sábado, março 13

Aparição



Vens á tardinha, pousas a meu lado,
e a tua voz murmura como um canto...
Ondeia em névoas de astros o teu manto...
É um clarão do Além teu vulto alado!

Ergues mãos as rosas do Passado,
que ao seio apertas, lacrimosa, - enquanto
elas derramam úmidas de pranto,
o sangue dum amor crucificado...

Jardim lilás e oiro, a tarde finda,
toda a esfolhar-se em luz crepuscular...
Vens quando é noite já, e dia ainda...

Vens de enigma desta hora entercida,
quando a tarde é um beijo a soluçar,
- um beijo em pranto, como a nossa vida!

Bernardo de Passos



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