sexta-feira, maio 4

POPULARIDADE E COERÊNCIA

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“O que não me faz morrer torna-me mais forte” (Nietzsche, citado por Camus)

Os portugueses desejam estabilidade política. Nos últimos 33 anos – escrevo no dia 25 de Abril de 2007 – passaram demasiados governos e ministros pelas “pastas”, ouviram-se, vezes demais, baques surdos de quedas e portas a bater, deixaram-se muitos projectos na gaveta, desperdiçaram-se abundantes recursos e perderam-se preciosas oportunidades para mudar o destino do país. Já basta!

Eu sei que a luta política é feita de duros confrontos e de canalhices sem nome, que a economia real não se compadece com cedências às facilidades e, tantas vezes, “esquece” o lado não mercantil da vida das comunidades como se o fim último do trabalho e da criação de riqueza não fosse a luta pelo bem comum e pela felicidade do homem.

Mas como não me tenho cansado de referir, contra a cegueira de alguma esquerda suicidária, o actual governo socialista, e o seu líder, são o máximo, e não o mínimo, denominador comum possível capaz de encetar a reforma de um estado arruinado, erigido como fortaleza dos privilégios de miríades de corporações, salvando do colapso o “estado social”.

[Aqui vos deixo a epígrafe e os três primeiros parágrafos do artigo publicado na edição de hoje do “Semanário Económico". Também disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR. Aviso: trata-se de um artigo situacionista, ou seja, de apoio ao governo, que corresponde ao que penso acerca da situação política actual. Quem se sentir incomodado passe à frente.]
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AGRADECIMENTOS

Thinking Blogger Award

Deixei atrasar a referência a duas citações do absorto para o galardão acima referido. Foram elas do Com calma … Com que Alma! e do Fórum Cidadania. Os meus sinceros agradecimentos.
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ROBERTO CARLOS

Posted by PicasaRoberto Carlos

A ler: Ainda sobre o "Rei"

In Marcelo Moutinho uma muito ilustrativa carta de Paulo Coelho contra a acção judicial, e seus mandantes, que proibiu a produção e distribuição de uma biografia de Roberto Carlos.
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quinta-feira, maio 3

ÍTACA

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SÉGOLÈNE ROYAL

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ELEIÇÕES EM LISBOA

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PS quer eleições em Lisboa até 15 de Julho

O executivo da CML apodreceu e caiu. É normal, se atentar-mos na sua gestação. Santana Lopes» Carmona Rodrigues «M.M. Carrilho. PSD+PS=0.

É certo que vamos para eleições intercalares. Só para o executivo ou para todos os órgãos da autarquia? É o que resta saber. Seria mais prudente, do ponto de vista da democracia, ou seja, do interesse dos cidadãos, que as eleições abrangessem todos os órgãos incluindo a Assembleia Municipal e as Juntas de Freguesia.

O PS só terá hipóteses de ganhar estas eleições se apresentar uma candidatura forte, muito forte! E um cabeça de lista, forte, muito forte! Parto do princípio que, ao contrário das Presidenciais, o PS joga nestas eleições o futuro político da maioria que apoia o governo.

Estas eleições são, a meio do mandato, uma verdadeira sondagem ao governo e não vale a pena andar com rodeios. Por isso das duas uma: ou o PS se apresenta sozinho ou encabeça uma coligação de esquerda. Em qualquer dos casos o candidato a Presidente do executivo tem que ser muito forte, muito forte!

Lembro que a única vez que o PS ganhou as eleições autárquicas em Lisboa, se não erro, apresentou à cabeça de uma coligação de esquerda o seu próprio Secretário-geral, Jorge Sampaio. No presente, com ou sem coligação de esquerda, o PS não pode apresentar um cabeça de lista para cumprir calendário.

Receio pelas escolhas do PS. É preciso um golpe de asa, uma equipa mobilizadora que obtenha não só o apoio do aparelho partidário como de um vasto espectro de eleitores do chamado “centro esquerda”!

Façam o favor de colocar o eleitorado socialista em condições de votar numa equipa na qual possa confiar e dê a todos esperança de uma gestão autárquica séria, realista, com ideias e projectos de futuro. Por favor!
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Como já esclareci num comentário, na verdade, João Soares também ganhou, à frente de uma coligação de esquerda, as eleições autárquicas de 1997.
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quarta-feira, maio 2

CHAVEZ - A CAMINHO DA DITADURA

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“Lo que el paisaje venezolano revela hoy es el eclipse total de la democracia entendida como imprescindible contrapeso de poderes.”

A Venezuela de Chavez a caminho do isolamento internacional e da ditadura. Isso mesmo, com todas as letras, Chavez é um ditador do género populista e já deu todos os passos para fazer mergulhar a Venezuela na tirania.

A democracia lança, por vezes, desafios inusitados à liberdade. O tempo dirá como vai o povo desenvencilhar-se desta deriva populista em que participa mas que, no futuro, lhe custará os olhos da cara.
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OS MALEFÍCIOS DO TABACO ...

Posted by PicasaFotografia daqui

Ora estava eu com vontade de escrever umas coisas acerca do assunto em apreço porque me irritam solenemente os argumentos anti proibicionistas estúpidos pra burro desculpem-me os meus amigos fumadores quando dei de caras com este post da f.

Obrigadinho. Declaração de interesses: fumei aí uma média de dois maços por dia de SG filtro durante dez anos seguidos e cometi a proeza que muito exalta o meu ego de ter deixado de fumar de um dia para outro mas continuar a fumar uma ou outra cigarrilha avulsa quando me apetece sem temer retornar ao vício.

Sou o mais possível liberal quanto às drogas e todos os vícios que se possam imaginar (legais ou ilegais isso é outra música) o que me separa profundamente do Dr. Bagão Félix por exemplo – foi o nome que me veio à cabeça como estrénuo defensor das virtudes em geral – desde que não me obriguem a tomar parte contra vontade nos vícios dos outros.

Legislem à vontade contra o tabaco que os fumadores compulsivos lá se arranjarão mas cuidado onde vão buscar as receitas fiscais que se vão perder pela quebra do consumo do tabaco não vá ter de pagar às tabaqueiras como aos agricultores para que elas no caso não produzam o fumo mas mantenham os lucros. Ou algo com o mesmo efeito nas receitas fiscais pois ele há coisas perversas …

A EMEL DO NOSSO CONTENTAMENTO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Os festejos da liberdade coincidiram para mim com exames médicos de rotina. É mais ou menos assim todos os anos. Os resultados (dos exames) até ao momento são bons. Mas como me dizia tempos atrás um médico amigo tudo está bem até ao dia em que tudo fica mal e zás. É por essas e por outras inclusive aquela do cortar e coser (e não cozer) carne – obrigadinha à Fátima – que para mim seria impensável o exercício da medicina.

Penso no Eduardo Barroso e como admiro a capacidade dos médicos em lidar todos os dias com a saúde e a falta dela ouvir as queixas as crenças saber dos diagnósticos sentir a luta entre a esperança e o desespero compartilhar a dor ministrar os cuidados paliativos também por palavras acompanhar o alívio da cura e frequentar a antecâmara da morte.

Nada do que possa dizer em tom de ironia acerca das aventuras políticas de juventude de quem quer que seja põe em causa a minha admiração pelos cidadãos intervenientes e pelos profissionais de excelência em que se transformaram a maior parte dos quadros do extinto MES. Muito menos dos médicos que por lá militaram e que não são tão poucos assim. Bem hajam! (não são tão … é bonito!).

Mas ao que vinha agora é bem mais prosaico e tem a ver com a minha última ida ao médico de verdade. Resolvi ir de carro num dia de pouco movimento pois uma 2ª feira entalada entre domingo e feriado não é dia não é nada. Lá fui para uma zona de avenidas com parqueamento à superfície pago. Foi fácil como esperava arranjar lugar.

Fui à máquina pagar e sacar o respectivo recibo. Introduzi um euro para me dar folga pois acho arrepiante chegar ao pé do carro e encontrar o lugar vago ou o dito bloqueado. A máquina engoliu o euro e não cuspiu o papel. Sacudi a dita como uma vez me recomendaram. É um gesto um bocado ridículo mas vá lá mais uma sacudidela. Nada. Armado em mecenas introduzi mais 25 cêntimos para fazer uma conta certa pela tabela anexa à dita. Duas vezes nada.

Extremoso cumpridor e crente na coisa pública dirigi-me à máquina mais próxima daquela que acabara de me furtar ou roubar a massa. Introduzi uma quantia qualquer cautelarmente mais pequena e a dita mostrou-se entupida ou seja não engoliu a massa.

Não fiquei enfurecido nem sequer zangado antes pelo contrário até divertido pois estou preparado para quase tudo e só qualquer coisa como o corpo que vi no outro dia embrulhado num saco branco no meio da rua lá ao pé de casa e a mota despedaçada ao lado dele é que me faz faltar o sangue e lá fui para o consultório.

Apresentei-me no dito dentro do horário previsto e escrevi num papel: “EMEL – a máquina da zona X gamou-me o dinheiro e não deu recibo. Cumprimentos.” Lá fui célere colocá-lo no tablier adivinhando a “tourada” que poderia advir da acção providencialmente reforçada dos fiscais da EMEL…

O médico experiente no mister e nos segredos da zona X descansou-me afirmando com bonomia que o sistema era mesmo assim. O empregado da pastelaria defronte corroborou a tese. A menina do consultório idem aspas. Acabados os actos médicos fui à minha vida e o carro lá estava tal qual.

Essa coisa que gere o estacionamento à superfície em Lisboa a bendita EMEL empresa pública municipal continua a ser uma brincadeira de mau gosto. Basta ver o site em construção digo remodelação pelos vistos desde 1994 data da sua fundação. A EMEL com o tempo ganhou corpo mas perdeu neurónios. Ele há coisas que são mesmo assim…haja saúde! …

terça-feira, maio 1

MILICIANOS NA REVOLUÇÃO

Posted by PicasaJoão Mário Mascarenhas e eu próprio (à direita)

E para terminar esta evocação dos dias da revolução – nas suas diversas cambiantes – uma fotografia na qual surjo eu próprio acompanhado pelo João Mário Mascarenhas, num dos dias seguintes ao 25 de Abril de 1974, à porta de armas do quartel do Campo Grande, em Lisboa, onde estava sedeado o “2º Grupo de Companhias de Administração Militar”.
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UMA FOTOGRAFIA DA REVOLUÇÃO

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Fotografia que me foi enviada pela Luísa Ivo, da publicação “Portugal, 1974/1975 Regards sur une tentative de pouvoir populaire, ed. Hier&Demain”, de Guy de Querrec.
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Para além da sua qualidade intrínseca nela surge, em destaque, de barba, o João Mário Anjos meu companheiro de jornada na madrugada do 25 de Abril de 1974.
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QUE VIVA O 1º DE MAIO!

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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Hoje é dia de Maio, dizia-se no campo de meus avós, tão longe no tempo, tão perto na memória. Hoje passam 33 anos sobre a data em que se desfizeram muitas dúvidas acerca da natureza da revolução de Abril.

Por toda a parte ressoaram os passos de milhões de manifestantes. Num repente um povo submisso parecia ter-se transformado num povo rebelde. Mas as revoluções só sobrevivem naqueles breves momentos de fusão em que tudo parece ser possível.

Torga, apesar do seu cepticismo, vigilantemente crítico, escrevia, pouco tempo depois, no seu Diário:

“Aveiro, 9 de Junho de 1974 – A caminho da Costa Nova, com a sensação de que os barcos navegam no meio dos milheirais.”

E, ainda antes, a propósito das suas incursões pela política:

“Coimbra, 1 de Junho de 1974 – Discurso num comício socialista. Ainda hei-de escrever meia dúzia de linhas a propósito da situação trágico-cómica de um poeta em bicos de pés num estrado cívico, a esforçar-se por estar à altura da sua reputação e ao mesmo tempo a saber que ninguém o ouve.”

Jorge de Sena, na América, escreveu em 2 de Maio de 1974 o poema “Com que então libertos, hein?...”: “Falemos de política, / discutamos de política, escrevamos de política, /vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um /essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho. /Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos/ tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelos menos. /E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua/ não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la, / mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, /uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos. (…)

As quatro fotografias, a preto e branco, das quais esta é a última, sobreviveram 33 anos tal como a maioria de nós que nelas se podem rever. Nesta última, entre muitos dos activistas do MES que, publicamente, se anunciava, vejam se conseguem reconhecer o Eduardo Ferro Rodrigues!

QUE VIVA O 1º DE MAIO!
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segunda-feira, abril 30

UMA LUZ

Posted by PicasaFotografia daqui

Uma luz trémula no fundo da vida
Bruxuleia fria hesita acredita vive

Uma luz ténue a esperança clareia
O incerto destino é tempo e espera

Uma luz que aquece afora o futuro
Faz forte a vida clamor sem trégua

Uma luz que nunca mais se apaga
E ignora as vidas duras que alumia

Uma luz que se derrama uma gota
De sol que me ilumina e incendeia

26/4/2007
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O “saneamento” de Eduardo Barroso

Só hoje li a revista “Única”, “Expresso” do passado sábado, cuja capa eu já tinha visto na versão “on line” mas sem acesso ao texto pois não dou um tostão para o peditório do tio Balsemão. Tinha reparado na fotografia do Eduardo Barroso e no título “Um cirurgião de elite” muito ao género das manchetes dos jornais dos países civilizados.

Pelas minhas colegas – jovens, sorridentes e pró activas – fiquei a saber que tive direito, na entrevista, a uma referência a propósito da infeliz passagem de Barroso pelo MES da qual, paradoxalmente, só me lembro da Helena Salvador, sua primeira mulher.

É a pura da verdade e acho mesmo que nunca falei, nos dias da minha vida, com o Eduardo Barroso. Com a Helena sim: uma mulher criativa e cativante que integrou uma estrutura do MES que eu dirigia, ou pensava que dirigia, ostentando uma designação que não lembra ao diabo: DNAPC (Departamento Nacional para a Agitação, Propaganda e Cultura). Seria assim?

Ora o que diz Eduardo Barroso, na referida entrevista, em resposta às perguntas da jornalista:

Existe um clã soarista e/ou barrosista?

Não. Somos uma família unida. Tirando o meu primo Alfredo, que foi chefe da Casa Civil do Dr. Soares durante dez anos, não há ninguém na família que tirasse vantagem dessa ralação pessoal.

A questão não era nesse sentido. Aliás, de João Soares diz-se que na política tem sido mais prejudicado do que beneficiado por ser filho de quem é.

Tive essa experiência no MES (Movimento de Esquerda Socialista), o único sítio onde militei, e foi das coisas mais humilhantemente ridículas que vivi. Queria ser candidato a deputado, a minha estrutura elegeu-me e, depois, três grandes elementos chamaram-me à sede e disseram-me que não podia por ser sobrinho do Dr. Soares! Acabou por ir o meu colega e amigo José Gameiro. A minha militância acabou nesse dia (também ia devido mais à minha primeira mulher).

O MES era dirigido por Augusto Mateus, Ferro Rodrigues e Eduardo Graça, por isso só podem ter sido eles.

Nem confirmo nem desminto. Também já andava um bocado farto … Até para as praias da Costa da Caparica tínhamos ido armados com pás para impedir uma invasão da NATO!! Nunca fui um político, sempre fui demasiado anarquista. Defino-me como conservador de esquerda.

O Eduardo Barroso auto intitula-se um “conservador de esquerda” e compreendo, sem ironia, o seu posicionamento político. Ele é cirurgião e, ao que todos dizem, dos bons. Nunca fui cortado por ele, graças a Deus, ao contrário dele que, pelos vistos, terá sido cortado por mim das listas eleitorais do MES que, por sinal, nunca elegeram ninguém. Mas ser candidato era um gosto que ele tinha e “três grandes elementos do MES”, impediram-no de o satisfazer.

A jornalista, estranhamente, refere três nomes, entre eles o meu, que ele não confirma nem desmente. Teríamos sido nós os desmancha-prazeres do seu gosto? Nem sequer me lembro se a espoliação de que Barroso se queixa lhe foi aplicada com anestesia ou a frio. Por mim não sou capaz de cortar nem coser carne e é isso que os cirurgiões fazem todos os dias.

Eu, apesar de ser citado na entrevista como putativo co-participante daquela espécie de saneamento implacável de Barroso do MES, em favor do José Gameiro, um estimado amigo mas, no caso, psiquiatra -o que torna a preferência de todo apropriada – declaro que não me lembro de nada.

Mas, pelo sim pelo não, o que não quero é cair nas mãos de um cirurgião que pense que eu algum dia o tenha cortado mesmo que a "maldade" lhe tenha dado o pretexto para sair dessa organização humilhantemente ridícula que, no seu douto parecer, foi o MES afirmação vinda, ainda por cima, de “Um cirurgião de elite” e “conservador de esquerda”!

Por mim a ser cortado que o seja por um cirurgião, de preferência, conservador e de direita. É que já tenho experiência e não vou estranhar nem as dores nem a longa convalescença!
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NAIDE GOMES . DE NOVO

Posted by PicasaNaide Gomes

Eu gostava de ter escrito o que Ferreira Fernandes escreveu, hoje, no DN:

Entrevista a Naide Gomes. Perguntam-lhe: "Alguma vez foi discriminada por ser de raça negra?" E ela não responde o óbvio: "Não me dou com daltónicos." Responde como se ela fosse o que não é: negra. Não que ser negra ou branca seja mais ou menos. É o que é. E, pelo que eu tenho visto na vida, é sempre, mas sempre, o que é em cada indivíduo. Acontece que Naide Gomes não é negra. Olhem-na. E, se for preciso (porque há daltónicos), peçam-lhe o BI. Nome: "Enezenaide do Rosário da Vera Cruz Gomes." Chega? Se não, leia de onde é: "São Tomé." Pronto, já sabe. Naide é da única raça superior que existe. Mário António, poeta angolano e que foi administrador da Gulbenkian, escreveu um livro com este título: Luanda, Ilha Crioula. Fala de um mundo que não se fica pelas Ingombotas. Vai do Rio a Vancôver, passando pela ilha do Príncipe. Naide é dessa raça, a superior. A que se vai fazendo desde que Lucy saiu do corno de África e nos foi inventando. Naide é de amanhã.
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1º DE MAIO DE 74 - AS PALAVRAS AMARGAS DE TORGA

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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Terceira fotografia que testemunha o primeiro acto público em que o MES (Movimento de Esquerda Socialista) se assumiu como movimento político. No 1º de Maio de 1974 todos estávamos ainda em estado de levitação.

Como tinha sido possível acontecer a liberdade? Muitos já tinham desesperado e, finalmente, em poucos dias, ecoou uma explosão de liberdade onde se juntaram, espontaneamente, multidões de desconhecidos e os mais desencontrados sentimentos.

No quartel limitei-me a assistir a tudo, a preto e brando, pela RTP, a cor destas fotografias que sobreviveram trinta e três anos. O dia 1º de Maio de 1974 fez-nos acreditar que se tinha iniciado uma nova era em Portugal. Apesar de todas as vicissitudes foi mesmo verdade mas, hoje, compreendo o desabafo que Torga plasmou, em palavras amargas, no seu “Diário”:

“Coimbra, 6 de Maio de 1974 – Continua a revolução, e todos se apressam a assinar o ponto.
- O senhor não diz nada? – Interpelou-me há pouco, despudoradamente, um dos novos prosélitos.
E fiquei sem fala diante da irresponsabilidade de semelhante pergunta. Foi como se me tivessem feito engolir cinquenta anos de protesto.”
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domingo, abril 29

Mstislav Rostropovich e o Muro

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AFONSO HENRIQUES - NASCIDO EM VISEU?

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Chegou-me ontem às mãos uma prenda de Natal que estava prometida mas que se não achara nas livrarias – nem no próprio editor – e que, finalmente, foi encontrada: “D. Afonso Henriques”, de José Mattoso, edição do “Círculo de Leitores”.

Interessa-me a biografia de Afonso Henriques por ter sido o fundador na nacionalidade – é mesmo verdade! Talvez por ser o governante que mais anos deteve o poder político em Portugal. Talvez pela sua longevidade pois tendo nascido, segundo Mattoso, em “meados de Agosto de 1109, morreu a 6 de Dezembro de 1185 – com 76 anos de idade!

Lancei-me à leitura e, por coincidência, dou com a notícia da apresentação, em breve, da reedição de uma outra obra, de autoria de Almeida Fernandes, na qual se defende que Afonso Henriques terá nascido em Viseu e não em Guimarães como reza a tradição.

Ora é mesmo verdade que Mattoso corrobora esta tese pois logo nas primeiras páginas da biografia do primeiro rei de Portugal escreve: “Todavia a demonstração feita por Almeida Fernandes alcança verosimilhança suficiente para se admitir como possível, ou mesmo a mais provável, até que outras provas sejam apresentadas em contrário. É, de facto, admissível, com base nos documentos por ele invocados, que Afonso Henriques tivesse nascido em Viseu por meados de Agosto de 1109.” (…)

“O essencial da argumentação de Almeida Fernandes baseia-se, porém, no facto de a
Chronica Gothorum (apontamentos cronológicos, recolhidos em Santa Cruz de Coimbra, e quase contemporâneos dos acontecimentos, aí registados), na sua secção de 1085 a 1116, datar o nascimento de Afonso Henriques do ano de 1109. Ora a condessa D. Teresa passou a maior parte desse ano em Viseu, como se pode verificar pelos documentos autênticos por ela outorgados.”
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Mstislav Rostropovich

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O MES NO 1º DE MAIO DE 74

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
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Esta é a segunda das quatro fotografias da primeira aparição pública do MES baptizado, posteriormente, como Movimento de Esquerda Socialista. Como num texto anterior diz a Rosário ficamos a saber que a ideia do cartaz foi do César de Oliveira. Não me admiraria que a própria sigla do movimento tenha sido inspirada por ele.

O “livro preto”, a que a Rosário se refere, não foi impresso no Bombarral mas no Porto, edição da Afrontamento, ostentando, na última página “Acabou de imprimir-se em 22 de Junho de 1974 na Tipografia Nunes, Lda. Porto”. Essa publicação foi concluída antes do 25 de Abril e publicada já com a revolução consumada e contém, de facto, a base programática do movimento sem, no entanto, nunca a ele se referir.

As duas introduções, datadas respectivamente de Março e Maio de 74, são assinadas pelos mesmos subscritores que assumem, pela primeira vez, publicamente, a paternidade de um conjunto de iniciativas políticas sectoriais que haveriam de convergir no MES. São eles: Agostinho Roseta, António Rosas, António Santos Júnior, Augusto Mateus, Edilberto Moço, Francisco Farrica, Jerónimo Franco, Jorge Sampaio, Manuel Lopes, Marcolino Abrantes, Paulo Bárcia e Vítor Wengorovius.

O documento que a Rosário e o Xico Camões trouxeram do Bombarral foi, quase certamente, a “Declaração do Movimento de Esquerda Socialista -M.E.S”, o primeiro documento em que o MES se assumiu como movimento político organizado, subscrita por uma “Comissão Organizadora” com uma constituição ligeiramente diferente do grupo que subscreveu o “Livro Preto”.

Nela não aparecem os nomes do Agostinho Roseta, Augusto Mateus, Jerónimo Franco, Jorge Sampaio, Marcolino Abrantes e Paulo Bárcia, surgindo, como novidade, os nomes do Rogério de Jesus, Machado (António), Luís Filipe Fazendeiro, Luís Manuel Espadaneiro, Carlos Pratas, José Galamba de Oliveira, Joaquim Mestre, José Manuel Galvão Teles, Eduardo Ferro Rodrigues, Nuno Teotónio Pereira e César de Oliveira.

A alteração nos subscritores marca a diferença entre uma publicação de cariz marcadamente ideológica, sem menção ao partido, e a declaração política que o anuncia, notando-se a vontade de equilibrar a representação dos militantes sindicalistas, estudantis, da CDE, cristãos e intelectuais.

Esta declaração política, de quatro páginas, termina com a consigna que haveria de inspirar a primeira fase da acção política do MES: “A EMANCIPAÇÃO DOS TRABALHADORES TEM DE SER OBRA DOS PRÓPRIOS TRABALHADORES”
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sábado, abril 28

O DEBATE DECISIVO

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CÂNTICO DE LONGE

Posted by PicasaFotografia de Família

o rio submerso corre e o oiço
subtil rumorejar longe e perto

no bojo dos cântaros o toco
nas pontas dos dedos o bebo

e a água fresca corre com gozo
no bordo dos púcaros e cedo

à saudade dilacerante do mar
que me liberta o peito e acerto

o passo com o meu rio submerso
que rumoreja longe e perto

23/4/2007
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sexta-feira, abril 27

1º MAIO 1974 - O MES SAÍU À RUA

Posted by PicasaFotografia de Rosário Belmar da Costa
(Clique na fotografia para ampliar)

No dia 1 de Maio de 1974, o mais memorável dia do trabalhador da história contemporânea portuguesa, o país desceu à rua para celebrar a liberdade. Os relatos são incontroversos acerca da adesão em massa da população aos festejos.

Miguel Torga, por exemplo, no seu “Diário” escreveu: “Coimbra, 1 de Maio de 1974 – Colossal cortejo pelas ruas da cidade. Uma explosão gregária de alegria indutiva a desfilar diante das forças de repressão remetidas aos quartéis.
- Mais bonito do que a Rainha Santa … – dizia uma popular. “


Por mim estive remetido ao quartel e não pude participar na grande festa da liberdade. Ao contrário do que Torga escreveu as forças de repressão já não estavam remetidas aos quartéis pela simples razão de que tinham sido subjugadas ou aderido à revolução.

Nesse dia, na grandiosa manifestação de Lisboa, surgiu, pela primeira vez, em público, o MES (Movimento de Esquerda Socialista). Alguém tomou a iniciativa de desenhar num pano MOVIMENTO DA ESQUERDA SOCIALISTA (EM ORGANIZAÇÃO) e juntar atrás dele os activistas que antes militavam em diversos movimentos sociais e sectoriais.

Esta é uma de quatro fotografias, de autoria de Rosário Belmar da Costa, que me chegaram às mãos através do António Pais que, por sua vez, as recebeu de Inês Cordovil. Publicá-las-ei, sem tratamento gráfico, com autorização da autora, até ao próximo 1º de Maio.

Estas fotografias, 33 anos depois de terem sido fixadas, são, certamente, documentos únicos que testemunham o nascimento de um partido com vida efémera pois que, como é sabido, se auto dissolveu, num jantar, em 7 de Novembro de 1981.

Nesta primeira fotografia, colhida na Alameda D. Afonso Henriques, reconheço, entre outros, José Luís Ganhão, António Santos Júnior, Francisco Farrica e o Victor Silva. (Quem quiser que coloque na caixa de comentários, ou me envie por e-mail, elementos para uma legenda mais completa.)
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Eduardo,
Estivemos, eu e o Xico (Camões), a puxar pela memória e o que nos lembramos é que começámos o dia por ir ao Bombarral buscar uns livros de capa preta que o Mil Homens tinha conseguido imprimir numa tipografia de lá (sobre o que eram os livros já não nos lembramos - textos de antes do 25 de Abril e prefácio posterior, mas talvez tu saibas*).
Depois viemos ter com o Agostinho (Roseta) (lá para os lados da Portugália) que, fardado, não queria aparecer em evidência. Não sei mesmo mas penso que é o tipo de costas ao pé do pau do lado esquerdo.
A ideia do cartaz foi do César de Oliveira (creio que ainda houve alguma discussão sobre se era Movimento da Esquerda ou Movimento de Esquerda...), que esteve o tempo todo esfuziante aos gritos. Ao pé de nós apareceu um grupo, de desertores e refractários acabadinhos de chegar de Paris, animadíssimo (bem animadíssimos estávamos todos) capitaneado pelo Zé Mário Branco aos gritos de “Desertores, Refractários, Amnistia Total!”. Foi uma tarde de sonho, tal era o entusiasmo, a quantidade de gente toda feliz, a alegria que estava no ar!
Quanto à fotografia o problema é lembrarmo-nos dos nomes…A partir de uma determinada altura já não foi possível fotografar mais nada, já que era tanta a gente que só do alto e com grandes angulares, meios fora do alcance dos amadores que éramos. Felizmente foram a P&B, que têm muita mais conservação que as feitas a cores!
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Rosário Belmar da Costa

* O livro intitula-se: “Classes, política – política de Classes” e tem duas introduções, a primeira, datada de Março de 74, e a segunda de Maio

quinta-feira, abril 26

GERNIKA

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O REI IMAGINÁRIO


Desculpem lá qualquer coisinha mas o Eusébio da Silva Ferreira que um dia foi a imagem de Portugal no Mundo, com a Amália – qual Salazar nem meio Salazar! – Moçambicano, preto assumido, empolgante e modesto, arrebatador e genial, é daquelas pessoas que não merecem morrer.

Eu sei que, como dizia Camus, a imortalidade não tem futuro mas, no caso de algumas pessoas, devia ser aberta uma excepção na ordem natural das coisas do mundo, tornando o futuro numa ideia sem sentido. Pois vem esta prosa ao caso para dizer que fiquei feliz ao ver Eusébio sair do hospital (privado!) e comovido. Ele há fraquezas que duram toda uma vida …
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quarta-feira, abril 25

O TEMPO É FEITO DE MUDANÇA ...

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

O Presidente da República no seu discurso oficial do 25 de Abril proferiu diversas afirmações interessantes que podem ser lidas aqui: – discurso na íntegra.

Mas o que mais me suscitou a atenção foram as referências à juventude e ao seu inconformismo. Muitos anos depois o Prof. Cavaco Silva, no papel de PR, parece ter-se rendido ao inconformismo da juventude que não aceitava quando, ele próprio, tinha de se confrontar com o inconformismo da juventude. Interessante!

Mudam-se os tempos, mudam-se as atitudes. Mudam as funções, mudam os discursos. O tempo é feito de mudança ... Deu-me vontade de sorrir!

“Apelo, por isso, aos jovens, neste aniversário do 25 de Abril. Com a liberdade de que dispõem, irão até onde a vossa ambição vos quiser levar. Daqueles que nasceram e cresceram em democracia, só podemos esperar o melhor. Agora, tudo depende de vós e do vosso inconformismo. Em nome de Portugal, não se resignem!”
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