sexta-feira, agosto 11

A terra

Posted by Picasa Sem título – Desenho de meu filho Manuel, Fevereiro de 2000, pelos seus nove anos.

A terra
na guerra
é nossa
- do povo.

Na paz
a terra é vossa.
E o povo?

Na terra jaz,
nas grades
do ovo –

sem guerra,
nem paz
nem renovo.

[A propósito do que li no Alicerces. Este é o poema 24 de “Jardins de Guerra”, de Casimiro de Brito, cujos primeiros versos sublinhei a lápis. Foi a minha iniciação à poesia nos idos de Março de 1967.]

Francis Obikwelu

Posted by Picasa Francis Obikwelu

Fiz tudo para assistir à final de 200 metros do europeu de atletismo. Apesar do jantar, a convite de amigos, num cenário de sonho, ali para os lados do Penedo – Sintra – a sorte protegeu-me pois o anfitrião compartilhava as mesmas expectativas.

Queria assistir aquela final pois nela se reuniam um conjunto de circunstâncias muito interessantes: o atleta/campeão é originário da Nigéria, foi campeão júnior nuns campeonatos mundiais realizados, em 1994, em Portugal; sonhava com a Europa e deixou-se ficar por cá; apesar do seu elevado potencial atlético foi desprezado por todos os clubes aos quais se ofereceu; caiu na miséria, passou fome, trabalhou na construção civil e foi acarinhado, no Algarve, por uma professora inglesa.

Finalmente um treinador de atletismo do Belenenses, a pedido dessa professora, aceitou recebê-lo, assim como uma família que lhe dedicou especial afecto. Depois de passar pelo Sporting, e de um conjunto de feitos atléticos assinaláveis, foi-lhe atribuída a nacionalidade portuguesa.

Hoje, sendo natural da Nigéria, é naturalizado português, vive em Espanha, é treinado por uma espanhola e dá voltas de honra com a bandeira portuguesa. Não sei se repararam que a televisão sueca deu mais destaque ao sueco que alcançou o 2º lugar do que ao verdadeiro campeão.

Em qualquer caso este campeão – Francis Obikwelu – é o mais valioso trunfo português – e europeu – na luta contra o racismo e a xenofobia. Aproveite quem está em condições de aproveitar este trunfo … a começar pelo estado português! Como? É fácil desde que haja vontade política.

quinta-feira, agosto 10

CAMUS - BIOGRAFIA

Posted by Picasa Albert Camus Paris 1953

Depois de retomada finalizei hoje a leitura de uma biografia – muito bem documentada – de Camus. [Olivier Todd – Albert Camus - Una vida, versão em espanhol, da TusQuets Editores].

Não é o momento para tecer comentários a uma tão volumosa torrente de informações acerca do homem e da sua obra. [900 paginas].

Deixo uma nota – das últimas que escreveu - e que , em poucas palavras, exprime uma faceta do seu espirito, inserida nos anexos da sua última obra “Le premier homme”, editada em 1994, 34 anos após a sua morte:

«Ce qu´on appelle le scepticisme des nouvelles générations – mensonge.
Depuis quand l´honnête homme qui refuse de croire le menteur est-il le sceptique?»

(In «Le premier homme» (Notes et plans)

quarta-feira, agosto 9

UM HERÓI PORTUGUÊS

Posted by Picasa José Manuel Barroso – um herói português

Ressonância de um acontecimento relevante passados que são dois anos e um mês. Está tudo dito no post, que a seguir reproduzo, publicado no dia 9 de Agosto de 2004. Para entender a última frase leia-se mais este publicado no dia seguinte. Ainda se lembram?

Não é engano meu. Faz hoje um mês. O Dr. José Manuel Barroso resolveu abandonar o barco. Nem a Dra. Manuela Ferreira Leite, dedicada executora da "política da tanga", teve direito a aviso prévio. Uma falta de carácter, a toda a prova, mais do que falta de delicadeza. O PR concordou, está bem de ver e, deslumbrado, aceitou o embuste. Fechadas as portas, desde o princípio, à solução da consulta popular, foi gastar tempo. Fingir que se ponderava o que estava decidido. Um mês passado, o Dr. Pedro Santana Lopes governa, pelo telemóvel, de férias. O PR representa e pondera, em Atenas. O Dr. José Manuel Barroso exerce, entre Lisboa, Madrid e Bruxelas. O país real, observa, aguarda e desespera. Para animar, podiam divulgar, ao menos, os nomes dos que falaram com o tal jornalista do CM.

CAMUS - LEITURAS

Posted by Picasa Catherine Camus – Filha de Albert Camus

À beira de terminar a leitura da biografia de Albert Camus, de autoria de Olivier Todd, “Uma Vida” (existe uma tradução para português da Record) pode ler aqui a minha quinta contribuição para os “Cadernos de Camus”.

Reparei, entretanto, que o “Fim de Semana Alucinante” deu, domingo passado, notícia de um artigo acerca de Camus publicado no “El País”.

domingo, agosto 6

POLÍTICA/MORAL

Posted by Picasa Imagem daqui

Ressonância de 6 de Agosto de 2004. O Dr. Pina Moura, ao que parece, sendo deputado da Nação, está exclusivamente dedicado aos negócios de “nuestros hermanos”.

Dois anos atrás opinava acerca da magna questão da ética na política. Desactivei o link para o seu artigo no Público, já inacessível, e linkei o post do dia anterior da série “Fragmentos de Leitura”. Mantenho e sublinho o que escrevi:

Que nem de propósito o Dr. Pina Moura opina hoje, no Público, planando sobre o tema do último excerto dos "Fragmentos de leitura". Para ele basta que haja uma "ética da lei". O que não admira pois é um burocrata da escola do comunismo antigo. Mas o problema é que a ética não é uma questão formal. O político ético não é o que está conforme a lei. É o que age conforme as suas convicções, é fiel aos seus compromissos, respeita os adversários e nutre compaixão pelos inimigos. Por todas as razões o político ético é uma realidade arqueológica. Tem para cima de duzentos anos. Tal como, por outras razões, o Dr. Pina Moura.

FARO - NEVE NA "BAIXA"

Posted by Picasa Fotografia de Tony
(Clicar na fotografia para aumentar)

A baixa da cidade de Faro, em 2 de Fevereiro de 1954, mostrando os automóveis da época e resquícios de neve neles depositados .

É notável o facto de, nesta fotografia, ser visível um pormenor da cidade que se mantém, no essencial, intacta, como se o fotógrafo tivesse adivinhado o ângulo exacto para nos mostrar uma parte da cidade que perdurou. Um sinal de esperança.

A “baixa” da cidade era , nesta época, o seu coração económico e cultural que haveria de sofrer, ao longo do tempo, uma progressiva erosão. Um dos maiores atentados à identidade da cidade de Faro, como capital política e administrativa do Algarve, foi o facto de não ter sido adoptada, ao longo do tempo, uma política consequente de valorização da sua “baixa”.

Não se trata de defender o imobilismo mas de, à semelhança de tantas cidades médias por essa Europa fora, estabelecer um plano estratégico de desenvolvimento que tome a “baixa” como centro, preservado, no plano urbanístico, de onde irradiem, sem rupturas e intervenções grosseiras, iniciativas e investimentos modernizadores.

Alguém terá a coragem de encetar uma verdadeira requalificação da Faro – a partir da realidade actual – pondo termo à destruição da “baixa” e promovendo, de forma séria e consequente, o seu papel como âncora do desenvolvimento económico, social e cultural da cidade?

(Em colaboração com “A Defesa de Faro”)

FARO - AO LONGE A NEVE NOS MONTES

Posted by Picasa Fotografia de Tony
(Clicar na fotografia para aumentar)

Esta é uma imagem da cidade de Faro, vendo-se ao longe os montes brancos de neve, tomada – certamente - no dia 2 de Fevereiro de 1954, antes da carnificina urbanística que ainda se não tinha iniciado.

Na passagem do dia 1 para 2 de Fevereiro de 1954, ao contrário do calor destes dias, nevou a sul o que permitiu obter fotografias únicas da cidade de Faro como estes exemplares, de autoria de Matos Cartuxo (Tony), que agora se publicam .

Estas são imagens perfeitas do lugar da minha infância, uma cidade rectilínea, com a traça e os cheiros do sul, ostentando as fortes influências mediterrâneas e árabes que são uma marca distintiva das cidades do sul.

Faz bem exercitar a memória para acalentar esperança que seja possível defender uma política da cidade mais fiel aos valores da sua história fundadora e da cultura autêntica dos seus cidadãos.

[2 de 3 fotografias.]

NEVE EM FARO

Posted by Picasa Fotografia de Tony
(Clicar na fotografia para aumentar)

Foi através da leitura de “O aprendiz de Feiticeiro” de Carlos de Oliveira que, na minha memória reluziu a data em que, acontecimento raro, caiu neve em Lisboa e também – imaginem - em Faro.

No extremo sul de Portugal, à beira mar, terra de temperatura moderada, o surgimento da neve foi um acontecimento inusitado que perdurou na memória de todos.

Eis o excerto daquele belo livro do grande poeta português - Carlos de Oliveira– nascido no Brasil – a propósito daquele acontecimento memorável:

“Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….”

(…)“E entramos por fim no que mais interessa: acabado o impulso das primeiras palavras, afastei a cadeira distraidamente e levantei-me, tentando delinear o seguimento da peça, cuja ideia me surgira só no acto de escrever. Nenhum plano anterior, nenhum esboço. Levantei-me e andei para a janela, metido na pele do inquilino, perguntando a mim mesmo (ou a ele) se não haveria outras perguntas a fazer antes duma decisão que podia ferir o equilíbrio do mundo ou coisa parecida. Foi quando a madrugada explodiu numa féerie mais ou menos nórdica, como se tivesse realmente bastado mexer na cadeira, na ordem pré-estabelecida do quarto, para desencadear o imprevisto: uma tempestade de neve em Lisboa.” (…)

“O Aprendiz de Feiticeiro”Carlos de Oliveira

(Em colaboração com “A Defesa de Faro” –1 de 3 fotografias)

sábado, agosto 5

sexta-feira, agosto 4

A PRAIA

Posted by Picasa Praia Grande – Colares - Sintra

Como se fosse para dar opinião acerca das transumâncias, em 4 de Agosto de 2004, exactamente à vista da mesma paisagem de hoje, escrevi:

Ontem, ao fim da tarde, na Praia Grande, uma nuvem de surfistas sobre a água. Ao longo da praia, no mar calmo, ao contrário do habitual, os surfistas exercitavam o seu jogo. O negro dos fatos e a multidão dos corpos, em movimento, faziam lembrar um cardume de peixes de visita à costa. Aquela vista permite um exercício acerca da praia. No norte a praia é a partir da tarde depois de se esbater a neblina. No sul a praia é de manhã pela fresca. A água é sempre fria para os do sul ? E, para os do norte, é sempre quente ? Tudo depende da ideia que fazemos do lugar que é a praia para nós.

EDUCAÇÃO – OS NÚMEROS DA VERGONHA

Está disponível no site do "Semanário Económico" e no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo, sob o título em epígrafe, hoje publicado naquele semanário.

Transcrevo aqui o parágrafo de entrada: No presente debate público acerca da questão da educação, o que pode constituir motivo de espanto é o facto de constituir motivo de espanto o Governo pretender inverter o “nível escolar desgraçado” a que chegamos, nas palavras de Vasco da Graça Moura (DN/ 14 de Junho).

quinta-feira, agosto 3

A PESTE - UM DIÁLOGO

Posted by Picasa A Peste

O diálogo a que se refere Catatau, num comentário/consulta que me fez, dias atrás, trava-se entre Tarrou e Rieux, os dois principais personagens de “A Peste” (Albert Camus):

Rieux: ... “mas, sabe, eu sinto mais solidariedade com os vencidos que com os santos. Creio que não tenho gosto pelo heroísmo e pela santidade. O que me interessa é ser um homem”.

Tarrou: - “Sim, nós procuramos a mesma coisa, mas eu sou menos ambicioso.

Rieux pensou que Tarrou gracejava e olhou para ele. Porém, na vaga claridade que vinha do céu, viu um rosto triste e sério. O vento levantara-se de novo e Rieux sentiu-o morno sobre a pele. Tarrou agitou-se:
- Sabe o que devíamos fazer em prol da amizade?
- O que quiser –
respondeu Rieux.
- Tomar um banho de mar. Mesmo para um futuro santo, é um prazer digno.
Rieux sorria.
- Com os nossos salvo condutos, podemos ir até ao cais. No final de contas, é estúpido viver só na peste. Bem entendido, um homem deve bater-se pelas vítimas. Mas, se deixa de gostar de tudo o resto, para que serve bater-se?
- Tem razão –
disse Rieux – vamos lá.”

Reproduzo agora este diálogo, para satisfazer a curiosidade de Catatau, depois de resgatar “A Peste”, e de a reler, no que estimo ser a edição mais antiga desta obra para a língua portuguesa - Colecção Miniatura – Livros do Brasil – tradução de Ersílio Cardoso – sem data mas, certamente, dos anos 50. Trata-se, de facto, para abreviar razões, de uma bela obra, um verdadeiro libelo contra o totalitarismo.

[Reparei quando escolhi reler esta edição que uma outra, recente, editada pelo jornal “Público”, logo na abertura, ostenta um erro descomunal e indesculpável, referindo o ano de 1954 como o da atribuição do Nobel a Camus, quando, de facto, essa distinção ocorreu em 1957. ]

TRANSUMÂNCIAS

Posted by Picasa Algarve – Praia de Faro

Um diálogo muito interessante acerca de transumâncias. Afinal o velho tema do Algarve, neste caso, como destino de férias, no contexto português.

Por aqui o dia amanheceu enevoado e chuvoso o que facilita a intensificação da leitura em desfavor do sol. Todas as realidades têm ângulos diversos pelos quais podem ser observadas e apreciadas.

ADORNAR

Posted by Picasa Luís de Camões

Em 3 de Agosto de 2004 escrevi este pequeno texto que transcrevo na íntegra e que, dois anos depois, continua pleno de actualidade:

A vida de muita gente adorna. Outros naufragam. Outros sobrevivem à tona, a maioria. A energia vital que empurra a vida para a frente, fracassa. Espanta-me a capacidade, de alguns, em conviverem em silêncio com o medo.

Nesse mesmo dia postei uma das mais belas redondilhas de Luís de Camões: Endechas a Bárbara escrava

quarta-feira, agosto 2

MARIA JOÃO PIRES

Posted by Picasa Maria João Pires

Fernando Mora Ramos, publicou, hoje, no Público um artigo de opinião em defesa de Maria João Pires com o título:”Nada que não esperasse”. [Link disponível só para assinantes.]

Não conheço os detalhes nem as vicissitudes do projecto de Belgais. Sei, desde o princípio, que é uma ideia generosa destinada a dinamizar, no interior pobre e desertificado do país, um centro de excelência na área das artes, em particular, dedicado à música.

Maria João Pires não será o primeiro, nem o último, génio português a abandonar o seu país por razões pouco esclarecidas mas nas quais se vislumbram as marcas da amargura, desilusão e impotência. Valerá a pena reflectir acerca da sua atitude acima das insinuações torpes?

É uma injustiça para Maria João Pires e uma vergonha para o país que fiquem a pairar duvidas acerca da sua honorabilidade pessoal. Maria João Pires é uma pianista de primeiro plano a nível mundial. Os artistas geniais são seres muito estranhos que sonham mas que, regra geral, se rodeiam de gente que sabe fazer contas.

Maria João Pires decidiu partir para o Brasil. Felizes os brasileiros! Lembrei-me de Jorge de Sena que, em 1959, seguiu o mesmo caminho...

RESSONÂNCIAS


Há precisamente dois anos prosseguia, ainda sem o recurso a imagens, a publicação de um livro artesanal, elaborado muitos anos antes, que intitulei “Fragmentos de Leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes”.

Vinha, assim, ao de cima a minha velha paixão pela leitura da escrita feita de fragmentos que aproxima, ou cria a ilusão de aproximar, o leitor da oficina do criador. São o modelo de obra da qual os “Cadernos” de Camus são o paradigma e que, na realidade, se constituíram como autênticos blogues “avant la lettre”.

Barthes, que não era propriamente um entusiasta de Camus, também experimentou, ao seu estilo, este modelo de escrita.

terça-feira, agosto 1

FLORA ASSASSINADA

Posted by Picasa Flora da Ilha Barreta - Imagem da “Ilha de Faro” que retenho na memória quando, muitos anos atrás, a visitava fazendo a travessia da Ria, obrigatoriamente de barco, a partir de Faro.

Se é assim, como se conta, já entendo um pouco melhor tanta coisa que, como diria o povo, "não dá para acreditar". Se a regra se torneia com a excepção, afinal para que serve a regra? Para permitir a excepção! Por acaso pernoitei uma semana, a última que passou, na Ilha de Faro onde, todos os anos, desde que nasci, passei pelo menos um dia de férias. Não vale a pena descrever o que as criaturas humanas foram capazes de criar naquele espaço abençoado pela natureza. Então o celebrado POOC permite o que ali se vê e impede umas carreiras de barco - aliás o retomar de uma sã tradição de outros tempos - que só podem contribuir para atenuar a tragédia urbanística da "Ilha de Faro"? Sabemos dos mistérios da administração do território mas convenhamos que há limites para o absurdo.

[Este é o texto do comentário, transformado em post, que escrevi a propósito da extraordinária questão colocada em “Carreiras Para a Ilha Metem Água” no “A Defesa de Faro”.]