sexta-feira, setembro 17

"Incapacidades"

Há notícias que têm o condão de deixar os cidadãos perplexos. Esta é uma delas. O actual director nacional da PSP (esta não é a sigla de Partido Socialista Português, mas sim de Polícia de Segurança Pública - é um esclarecimento para o pessoal do Brasil!), anterior Inspector-geral da Segurança Social, foi dado como "incapaz", em 2002, por uma junta médica.

A notícia pode ser verdadeira ou não. Não apareceu ainda o "Carocho" para me dar uma certeza acerca deste assunto de intendência.

Mas há um qualquer mistério nestas nomeações, incapacitações, demissões, pensões, transladações, tanta coisa, ao mesmo tempo. É a estratégia da propaganda da propaganda. Nem o mais experiente jornalista sabe por onde pagar em tantos factos, acontecimentos e noticias porque, ao mesmo tempo, surgem as repetições, reafirmações ou negações dos mesmos factos, acontecimentos e notícias.

Os personagens mudam de lugares e trocam de papéis a uma velocidade alucinante. É este o fascínio do governo de Santana Lopes. Agora começo a compreender melhor o fascínio do PR. Isto não é populismo é uma categoria nova. Talvez fique conhecida como "santanismo-pop". Se sobreviver alguém... Pode ser que o PR, lá mais para o ano de 2005, ajude a esclarecer a natureza da coisa.

Des-encantos

Ainda a propósito da colocação dos professores. O tema deveria ser motivo para um debate nacional a sério. Este sim, é um problema que envolve não só as políticas concretas de um, ou mais, governos mas os interesses de toda a comunidade nacional. A educação é uma prioridade nacional? Todos dizem que sim. Mas não parece.

Aqui deixo o discreto des-encanto de um professor.

quinta-feira, setembro 16

Um retrato impiedoso

Aqui está mais um retrato da política do "Governo da Mudança". Ainda se lembram? E da "pesada herança", ainda se lembram? E da "matança" dos gestores socialistas acusados de irregularidades sem fim, apelidados de gastadores impenitentes e de confrangedora incompetência!

Ora vejam o que dizem, hoje mesmo, os que antes fustigaram, impiedosamente, o governo socialista e os seus responsáveis políticos e técnicos.

"Ninguém lhe pede ( a Bagão Félix) e ao Governo, milagres. Nem golpes de magia (a não ser, claro, o de disfarçar o défice real com a cosmética das receitas extraordinárias...). Mas o que confrange é que, ao fim do terceiro exercício orçamental da maioria PSD/CDS e de dois anos e meio de sacrifícios e congelamentos exigidos aos portugueses, a Despesa do Estado se mantenha no mesmo nível assustador e delapidador dos dinheiros públicos, a evasão fiscal persista triunfante a níveis do terceiro mundo e a tão falada consolidação orçamental esteja ainda no ponto zero. Quem assume politicamente este desolador balanço: Bagão Félix, Santana Lopes, Durão Barroso? " (José António Lima - Expresso on line).


A recessão

Há em tudo isto riscos de recessão: o indivíduo fala de si mesmo (risco de psicologismo; risco de enfatuação), enuncia por fragmentos (risco de aforismo, risco de arrogância).

Este livro é feito como o que eu não conheço: o inconsciente e a ideologia, coisas que só se falam pela voz dos outros. Não posso pôr em cena (em texto), como tais, o simbólio e o ideológico que por mim perpassam, uma vez que sou a sua mancha cega (aquilo que realmente me pertence é o meu imaginário, a minha fantasmática: daí este livro). Não posso por conseguinte usar a psicanálise e a crítica política a não ser à maneira de Orfeu: sem me virar, sem olhar para elas, sem as declarar (ou muito pouco: o bastante para tornar a pôr a minha interpretação, mais uma vez, no trajecto imaginário).

O título desta colecção (X. por si próprio) tem um alcance analítico: eu por mim? Mas isso é precisamente o programa do imaginário! Como é que os raios do aparelho reverberam, ressoam em mim? Para além desta zona de difracção - a única sobre a qual posso lançar um olhar, sem que no entanto possa esquecer aquele que precismente dela vai falar - há a realidade e ainda há o simbólico. Quanto a este, não tenho qualquer responsabilidade (já tenho bastante que fazer com o meu imaginário): para o Outro, para o "transfert", portanto...para o leitor!

E tudo isto se processa, como se torna neste caso perfeitamente evidente, através da Mãe, presente ao lado do Espelho."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 36
(pag. 14, 3 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

quarta-feira, setembro 15

Santana Lopes vaiado

Isto está difícil. Uma figura que se tomava a si própria como popular ser vaiada pelos "Madonna fans"...A barragem de propaganda despejada pelo governo sobre os portugueses tem efeitos perversos. E está bem de ver que estamos só no início do ciclo eleitoral. O pior ainda está para vir...

"O primeiro-ministro, Santana Lopes, recebeu ontem à noite a sua primeira grande vaia pública, desde que assumiu o cargo no Governo da maioria de direita. O líder do Governo deslocou-se ao Pavilhão Atlântico para assistir ao primeiro concerto da cantora norte-americana Madonna, e, quando se instalou no camarote, os espectadores que ali se encontravam, dando conta da sua presença, assobiaram fortemente e patearam o primeiro-ministro.
Santana Lopes, que se instalou num camarote, situado no lado esquerdo da sala de espectáculos de Lisboa, estava acompanhado por, entre outros, Pedro Pinto, vereador da Câmara Municipal de Lisboa - e um dos seus braços-direitos enquanto assumiu a presidência da autarquia -, e por um dos seus filhos. (...) ("A Capital")

O Pó dos Livros - 3

Um dos livros reencontrados mais sublinhados (a lápis) o que denota uma leitura extensiva e atenta.

"O Pós-Socialismo", de Alain Touraine, Edições Afrontamento (1981). Uma nota indica que foi comprado na Feira do Livro de Lisboa em 7 de Junho de 1983 por 200$00.

Reproduzo, pela sua actualidade, pelo menos aparente, um excerto sublinhado da página final:

"Alguns acreditam ainda que a crise da esquerda pode ser superada por um apelo aos partidos, lançado por uma opinião pública que se resuma a uma massa inorganizada de eleitores desiludidos. É contentar-se com pouco e ter medo de reflectir. Já não é preciso apelar aos partidos mas às forças que trabalham uma sociedade nova. Os partidos políticos devem ser apenas representantes do povo. Quem é o povo hoje, e qual é o nome dos seus inimigos? A esquerda parece ter medo de sair da antecâmara do poder; melhor faria em olhar para baixo e para cima, e reencontrar a inspiração de todos os movimentos sociais: lutar com os que são oprimidos, libertar os que estão presos, dar esperança aos que suportam a submissão. (…) É preciso portanto definir claramente a nossa situação para encontrar a coragem de pensar livremente e de agir consoante as nossas convicções mais profundas. Que importam as resistências das ideias gastas e dos aparelhos egoístas! Os que recusam a decadência devem trabalhar para reconhecer e tornar habitável um futuro que criámos, mas que só agora começamos a descobrir."

Aqui pode ler uma curta entrevista concedida ao "Público" em 2001

Aqui uma entrevista em Lisboa e uma breve biografia de Touraine

terça-feira, setembro 14

INEM

Ontem ouvi num canal de TV, a propósito de um grave acidente de viação em Vila Real, que os serviços do INEM mais perto estão em Penafiel. Não há uma única equipa do INEM no distrito de Vila Real? Ou isto é mentira ou está tudo louco. É pedir aos espanhóis que eles resolvem o problema num instante.

O pó dos livros - 2

Mais alguns livros que me têm passado pelas mãos ao arrumar as estantes. Escolhas sem critérios pré-definidos.

"A formação dos Intelectuais", de António Gramsci - Colecção 70, edição de 1972 (profusamente sublinhado e anotado);

"Obra Completa de Cesário Verde " - Colecção Poetas de Hoje, Portugália - organizada, prefaciada e anotada por Joel Serrão; 2ª edição de 1969;

"Memórias e Trabalhos da Minha Vida", de Norton de Matos - 2 volumes, Editora Marítimo Colonial, Lda. (edição de 1944) - muito bem conservados mas a necessitarem de encadernação. Em ambos os volumes existem abundantes sublinhados a lápis, à margem; no segundo uma marca a água indica que o livro foi originariamente comprado na Livraria Inglesa, em Portimão. Foram publicados 4 volumes. Vou agora em busca dos restantes dois.

Encontrei ainda outros dois volumes de Norton de Matos :

"Os dois primeiros meses da minha candidatura à Presidência da República" e " Mais quatro meses da minha candidatura à Presidência da República", edições do autor, referentes a intervenções e acontecimentos ocorridos de 9/7/48 a 9/1/49, editados em 1949. Ambas as edições ostentavam na contracapa o "preço mínimo", 10$00 e 12$50, respectivamente, e uma interessante inscrição: "O produto da venda deste livro é destinado aos fundos da candidatura".

Os livros de Norton de Matos surgem, para mim próprio, de forma surpreendente. A sua aquisição em alfarrabistas (não me lembro bem) deve-se, certamente, ao meu interesse (antigo) pelos acontecimentos do imediato pós-2ª guerra mundial em Portugal. A azul um link com uma biografia, muito interessante, do Norton de Matos maçon.


segunda-feira, setembro 13

Os livros arrumados

Os livros estão quase todos arrumados nas prateleiras. Os reencontros e as redescobertas foram gratificantes. Darei conhecimento de mais algumas. Segue-se o arrumo de outros papéis e documentos antigos. Nada que constitua uma tarefa hercúlea. Mas as férias acabaram. O tempo, a partir de agora, tem de ser repartido de outra maneira. Olhar a pequena biblioteca, depois de limpo o "pó dos livros", é estimulante para encetar outras tarefas e encarar novos desafios.

Promessas aos montes

Aí está, em todo o seu esplendor, a feira populista do Governo do Dr. Santana Lopes. A culminar um fim-de-semana alargado de anúncios, cada um mais populista que o outro, o Ministro Bagão Félix acaba de confessar, sem o dizer, que o deficit real das contas públicas, em 2004, é de 4,4%.

Com mais umas vendas de património público lá chegaremos aos 2,94% (!). Afinal há razões para optimismo: em dois anos e meio de sacrifícios o deficit é exactamente igual ao de 2001, o da chamada "pesada herança"socialista.

Para o futuro tudo vai melhorar, em particular, a vida dos mais pobres e carenciados. O cacharolete de medidas anunciadas, e a anunciar, têm como grande desígnio beneficiar os mais pobres. Pois claro!

Daqui a alguns meses, o mais tardar, até ao Natal, o mais certo é o país estar transformado num grandioso "Túnel do Marquês" mas, desta vez, do "Minho a Timor" (uso este lema antigo em homenagem ao Dr. Portas, insigne chefe do Dr. Bagão Félix.).

Oram vejam este "despacho da Lusa:

"Aumentos para a Função Pública em 2005
Santana garante que novas portagens não prejudicam populações locais

O primeiro-ministro promete aumentos para a Função Pública já no próximo ano. Num comício do PSD em Ponta Delgada, Santana Lopes garantiu que as alterações na legislação de arrendamentos e nas taxas de saúde são para proteger os mais pobres e "não para beneficiar os poderosos".

"Em 2005, os funcionários [públicos] vão ter aumentos como não tiveram nos anos anteriores", disse Santana Lopes, ontem à noite em Ponta Delgada, na abertura das jornadas parlamentares do PSD.
Quanto às alterações na lei de arrendamento, sublinhou que pretendem dar resposta à situação de jovens que não conseguem encontrar casas para alugar e de famílias pobres cujos rendimentos impedem o pagamento de rendas suficientes para suportar obras.

Sobre a "mexida" nas taxas de saúde, Santana Lopes referiu que os que podem pagar mais terão que assumir maiores encargos.
O primeiro-ministro disse ainda, numa referência às portagens a introduzir nas auto-estradas financiadas pelo sistema que isentava de custos os respectivos utilizadores, "não serão prejudicadas as populações locais".

O princípio a praticar no financiamento dos encargos do Estado com a sua construção, que atingirão na sua primeira prestação 500 milhões de euros, será o do "utilizador-pagador", adiantou.
Santana Lopes criticou, também, o posicionamento dos partidos da oposição relativamente ao seu executivo assegurando que "não vai cansar-se, respondendo à calúnia com trabalho"."




domingo, setembro 12

Estou a ler bem?

A guerra já não tinha acabado?

"Iraque - Intensos combates no centro de Bagdad entre tropas dos EUA e guerrilheiros iraquianos AFP, Reuters

O centro de Bagdad foi esta madrugada e manhã cenário de violentos confrontos entre as tropas norte-americanas e guerrilheiros iraquianos. O Exército norte-americano fez uso de tanques e helicópteros e os confrontos chegaram até à "zona verde". Segundo o Ministério da Saúde iraquiano, pelo menos cinco pessoas morreram e outras 45 ficaram feridas. Várias testemunhas indicam, porém, que o número de mortos ascende a mais de 20."
(Público on line)

Discursos

Deixei passar o dia 9 de Setembro. Os dias 9 são pouco inspiradores. Neles ocorreram muitos acontecimentos pouco inspiradores do meu optimismo. Mas o PR não esqueceu. Nunca mais vai esquecer. Neste fim de semana voltou a referir-se à sua decisão política anunciada a 9 de Julho. Fez uns discursos. Justificações. Mas para quê? Entregou o governo a Santana Lopes. A maioria não mudou. Porque razão havia de convocar eleições? Assim ficaria assegurada a estabilidade. Mas, afinal, o governo mudou! Sem eleições. Tudo dentro da mais estrita legalidade. Cumprindo todas as formalidades. O problema é que era tudo uma questão política. O PR tinha que optar. Optou pela estabilidade. Por outras palavras para o PR a estabilidade=direita. A esquerda é, para o PR, um emblema para trazer à lapela. Estranhei. Mas pensando bem...Já me tinha parecido.

"Psicanálise e psicologia"

(Complacência com aquilo que tem pressão(?) sobre nós; assim, tinha eu no Liceu Louis-leGrand um professor de história que, precisando de vaias como de uma droga quotidiana, oferecia obtinadamente aos alunos uma infinidadede de oportunidades de fazerem burburinho: erros, ingenuidades, palavras de sentido duplo, posturas ambíguas, e até a tristeza com que revestia todas estas atitudes secretamente provocadoras; o que fazia que os alunos, tendo-o compreendido, se abstivessem, em certos dias, sadicamente, de o vaiar)."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 35
(pag. 14, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70


Propaganda

Na próxima 2ª feira vai começar o massacre. O plano elaborado pela "central de comunicação" começa com o humaníssimo Ministro Bagão Félix: "Comunicação ao País", seguida de "Entrevista", na RTP, na 5ª feira. Na mesma semana outras humaníssimas comunicações serão feitas por outros humaníssimos ministros.

Ontem (sábado) o Primeiro-ministro surgiu em Castelo de Vide a falar, em peças sucessivas, em todos os canais de TV, na qualidade de Primeiro-ministro misturada com a de líder do PSD. Já não há o cuidado, ao menos, de mudar de sítio, de camisa, de postura. É tão natural que até faz impressão. Os assuntos já não me lembro, mas também não tem importância nenhuma. É tudo para esquecer. Haja decência!

sexta-feira, setembro 10

Atropelar em Portugal

Não sei se há estatísticas internacionais. Portugal deve ser campeão do mundo em atropelamentos. De toda a natureza. Desde a aplicação da lei, e das regras básicas da convivência cívica, até às estradas. Ontem ouvi e vi o caso do atropelamento mortal de dois jovens que seguiam para a Praia de Faro de bicicleta. Hoje um campeão nacional de marcha é atropelado durante o treino. Todos esperamos uma conferência de imprensa do Ministro Portas ou do primeiro-ministro: Atropelar em Portugal. Mandem as tropas para a rua…

"Em estado grave
Campeão nacional júnior de marcha atlética e irmão atropelados
O campeão nacional júnior de marcha atlética, Gonçalo Bejinha, e um irmão foram atropelados enquanto treinavam, nos arredores de Moura, Beja. Ambos ficaram feridos com gravidade." (SIC)




25 (anos) de Abril!

A consciência que se ergueu
na fragilidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi à areca e ao bétel
para ler a história
no sono profundo
da sua alma…

E o pensamento que se exultou
na rusticidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi à carne e ao vinho
para ler a vida
no sono profundo
da sua alma…

O espírito que se iluminou
na inviolabilidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi ao knua e ao mato
para ler o sangue
no sono profundo
da sua alma…

E a linguagem que se agitou
na autenticidade
não acreditava
e estava acreditando
e foi à pedra e ao solo
para ler a herança
no sono profundo
da sua alma…

E a Alma Maubere acordou…

correu planícies
voou montanhas
bebeu nascentes
respirou o ar

E a linguagem
ficou espírito
o pensamento
sua consciência!

Salemba, 6 de Abril de 1999

Xanana Gusmão

Cumprida a promessa. Poema escrito, a minha solicitação pessoal, enquanto Presidente do INATEL, por Xanana Gusmão para o projecto "A Poesia Está na Rua", nas celebrações do 25º Aniversário do 25 de Abril. Esta iniciativa decorreu de uma ideia de Manuela Espírito Santo e foi concretizada em parceria com a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.

quinta-feira, setembro 9

"Alocução aos Socialistas" (2)

Limpar o pó dos livros tem esta faceta extraordinária de nos fazer redescobrir livros, opúsculos, panfletos, e outros documentos, que estiveram dezenas de anos fora do nosso olhar.

A minha mulher é que é responsável por esta empreitada ao tomar a iniciativa de mandar pintar a casa toda. Foi assim que surgiu, entre outros, este opúsculo, muito bem conservado, contendo a "Alocução aos Socialistas", de António Sérgio. Editado pela "Editorial Inquérito" contém a seguinte anotação, a lápis, no cimo da primeira página: "60475=11/7/47=709 6$00".

Por coincidência está a decorrer a campanha para o Congresso do PS. Tenho ouvido, com atenção, Manuel Alegre. Sem menosprezo pelos outros candidatos ouço com prazer Manuel Alegre. Ele próprio explicou o porquê da importância da palavra.

Estou convicto que a diferença entre os candidatos não está tanto nos programas, mas nos protagonistas. Sem menosprezo pelos programas. Mas, convenhamos, que, na política, é muito mais fácil elaborar e apresentar um "bom programa" do que fazer emergir e afirmar, face à nação, um bom candidato, ou seja, um verdadeiro protagonista.

Manuel Alegre é um protagonista autêntico tanto quanto se pode ser autêntico na política. É um homem da palavra. Com espessura humana e intelectual. Veja aqui uma biografia sua.

E o blog da sua candidatura

Ainda a propósito da sua entrevista de ontem, à SIC- Notícias, aqui deixo uma nova transcrição da "Alocução aos Socialistas", proferida por António Sérgio, no 1º de Maio de 1947.

Nela surge a abrir, curiosamente, a frase que, em 1974, encimava a declaração de princípios do extinto MES (Movimento de Esquerda Socialista) cuja adopção deve ter resultado, certamente, da iniciativa de César de Oliveira.

""A emancipação dos trabalhadores" (escreveu ainda Antero naquele mesmo artigo - O Socialismo e a Moral) "deve ser obra do próprio esforço dos trabalhadores; por conseguinte, antes de tudo, e como primeira condição, da sua energia moral, da sua perseverança, da sua firme dignidade; numa palavra: não somente da agitação colectiva (muitas vezes superficial e inconsistente) mas da sólida virtude dos indivíduos".

Tal pensava o poeta: da sólida virtude dos indivíduos. E se assim sucedia naquele tempo dele, meus amigos; se era assim há sessenta anos, - com maioria de razão o devemos pensar neste nosso, quando a ideia socialista já tanto avançou no seu rumo, já tanto se impôs como ideia. Sim, já tanto se impôs como ideia: e, por isso, o importante, na nova fase em que estamos, é que se imponham os indivíduos em que tal ideia encarna, - pela sua firme dignidade, pela sua energia moral."

Petrogal - Guerras Intestinas

"Relatório do Ministério do Ambiente acusa empresa de incúria."

"Acidente na Petrogal: Governo passou "atestado de incompetência" ao ministro António Mexia
A comissão de trabalhadores da Petrogal classificou hoje o relatório da comissão que responsabiliza a Galp Energia pelo acidente no terminal de Leixões como "um atestado de incompetência" ao ex-presidente da empresa e actual ministro das Obras Públicas, António Mexia." (Público)

Esta parece ser mais uma batalha na guerra entre o PSD e o PP. É um jogo de parada e resposta. Aguardemos pelo próximo lanço. Cabe a vez ao Ministro Mexia.

"Alocução aos Socialistas"

Para o Manuel Alegre que acabei de ouvir na "SIC - Notícias"

"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, - sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."

"Aos nossos socialistas, quanto a mim, compete-lhes resistirem ao tradicional costume de se empregarem espertezas e competições de pessoas para apressar o momento em que há-de chegar ao poder…"

"Antes de tudo, buscai prestigiar-vos ante a nação inteira pelo timbre moral da vossa alma cívica; porque (como acreditais, creio eu) não é indispensável conquistar o poder para se influir de facto na orientação do estado."

"Não tenhais a ânsia de vos alcandorar no poleiro com prejuízo das qualidades a que se tem chamado "ingénuas". As habilidades dissipam-se; os caracteres mantêm-se."

"Não existam ciúmes e invejas recíprocas entre os vários componentes da vossa grei socialista: nem tampouco os ciúmes, nem tampouco as invejas, para com os homens que compõem as outras facções da esquerda. Seja vosso lema a unidade. Por mim, quero trabalhar pela unidade, pelo entendimento recíproco, pela existência de convivência amável entre os homens políticos de orientações discordes. Incorrigivelmente "ingénuo", fraterno, cordial."

António Sérgio, In "Alocução aos Socialistas", No Banquete do Primeiro de Maio de 1947".

Acerca de António Sérgio veja aqui e aqui.




O pó dos livros

Ao arrumar estantes surgem muitas surpresas. Livros que nos marcaram. Por diversas razões, em variadas épocas. De todos os géneros. O pó dos livros faz parte dos cheiros que nos marcam para sempre.

Alguns reencontros ao acaso:

"1968 - A Revolução Que tanto Amámos", Daniel Cohn-Bendit (D. Quixote -1988);

"Angústia Para o Jantar", Luís de Sttau Monteiro (Ática, 6ª Edição, 1970);
(No seu interior encontro uma prata, impecavelmente conservada, com um pai natal, em tons de vermelho vivo, daquelas que embrulham as sombrinhas de chocolate.);

"Memórias" - "Vale de Josafat", Volume III, Raul Brandão (Perspectivas e Realidades, sem data de edição);
(Ostenta uma nota que informa ter sido comprado na Feira do Livro de Lisboa, em 6 de Junho de 1984, 3 volumes - 500$00);

"Hiroxima - Antologia de Poemas", vários, (Nova Realidade, 1967);

"Cartas de Fuzilados"Edições "aov" - Colecção "Vitória", 2ª edição, sem data;
(O mais antigo destes livros, a carecer de restauro, certamente do período imediato à 2ª Guerra Mundial. Cartas de resistentes franceses antes de serem fuzilados. É um documento impressionante.);

"Comunidade" - Luiz Pacheco, Desenhos de Teresa Dias Coelho (Contexto-1980);
(6ª edição de "Comunidade" com os belos desenhos de T.D.C.);

"Dores" - Maria Velho da Costa e Teresa Dias Coelho; (D. Quixote, 1994).