Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, setembro 28
Os Eleitores São Todos Iguais
Fotografia daqui
Um dos acontecimentos mais notáveis desta campanha eleitoral para as autarquias é o surgimento de candidatos independentes que concorrem "contra" os respectivos partidos. São candidatos que estão a ser alvo de investigação e que, por via disso, são arguidos.
Um deles foi mesmo condenado (tendo recorrido) e o(a) outro(a) fugiu para o Brasil para se subtrair à chamada “prisão preventiva”. Aliás nasceu no Brasil e, ao que suponho, goza de dupla nacionalidade. A campanha eleitoral, não fora um debate televisivo que se resumiu a um não aperto de mão, está concentrada nestes quatro (4) candidatos independentes.
Nada de mais. O que surpreende é o facto de inúmeros comentadores e politólogos (policromos, dá-me aqui o corrector …) terem desatado a defender a tese do “mau eleitorado”. A tese é velha e encaixa na perfeição nas teorias, mais ou menos encapotadas, dos hodiernos detractores da democracia. Estão enganados.
Não existem eleitores maus e eleitores bons! Eleitores bestas e eleitores bestiais! Existem simplesmente eleitores. O que distingue a democracia de um qualquer arremedo dela é o princípio de os eleitores serem todos iguais. Pobres, ricos, brancos, pretos, cristãos, muçulmanos, homens, mulheres, direita, esquerda, centro, intelectuais, analfabetos, patrões, empregados, velhos, jovens, presos, doentes, entrevados, drogados, comparsas, tolos … Uma cabeça, um voto!
Ou seja toda a minha gente é livre de votar. O voto, em Portugal, não é obrigatório mas é secreto e universal. Algo em que a modernidade pegou de estaca. Algo em que somos desenvolvidos, modernos e exemplares.
Os eleitores são todos iguais. Os candidatos é que são todos diferentes. Os eleitores escolhem, não são escolhidos. Os candidatos, se a lei lhes dá a faculdade de concorrer, concorrem, são votados e correm o risco de ser eleitos. É a verdadeira soberania popular. Ponto final.
Não estraguem o mais importante da nossa vida colectiva. A liberdade de escolher e ser escolhido. Desculpem lá a maçada destas banalidades.
"...o domingo para um homem pobre que trabalha."
O Grito – Edvard Munch (1863-1944)
“Saint-Étienne.
Sei o que é o domingo para um homem pobre que trabalha. Sei sobretudo o que é o domingo à noite e se eu pudesse dar um sentido e uma figura ao que sei, poderia fazer de um domingo pobre uma obra de humanidade.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
terça-feira, setembro 27
As Contas ... dos Grandes!
As contas referentes à execução orçamental de 2004, apresentadas por Portugal em Bruxelas, carecem de rectificações. Suscitaram dúvidas ao Eurostat.
As contas dos anos de 2002 e 2003, todas sob gestão dos governos da direita (PSD/PP), também não estarão certas. Conspiração de Bruxelas contra a direita portuguesa? Conspiração superiormente dirigida por um ex-primeiro responsável supremo pelo menos pelas contas de 2002 e 2003?
Acontece aos melhores! Diz o nosso povo: “Em casa de ferreiro espeto de pau”. A Dra. Manuela Ferreira Leite e o Dr. Bagão Félix, afivelando uma máscara de severidade e competência, não param de nos surpreender!
“A Comissão Europeia pediu ao Governo português explicações sobre as operações referentes às dotações de capital dos hospitais SA, constituídas em 2002, e sobre a venda ao Citigroup de dívidas fiscais realizada em 2003. Em causa estão as contas orçamentais da ex-ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite.
Para além disso, o Eurostat não validou as contas públicas portuguesas de 2004 - da responsabilidade do então ministro das Finanças, Bagão Félix - alegando também dúvidas em relação à contabilização de um dividendo pago ao Estado pela Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), no montante de 0,03% do produto interno bruto (PIB).
O Governo português já se disponibilizou a investigar a "natureza" deste dividendo. Caso essa verba seja retirada, o défice ficará em 3,03% do PIB, sendo convicção das Finanças que não viola o limite de 3%. Bruxelas não aceitou ainda validar as contas da Grécia e República Checa. Para este grupo de países, incluindo Portugal, a Comissão Europeia diz que tem "reservas" sobre a "qualidade dos dados" fornecidos.”
O FIM DO VERÃO
“Mar, Mar, há tanto mar no meu país” - Fotografia de Hélder Gonçalves
O fim do verão o cansaço do fim do descanso
O descanso do fim do cansaço o fim do verão
O fim do verão é onde estou sentado em cima
O ar do fim do mar que se torna na fotografia
O fim do dia no fim do verão não esquece não
Lisboa, 26 de Setembro de 2005
segunda-feira, setembro 26
É TARDE, MUITO TARDE DA NOITE ..."
Paul Gauguin (1848-1903)
É tarde, muito tarde da noite,
trabalhei hoje muito, tive de sair, falei com vária gente,
voltei, ouço música, estou terrivelmente cansado.
Exactamente terrivelmente com a sua banalidade
é o que pode dar a medida do meu cansaço.
Como estou cansado. De ter trabalhado muito,
ter feito um grande esforço para depois
interessar-me por outras pessoas
quando estou cansado demais para me interessarem as pessoas.
E é tarde, devia ter-me deitado mais cedo,
há muito que devera estar a dormir.
Mas estou acordado com o meu cansaço
e a ouvir música. Desfeito de cansaço,
incapaz de pensar, incapaz de olhar,
totalmente incapaz até de repousar à força de
cansaço. Um cansaço terrível
da vida, das pessoas, de mim, de tudo.
E fumo cigarro após cigarro no desespero
de estar tão cansado. E ouço música
(por sinal a sonata para violino e piano
de César Franck, e depois os Wesendonck Lieder)
num puro cansaço de dissolver-me
como Brunhilda ou como Isolda
no que não aceitarei nunca,
l' amor che muove il sole e l' altre stelle.
Nada há de comum entre esse amor de que estou cansado,
e o outro que não ama, apenas queima e passa , e de cuja
dissolução no espaço e no tempo em que vivo
estou mais cansado ainda. Dissolvam-se essas damas
que eram princesas ou valquírias, se preferem, no eterno.
Eu estou cansado de não me dissolver
continuamente em cada instante da vida,
ou das pessoas, ou de mim, ou de tudo.
Qu' ai-je à faire de l' eternel? I live here.
Non abbiamo confusion. E aqui é que
morrerei danado de cansaço, como hoje estou
tão terrivelmente cansado.
Jorge de Sena
Dez. 22/70
In “Visão Perpétua” [1982]
ALAIN DELON
1962 - Monica Vitti e Alain Delon, In "L'Eclipse"
A entrevista com Alain Delon ao “Paris Match”, referida pelo “Expresso”, foi a única leitura que me comoveu no fim-de-semana. Veja aqui uma síntese.
domingo, setembro 25
Presidenciais, Quarteto à Esquerda e So(u)lista à Direita?
“Heróis do mar …” – Fotografia de Hélder Gonçalves
Sempre estive convencido que, descartadas as hipóteses Ferro Rodrigues, Medeiros Ferreira e outras, cada uma por sua razão, o candidato apoiado pelo PS seria Manuel Alegre. A candidatura de Mário Soares era uma hipótese aventada, à laia de provocação, mas não suscitava mais do que sorrisos complacentes.
Finalmente o mercado dos candidatos fechou ontem, à esquerda, com quatro – quatro – candidatos: Mário Soares (apoiado formalmente pela direcção do PS); Manuel Alegre (apoiado, certamente, por independentes de esquerda, dirigentes intermédios e militantes do PS); Jerónimo de Sousa (PCP) e Francisco Louçã (BE).
Paradoxalmente, a esta hora, não há nenhum candidato credível que represente o campo da direita pois Cavaco Silva não declarou formalmente a sua candidatura.
Mas nada nos diz que não possa haver uma surpresa neste campo. Como muito bem reflecte o TUGIR parecem estar criadas as condições para o surgimento da candidatura de Santana Lopes que poderia aglutinar à sua volta uma multidão de descontentes e inimigos ferozes de Cavaco, até hoje em silêncio, no campo do PSD e, em particular, no do PP. Lembremo-nos, a título de exemplo, de Alberto João Jardim e Paulo Portas. Não há fome que não dê em fartura.
Acerca da minha opção política ela já foi anteriormente expressa. Apoio Mário Soares por razões de fidelidade, pois sempre nele votei, enquanto candidato presidencial (em todas as voltas de todas as eleições) e por razões políticas na medida em que confio na sua capacidade para o exercício da função presidencial.
A história do percurso político que me leva até aqui fica para depois mas pode ser interessante para refrescar algumas memórias mais preguiçosas.
Outubro
"Estrada do Poço do Inferno..." - Fotografia de José Branco In Olhares
“Outubro
Os grandes bosques vermelhos sob a chuva, os prados cobertos de folhas amarelecidas, o cheiro dos cogumelos que secam, as fogueiras (as pinhas reduzidas a brasas luzem como diamantes do inferno), o vento que geme em redor da casa, onde encontraríamos um Outono tão convencional? Os camponeses marcham agora um pouco inclinados para a frente – contra o vento e a chuva.
Na floresta de Outono, as faias criam nódoas de um amarelo-ouro onde se isolam na orla dos bosques como que grandes ninhos gotejantes de um mel loiro.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
FICAR
Fotografia de Margarida Delgado in sabor a sal
O que gostas de mim, o que mais desejas
Que me sintas por perto, que me protejas
Desejas adivinhar donde venho ao chegar
De que forma se forma o prazer de gostar
O que mais desejas, o que gostas de mim
Saberás o que não sei, deixa-te estar aqui
Preciso de uma mão aberta na minha face
Ler suas linhas e deixar o corpo ficar laço
É certo que nada ficou igual com o tempo
Deixa-te ficar comigo, espera o momento
Em que somente as nossas vozes ecoem
No ar e nossas memórias no tempo voem
Lisboa, 12 de Julho de 2005
sábado, setembro 24
CAVACO
Fotografia de a mega fauna
“Parece que os portugueses preferem ter como “chefe no trabalho” Mário Soares e como “professor do filho” Cavaco Silva, …”
Pacheco Pereira, tradicional apoiante do Dr. Soares nas suas anteriores candidaturas presidenciais, sem esquecer que na segunda Soares foi apoiado também por Cavaco (esse mesmo …), reflecte e inflecte, com decência e clarividência, no sentido do seu apoio à próxima candidatura de Cavaco.
Queria aproveitar para dar o meu testemunho pessoal acerca da preferência dos portugueses em ter como “ professor do filho” Cavaco Silva. É que eu já fui aluno dele.
Cavaco Silva é um péssimo professor, daquele género autoritário e dogmático … pouco atreito a aceitar a palavra dos outros e muito menos a crítica. Suporta mal os conflitos, é rígido, “vai-se abaixo” quando carece de lidar com situações de afrontamento mais duras …
Não me venham com essa história do bom professor e muito menos com a sua capacidade para lidar com os conflitos ao mais alto nível da magistratura política.
É tudo mentira. (A desenvolver).
sexta-feira, setembro 23
Cá Vamos Andando, Graças a Deus ...
Fotografia de José Marafona
Alguns amigos manifestaram a sua perplexidade acerca do meu escrito sobre Fátima Felgueiras. Não fui porventura suficientemente irónico ou a minha ironia não surtiu o efeito desejado.
Suspeito que nunca será possível compreender a coincidência de tantos processos judiciais terem ganho asas no ano de 2002 mesmo que tivessem sido iniciados antes.
Foi esse exactamente o ano em que a direita ascendeu ao governo, através das eleições legislativas de Março de 2002, tendo Ferro Rodrigues como seu principal adversário enquanto líder do PS.
Nesse governo de direita a ministra da Justiça era a militante do PP, Celeste Cardona, sendo ministro da Defesa e Vice-primeiro-ministro o líder do PP, Paulo Portas.
Era ministro da segurança social, pelo PP, Bagão Félix, que sucedeu a Paulo Pedroso, nessa pasta, com a tutela da Casa Pia.
E por aí adiante … Hoje por hoje não se lhes ouve uma palavra. Estão calados como ratazanas...
Tudo o que aconteceu, a partir de uma determinada data, em 2002, nas relações entre algumas instâncias do poder político, judicial e mediático exigia uma mega-investigação que ninguém se atreve a propor quanto mais a concretizar.
Tudo o que está a acontecer agora são as sequelas de algo de muito grave, envolvendo a direita e a extrema-direita, de que há indícios, factos e provas que já vieram a público mas que, aparentemente, ninguém está a investigar a sério. Oxalá me engane ...
Acerca de todos esses acontecimentos, e suas sequelas, acompanho a dor das vítimas inocentes e estou solidário com os caluniados e proscritos de que, eu próprio, ironicamente, faço parte.
Aguardo, ao mesmo tempo, com serenidade, que seja feita justiça embora acompanhado sempre pela lembrança de uma reflexão perturbadora de Camus, que pode ajudar os meus amigos a decifrar a minha amarga ironia acerca do regresso triunfal de Fátima Felgueiras.
Escreveu Camus, citando Flaubert: “Um homem julgando outro homem é um espectáculo que me faria rir à gargalhada se não despertasse, antes, a minha piedade.”
Entretanto quando me falam indagando do meu estado de espírito e, às vezes, da saúde, sempre me apetece dizer: cá vamos andando, graças a Deus …
Há coisas belas para olhar no mundo que nos rodeia e a esperança de um novo dia nunca morre no coração dos homens de boa vontade.
quinta-feira, setembro 22
Nostalgia da vida dos outros.
“Nostalgia da vida dos outros. É que, vista do exterior, forma um todo. Enquanto que a nossa, vista do interior, parece dispersa. Corremos atrás de uma ilusão de unidade.”
Albert Camus
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Elsa Martinelli
Elsa Martinelli (1956)
Na nossa digressão de verão pelas memórias das actrizes italianas ninguém se lembrou de Elsa Martinelli.
Não sei, só sei
Buscando el Silêncio de Cecilio Colón Guzmán
Não sei se vos vou encontrar todos
Pois não encontro ninguém disposto
A ir além do desencontro esperado
Não sei se vos interessa olhar o lado
Oculto, o gemido da morte iminente
A perda do próprio ser desesperado
Não sei se vos interessa a surpresa
Dos sentidos que se não encomenda
No supermercado mas que se sente
Não sei se sou capaz de sobreviver
Muito mais tempo sem vos acariciar
Os seios imaginários erectos sempre
Não sei mesmo nada de mim enfim
Só a minha voz silenciada e muda
Que oiço no fundo do firmamento
Não sei não, não sei se me entendo
Se me entendem os silêncios nus
Os silêncios musicados de palavras
Só sei o que me palpita no corpo
Que trago a enroupar os sentidos
E que vagamente me surpreende
Lisboa, 23 de Abril de 2005
(Imagem e Poema para o JPN e o seu Dicionário do Silêncio, in Respirar o Mesmo Ar)
quarta-feira, setembro 21
Fátima Felgueiras
Fotografia - Lusa
Apetecia-me dizer que isto não tem nada a ver com política. Mas a verdade é que tem a ver e vai mais além. É uma questão que põe em evidência a maneira portuguesa de viver. Tocata e Fuga. Regresso e Entrega. Candidatura e Afrontamento. Xeque a todos os poderes!
Não digam que é ridículo pois é muito sério. Um caso exemplar. Uma alegoria à acção dos representantes do povo e das instituições do Estado. Uma homenagem aos caricaturistas. Um hino à imaginação. E porque não reconhecê-lo um acto de coragem.
Sempre me quis parecer que Fátima Felgueiras havia de regressar e participar na campanha eleitoral. Na prisão ou em liberdade. Ainda bem que, como tudo leva a crer, não fará a campanha na prisão. Caso se confirme a sua candidatura as TV têm à mão de semear um tema inesgotável, um “reality show”de audiências incomensuráveis. Esperem pelos debates.
O major, o Isaltino, o labrego, o Professor, o Eng.º, vão ser eclipsados por Fátima Felgueiras. São todos candidatos polémicos, mas banais, à vista da nossa Evita. Uma Evita à Portuguesa!
O nosso povo sempre disse, nos momentos de amargura, que temos que estar preparados para tudo! Mas a verdade é que o caso “vende”, os poderes tremem e o povo delira com estas aventuras.
O espectáculo vai começar ...
Abrangente
Apresentando Abrangente
MILESTONE - Quatro anos após o derrube do regime taliban, o povo afgão foi às urnas votar nas eleições para o Parlamento de Cabul. As últimas eleições realizadas naquele país, foram há 36 anos, ainda o Afganistão era um reino.
A afluência às urnas foi baixa, na ordem dos 50 por cento, mas tendo em conta as ameaças da Al-Qaeda e os ataques feitos pelos taliban nas últimas semanas, os 50 por centos de eleitores que votaram, é um número significativo e um desafio aos mentores do terrorismo naquele país.
Porque nas listas, 25 por cento dos candidatos, eram mulheres... e algumas sempre se apresentaram sem burka! Deram a cara pelo futuro... E o futuro agora, é a reconstrução do país arrasado.
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