sexta-feira, fevereiro 23

LUZIM

Posted by PicasaFotografia de Margarida Ramos
Ainda a propósito do Entrudo em Luzim, aqui deixo o comentário da anfitriã, ilustrado por uma fotografia da paisagem no enquadramento de uma magnífica janela cujas portadas ostentam as cores autênticas que julgávamos só encontrar num cenário de filme. Mas a realidade, por vezes, ultrapassa a ficção!
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Este foi um entrudo diferente, inesquecível, já que nas minhas memórias ficará gravado o vosso entusiasmo e o meu prazer, M.A.

JOSÉ AFONSO

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quinta-feira, fevereiro 22

CLARIDADE

Posted by PicasaPhilippe Pache

A claridade aflorava por debaixo das portas
Uma nesga horizontal floria a horas mortas

E os sons longínquos das vozes ressoavam
E sorriam à luz dos rostos que me amavam

15/02/2007

[Aqui deixo um “comentário” que a Helena
transformou num post
. O poema dela que
o suscitou é que, na verdade, vale a pena.
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REFER

Posted by PicasaFotografia daqui

Esta já é a segunda notícia, em poucos dias, da mesma natureza a respeito da REFER. E não se pode extingui-la? Privatizá-la? Fundi-la? A reforma da administração pública não passa por ali? Se isto é tudo verdade o que haverá mais? Que tal mandar fazer contas? Qual o prejuízo da REFER nos últimos cinco (5) anos? E da REFER e CP juntas? Faça-se um inquérito público que possa ser entendido pelos cidadãos! Estas notícias dão conta de uma situação degradante. Em particular para todos aqueles que ao longo dos anos trabalharam, de forma séria e empenhada, na administração pública. E ainda mais para todos aqueles aos quais foram levantados processos de toda a ordem por nada, nada … Como dizia Maria José Nogueira Pinto com razão, a propósito da CML, basta de brincar ao quarto escuro!... Isto é que é uma verdadeira Urgência!

O QUE AQUELA NOITE ME QUIS DAR

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Eu não estava em casa nessa noite, filho,
nem podia estar. Estava nas ruas com os soldados
que rumavam às rádios e aos quartéis, engalanados
de sombra e de júbilo, a ver o que aquela noite
ia dar, o que a nossa liberdade prometia ser.
E tu, filho, tinhas a idade rumorejante
desse Abril embalado por uma canção do Zeca.
Como posso eu explicar-te tudo aquilo
que tu nasceste para aprender, para viver?
Eu estava aquartelado no meu silêncio
de pétalas, sílabas e marés, no meu dédalo
de vozes embriagadas pelo vento,
na coragem errante das pelejas da infância
e pouco ou nada sabia do mistério desse mês
capaz de transformar em assombro as nossas vidas.

Sim, sou eu neste retrato antigo,
a receber em festa os exilados, os que chegavam
com grinaldas de cantigas e a flor de uma ilusão
bordada a sangue e espuma no capote das nocturnas caminhadas.
Sim, sou eu a escrever a primeira reportagem
do primeiro de muitos dias em que o tempo
deixou de contar, em que os relógios
se tornaram corolas de paixão e riso
na lapela larga da alegria desta pátria.

Eu não estava em casa nessa noite, filho,
estava a afinar o coração pelo tom
das mais belas melodias que alguém pode aprender
para dar a quem ama a paz de um sono sem tormento.

José Jorge Letria

Dezembro de 1998
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terça-feira, fevereiro 20

VITORINO NEMÉSIO

Posted by PicasaVitorino Nemésio

1901 - A 19 de Dezembro, nasce Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, na Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores/1978 – A 20 de Fevereiro, morre em Lisboa, no Hospital da CUF, e será sepultado em Coimbra, no cemitério de Santo António dos Olivais.

PRECE

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco do teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é, beberei. Não faças caso.

Vitorino Nemésio

In “O Verbo e a Morte”
Morais Editora, 1959
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CAMUS - SUBLINHADOS DERRADEIROS

Posted by PicasaFotografia daqui

Ressonância de 20 de Fevereiro de 2004. Este longo post, o último desta série, foi preparado para integrar o blog Cadernos de Camus mas nunca chegou a ser nele publicado.

Esta é a última parte dos meus sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Camus. Esta leitura foi iniciada, certamente, antes de Abril de 1968, tinha a idade de 20 anos.

Os sublinhados que se apresentaram, com pequenas alterações de pormenor e raras supressões foram assinalados nos livros, de forma “assassina”, a esferográfica. Os livros, no entanto, sobreviveram e, recentemente, foram restaurados e encadernados a capa dura. Estão em condições de serem legados ao meu filho pois tenho a pretensiosa ambição de que um dia os venha a ler.

Com esta peça chega ao fim a estimulante tarefa que me foi suscitada pela ideia do José Pacheco Pereira. Mas devo confessar que um projecto semelhante aos Cadernos de Camus, mesmo antes do surgimento dos Blogs, já me tinha, por diversas vezes, assaltado a imaginação.

Esta é uma daquelas tarefas que me dá prazer autêntico, quer pelo facto de poder partilhar uma leitura de toda a vida, quer por me ter sentido, não raras vezes, surpreendido pela actualidade das referências contidas nos excertos que reli. Continuo a sentir hoje a mesma adesão de fundo à filosofia de vida e de sociedade que Camus defende e que transparece na maior parte dos Cadernos.

Além do mais devo confessar que este é, desde a minha juventude, um “livro de cabeceira” que, naturalmente, não li todos os dias mas que sempre esteve presente na minha vida mesmo quando os impulsos de uma desinteressada militância cívica e política exigiram, e continuam a exigir, a tomada de opções difíceis ou mesmo dolorosas.

Não sei ao certo qual o caminho que este projecto tomará mas poderia permitir, se para tal se reunissem as necessárias condições, um debate em torno de um conjunto de ideias força em que assumem particular ênfase, entre outras, as que respeitam às magnas questões da crise da justiça e da liberdade nas sociedades democráticas.

Tenho em mãos, além do mais, outros contributos para o projecto, caso ele venha a evoluir, que terei muito gosto em partilhar com os que queiram arriscar uma participação aberta e desinteressada no seu desenvolvimento. Mas a partir de um dado momento as participações, num projecto desta natureza, carecem de ser enquadradas por uma metodologia e por objectivos precisos sem os quais cada um de nós se sentirá decerto constrangido.

Eis os meus últimos sublinhados do caderno nº 6 nos quais se inclui aquele que sempre me tem acompanhado e que constitui, para mim, um lema de vida: “os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade”:

“Não se deve julgar um homem nem pelo que diz, nem pelo que escreve, segundo Beyle. Eu acrescento: nem pelo que faz.”

“Começa-se por não amar ninguém. Depois amam-se todos os homens em geral. A seguir apenas alguns, depois uma única e depois o único.”

“”Alexandre Block.
...
Só uma compaixão total pode produzir uma mudança. Reajo assim porque a minha consciência não está tranquila.””
(Escrevi dois pontos de interrogação)

“É pela recusa de uma parte deste mundo que este mundo é habitável? Contra o amor fati. O homem é o único animal que recusa ser o que é.”

“Os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade”.

“Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual.”

“Enquanto o homem não domina o desejo, nada dominou. E não o domina quase nunca.”

“Ensaio. Introdução. Porquê recusar a delação, a polícia, etc... se não somos nem cristãos nem marxistas. Não temos valores para isso. Enquanto não tivermos encontrado fundamento para esses valores, estamos condenados a escolher o bem (quando o escolhemos) de maneira injustificável. A virtude será sempre ilegítima até esse momento.”

““A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação “por peça”.
O Soviete de Saint-Peterburgo em 1905 apela para a greve aos gritos de abaixo a pena de morte.””

““Durante a Comuna de Moscovo, na Praça Trubnaia, perante um edifício destruído pelos canhões, um prato contendo um pedaço de carne humana é exposto com um cartaz com a seguinte inscrição: “dai o vosso óbolo para as vítimas.””

Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).
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DOIS ANOS DEPOIS

Posted by PicasaMaioria Socialista

Passam hoje dois anos sobre o dia da vitória eleitoral do PS nas eleições legislativas de 2005. O PS obteve um resultado histórico – 45% e picos – que lhe deu, pela primeira vez, maioria absoluta para governar.

Fui daqueles (poucos) que saiu à rua, é verdade que por insistência do meu filho, para celebrar essa vitória com bandeira e tudo … e, ao contrário de muitos dos meus amigos, não me arrependo.

Os três anos (3) de governação de direita – José Manuel Barroso/Manuela Ferreira Leite/ Paulo Portas + Santana Lopes/Bagão Félix/Paulo Portas foram um pesadelo … desculpem o desfile dos nomes mas tenho a leve suspeita que a memória é fraca.

Este governo no meio de muitas derivas, disparates e equívocos tem feito o que o povo designa por “o que tem que ser feito” ou “o que tem que ser tem muita força". É este o segredo – após dois anos de governação – da persistência da sua popularidade.

Acresce o que se poderá designar por efeito surpresa do desempenho do primeiro-ministro, quer se goste ou não goste do estilo do sobredito cujo: “é melhor do que parecia à primeira vista” … “têm-nos no sítio” …” coragem e determinação” … e por aí fora…

Para a semana que vem logo desenvolvo um pouco as razões desta minha posição situacionista, ou seja, das razões do meu apoio ao governo.

Agora reproduzo o que escrevi no dia seguinte:

Estive a celebrar a vitória do PS na rua, do lado de fora, o melhor sítio para sentir o pulsar do sentimento popular. As eleições ganharam racionalidade. A festa espontânea perdeu viço. A encenação da festa recobre o espaço onde antes ardiam as emoções. Tudo é diferente. Não é pelo facto de ter sido o PS a ganhar. É porque já ninguém acredita nos milagres da política para resolver os reais problemas do país. E muito menos para resolver os problemas individuais de cada um de nós. Valeu desta vez a saída à rua para iniciar o meu filho no exercício dos festejos políticos. Ele saberá, mais tarde, saborear o real valor desta saída à rua.
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A VIDA QUOTIDIANA EM TABLÓIDES


Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves
À porta do meu Banco no patamar, acocorados, um e uma,
vendem a pele de uns pratos encardidos
mesmo no traço que já lhes deu flores garridas.
Eles escorriam chuva, que chovia, para a louça. Eles nem devem ter sangue
pela tez lustrosa da porcelana dos seus olhos de caveira.
(Até faz rir, leitor, coisa tão triste.)

*

Um fio de mar, parece-me, inclinava a terra num poço de luz
silenciosa. O vulto que chegou de motorizada pela mão
esconde as dunas, a vaguear com a madeira torcida
que encontrou. Esconde-se de si, todos o vêem.
Ouvimos rádio, com o guiador colado ao jornal, os joelhos afastados,
uns outros num carro sem ruído, depois com a boca ranhosa diz palavrões
e afasta-se alheio a tudo.

*

Nos corredores das lojas a passear, lá em cima,
arrasta um calçado encharcado, um saco de plástico que verte.
Quando lhe tocam, sujam-se, mais rápidos caminham fazendo um esgar doentio.
Não tardará que o homem de farda lhe indique a saída.

*

Há boas acções e acções más, dizia-me (parece da religião, mas é da bolsa que fala).
No mesmo dia ganhava sempre, a comer brioches, teve azar.
(Quem espera de mim, ó céus, seu funcionário?)

José Emílio-Nelson
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segunda-feira, fevereiro 19

GUERRAS...

Posted by PicasaImagem daqui

Isto comparado com isto não é nada

ENTRUDO - UMA VIAGEM

Fotografia daqui

Viagem rápida a Luzim (Entre – os – Rios, Penafiel), sábado para domingo de Carnaval, em família, em direcção à casa de campo dos pais da M.A., no meio da paisagem que rejubila de cores, por entre árvores, flores, musgo e águas, à vista do vale do Tâmega que se cobre, pela manhã, de nuvens baixas, brancas com as claras em castelo. Ali onde assoma, a todo o momento, a alegria genuína de quem recebe. Os amigos partilham o espaço e o tempo sem esforço e a gastronomia toma o lugar mais alto na fruição do acolhimento. É difícil imaginar outro prazer mais próximo da perfeição. O lugar, magnífico, anda paredes-meias com outros que me suscitam uma melancolia profunda. À vinda, na estrada, cruzamo-nos com três momos vestidos a rigor qual fragmento de um Entrudo autêntico que persiste.

PARA AS CRIANÇAS

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Para as crianças digo
o verso que faltava.
Menos que o verso, digo
a palavra – ou já não tanto:
a sílaba, o som, o sibilar,
só o tremor do vento
do grito ou gargalhada.

Para as crianças digo
o que faltava, o mais
essencial, o pão do dia
que nos fará crescer
a elas e a nós:
para as crianças digo
um tudo, um nada.

Pedro Tamen
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domingo, fevereiro 18

ABSTENÇÃO NA ANDALUZIA


Já agora a propósito da abstenção em referendos.

La participación en el referéndum celebrado este domingo sobre la reforma del Estatuto Andaluz se ha situado en el 36,28% del censo, un índice de afluencia a las urnas muy por debajo del deseado por la clase política y que marca un récord de abstención (63,72%) en esa comunidad autónoma. Con todo, el apoyo a la reforma estatutaria de los que han ido a votar ha sido, como se esperaba, abrumador: el 87,45% ha respaldado con su voto la reforma. El 'no' sólo ha cosechado el 9,48% de apoyo. Ha habido un 3,07% de votos en blanco.

sábado, fevereiro 17

KAVAFIS

Posted by PicasaImagem daqui

Citação cristalina de Kavafis, subtraída ao CATATAU, com algumas palavras “retocadas”:

Tenho observado com frequência a pouca atenção que as pessoas dão às palavras. Explico-me. Um homem simples (com simples não quero dizer parvo, e sim não-eminente) tem uma opinião, critica uma instituição ou crença geral; sabendo que a maioria das pessoas não pensa assim, cala-se, na suposição de que não vale a pena falar, pois o que pudesse dizer não mudaria coisa alguma. Trata-se de um erro grave. Eu ajo de outro modo. Por exemplo, sou contra a pena de morte. Sempre que me aparece uma oportunidade, manifesto-me a respeito, não porque ache que, com isso, o Estado a vá abolir, mas porque estou convencido de que assim contribuo para o triunfo das minhas ideias. Pouco me importa que ninguém concorde comigo. O que eu disse não foi em pura perda. Talvez alguém repita minhas palavras e elas cheguem a ouvidos que as ouçam e as perfilhem. Quem sabe se futuramente algum daqueles que ora discordam de mim não se vai lembrar, numa ocasião propícia, daquilo que eu disse e convencer-se ou pelo menos sentir abalada sua opinião em contrário. - O mesmo vale para diversas outras questões sociais, das que exigem acção. Reconheço que sou tímido e não sei agir. Por isso limito-me a falar. Não acho, porém, que minhas palavras sejam em vão. Outro agirá, mas essas palavras – de mim, o tímido, - terão facilitado a acção e limpado o terreno.

KAVAFIS, K. Reflexões sobre Poesia e Ética. SP: Ática, 1998

sexta-feira, fevereiro 16

EXTRAORDINARIAMENTE INTERESSANTE!

Posted by PicasaFotografia de Ernesto Timor

CASA PIA
Advogado abandona defesa das vítimas
A renúncia do advogado José António Barreiros é a terceira mudança, no espaço de três anos, na liderança da equipa que representa as vítimas da Casa Pia e a instituição no processo de pedofilia.

A REVOLUÇÃO DAS FLORES

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, os lírios, as cravinas e as hortênsias se recusam a florir e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e simples das estufas.

Uma nuvem de pólen cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelíceas. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas das cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às dezasseis horas TMG, numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.

Jorge de Sousa Braga
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quinta-feira, fevereiro 15