Na véspera de um feriado - 15 de agosto - e para que se entenda a importância dos feriados, e deste em particular, como marcos simbólicos na história de Portugal. [Repetindo uma posta antiga.]
Na verdade, o título de rei aparece pela primeira vez num documento autêntico em
10 de Abril de 1140, por sinal o primeiro dos que hoje se conhecem entre os bem
datados produzidos pela chancelaria régia depois da batalha de Ourique.
(...)
Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória,
hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se
descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem
Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse
dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D.
João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa,
fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória,
admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários
indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do
regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos
por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico
admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a
chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.
In “D.
Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, agosto 14
segunda-feira, agosto 13
Camus: uma rara confidência
Nunca esqueci esse belo livro (La Douleur, de André de
Richaud) que foi o primeiro a falar-me de coisas que eu conhecia: de uma mãe,
da pobreza, das belas tardes e do céu. Ele desatava no fundo de mim um nó
formado por obscuras ligações, libertava-me de obstáculos que eu sentia sem
poder nomeá-los. Li-o todo numa noite, como acontece em casos semelhantes e, ao
acordar, repleto de uma nova e estranha liberdade, comecei a caminhar,
hesitante, numa terra desconhecida. Acabava de aprender que os livros não
proporcionam só o esquecimento e a distracção. Os meus teimosos silêncios,
esses vagos e despóticos sofrimentos, o mundo estranho que me rodeava, a
dignidade dos meus e a sua miséria, os meus segredos, enfim, tudo isso podia,
afinal de contas, ser dito! Havia nesse livro uma libertação, um grau de
verdade onde a pobreza, por exemplo, assumia repentinamente o seu verdadeiro
rosto, aquele que eu suspeitava e venerava obscuramente.
Albert Camus, citação referida no “Ensaio” de Paul
Viallaneix para “escritos de juventude” (Uma das raras, e preciosas,
confidências de Camus, colhida in "Encontros com André Gide", Plêiade.)
domingo, agosto 12
A Queda da Luz
Amaciadas pelo calor, as grandes lajes convidavam ao
repouso. E saboreava-se o esquecimento num tecido de sol, vivendo sem pensar e
sobretudo sem agir, estendido preguiçosamente e absorto na total sensação do
calor envolvente. Por sobre tudo isto, via-se o céu de um azul orgulhoso e
arejado. Nenhum ruído, nenhum canto de ave, nenhum coaxar de rãs – apenas o
zumbido indistinto e entorpecedor do grande calor. (…) Não se importava de
acolher as paixões e as loucuras, o que o não impedia de se voltar para o
infinito azul e repousante, na deliciosa bruma do longe.
Albert Camus In “escritos de juventude”, A queda da Luz – Notas de Leitura (Abril 1933)
Albert Camus In “escritos de juventude”, A queda da Luz – Notas de Leitura (Abril 1933)
sábado, agosto 11
"Há rostos ...
Comprei ontem dez livros (edições portuguesas) de Albert Camus a um alfarrabista que faz venda
de rua aqui na esquina – de seu nome Simões. Alguns deles não tinha como é o
caso da edição dos “escritos de juventude” (tomo II) da qual respigo – com dedicatória
– este excerto de “O PÁTIO”, In Notas de Leitura (Abril de 1933):
“Há rostos que se casam estreitamente com uma parte inteira
dos nossos impulsos e com os quais comunicamos tão bem desde o princípio, que
se torna impossível pensar séria e justamente diante deles, mas unicamente
falar docemente, silenciosamente, utilizando palavras gastas e baças, às quais
só o sentimento de uma íntima cumplicidade confere um novo valor”.
sexta-feira, agosto 10
UMA QUERELA DE VERÃO
Quem está na ribalta da discussão pública? Os defensores e
simpatizantes desse passado longínquo dos amanhãs que cantam. Agora na versão
hardcore dos negócios com ajustes de contas entre ex-comunistas e simpatizantes
fascinados e, ao mesmo tempo traídos, pelo capitalismo. Os
comunistas podem mudar de partido (ou de negócio) mas nunca deixam de ser
comunistas…
quinta-feira, agosto 9
ELEIÇÕES AMERICANAS
Os americanos vão às urnas escolher entre o actual presidente
e um candidato conservador que faz comparações depreciando a Europa, em
particular, os países do sul. Mas os países do sul da Europa são aliados estratégicos
dos Estados Unidos e, para não ir mais longe, a NATO não poderá nunca
prescindir da sua presença. É uma questão de geografia e de domínio por terra,
mar e ar. Coisas objectivas … não ideológicas.
quarta-feira, agosto 8
terça-feira, agosto 7
TAXA DE MARMITA
Não conheço o diploma, a norma, seja o que for, somente ouço falar do assunto através das notícias. Em Espanha, Catalunha, os pais vão pagar para os filhos levarem as refeições de casa para a escola. Não entendo. Uma "taxa de marmita". Não vale a pena discorrer acerca de um assunto do qual não entendo os fundamentos nem o alcançe. Vou procurar explicações por aí. Mas que os estados, os poderes públicos, andam fazendo experiências preocupantes para a própria democracia, isso parece evidente.
NOTÍCIA de um roubo ...
Acontecimentos deste género pululam, sem mediatização, em
todos os países e regiões, desde o pequeno roubo no supermercado ao grande
roubo, sob as mais diversas capas institucionais, magnânimo, tolerado e,
quantas vezes, aplaudido. Aqui estamos na presença de um sinal público do que antes
se designava por embrião de uma “forma superior de luta” das classes
trabalhadoras. Este é um fato não menosprezável, que deve dar que pensar aos responsáveis
políticos a todos os níveis. (interroguei-me, a propósito, das razões de não
serem investigados os prejuízos apresentados pelos bancos no 1º semestre de
2012, em particular, o maior banco público português – mas admito que o BP
esteja a fazer o seu trabalho. – Desculpem o incómodo!)
Jogos Olímpicos - sinais de manipulação
Quando o público, e a comunidade, são confrontados com notícias
que insinuam que existem jogos de bastidores destinados a manipular os
resultados, o que fazer? Perder? Quando o objectivo é ganhar! Nos jogos
olímpicos? A simples insinuação é sinal da miséria encoberta pela realidade mediática
sumptuosa dos jogos.
segunda-feira, agosto 6
FÉRIAS PAGAS
As férias pagas, ou seja o direito a usufruir de um tempo de
lazer sem perda de remuneração, é uma realidade recente. Esse direito foi instituído
por uma lei do governo de frente popular, em França, no ano de 1936. Ainda
beneficio dessa conquista. Mas o debate na Europa acerca do futuro da UE é, na
verdade, um eufemismo para designar o debate acerca do futuro do estado social.
Em época de escassez as férias pagas podem, em breve, voltar a ser uma
reivindicação das classes trabalhadoras. Se não o forem já para a maioria!
Anna Meredith
BBC Proms 2012 from the Royal Albert Hall, London.
The National Youth Orchestra of Great Britain perform Anna Meredith's HandsFree.
This concert was broadcast live on BBC Radio 3; it is available on-demand for seven days after broadcast. Radio 3 is streamed in HD sound online.
domingo, agosto 5
FARO - LUTAR CONTRA O ESQUECIMENTO
A cidade de Faro é pequena, apesar de ser capital, pois se
esventrou o centro deserto de residentes e de comércio. Nunca aconteceu não a
ter visitado, e nela ter permanecido, ao menos uns dias, no verão desde que
dela parti. Sinto o seu cheiro especial, cuja fragância retenho desde a
infância, conheço as suas ruas, uma a uma, tal como os seus lugares, até os
seus rostos (cada vez menos); vivi muitos anos na rua Emiliano da Costa, percorro
com frequência a Rua de Portugal, onde nasceu Gastão Cruz, instalo-me na Rua
João Lúcio, todos nomes de poetas algarvios. Grandes poetas que, salvo Gastão
Cruz, nosso contemporâneo, foram esquecidos. O esquecimento é uma máquina infernal.
Escrevo contra o esquecimento.
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