quinta-feira, julho 14

O Perfil dos Bombistas de Londres


Labirinto Fotografia de Alimento del Alma

Notícias postas a circular traçam o perfil de três bombistas de Londres. São jovens ingleses, de origem paquistanesa, alguns (ou todos) já nascidos em Inglaterra. Pacatos cidadãos com famílias normais, estudos e participação na vida social.

Parece terem tomado a decisão de morrer fazendo morrer com eles outros pacatos cidadãos ingleses. É um fenómeno a que vulgarmente se chama terrorismo. O terrorismo não tem nada de novo e foi ganhando novas fórmulas ao longo dos tempos.

A intensificação dos actos terroristas antecede, habitualmente, períodos de exaltação nacionalista associados à emergência da aceitação popular de ideologias de vocação totalitária e ao esmorecimento do prestígio da democracia.

Os ventos de guerra são soprados pelo terrorismo. Dizem mesmo alguns especialistas que já estamos em guerra. Sustentam-se nesta ideia as propostas de limitação das liberdades, ou seja, a passagem de uma fase de vigilância selectiva de suspeitos para a vigilância de toda a sociedade.

A intransigência das democracias perante as ameaças de tirania é legitima. Tem um pequeno problema: como declarar o estado de guerra sem uma declaração de guerra. Assim as democracias tenderão a muscular as suas intervenções contra alvos exteriores. Mas os inimigos das democracias estão dentro do espaço físico das próprias democracias e, porventura, no seio das suas próprias instituições.

É o que prova o perfil dos terroristas de Londres, se for verdadeiro, ou seja, caso não seja uma montagem para impressionar as opiniões públicas ocidentais preparando-as para medidas proteccionistas.

Talvez fosse muito útil ao ocidente fazer um exame de consciência acerca do peso dos negócios ilícitos e criminosos na criação da sua própria riqueza e no armamento (ideológico e militar) dos seus inimigos.

Afinal que é feito de Bin Laden?

quarta-feira, julho 13

A Life as a Flower


A Life as a Flower 04-1 [oil on canvas 16 x 18 in]

Luo Fa Hui (b.1962-) is a metaphoric painter. In traditional Chinese art, the flower always symbolized sex. Luo painted his flowers as did the American painter O’Keefe, but in a Chinese way. Chinese sex culture is depressingly gentle, dark and implicit. Luo’s roses are dark, wet, gentle and soft, have a gentle beauty, but still reek with decay. In his later work, his roses are glittering and translucent, as charming and delicate as one could ever expect.

Luo’s roses are a woman’s sensuality as rendered by a man. Perhaps many Chinese men have the gentleness and delicacy of a woman and, within their culture, are normal and natural.

(Série Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

ESCOLA DA PONTE


Fotografia de Margarida Delgado in Sabor a Sal

APRESENTANDO A ESCOLA DA PONTE - Para aqueles que se interessam pelas questões da educação – não só em Portugal – e, em especial, para cumprir uma promessa que fiz à Sylvia Gomes, Niteroi, Rio de Janeiro.

Eis a rúbrica "Caixinha dos Segredos" retirada do site daquela Escola:

Como o objectivo dos objectivos é fazer das crianças pessoas felizes, foi instituída uma "caixinha dos segredos". É aí que a pesquisa das almas inquietas (indisciplinadas?) começa. Na caixa de papelão, os alunos deixam recados, cartas, pedidos de ajuda. A "caixinha dos segredos" ensina os professores a reaprender. É que nem sempre o que parece ser "indisciplina" o é. Os "recados-segredos" provam-no:

"Todas as manhãs, o Arnaldo já chega cansado de duas horas de trabalho. Antes de rumar à escola, o Rui foi ao lavrador buscar o leite, levou os irmãos mais pequenos ao infantário, fez os recados da Dona Alice, arrumou a casa toda. O Carlos falta quase todas as tardes. O pai manda-o distribuir por toda a vila as folhas que dão notícia dos falecimentos da véspera, ou tem que carregar as alfaias dos funerais".

Little Nemo


No NEW YORK ON TIME

LI HOJE A NOTÍCIA


Eugénio de Andrade – imagem com música no “Público” e "Prémio Camões 2001"

Um mês depois da morte física de Eugénio de Andrade, a 13 de Junho de 2005, aqui deixo a evocação breve do poeta. E um poema, em sua homenagem, que escrevi cerca de um ano antes da sua morte.

Li hoje a notícia. O Eugénio de Andrade está muito doente
Uma notícia não desfaz o mundo nem o inexorável destino.
Peguei num livro e os teus poemas límpidos como a água
Perto da nascente correram pela minha face como gotas
Salgadas que se desfaziam nas letras cerzidas a ouro que
Soletrei com um olhar subitamente luminoso vendo-te
De pé no lugar do poeta que se deixa tomar pela beleza.

Li hoje a notícia. É verdade. A pena parou de garatujar
Versos claros, transparentes, amorosos, mais que perfeitos.
“A beleza não é lugar de perfeição.” Retrato de Actriz (Eunice)
Nemésio (Vitorino): “Ninguém te lê os versos, tão admiráveis
Alguns, e a prosa não tem muitos leitores, …” Admirável
Admiração a tua fazendo belo o mundo à volta, talentosos
Os outros, admiráveis se tu os sonhaste belos por dentro.

Li hoje a notícia. Um velho livro de poemas de Federico.
Ao teu jeito português foi o primeiro que li dele. A paixão
Desabrida em sangue cigano escorrendo pelos lábios
Sedentos de um amor implacável que ardia em chamas.
Soube o que era a Espanha mais por ele e por ti juntos
Do que por mil e uma travessias de fronteiras que além
De nós tinham o encanto das mulheres que se assumiam.

Li hoje a notícia. Já sabia que havias de adoecer um dia.
E o anúncio ao menos evita que alguém amigo te faça
O que fizeste ao Sena: “É por orgulho que já não sobes
As escadas? Terás adivinhado...” Senti ternura. A mão
Escapuliu-se-me e tomou o lugar do coração que pulsou
Mais depressa agarrando tudo o que havia por perto
Fazendo uma concha de terra florida para te guardar.

A voz. Li hoje a notícia. Aguardo a tua despedida tal
Como se fosse a de um familiar íntimo perto de mim.
Seguro a tua mão ouço o suspirar do teu corpo no fim
Conheço os teus versos mas não sei se será suficiente.
E me interrogo que farão da tua memória os vindouros.
Não foste fonte de poder nem encantador de serpentes.
Simplesmente poeta. Quanto baste para não ser gente.

Lisboa, 7 de Junho de 2004

terça-feira, julho 12

DIAS DIFÍCEIS


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Os dias são difíceis. As notícias são más. Nada que não fosse previsível. O adiamento das decisões difíceis tornaria a situação ainda muito pior. Tudo leva a crer que o governo esteja a meio caminho de tomar as decisões de que o país carece. Estejamos certos que ainda as não tomou a todas e não sei se será capaz de as assumir até ao fim. As reformas decisivas serão, provávelmente, uma autêntica revolução: “Mudança política radical” (Houaiss).

O problema é que será necessário mudar o equilíbrio entre os poderes; estabelecer uma estratégia, a prazo, para a uma nova especialização produtiva do país; reinventar as alianças internacionais; mudar radicalmente o paradigma do processo de educação/formação; tornar consensual a necessidade de cada um trabalhar melhor e durante mais tempo; implodir diversas instituições “sagradas”; mudar a divisão político-administrativa do país; fazer com que a lei seja aplicada e o sistema de justiça funcione; diminuir drasticamente o peso do estado e qualificar as suas funções; importar contingentes massivos de mão-de-obra imigrante qualificada; perder o medo de arriscar na inovação criando uma rede pública de apoio efectivo aos empreendedores.

Em resumo: MUDAR DE VIDA reformando profundamente o "estado social" sem abdicar do "estado social".

Somos um país pequeno e que beneficia, em simultâneo, das vantagens de duas alianças com os países mais ricos do mundo: a UE e a chamada “Aliança Atlântica”. Ademais dispomos da diáspora e das vantagens do português ser a língua comum a um conjunto de países com elevado potencial de desenvolvimento, com destaque para o Brasil.

Que diabo! Os dias são difíceis, mas tudo é relativo na crise. O que importa assegurar, antes de mais, é que esta não seja mais uma crise que antecede a próxima com a mesma natureza. Por isso o governo não pode vacilar perante as dificuldades nem ceder à chantagem das corporações. Não pode recear dar todas as explicações aos portugueses nos momentos e nas sedes próprias.

O pior que poderia acontecer seria este governo, de maioria absoluta, ser tolhido pelo medo dos resultados das próximas batalhas eleitorais. Toda a gente sabe que o PS não pode, a esse respeito, aspirar a mais do que a uma política de “redução de danos”. Porque, em democracia, sempre foi assim e assim será: perde-se e ganha-se.

A novidade, em Portugal, será, desta vez, os cálculos eleitorais, normais em democracia, não deitarem a perder uma oportunidade de ouro para dar um passo decisivo no equilíbrio das contas públicas e no relançamento, a médio prazo, da economia e do emprego.

NÃO OMITO


Fotografia do Dias com árvores


Não omito nada do meu gostar
nem o sobressalto de descobrir um dia
que não queria nada do que quis

ofereço o tempo futuro todo
à descoberta da arte de transformar
amando o desconhecido ou quase

que é afinal o que é amar.


In "Ir pela sua mão"
Editora Ausência-2003

(Um poema meu porque sim.)

Min Jing


A Girl's Bed Room in Spring Time [oil on canvas 50 x 60 cm]

Min Jing (b.1959), graduated from Tianjin Academy of Fine Arts with B.A. degree 1983. Now he lives and teaches in China, his paintings have both the charm of ink painting and oils. The rhythms created through tension and looseness with sensitive fine lines while brushing bold and textured strokes with strong gestures stirred your nerves. He manipulated bright and dark, black and white, thickness and thinness, emptiness and fullness in a masterly way that looked effortless and seemed inhuman. You can always sense his drifting lightness without feeling attached to anything, the handsome and free and also romantic and poetic or even humorous natures in his art, and wonder how could he remain his purity and detachment in the contemporary world.

(Série - Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

segunda-feira, julho 11

António Maria Lisboa


Projecto de Sucessão

Para o Mário Henrique

Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra

Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.

António Maria Lisboa

poesia
Assírio & Alvim
1995

"Se eu não morresse,nunca!"


Fotografia do Outsider


(…)
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas...
(...)

Cesário Verde



domingo, julho 10

Turismo

Foi apresentado, no dia 4 de Julho, no “II Congresso da Confederação de Turismo” o estudo produzido, no âmbito da Saer, elaborado por de Ernâni Lopes, “Reinventar o Turismo no 1º Quartel do séc. XXI”.

O “PÚBLICO”, na sua edição de 6 de Julho de 2005, publicou uma resenha desse estudo, de Inês Sequeira (com a LUSA), no qual se sublinha a importância do “Turismo Sénior” que, conjuntamente com o “turismo de negócios”, deveria ser uma aposta nacional para o desenvolvimento da actividade turística nacional.

Assinalável ainda é a informação de que Portugal ficará, em 2020, fora dos 10 principais destinos turísticos mundiais onde a China, na projecção da OMT, ocupará o primeiro lugar.

A resenha do “Público” antecedida por algumas notas está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

COR


A Colorful Day 04-1 [color on paper 32 x 32"]

Zhang Yu was born in 1959, China, is an advocate and one of the leaders of non-representational ink painting. By keeping the traditional techniques of ink painting, layer by layer, he tinted ink and produced new imagery, a depiction of Chinese ancient philosophy or Yin-Yang or the explanation of the universe. His series, Divine Light, painted exquisitely and meticulously, revealed the consciousness of the universe. Later, he experimented with mixed media and made collage painting by using newspapers, pencils, white paint, and the like. The News series consists of his new experimental works. He not only broadened the scope of the medium, but the subjects as well.

(Série Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

O Azul Ficou


Fotografia de Joana Darc in Om Namah Shivaya

Quando era criança e os meus pais foram viver para a vivenda nova, em S. Luís, entre hortas, eu adivinhei os primeiros sinais da guerra que tinha terminado havia já uns anos.

O céu da minha infância era sempre azul e cobria de uma luz radiosa a terra. Não sabia interpretar nem os exílios nem as guerras. Na casa da Horta do Rodolfo, ao fundo da minha rua, vivia uma família alemã.

Os mais jovens dessa família eram diferentes de todos nós. Louros e atléticos. O Otto era conhecido de todos e a irmã dele era um deslumbramento. Nunca cheguei a saber qual o estatuto daquela família. Fosse qual fosse eram muito estimados e admirados por todos.

De vez em quando desfila pelo écran da minha memória a imagem elegante e enérgica do Otto e de sua irmã. Um dia foram embora e nunca mais soube nada deles. Mas o azul ficou.

sábado, julho 9

Pedro Nuno de Sousa Mendes


Hoje, no Expresso, dá-se público conhecimento da morte, a 28 de Junho passado, de Pedro Sousa Mendes, filho mais velho de Aristides de Sousa Mendes (na imagem).

Neste Portugal, pátria de “merdas” e de cobardes, reino cadaveroso e “off-shore” de todas as invejas, os heróis portugueses são tratados, mesmo na morte, como proscritos que, disfarçadamente, as autoridades se afadigam em fazer esquecer. Assim foi, é e será.

Ao menos, na modesta carta, publicada sem qualquer destaque, a páginas 14 da secção “Obituário”, do Expresso, de autoria da historiadora Margarida de Magalhães Ramalho, se dá conta da morte do filho (Pedro) que, aos 20 anos, ajudou o pai, um herói português (Aristides) que, sendo Cônsul português em Bordéus, no verão de 1940, salvou milhares de vidas de judeus, “ganhando a honra” de ser castigado por Salazar com um ano de inactividade (curioso!) a que se seguiu a aposentação sem vencimento, a humilhação e a miséria.

Nesta carta se reproduz, a pedido do filho Pedro, a frase exacta que Aristides proferiu quando, após 3 dias deitado na cama, se decidiu a desobedecer às ordens do ditador: “Ouvi uma voz que me disse que me levantasse e fosse dar vistos a todos os que precisassem”. E assim fez.

RESISTIR


Na praia de Faro que todos os anos frequentei, desde que nasci, pelo menos alguns dias no verão, fazia férias um estrangeiro (inglês?) com uma característica física muito impressionante.

Usava uma prótese na cara desfigurada, profundamente desfigurada. Impressionava olhar a figura daquele homem diferente dos outros. Era um sobrevivente, ferido na 2ª grande guerra, dos primeiros turistas que usufruíram daquele Algarve, ainda desejável pela sua autenticidade, já quase desaparecido às mãos do “desenvolvimento turístico”.

Fixei naquele rosto a imagem terrível da heróica resistência da Inglaterra ao nazi-fascismo que nunca, de verdade, vivemos mas não mais esqueci.

sexta-feira, julho 8

A Morte da Imprensa Liberal


A Ler no NEW YORK ON TIME

A morte da imprensa liberal (Aqui deixo a abertura desse interessantíssimo post a não perder).

"A imprensa liberal usa o escândalo da tortura em Abu Ghraib para atacar Tio Sam. Daniel, do Blog do Daniel, sugere que eu escreva sobre a chamada imprensa liberal nos Estados Unidos; lembra que o símbolo dos jornalistas liberais, Dan Rather, fechou com Bush depois de 11 de Setembro (é verdade).

Segundo o jornalista Mark Herstsgaard, citado pelo Daniel, "a maior piada política nos Estados Unidos é que nós temos uma imprensa liberal".

Imprensa liberal é um xingamento inventado no governo Nixon para atacar os jornais e TVs que criticavam a condução da guerra do Vietnam. Na época o ícone do jornalismo era Walter Cronkite, o âncora da rede de TV CBS, que ousou concluir um telejornal dando a opinião dele a favor da retirada das tropas americanas do Vietnam. Segundo a direita, foi exatamente aí que a guerra começou a ser perdida. Uma traição.

Desde então a direita - o partido Republicano, a Coalizão Cristã e grupos de interesse ligados a ambos - passou a usar esse bicho-papão para assustar o americano médio. A imprensa liberal virou o símbolo de tudo que apavora a baixa classe média: drogas, homossexualismo, esquerdismo, adoração pela França, feminismo, multiculturalismo, arte de vanguarda, decadência do patriotismo americano."

Sea of Desire


Sea of Desire VI [Lithography]

Su XinPing (b. 1960) lithography was unique, a simple, unadorned and ingenuous style that probably came out off his life experiences in Inner Mongolia. The gentle and quiet energy in his paintings will always grab your eyes.

(Série - Artistas Chineses)

In Tao Water Art Gallery

Fuck you Mr. Bush


Fotografia de Catedral

A ler no Erotismo na Cidade Fuck you Mr. Bush I e II

quinta-feira, julho 7

Homenagem às vítimas do atentado de Londres


Fotografia de O Mundo deveria ser laranja ...

“Eles querem o bem do povo, mas não amam o povo. Não amam ninguém nem a si mesmos.”

Camus
in “Cadernos”

quarta-feira, julho 6

SINTO


Fotografia de Margarida Delgado
In Sabor a Sal

Não me sinto mal agora sinto
a minha pele quente às vezes sinto
um nervo duro solto do resto mais nada sinto
não sinto a gola apertada nem o corpo sinto
apertado no estreito istmo onde me deito sinto
um corpo terno que me procura mais nada sinto.

In “Ir pela sua mão”
(Editora Ausência – Maio 2003)

(Um poema meu porque me apeteceu.)