz, no Público, que não lê blogues e que sempre que lhe mandam um email com endereço de blogue logo o lança ao lixo. Ando às avessas com o EPC o que deve ser muito bom sinal para mim.
Mas, paradoxalmente, a confissão do EPC servia para citar o blogue do JPP** – que o EPC deve ter lido no jornal – a propósito do “envelope 9”. O post do JPP tornou o envelope 9 em “micro causa”. E como tal vai ter uma resposta expedita hoje, pela manhã, no Expresso. Ou esperava ouvi-la, em primeira-mão, por outro órgão qualquer?
Pelo que vi no “Expresso da Meia-noite” a resposta é a mais previsível que se possa imaginar. É tudo culpa da comunicação social e, provavelmente, do funcionário nº 354 da PT (Deus queira que, por coincidência, não acerte no número do dito!).
Utilizo o olhar deslumbrante desta moça para anunciar que deixei de comprar jornais. Um dia, muitos anos atrás, também deixei de fumar. É uma questão de saúde! Leio, no entanto, os jornais nas bancas, nos cafés, na casa dos amigos e na net e, porque não sou fundamentalista, também fumo, de vez em quando, uma cigarrilha.
Hoje, por acaso, num bar, reparei que o EPC* diz, no Público, que não lê blogues e que sempre que lhe mandam um email com endereço de blogue logo o lança ao lixo. Ando às avessas com o EPC o que deve ser muito bom sinal para mim.
Mas, paradoxalmente, a confissão do EPC servia para citar o blogue do JPP** – que o EPC deve ter lido no jornal – a propósito do “envelope 9”. O post do JPP tornou o envelope 9 em “micro causa”. E como tal vai ter uma resposta expedita hoje, pela manhã, no Expresso. Ou esperava ouvi-la, em primeira-mão, por outro órgão qualquer?
Pelo que vi no “Expresso da Meia-noite” a resposta é a mais previsível que se possa imaginar. É tudo culpa da comunicação social e, provavelmente, do funcionário nº 354 da PT (Deus queira que, por coincidência, não acerte no número do dito!).
________________________________________________
Para o pessoal do Brasil e alguns distraídos as legendas: * EPC – Eduardo Prado Coelho, para o efeito, colunista do “Público”, “Baixo Cê” em homenagem ao Althusser. ** JPP – José Pacheco Pereira, para o efeito, blogueiro.
(Desde o início de Abril que não publico um post acerca da actualidade política o que é bom sinal: é que deixou de haver actualidade política como vai ser, abundantemente, demonstrado pelo Congresso do PSD que deve estar a decorrer neste momento numa terra chamada Póvoa do Varzim.)
Para o pessoal do Brasil e alguns distraídos as legendas: * EPC – Eduardo Prado Coelho, para o efeito, colunista do “Público”, “Baixo Cê” em homenagem ao Althusser. ** JPP – José Pacheco Pereira, para o efeito, blogueiro.
(Desde o início de Abril que não publico um post acerca da actualidade política o que é bom sinal: é que deixou de haver actualidade política como vai ser, abundantemente, demonstrado pelo Congresso do PSD que deve estar a decorrer neste momento numa terra chamada Póvoa do Varzim.)
sexta-feira, maio 19
"O meu país ..."
Fotografia de Angèle
(…)
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
(…)
Ruy Belo
PEREGRINO E HÓSPEDE SOBRE A TERRA
Transporte no Tempo
(…)
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
(…)
Ruy Belo
PEREGRINO E HÓSPEDE SOBRE A TERRA
Transporte no Tempo
COLECÇÃO DE CONCEIÇÃO NEUPARTH
Esta fotografia foi obtida, certamente, aquando da campanha para as eleições legislativas de 25 de Abril 1976. O MES, de forma autónoma, só participou nas eleições para a Assembleia Constituinte, realizadas a 25 de Abril de 1975, e nas primeiras eleições legislativas realizadas exactamente um ano depois.
A sua extinção foi o resultado de uma dura luta entre duas correntes que se confrontaram no 4º Congresso e ocorreu, como tenho vindo a documentar, através de um jantar/festa, no dia 7 de Novembro de 1981. É esta a data exacta, confirmada pelo António Pais através da sua agenda e das fotografias, de sua autoria, que testemunham as presenças nesse evento.
A revista “Sábado”, na sua edição de 11 de Março, publicou a fotografia de grupo, que deu início a esta série, sem referir a fonte o que é lamentável e não abona acerca da deontologia profissional dos autores de uma reportagem acerca da carreira política de um dos fotografados, José António Vieira da Silva, actual Ministro da Trabalho.
Outras fotografias do jantar de extinção do MES se seguirão para surpresa de alguns dos próprios fotografados.
Subscrever:
Mensagens (Atom)