segunda-feira, agosto 25

"FALO, MAS NÃO OUÇO!"


No outro dia fomos a Fervença, ali para os lados de Pêro Pinheiro (Sintra) e perdemo-nos na busca de uma daquelas lojas que têm tudo para as obras em casa. Um dos interlocutores ouvidos à beira da estrada, instado a dar opinião acerca da localização da coisa, desarmou-nos: “falo, mas não ouço!”, disse com os olhos muito abertos, loquazes e aparentemente felizes. Pediu para falar mais alto, mas era preciso falar mesmo muito alto. Escrita num papel a rota perdida olhou, rápido e, com incontida exaltação, apontou o sítio que se via a olho nu, “é alem aquela casa amarela!” … “sabem, foi na Suíça” … e gesticulou como se estivesse a manusear um martelo pneumático. “E também parti as pernas!” acrescentou, olhos abertos, loquazes e aparentemente felizes. E retomou a sua marcha com o jeito de quem, com aquela informação precisa e concisa, tinha cumprido uma importante missão. Um perdedor achado numa estrada no emaranhado das estradas dos arrabaldes de Sintra que é uma região como se fosse quase só um arrabalde. Lembrei-me da cena ao ler os Perdedores, tema que os JO estimulam. Portugal ficou em 46º, pela classificação oficial e, pelas minhas contas, só 16 países (em 27) da União Europeu nos suplantaram. Talvez nos achemos perdidos nos arrabaldes da Europa mas perdedores, perdedores, de verdade, já não …
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REGRESSO AO TRABALHO

Regresso de férias em lume brando. As notícias da paróquia vão pouca mais além da Linha do Tua. A linha não encerra mas encerraram os Jogos Olímpicos de Pequim sem protestos – ao menos audíveis - como se tivesse chegado a hora da democracia. Encontrei o Correia de Campos e congratulei-me com o facto de terem deixado de existir problemas com o SNS, ninguém reivindica nem urgências nem maternidades, o INEM chega sempre a horas e os idosos não mais caíram das macas nas esperas da urgência. Parece agora que chegou a vez dos assaltos, um velho tema, o da insegurança (ou segurança), reedição do “filme” já rodado com o Fernando Gomes … sem novidades. Não tarda começam as aulas … o Nogueira deve estar a acabar as férias … e eu vou ter um final de ano cheio de peripécias. Ajustar contas com o passado antes que se faça tarde … é afinal o que estamos a fazer sempre. Aqui vou continuar presente, a partir de hoje, com mais regularidade para quem me quiser encontrar… bem-vindas e bem-vindos … eu vou visitar quem me apetecer, algumas e alguns apetece-me sempre …
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sábado, agosto 23

Joseph R. Biden Jr.

Uma notícia, eventualmente, importante: Senator Barack Obama introduced Senator Joseph R. Biden Jr. as his running mate on Saturday, a choice that strengthens the Democratic ticket’s credentials on foreign policy heading into the general election against Senator John McCain.

sexta-feira, agosto 22

NELSON ÉVORA


Português, filho de cabo verdeanos, nascido na Costa do Marfim. Ganhou a 4ª medalha de ouro, em Jogos Olímpicos, para Portugal numa modalidade do atletismo chamada de técnica. As outras três foram todas conquistadas, no atletismo, mas em corridas de longa distância: Carlos Lopes e Rosa Mota (maratona) e Fernanda Ribeiro (10 000 metros). Há por aqui umas diferenças que mais se avolumam se considerarmos que todas as restantes hipóteses de conquista de medalhas – no presente – se situam em modalidade e provas com forte componente técnica (além do atletismo (saltos e marcha) no judo, na vela, no triatlo e, provavelmente, na canoagem … o mundo nem começou nem acabou com estes Jogos Olímpicos …
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quarta-feira, agosto 20

PS: COM O PÁSSARO NA MÃO!


No MARGENS DE ERRO pode ler-se um estudo muito interessante intitulado: “Uma previsão dos resultados das eleições legislativas de 2009” de Luís Aguiar-Conraria e Pedro Magalhães. (Deixo aqui os sublinhados que constam da própria publicação.)

A investigação sobre Portugal e outros países mostra que a precisão das previsões que se possam fazer com base nas sondagens está muito dependente da proximidade temporal entre a recolha das intenções de voto e o acto eleitoral.

O que queremos prever no caso das eleições portuguesas? O objectivo fundamental, à semelhança do que sucede na esmagadora maioria dos modelos congéneres, é prever a percentagem de votos no partido do governo em relação ao total de votos válidos, brancos e nulos, assim como estimar se esse valor é suficiente para uma vitória eleitoral.

Vários estudos sobre as intenções de voto e a popularidade dos líderes mostram que os eleitores portugueses são predominantemente retrospectivos, ou seja, castigam ou recompensam os governos de acordo com o desempenho económico passado.

Um estudo recente sobre os eleitorados dos dois principais partidos mostra que o PS tende a sofrer sistematicamente, após as suas passagens pelo governo, uma deserção acentuada por parte do eleitorado de esquerda, na sequência de políticas mais centristas do que aquelas defendidas pela coligação de eleitores que o leva ao poder.

Com base nestes pressupostos, o nosso modelo prevê que o PS venha a obter 38,35% dos votos nas próximas eleições legislativas. A probabilidade de que este valor torne o PS o partido mais votado é superior a 99%.
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segunda-feira, agosto 18

BIOGRAFIA DE HUMBERTO DELGADO - UMA LEITURA NECESSÁRIA

Terminada a leitura da Biografia de Humberto Delgado, de autoria de seu neto Frederico Delgado Rosa, não resisto a deixar algumas notas. Na minha meninice – como já antes assinalei – senti pessoalmente o frémito da campanha presidencial de 1958 e nunca mais se apagaram da minha memória as imagens do empolgamento popular que a figura de Humberto Delgado suscitou.

Esta obra promissora de desenvolvimentos, e aprofundamentos, que se aguardam para o próximo futuro, mereceria, além do mais, uma verdadeira divulgação popular que contribuísse para desmitificar o branqueamento do fascismo português e da figura do seu líder e mentor – Salazar – que amiúde se quer fazer passar como um político brando na repressão, tolerante nos costumes e eficaz na política.

A leitura das 1225 páginas de texto deste livro sugere uma meditação acerca do "fenómeno Humberto Delgado", após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, até aos nossos dias, mesmo que não nos aventuremos pelos caminhos da crítica e nos limitemos – como é o caso – ao simples papel de leitores atentos e interessados. Eis algumas breves, e despretensiosas, dessas possíveis reflexões:

(1) É do mais elementar bom senso desconfiar das ideias feitas acerca da história, em particular, da “história oficial”, quando envolve personagens carismáticos e acontecimentos com forte carga política e emotiva;

(2) Os protagonistas que marcam, pelo seu pensamento e acção, a história das nações são homens com suas virtudes e defeitos transformando-se a si próprios a par das transformações que suscitam;

(3) O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a ruptura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria;

(4) Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da acção militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965;

(5) Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá;

(6) Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea anti-salazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e acções, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras;

(7) O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco;

(8) O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos;

(9) Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspectos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites;

(10) Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os políticos, militares, juízes, magistrados, jornalistas e decisores de todos os escalões da hierarquia do estado a começar pelo Senhor Presidente da República;

(11) Espero que o autor, cuja coragem não pode ser só uma herança de sangue, prossiga as suas investigações para que os portugueses possam conhecer todos os meandros do assassinato de Humberto Delgado, para que sejam identificados os seus autores, materiais e morais, assim como os encobridores, localizados os que ainda possam estar vivos, reabrindo, eventualmente, o processo, levando a que os criminosos paguem pelos seus actos e contribuindo, dessa forma, para que os portugueses se reconciliem com a justiça do seu país.

(12) Nunca nenhum processo-crime está definitivamente encerrado enquanto subsistirem fundadas suspeitas de que se não fez justiça. É o caso.
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VANESSA FERNANDES

Estava difícil mas tinha que ser a Vanessa Fernandes a ganhar a primeira medalha (prata) para Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim. Uma jovem que ainda terá oportunidade de, em condições normais, participar em mais edições dos Jogos Olímpicos. O triatlo é uma das modalidade técnica mais difíceis que exige, para um atleta alcançar um lugar cimeiro, dedicação e abnegação sem limites. Parabéns!
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terça-feira, agosto 12

Negócios, negócios, dinheiro, dinheiro.


Estou cansado de lutar pela sobrevivência moral rodeado de notícias que quase sem excepção só falam, de forma explícita, ou nas entrelinhas, de negócios. Negócios, negócios, dinheiro, dinheiro.

17/7/2008 - [Do diário.]

O COMANDANTE ÁGOAS

O homem que não gosta de massagens

Por esta época, sempre de passagem pelo teclado, sem tempo para delongas, certifico-me que, salvo as noticias dos Jogos Olímpicos e da guerra do Cáucaso, o resto se resume a exercícios de fogo real das polícias, com e sem danos colaterais. O governo mostra autoridade! Vamos a ver se o povo que aplaude, em silêncio, gratifica nas urnas... São, de qualquer forma, exercícios perigosos. Enquanto isso a melhor manchete que encontro disponível é mesmo a que guinda o Comandante Ágoas, à falta de medalhas, aos píncaros da notoriedade. Segundo li, algures, o governo italiano, seguiu-lhe as pisadas … por razões de higiene … vão no bom caminho!
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domingo, agosto 10

ARTICULAÇÕES


Visitei, na última incursão familiar a Faro, a exposição ARTICULAÇÕES, presente na antiga Fábrica da Cerveja. Também reparei na “invasão” da Exposição pela animação sonora do “arraial popular” que decorre nas redondezas. Como hei-de dizer? Não me incomodou particularmente. O que é preciso é ter a imaginação suficiente para integrar o som da música pimba no universo da arte contemporânea. Para a próxima vez, organizem-se! Mas a exposição resiste, pois é muito interessante. Vale bem uma visita!
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sexta-feira, agosto 8

OS JOGOS OLÍMPICOS DE PEQUIM ESTÃO ABERTOS

Os Jogos Olímpicos de Pequim estão abertos, glória aos vencedores, honra aos vencidos. Mas, como sempre, os Jogos Olímpicos também merecem ser olhados como uma realidade política que nunca, em tempo algum, deixaram de ser.
[Através de A Terceira Noite.]

An Open Letter by more than 100 former and current Olympic athletes, including Olympic champions, World champions and World record holders

Dear Mr. President Hu,

We all hope that the Olympic Summer Games in China will be a great success and that the Olympic ideals will come to life.

That is why we are asking you:

- to enable a peaceful solution for the issue of Tibet and other conflicts in your country with respect to fundamental principles of human rights.

- to protect freedom of expression, freedom of religion and freedom of opinion in yourcountry,including Tibet.

- to ensure that human rights defenders are no longer intimidated or imprisoned.

- to stop the death penalty.

China is the focus of worldwide attention. Your decision on these issues will determine the successof the Olympic Games and the image the world will have of China in the future. We are asking you to respect human rights in China in order to achieve lasting peace and reconciliation.

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L’été libertaire d’Albert Camus

«La liberté n’est pas un cadeau qu’on reçoit d’un Etat ou d’un chef, mais un bien que l’on conquiert tous les jours, par l’effort de chacun et l’union de tous (1).»

(...)

On comprend mieux pourquoi la gauche n’a jamais aimé Camus : trop proche des insoumis. La droite, elle, a espéré le récupérer - mais l’antitotalitarisme de l’écrivain, qui l’a mené à Bakounine, le père de l’anarchie, a débouché, comme nous le rappelle activement l’exposition de Lourmarin, sur la non-violence, jamais sur des interventions armées, fussent-elles disculpées par le droit d’ingérence. «Tuer les hommes ne sert à rien que tuer encore.» (2).
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RUY BELO


Pelo 30º aniversário da sua morte (retomando a publicação, em excertos, de A Margem da Alegria – logo colocarei a etiqueta respectiva nas postas antigas …]
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quinta-feira, agosto 7

FARO - O INSÓLITO PSD ALGARVIO


Pobres e mal agradecidos. A governação autárquica da cidade de Faro, salvaguardados raros e esporádicos actos de lucidez, tem sido, ao longo dos últimos decénios, um desastre. Todo a gente o sabe, toda a gente o diz. Uma cidade em declínio mas que possui a maior riqueza natural do Algarve – um naco majestoso da Ria Formosa - e a maior riqueza intelectual da região - a Universidade do Algarve - localizada em Faro. É muito, apesar de todos os erros, deixando em aberto a esperança de um futuro melhor. Mas há quem não tenha emenda. A direcção nacional do PSD anuncia que não se faz representar na Festa do Pontal e o PSD local anuncia que não apoia a atribuição da medalha de ouro da cidade ao primeiro-ministro pela criação de um curso de medicina na Universidade do Algarve. O PSD não se lobriga, abandona à sua sorte os seus próprios prosélitos, desdenha de uma importante conquista em benefício da região, definha, a olhos vistos, como alternativa política, pelo silêncio, ausência e provincianismo.
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quarta-feira, agosto 6

COMBUSTÍVEIS: OLHANDO O HORIZONTE ...


Após a subida que a todos lembra os analistas apontam para uma descida continuada do preço dos combustíveis. Neste caso, como em todos os outros, nestas coisas da economia, nada melhor do que o mercado. Aqueles que sonham com as velhas receitas da intervenção do Estado, através da fixação administrativa de preços, estão, salvo condições extremas que hoje não se verificam, às avessas das boas práticas. Mas ocorreu-me perguntar acerca do destino daquelas medidas especiais da época da subida desenfreada do preço dos combustíveis? O que estarão a pensar fazer as associações de camionistas? Como acomodaram nas suas economias as vantagens particulares que lhes foram concedidas pelo governo? E que dizer da subida do preço da bandeirada dos táxis? Tudo normal! É o mercado. Mas talvez seja bom reconhecer que a intervenção do governo que muitos criticaram por tardia, no essencial, se não justificava. E se os preços subirem de novo e de novo voltarem a descer? Conseguirão certos grupos de pressão, através de ameaças de paralisar o país, obter novos, e injustificados, benefícios à custa da maioria dos cidadãos?
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terça-feira, agosto 5

OS DILEMAS DO PODER ...

Bruni, no fundo, bate no ponto do nosso espirituoso comandante Ágoas: toda a gente sabe como começa, mas ninguém sabe como acaba. Com os dilemas do poder se constrói o prestígio da autoridade …
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Soljenitsyne

Quand Soljenitsyne bouleversait la France et le monde
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A 89 ans, après avoir été au front pendant la Seconde guerre mondiale, subi les privations du goulag et réchappé à une tumeur développée dans ce même camp, Alexandre Soljenitsyne est mort dimanche. Avec l’Ina, récit d’une vie de dissidence qui a bouleversé la Russie, la France et le monde.


[Dos Caminhos da Memória]
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segunda-feira, agosto 4

A BARRA DA CULATRA


Nesta espécie de despique A Defesa de Faro apresenta imagens da “Barra da Culatra”. [Clique nas imagens para ampliar.]
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UM LUGAR DO OUTRO MUNDO

Bruno Barbey - Near the Town of Faro. Gipsy family

De regresso temporário, antes de nova partida, alimentarei aos soluços esta pequena estrada de comunicação. Ainda não foram concluídas as visitas, nem atingidos os mínimos de recuperação (de quê?), talvez do cansaço de permanência no mesmo lugar. As línguas de areia na ponta mais longínqua da ilha da Culatra são um paraíso na terra. Um lugar do outro mundo. Chega-se lá de barco particular e as areias movem-se com as marés não permitindo, graças a Deus, a ocupação permanente pelo homem predador da natureza. Olhando a serra algarvia, que se desnuda a norte, pensei nas gerações dos meus antepassados que de lá olharam este mar de delícias mas raramente provaram, fisicamente, da sua formosura. Contrastes ...
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sábado, agosto 2

MEMÓRIA DA MINHA CIDADE



Uma cidade é a memória viva das suas gentes. Por estes dias revisito a cidade de Faro, ao sul do Sul, calcorreando lugares, revendo famílias, amigos e confrontando-me com memórias. No coração da cidade, frente à antiga “travessa dos surradores” na qual, noutro tempo, suponho, o pelo das bestas era limpo e alisado, sobreviveu uma marca do passado político que também foi o meu.

Deve ser uma das últimas reminiscências da acção dos “pintores de parede” que, no ano quente de 1975, desenharam o símbolo feminil do MES que sobreviveu a todas as limpezas, a todas as tentativas de destruição do centro comercial de Faro – a Rua de Santo António – que se mantém acesa, qual luz bruxuleante, desvanecida, mas viva, como diria o poeta, memória que, apesar de todas as vicissitudes, me conforta.
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