Teodora Cardoso - O lixo de Nápoles
Artigo publicado, curiosamente, no mesmo dia em que Correia de Campos foi afastado do governo. Aposto que, nos próximos tempos, vão cessar as manifestações e as notícias catastrofistas acerca do Sistema Nacional de Saúde, mas se as reformas seguirem em frente, com seus sucessos e fracassos, a nova ministra, um dia, também cairá. O que se perde é competência!
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No actual debate político em Portugal reconhecem-se laivos dos problemas italianos. A contrariá-los está um sistema eleitoral que, não sendo perfeito, permite, apesar de tudo, bastante mais estabilidade governativa. Alguns exemplos mostram, porém, as semelhanças. Um deles é a campanha contra a ASAE. Num recente debate no Parlamento, diversos críticos pareciam considerar que as leis que ela tem por missão fazer aplicar, apenas foram aprovadas para satisfazer obrigações europeias ou preconceitos “higienistas” ou ambientais, mas que, uma vez satisfeitas essas exigências, a aplicação das leis devia sabiamente ignorá-las – tal como sucedeu com a acumulação do lixo em Nápoles.
Ainda mais interessante é o caso da saúde. Em debates abertos, fica claro que as medidas tomadas no reordenamento dos serviços – das maternidades, das urgências, dos serviços de transporte de doentes, etc. – se justificam, melhoram significativamente os cuidados prestados e o acesso da população a esses cuidados. Os críticos não propõem alternativas a esse nível, apenas lamentam que as políticas não tenham sido “explicadas” às populações. Esse argumento serve depois para alimentar o clima de obscurantismo e mesmo a tentativa de suscitar o alarme das populações, impedindo efectivamente que as explicações sejam compreendidas por elas. Como sucedeu já com as maternidades, a prática acabará por mostrar o bom fundamento das políticas, mas, em vez de isso ser conseguido promovendo a confiança das pessoas e, simultaneamente, aprofundando o debate onde ele precisa de ser aprofundado, o que se procura é evitar a tomada de posições, desejando agradar a todos, mas acabando apenas por conduzir ao descrédito dos políticos. (…)
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Um Comentário: É-me particularmente penoso pensar que a reforma na Saúde vai estagnar ou mesmo retroceder. Sempre disse que aplaudiria de pé o ministro que à cabeça do seu mandato «criasse» um Serviço de Urgência a nível Nacional, porque era uma vergonha e na maioria dos casos continua a ser, o atendimento urgente no nosso País. Este, teve essa coragem. Só que os «interesses» os autarcas (que são outros interesses) tendo sempre o privilégio dos media, fizeram um tal alarido, que em vez de informarem, apenas gritaram. Estávamos no caminho certo, por isso é que houve tanto barulho. Sei do que falo, pois na minha vida profissional de médica, chefiei équipes de urgência, quer em hospitais centrais, distritais e mesmo num centro de saúde. Portugal é assim...
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1 comentário:
É-me particularmente penoso pensar que a reforma na Saúde vai estagnar ou mesmo retroceder.Sempre disse que aplaudiria de pé o ministro que à cabeça do seu mandato «criasse» um Serviço de Urgência a nível Nacional,porque era uma vergonha e na maioria dos casos continua a ser,o atendimento urgente no nosso País.Este,teve essa coragem.Só que os «interesses» os autarcas(que são outros interesses)tendo sempre o privilégio dos media, fizeram um tal alarido, que em vez de informarem,apenas gritaram. Estávamos no caminho certo, por isso é que houve tanto barulho.Sei do que falo,pois na minha vida profissional de médica, chefiei équipes de urgência, quer em hospitais centrais, distritais e mesmo num centro de saúde.Portugal é assim...
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