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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, outubro 20
sexta-feira, outubro 19
TRATADO E REFERENDO
Vale a pena ler
Para adiantar serviço acerca do tema referendo ao Tratado Reformador direi como outros já têm dito – é difícil ser original acerca desta matéria – que é cada vez mais difícil vislumbrar que o dito referendo se venha a concretizar em Portugal.
Após o congresso do PSD, e a vitória de Menezes, estreitou-se a margem para a viabilização política do referendo. Podem discutir-se as sondagens, e mesmo que elas mostrassem que os portugueses estão mortos de amores por um referendo, o que até pode acontecer apesar dos resultados decepcionantes, em termos de participação, de todos os que se realizaram, é difícil conceber a realização deste.
As lideranças do PS+PSD+PP+Presidente da República+Presidente da Comissão Europeia são, potencialmente, contra a realização do referendo ficando de fora o PCP+BE+ Pacheco Pereira+eu+ uns quantos maduros que, podem ter voz, mas não têm poder para contrariar a inércia referendária que se vai gerar a respeito desta matéria para além da questão das legítimas dúvidas acerca do que fazer com as consequências da vitória do “não”.
A minha posição favorável ao referendo está exposta aqui e aqui. Lá mais para o Natal se verá como vai correr, nos 27 países, o processo de debate público acerca da ratificação do Tratado. Do mal, o menos, sempre é uma oportunidade para discutir, em paz, o exercício da democracia no espaço dos países da UE. Nada mau!
Para adiantar serviço acerca do tema referendo ao Tratado Reformador direi como outros já têm dito – é difícil ser original acerca desta matéria – que é cada vez mais difícil vislumbrar que o dito referendo se venha a concretizar em Portugal.
Após o congresso do PSD, e a vitória de Menezes, estreitou-se a margem para a viabilização política do referendo. Podem discutir-se as sondagens, e mesmo que elas mostrassem que os portugueses estão mortos de amores por um referendo, o que até pode acontecer apesar dos resultados decepcionantes, em termos de participação, de todos os que se realizaram, é difícil conceber a realização deste.
As lideranças do PS+PSD+PP+Presidente da República+Presidente da Comissão Europeia são, potencialmente, contra a realização do referendo ficando de fora o PCP+BE+ Pacheco Pereira+eu+ uns quantos maduros que, podem ter voz, mas não têm poder para contrariar a inércia referendária que se vai gerar a respeito desta matéria para além da questão das legítimas dúvidas acerca do que fazer com as consequências da vitória do “não”.
A minha posição favorável ao referendo está exposta aqui e aqui. Lá mais para o Natal se verá como vai correr, nos 27 países, o processo de debate público acerca da ratificação do Tratado. Do mal, o menos, sempre é uma oportunidade para discutir, em paz, o exercício da democracia no espaço dos países da UE. Nada mau!
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OS OLHOS DAS CRIANÇAS
Gloria Baker Feinstein
Estes olhos vazios e brilhantes
que na criança se abrem para o mundo.
não amam,
não temem,
não odeiam,
não sabem como a morte existe.
São terríveis.
Porque a vida é isto.
O amor, o medo, o ódio, a mesma morte.
e este desejo de possuir alguém,
os aprendemos. Nunca mais olhamos
com tal vazio dentro das pupilas.
São terríveis.
Porque a vida é isto.
4/5/1963
Jorge de Sena
Estes olhos vazios e brilhantes
que na criança se abrem para o mundo.
não amam,
não temem,
não odeiam,
não sabem como a morte existe.
São terríveis.
Porque a vida é isto.
O amor, o medo, o ódio, a mesma morte.
e este desejo de possuir alguém,
os aprendemos. Nunca mais olhamos
com tal vazio dentro das pupilas.
São terríveis.
Porque a vida é isto.
4/5/1963
Jorge de Sena
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[In “Poesia III” – “Brasil” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (16). Este poema é antecedido por um outro, intitulado “Tempo de Chuva”, datado de 25/1/1963, o qual merece uma curiosa nota do autor: “Além de outro interesse que possa ter, este poema tem para mim o de ter sido o primeiro que directamente escrevi à máquina, como daí em diante sempre me aconteceu, a menos que a ocasião não fosse a de a ter ao pé”. Publicado também no Caderno de Poesia.]
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APROVADO TRATADO REFORMADOR
A crise institucional em que vivia a UE após os resultados dos referendos, em França e Holanda, que recusaram a aprovação da defunta Constituição Europeia foi, desta forma, ultrapassada. O Tratado reformador que vai ficar conhecido por Tratado de Lisboa será, formalmente, assinado, no próximo dia 13 de Dezembro. Foi fácil? Foi difícil? É muito? É pouco? É o passo possível e foi sempre assim que se foi construindo o projecto europeu. Fica por resolver a questão do referendo. Lá iremos, de novo, mais tarde.
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quinta-feira, outubro 18
AFONSO HENRIQUES - REI DE PORTUGAL
Retomando o fio à meada, no caso, o regresso a Coimbra de Afonso Henriques, vencedor da Batalha de Ourique.
Na verdade, o título de rei aparece pela primeira vez num documento autêntico em 10 de Abril de 1140, por sinal o primeiro dos que hoje se conhecem entre os bem datados produzidos pela chancelaria régia depois da batalha de Ourique. (...)
Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória, hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D. João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa, fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória, admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127. (27).
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Na verdade, o título de rei aparece pela primeira vez num documento autêntico em 10 de Abril de 1140, por sinal o primeiro dos que hoje se conhecem entre os bem datados produzidos pela chancelaria régia depois da batalha de Ourique. (...)
Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória, hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D. João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa, fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória, admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127. (27).
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UM CASO DE RACISMO
James Watson
O homem é racista e logo por azar (ou talvez não) é director científico da Fundação Champalimaud. Os projectos da Fundação são magníficos mas sempre resta a esperança que se venha a descobrir que Watson, afinal seja preto e, dessa forma, cairá por terra a sua própria tese. Coloco essa hipótese porque me lembro de ter ouvido dizer, numa entrevista a Caetano Veloso que, enquanto jovem, tendo ouvido, na rádio, Vinicius de Moraes, ficou com a imagem de que Vinicius era preto. Só anos depois quando Caetano viu Vinicius, ao vivo, se deu conta de que afinal o seu ídolo era branco.
O homem é racista e logo por azar (ou talvez não) é director científico da Fundação Champalimaud. Os projectos da Fundação são magníficos mas sempre resta a esperança que se venha a descobrir que Watson, afinal seja preto e, dessa forma, cairá por terra a sua própria tese. Coloco essa hipótese porque me lembro de ter ouvido dizer, numa entrevista a Caetano Veloso que, enquanto jovem, tendo ouvido, na rádio, Vinicius de Moraes, ficou com a imagem de que Vinicius era preto. Só anos depois quando Caetano viu Vinicius, ao vivo, se deu conta de que afinal o seu ídolo era branco.
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MAKUKULA - UMA BÊNÇÃO
A nossa selecção nacional de futebol ganhou os dois últimos jogos nesta fase de qualificação para o Europeu de 2008. Fiquei contente. Mas jogou mal, em particular, no jogo de ontem. A selecção de futebol do Casakistão ocupa a 120ª posição, entre 200 selecções nacionais, no ranking da FIFA. Portugal ocupa o 8º lugar nesse mesmo ranking. À nossa frente só estão a Itália, Argentina, Brasil, Alemanha, Holanda, França e Espanha.
A vitória no jogo de ontem mostrou, uma vez mais, que algo vai mal no reino da selecção. A selecção é como o peixe: apodrece pela cabeça. O que nos valeu foram dois rapazes: o NANI e o MAKUKULA este último um estreante absoluto na selecção principal. Finalmente Scolari foi forçado – pelas lesões - a ir um pouco mais além no processo de renovação.
No fim do jogo foi um prazer ouvir as declarações de MAKUKULA, nascido no Congo, mas formado para o futebol em Portugal: português fluente, ideias articuladas, aspirações ponderadas e modestas - qb. Uma lufada de ar fresco conjuntamente com NANI e CRISTIANO, um super dotado que brilha em todas as estações.
Vamos a ver se no próximo mês a selecção termina, com sucesso, esta penosa tarefa da qualificação. Se assim fôr, na fase final do Europeu, no verão de 2008, quando todos os adversários forem mais difíceis tudo será, paradoxalmente, mais fácil e Scolari poderá sair com honra desta aventura portuguesa.
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quarta-feira, outubro 17
A GUERRA COLONIAL VISTA POR JOAQUIM FURTADO
A Guerra Colonial, ou a Guerra de África, ou, simplesmente, a Guerra. Fiz tudo para ver o primeiro dos 18 documentário acerca da Guerra Colonial (foi sempre assim que a designei) de Joaquim Furtado. Por um acaso que nunca fui capaz de explicar não fui mobilizado para qualquer dos teatros da guerra colonial apesar de ter cumprido três anos de serviço militar obrigatório. Não tive, pois, oportunidade de conhecer ao vivo a realidade de África.
De qualquer maneira nunca poderia ter assistido aos primeiros acontecimentos da guerra colonial, passados em Angola, incluindo o 15 de março de 1961, cujos detalhes, na maior parte desconhecidos de quase todos, foram o tema forte deste primeiro documentário. Os massacres da UPA, de Holden Roberto, recentemente falecido, que presta um longo depoimento habilidoso, eivado de uma cobarde fuga às responsabilidades, e a impotência dos portugueses em organizar a resistência, são impressionantes.
Os depoimentos dos guerrilheiros da UPA que estiveram no terreno revelam, ao contrário do seu chefe, uma clareza expositiva e uma dignidade humana surpreendentes. O ataque da UPA estava anunciado, foi longamente preparado, a sua inevitabilidade foi reportada, por vários responsáveis, para Lisboa, mas Salazar, ao que tudo indica, estava manietado pela oposição interna ao próprio regime, apoiada pelos americanos, (Botelho Moniz), tardou em desfazer-se dela, perdeu tempo e, quando proferiu a célebre frase “Para Angola, rapidamente e em Força” renunciou a uma solução negociada e, na verdade, selou o trágico destino do império colonial português.
Fiquei impressionado com a qualidade do trabalho de Joaquim Furtado. Os testemunhos pessoais obtidos são de um valor histórico, e humano, extraordinário; a isenção, política e ideológica, na abordagem de um acontecimento dramático na vida de povo português, e do povo angolano, é um exemplo de profissionalismo e de coragem cívica exemplares.
A montagem permite recriar os ambientes da guerra com seriedade narrativa e estética tornando apetecível um tema repugnante, confrontando os antigos combatentes, desvendando os antecedentes e revelando detalhes desconhecidos mesmo dos próprios protagonistas.
Impressionou-me a narrativa implícita no documentário expondo a fraqueza de Portugal como potência colonial. Como foi possível manter um impérios com pés de barro durante tanto tempo? Afinal não existia em Angola, nem em qualquer outra colónia, nem planos de contingência, nem forças policiais e militares revelantes, nem infraestruturas, nem armas, nem outro projecto que não o da pura exploração das riquezas naturais e da mão de obra barata, herdeira do esclavagismo.
Aqueles portugueses que trabalhavam nas regiões do interior de Angola ficaram, de um dia para o outro, abandonados à sua sorte. Eles, na sua esmagadora maioria, não eram nem fascistas nem colonialistas. Foram vítimas de uma política que, como dizia, onteontem, com aguda lucidez, num debate na RTP, o General Galvão de Melo, radica no atraso de um processo de descolonização que deveria ter começado logo após o fim da Segunda Grande Guerra.
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COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA
Fotografia daqui
Amanhã vai ser um grande dia. Terá início a reunião do Conselho Europeu Informal de Lisboa que deverá aprovar o chamado Tratado Reformador da UE. A presidência portuguesa e, por tabela, o governo e, por tabela, o PS, e assim sucessivamente, poderão proclamar uma vitória ou chorar uma derrota. Dizem que há arestas por limar … e eu acredito porque é sempre assim!
Se houver Tratado de Lisboa então ficarei a compreender melhor a estratégia do PSD ou, para ser mais preciso, do núcleo duro do “PSD institucional”. A coisa é simples de explicar: o presidente em exercício da Comissão Europeia, por acaso Durão Barroso, precisa de criar condições para se candidatar a um segundo mandato na UE e, dessa forma, ganhar tempo para se candidatar à presidência, sucedendo a Cavaco.
Ora para que esta ideia tenha pernas para andar não interessa ao “PSD institucional” correr o risco de ser governo em 2009. Seria demasiado cedo, em termos de calendário e demasiado desgastante, em termos políticos. Menezes já deve ter percebido que vai ser a lebre de serviço, queimando tempo e energias ao serviço de estratégia alheia. Santana Lopes – e a sua equipa – completam, na perfeição, este cenário ao serviço da verdadeira “cooperação estratégica”.
Sócrates sorri. Ele há imponderáveis mas o que tem que ser tem muita força!
Amanhã vai ser um grande dia. Terá início a reunião do Conselho Europeu Informal de Lisboa que deverá aprovar o chamado Tratado Reformador da UE. A presidência portuguesa e, por tabela, o governo e, por tabela, o PS, e assim sucessivamente, poderão proclamar uma vitória ou chorar uma derrota. Dizem que há arestas por limar … e eu acredito porque é sempre assim!
Se houver Tratado de Lisboa então ficarei a compreender melhor a estratégia do PSD ou, para ser mais preciso, do núcleo duro do “PSD institucional”. A coisa é simples de explicar: o presidente em exercício da Comissão Europeia, por acaso Durão Barroso, precisa de criar condições para se candidatar a um segundo mandato na UE e, dessa forma, ganhar tempo para se candidatar à presidência, sucedendo a Cavaco.
Ora para que esta ideia tenha pernas para andar não interessa ao “PSD institucional” correr o risco de ser governo em 2009. Seria demasiado cedo, em termos de calendário e demasiado desgastante, em termos políticos. Menezes já deve ter percebido que vai ser a lebre de serviço, queimando tempo e energias ao serviço de estratégia alheia. Santana Lopes – e a sua equipa – completam, na perfeição, este cenário ao serviço da verdadeira “cooperação estratégica”.
Sócrates sorri. Ele há imponderáveis mas o que tem que ser tem muita força!
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terça-feira, outubro 16
PÁGINAS CORRENTES
Reparo que o CATATAU me chama a participar na CORRENTE DA PÁGINA 161 que já corre vai para uns meses. Estas correntes têm um lado bastante estúpido e outro bastante estimulante. Vá lá saber-se porquê! A página 161? E a 5ª frase completa? Aceito na medida do prazer do jogo. Dedico-me a ler livros fora de moda e fora da minha área de actividade profissional. Mas isto não é invulgar nos consumidores. Bastante mais invulgar é nos criadores. Salvo quando a natureza do papel, por ser demasiado fino, me inibe sublinho e escrevo nos livros. Hoje em dia sempre, e só, a lápis.
As minhas leituras de hoje, e de sempre, têm duas referências luminosas: Albert Camus e Jorge de Sena. Comecei a ler o primeiro e só depois o segundo. Na verdade são quase contemporâneos: Camus nasceu em 1913, Sena em 1919. Afadigo-me a ler o máximo destes dois autores e o que escreveram aqueles que escreveram acerca deles. Não sei medir o caminho já percorrido e o que me falta percorrer. Também não interessa para nada. A minha leitura, como o título do programa de rádio, é “pessoal e intransmissível”.
Eu sei que dá para notar, nos blogs que alimento, essas paixões. Mas esta exposição dos gostos pessoais, para quem se dispõe a expô-los, é uma novidade impulsionada pela blogosfera. Mas também leio outras coisas como, por exemplo, os folhetos que acompanham as embalagens dos medicamentos (uma leitura muito instrutiva), alguns artigos de jornal, notícias, outros livros, opúsculos e folhetos, de autores e acerca de matérias diversas, mas não seria capaz de ler o último Harry Potter que o meu filho (que vai fazer 17 anos imaginem!) leu, sendo bilingue de alemão, na versão original em inglês (aí umas 700 páginas!).
Perdi um bocado a noção dos autores da moda mas às vezes encontro referências que me ajudam a evitá-los. Quando faço incursões pelos estudos acerca dos autores da minha paixão encontro nomes de outros autores, críticos e escribas diversos que, em épocas remotas, estiveram na moda e já ninguém se lembra deles, muito menos os cita ou lê. Não que a moda não seja importante e que da moda não se salvem alguns autores da moda. Mas todos sabemos que, na sua época, Pessoa não estava na moda e muito menos, no seu tempo, Sena.
Camus sim esteve, e está, na moda mas entenda-se que a França, dos anos 40 e 50, era uma pátria das letras e Camus um sedutor, “pied-noir”, rapaz pobre, membro da resistência ao nazi-fascismo, jornalista e, mesmo assim, por ter denunciado os crimes de Stalin, à sua maneira, e por não ter dado hossanas à descolonização da Argélia foi colocado na fronteira pela esquerda e salvo do esquecimento pelo Nobel de 1957 ... mas morreu cedo.
Vamos então à corrente:
1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.
O livro que está mais próximo de mim é “Isto tudo que nos rodeia – Cartas de amor” - um conjunto de cartas trocadas entre Jorge de Sena e Mécia de Sena, antes do seu casamento. As cartas datam do período entre 1944 e 1949 e nelas se envolvem os próprios e são referidos outros como, por exemplo, Alberto de Serpa que foi guardião de 16 delas as quais Mécia lhe enviou por saber ser ele um “meticuloso coleccionador de manuscritos e grande amigo do Jorge.”
Gosto muito, como tanta gente, deste género de literatura. Nela se conta a verdadeira história dos protagonistas envolvidos pois, por regra, escrever cartas é um gesto de intimidade, ou cortesia, que se não destina a ser conhecido do público. Neste caso ambos revelam não só uma paixão amorosa, igual a tantas outras, como, sem demérito para Mécia, Jorge de Sena desvenda alguns segredos da sua particular visão do mundo, dos homens e da sociedade do seu tempo (emigrou em 1959), além de explicar algumas singularidades da sua própria oficina de escrita.
Vou assim reproduzindo sublinhados desta minha recente releitura.
Felizmente na página 161, nos 4º e 5º parágrafo, (tinha que reproduzir o 4º infligindo as regras!) pode ler-se o final de uma carta escrita de Coimbra e datada de 5/5/48:
Felizmente na página 161, nos 4º e 5º parágrafo, (tinha que reproduzir o 4º infligindo as regras!) pode ler-se o final de uma carta escrita de Coimbra e datada de 5/5/48:
“É tardíssimo. Perdi-me a escrever-te e nem quero ver as horas. Vou apagar a luz. Dormir será difícil. A noite passada tive frio, nesta fervo. Hoje faltas-me mais vivamente do que me faltavas ontem.
Beijo-te efusivamente, meu querido Jorge
Tua
Mécia”
Como em poucas palavras se pode dizer tanta coisa! Passo o desafio ao JPN (parece muito ocupado, já entendi!), à MRF, ao AP, ao PS (salvo seja e parabéns!) e à HFM (esperando pelo seu regresso de Barcelona). Com as minhas desculpas para quem já antes foi apanhado nesta corrente ou se aborrece por ser confrontado com ela.
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ALBERT CAMUS - NOBEL DA LITERATURA EM 1957
Esta é uma efeméride que não podia deixar passar em claro. 16 de Outubro de 1957. Passam hoje 50 anos desde o dia em que Albert Camus tomou conhecimento que lhe tinha sido atribuído o Prémio Nobel da Literatura.
Oliver Todd, autor da que é considerada a melhor biografia de Camus, dedica um Capítulo, sob o título “O preço que há que pagar”, às incidências deste acontecimento na vida de Camus. Começa assim:
“Em 16 de Outubro de 1957, Camus almoça com Patricia Blake no primeiro piso do Restaurante Marius. Desde a véspera circulavam, em Paris, rumores, procedentes de Estocolmo. Um jovem, enviado por Gallimard, afasta um empregado, aproxima-se de Camus, e anuncia-lhe que vai ganhar o Prémio Nobel de literatura. Camus parece “sufocado” e diz, repetidamente, a Patrícia:
– Devia tê-lo ganho Malraux. Tu sabes, Malraux … “ (*)
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No dia seguinte Camus escreveu nos Cadernos:
“17 octobre.
Nobel. Étrange sentiment d´accablement et de mélancolie. À 20 ans, pauvre, et nu, jái connu la vraie gloire. Ma mére.”
Dois dias depois escreveu:
“19 octobre.
Effrayé par ce qui m´arrive et que je n´ai pas demandé. Et pour tout arranger attaques si basses que j´en ai le cœur serré. Rebatet (**) ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d´exécution alors qu´il est un de ceux dont j´ai demandé, avec d´autres écrivains de la résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?
La création elle-même, l´art lui-même, sont détail, tous les jours et la rupture … Mépriser est au-dessus de mes forces. De toutes manières il faut vaincre cette sorte d´effroi, de panique incompréhensible où cette nouvelle inattendue m´a jeté. Pour cela …
(*) – Tradução livre da edição em espanhol de Olivier Todd.
(**) – Crítico de extrema-direita que escreveu no Dimanche matin, a propósito da atribuição do Nobel a Camus, um texto no qual, por exemplo, se podia ler: “Desde a sua alegoria da Peste, já se diagnosticava em Camus uma arteriosclerose do estilo.”
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segunda-feira, outubro 15
MENEZES E A EXTINÇÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
Elliott Erwitt
Podem acreditar que não estou obcecado com o congresso do PSD, nem sequer com a sua nova liderança, e tudo o mais, mas, como cidadão, estou preocupado com o PSD que, no nosso sistema político, é um partido de governo.
Ora os portugueses podem acordar um dia com o Dr. Menezes, não à cabeceira de um filho doente, mas como 1º ministro, acolitado pelo Dr. Lopes, sei lá em que pasta, mais a Dra. Zita, sei lá em que pasta, mais o Bota, sei lá em que pasta, mais, mais … sei lá quem, executando políticas que farão corar de vergonha os mais irascíveis opositores do governo socialista.
Tomem lá como exemplo emblemático a proposta de extinção do Tribunal Constitucional que ajuda a pôr a nu o pensamento político de Menezes e a falta de novidade das suas propostas.
Podem acreditar que não estou obcecado com o congresso do PSD, nem sequer com a sua nova liderança, e tudo o mais, mas, como cidadão, estou preocupado com o PSD que, no nosso sistema político, é um partido de governo.
Ora os portugueses podem acordar um dia com o Dr. Menezes, não à cabeceira de um filho doente, mas como 1º ministro, acolitado pelo Dr. Lopes, sei lá em que pasta, mais a Dra. Zita, sei lá em que pasta, mais o Bota, sei lá em que pasta, mais, mais … sei lá quem, executando políticas que farão corar de vergonha os mais irascíveis opositores do governo socialista.
Tomem lá como exemplo emblemático a proposta de extinção do Tribunal Constitucional que ajuda a pôr a nu o pensamento político de Menezes e a falta de novidade das suas propostas.
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domingo, outubro 14
BLOG DO MENEZES
GÊNIO #2
“Um filho é a idéia de um filho: uma mulher é a idéia de uma mulher. Às vezes as coisas coincidem com a idéia que fazemos delas; às vezes não. Quase sempre não, mas aí o tempo já passou, e então nos ocupamos de coisas novas, que se encaixam em outra família de idéias.”
“Um filho é a idéia de um filho: uma mulher é a idéia de uma mulher. Às vezes as coisas coincidem com a idéia que fazemos delas; às vezes não. Quase sempre não, mas aí o tempo já passou, e então nos ocupamos de coisas novas, que se encaixam em outra família de idéias.”
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MENEZES EM MINORIA
Para que Menezes perca tudo só falta Lopes ser eleito líder do grupo parlamentar. A divisão no PSD ganha contornos institucionais. Temos mais barafunda à vista.
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AL GORE
Al Gore tem dedicado toda a sua vida à luta pelas causas ambientais. Este galardão é um sinal de reconhecimento pelo seu empenho nessa luta que muito ajudou a tornar-se popular. E um sinal de alerta para a ligação intima entre o ambiente e a paz. Pois não vai ser, por exemplo, a disputa pela água potável um dos principais focos de tensões internacionais?
Mas, mais interessante, é verificar como Al Gore ainda suscita um movimento de apoio à sua nomeação como candidato democrata às próximas eleições presidenciais: If you want Gore to run, sign the petition
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sábado, outubro 13
CATÓLICOS FELIZES
“Ao menos os católicos são felizes: fizeram uma patifaria grave, dizem ao padre que pisaram o rabo ao gato, rezam dois padre-nossos, e voltam para casa, para repetir, tranquilos, a patifaria.”
In “ISTO TUDO QUE NOS RODEIA (Cartas de Amor)” – Mécia de Sena/Jorge de Sena –IN/Casa da Moeda – Excerto da carta de Jorge a Mécia, 26/1/47. [Sublinhados de leitura que publicarei aqui a partir de hoje.]
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sexta-feira, outubro 12
TÃO TARDE
Kerry Skarbakka
Escrevo tão tarde sem antes
me ter dado conta de quão tardia
era a minha vontade de dar forma
de versos ao que do passado havia
feito o labirinto que me habita.
Escrevo tão tarde sem antes
me ter dado conta de quão tardia
era a minha vontade de dar forma
de versos ao que do passado havia
feito o labirinto que me habita.
24/7/2007
[“Vinte Poemas de Cuba” (8). Escritos a lápis nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba. Editado, em simultâneo, no caderno de poesia.]
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ANTÓNIO CHAMPALIMAUD
Fotografia daqui
"Fundação Champalimaud " cria hospital de dia e um centro de investigação contra o cancro
Ouvem-se ainda as palavras de ordem contra Champalimaud um símbolo do poder económico que sustentava o “antigo regime”. Quantas vezes a sua palavra foi pronunciada e escrita nas sebentas da oposição e, em particular, no catecismo do PCP. Ele era, para toda a esquerda, um ódio de estimação.
Hoje a Fundação que ostenta o seu nome, e foi criada com o seu dinheiro, é um exemplo de progresso e modernidade. Pelos fins que prossegue, pela excelência que promete, pelos métodos que adopta. Podem os demónios transformar-se em santos? Cuidado, pois, com a propaganda!
"Fundação Champalimaud " cria hospital de dia e um centro de investigação contra o cancro
Ouvem-se ainda as palavras de ordem contra Champalimaud um símbolo do poder económico que sustentava o “antigo regime”. Quantas vezes a sua palavra foi pronunciada e escrita nas sebentas da oposição e, em particular, no catecismo do PCP. Ele era, para toda a esquerda, um ódio de estimação.
Hoje a Fundação que ostenta o seu nome, e foi criada com o seu dinheiro, é um exemplo de progresso e modernidade. Pelos fins que prossegue, pela excelência que promete, pelos métodos que adopta. Podem os demónios transformar-se em santos? Cuidado, pois, com a propaganda!
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quinta-feira, outubro 11
UM PAR DE BANDARILHAS
Ilustração daqui
2007: défice orçamental de 3%
Sócrates crava um par de bandarilhas no cachaço de Menezes. Antecipa objectivos e abre o espaço para inflectir a política fiscal e moderar o “aperto do cinto”. Política, a sério, na véspera do Congresso do PSD!
2007: défice orçamental de 3%
Sócrates crava um par de bandarilhas no cachaço de Menezes. Antecipa objectivos e abre o espaço para inflectir a política fiscal e moderar o “aperto do cinto”. Política, a sério, na véspera do Congresso do PSD!
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DORIS LESSING - NOBEL DA LITERATURA 2007
Ora aqui está a notícia de um prémio que, em mim, despertou uma enorme vontade de ler uma autora que nunca li. É raro acontecer-me.
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quarta-feira, outubro 10
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