quinta-feira, agosto 10

CAMUS - BIOGRAFIA

Posted by Picasa Albert Camus Paris 1953

Depois de retomada finalizei hoje a leitura de uma biografia – muito bem documentada – de Camus. [Olivier Todd – Albert Camus - Una vida, versão em espanhol, da TusQuets Editores].

Não é o momento para tecer comentários a uma tão volumosa torrente de informações acerca do homem e da sua obra. [900 paginas].

Deixo uma nota – das últimas que escreveu - e que , em poucas palavras, exprime uma faceta do seu espirito, inserida nos anexos da sua última obra “Le premier homme”, editada em 1994, 34 anos após a sua morte:

«Ce qu´on appelle le scepticisme des nouvelles générations – mensonge.
Depuis quand l´honnête homme qui refuse de croire le menteur est-il le sceptique?»

(In «Le premier homme» (Notes et plans)

1 comentário:

Anónimo disse...

PORTO, 2006.08.10
Olá.
Camus tem sido aqui um frequentador assíduo. Acho que tem perfeito cabimento neste espaço que reputo cultural, porque lutou para contribuir, num plano universal, para a obtenção de um clima social mais harmonioso. Mas houve outros que também se disponibilizaram para esse combate. Nesse aspecto de dádiva os meus mestres são os homens do Iluminismo, Voltaire e Rousseau, entre outros. Mas as coisas falharam e a felicidade preconizada por Voltaire ficou cada vez mais longe de cada um de nós. Ainda hoje me intriga porque falhou a doutrina ILUMINISTA. Sei que o General De GAULLE teve esta expressão:- devíamos mandar Voltaire para a prisão. Mas não descortino a razão desse palpite. Penso que o homem ainda não se debruçou suficientemente sobre a caminhada de coerência/solidariedade. É muito difícil ser homem, disse o Hemingway. Seria neste sentido?
Segue aí um texto interessante do J. J. Rousseau de natureza social, retirado do Emílio para os colaboradores do blog dizerem alguma coisa. É evidente que não quero destronar Camus, gostava apenas de ir mais longe no domínio das relações humanas.
Eis o texto:
“É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade: não lhe deveríamos nada, se não fôssemos homens. Todos os afectos são indícios de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade dos outros, nunca pensaria em unir-se a eles. Assim, da nossa própria enfermidade, nasce a nossa frágil felicidade. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário; só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas qual de nós faz uma ideia do que isso seja? Se algum ser imperfeito se pudesse bastar a si mesmo, de que desfrutaria ele, na nossa opinião? Estaria só, seria miserável. Não posso acreditar que aquele que não precisa de nada possa amar alguma coisa: não acredito que aquele que não ama nada se possa sentir feliz.
Sobre o citado texto direi o seguinte :- “Não considero que o homem se torne sociável
por ser fraco; entendo mais esse fenómeno por uma questão de necessidade de se exprimir, necessidade de conviver, necessidade de desenvolver uma actividade....As nossas misérias comuns levam os nossos corações a interessar-se pela humanidade? Não me parece. Se há algum interesse do menos miserável pelo mais miserável, do ponto de vista humano, esse interesse vai no sentido da exploração do primeiro pelo segundo. E talvez esteja aqui o nó que é preciso desatar. Concordo que todos os nossos afectos sejam indícios de insuficiência e precisamos dos outros porque estes têm no seu cardápio complementos que nós precisamos mas que não possuímos. Neste sentido não creio que “um ser verdadeiramente feliz seja um ser solitário”. Acho que o homem não se poderá bastar a si próprio, porque se sim, estaria condenado a uma situação de miséria. O homem é um ser carente. Aquele que não precisa de nada, pode amar, precisamente por ser carente... de amor e porque nesse não precisar de nada não está contida a necessidade de amar. O amor é um sentimento onde se deveria investir os milhões que agora se investe em guerra. O slogan “make love not war” não deu em nada. Se queremos ser dignos deveremos ser mais profundos e autênticos. Deixo a pergunta:- ainda podemos ser felizes como Voltaire pretendia?
BS