sexta-feira, setembro 23

Cá Vamos Andando, Graças a Deus ...


Fotografia de José Marafona

Alguns amigos manifestaram a sua perplexidade acerca do meu escrito sobre Fátima Felgueiras. Não fui porventura suficientemente irónico ou a minha ironia não surtiu o efeito desejado.

Suspeito que nunca será possível compreender a coincidência de tantos processos judiciais terem ganho asas no ano de 2002 mesmo que tivessem sido iniciados antes.

Foi esse exactamente o ano em que a direita ascendeu ao governo, através das eleições legislativas de Março de 2002, tendo Ferro Rodrigues como seu principal adversário enquanto líder do PS.

Nesse governo de direita a ministra da Justiça era a militante do PP, Celeste Cardona, sendo ministro da Defesa e Vice-primeiro-ministro o líder do PP, Paulo Portas.

Era ministro da segurança social, pelo PP, Bagão Félix, que sucedeu a Paulo Pedroso, nessa pasta, com a tutela da Casa Pia.

E por aí adiante … Hoje por hoje não se lhes ouve uma palavra. Estão calados como ratazanas...

Tudo o que aconteceu, a partir de uma determinada data, em 2002, nas relações entre algumas instâncias do poder político, judicial e mediático exigia uma mega-investigação que ninguém se atreve a propor quanto mais a concretizar.

Tudo o que está a acontecer agora são as sequelas de algo de muito grave, envolvendo a direita e a extrema-direita, de que há indícios, factos e provas que já vieram a público mas que, aparentemente, ninguém está a investigar a sério. Oxalá me engane ...

Acerca de todos esses acontecimentos, e suas sequelas, acompanho a dor das vítimas inocentes e estou solidário com os caluniados e proscritos de que, eu próprio, ironicamente, faço parte.

Aguardo, ao mesmo tempo, com serenidade, que seja feita justiça embora acompanhado sempre pela lembrança de uma reflexão perturbadora de Camus, que pode ajudar os meus amigos a decifrar a minha amarga ironia acerca do regresso triunfal de Fátima Felgueiras.

Escreveu Camus, citando Flaubert: “Um homem julgando outro homem é um espectáculo que me faria rir à gargalhada se não despertasse, antes, a minha piedade.”

Entretanto quando me falam indagando do meu estado de espírito e, às vezes, da saúde, sempre me apetece dizer: cá vamos andando, graças a Deus …

Há coisas belas para olhar no mundo que nos rodeia e a esperança de um novo dia nunca morre no coração dos homens de boa vontade.

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